Estamos nos tornando menos pró-mercado e isso é um problema
Mas, 'a sociedade (segundo minha arrogante postura) não está preparada para esta conversa' (mentira, está sim).
Estamos no ar com o v(1), n(51) desta newsletter o que, claro, é uma boa ideia. Voltamos aos temas acadêmicos. Esta edição, por motivos extraordinários, chega a você um dia antes. Regularizo tudo semana que vem, espero.
Talvez você seja novo por estas bandas. Rapidamente: publico duas vezes por semana, geralmente às quartas e sábados. Eventualmente há algumas edições extraordinárias. Assinar (custo = R$ 0.00) me ajuda bastante. A temática? De tudo um pouco. Confira os números anteriores aqui.
Vamos começar?
À guisa de introdução (não é um guisado introdutório) - Estou longe do computador por estes dias, motivo pelo qual esta provavelmente chegará com menos revisões do que o desejado. Ainda assim, tentarei não decepcionar os estimados assinantes.
A mentalidade econômica das nações - Existe tal coisa como uma ‘mentalidade econômica…de uma nação’? Sou muito cético destes agregados, mas digamos que seja apenas um índice e que os autores não lhe imputem mais do que realmente explica. Bem, neste caso, eu topo a brincadeira.
Neste GIEM (Global Index of Economic Mentality) dos autores, o Brasil até que não está tão mal, é o 27o no ranking (a amostra completa é de apenas 76 países). Por que construir este índice?
While a growing body of research shows a clear association between economic growth and the institutions of economic freedom, those institutions can be quite fragile if the population does not have a clear understanding of what makes a country prosperous.
Os autores têm um ponto interessante que é: instituições (principalmente as formais, eu diria) não se sustentam se as pessoas do país não entendem sua importância. É com este argumento que justificam a construção do GIEM.
Geralmente não gosto do uso de dados de surveys. Aqui, contudo, os autores foram convincentes.
Is it possible to quantify the values people hold through survey data? A common argument against the use of surveys is that true preferences are revealed only by observable actions. However, preferences over institutions and policy frameworks are different from preferences in goods and services. The former preferences are revealed in political choices, such as elections, in which the individual has virtually no reason to expect that his or her choice will have an effect on the outcome. Therefore, “elections are surveys” (Caplan 2006: 132). Moreover, elections rarely offer choices that cleanly differentiate between economic mentalities. When it comes to values regarding institutions and policies, surveying people’s opinions is arguably more useful than measuring particular behaviors.
O GIEM usa algumas perguntas do famoso World Values Survey. Suas dimensões? Veja a figura a seguir.
São, portanto, seis perguntas (subdimensões) em três grandes dimensões (eficiência, redistribuição e responsabilidade).
Quando se olha a América Latina, destacam os autores (e aqui eu praticamente traduzo): (a) há pouco interesse na redistribuição de renda, comparativamente falando (o que não é tão curioso assim, no nosso caso, quando você vê a ação dos lobbies no Congresso contra quase qualquer proposta de reforma administrativa) e; (b) também é o grupo da amostra com menor entusiasmo pela iniciativa privada e competição (o que, novamente, no nosso caso, não é algo estranho, haja vista a abundância de anedotas sobre programas redistributivos rent-seeking…).
Um ponto muito interessante do artigo diz respeito à diferença intergeracional do GIEM. A figura abaixo pode ser útil aqui.
Ainda que a correlação seja baixa, o diagrama de dispersão (aos curiosos, o Brasil é o BRA, abaixo da reta, mais ou menos na posição (~ 0.5, ~ -0.05) parece mostrar uma relação negativa entre a mentalidade econômica das pessoas com 40 anos ou mais e a diferença entre a mentalidade destes e a dos mais jovens.
Esta correlação ilustra o seguinte: a cada aumento no valor do GIEM dos mais velhos, menor a diferença de mentalidade entre os mais velhos e mais novos.
No caso do Brasil, os mais velhos têm um comportamento pró-mercado (~0.5 no eixo horizontal). Contudo, a diferença intergeracional é negativa (~-0.05) o que significa que os mais jovens são relativamente menos pró-mercado.
Não é muito diferente do que percebo. As redes sociais estão recheadas de campanhas que tentam, de um jeito ou de outro, denegrir o valor do mercado.
Ou o mercado ‘não é tudo e temos que conversar sobre ____(preencha com o conceito de sua tribo favorita)’, ou ele é maligno (o mercado é o ‘neoliberalismo’ e o ‘neoliberalismo é intrinsecamente maligno’). São campanhas que não eram tão mainstream nos anos 80 ou 90.
A despeito do que este e outros artigos mostram acerca do efeito positivo dos mercados, inclusive em termos morais, muitos de nós seguem se portando de forma agressivamente radical (pouco científica), ignorando as evidências quando estas os contradizem.
Encerro com este trecho do Storr & Choi que considero uma boa provocação.
Markets do not corrupt our morals. Not only are people wealthier, healthier, happier, and better connected in market societies, market activity makes us better people. Markets are spaces where we discover who is virtuous and can expect many of our vices to be revealed. Additionally, markets reward virtue and punish vice. As such, markets are moral training grounds.
Outro dia a gente volta ao tema. Ah, mas antes que eu abandone totalmente o assunto, o V Fórum Mackenzie de Liberdade Econômica deve ocorrer em breve. Não sei quantos artigos foram submetidos (eu e meus excelentes coautores enviamos alguns), mas o que vi nos anos anteriores já vem sendo, a cada ano, mais e mais animador.
A única decepção é ver que muitos think tanks liberais brasileiros seguem não produzindo pesquisas científicas no tema. Talvez eu seja muito chato (eu sou) e não esteja vendo o ótimo Fórum como uma exceção refrescante a este deserto de pesquisas. Prove-me errado, por favor, leitor(a).
De todo modo, eu aposto que o Fórum Mackenzie de Liberdade Econômica será um sucesso neste 2021.
Gigi - Registro aqui que, no dia 16/11/2021, no sofá de Gigi e Sofia (sim, elas têm um sofá só delas), Gigi, do nada, lambeu uma das minhas mãos, gerando a estranha sensação de que posso ser um imenso sachê de ração líquida.
França - Só o Pedro Sette-Câmara para me fazer ler elogios aos franceses sem cair na gargalhada. A propósito, nos meus tempos de graduação, no afã de tentar ser menos inculto, assisti a dezenas de filmes franceses e alemães na, então pequena, Sala Humberto Mauro. Curiosamente, não me lembro de nenhuma história dos filmes franceses. Devo ter um vírus francofóbico em meu fígado.
Bananéricas - A cortesia do Adalberto encheu de alegria meu lado bananérico (tenho outro lado?).
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Doutor Palhinha e Juó Bananére: Tomo I - Eis o compilado do que saiu do meu laboratório.
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Por hoje é só. Desculpe-me a correria. Volto ao ritmo normal na próxima semana. Até lá, tudo de bom. Caso tenha chegado aqui pela primeira vez e gostado, considere, caso seja de sua conveniência, assinar…
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Até mais!