O gerente enlouqueceu! Outra edição extraordinária! Mas tem um bom motivo. Não sou eu o autor do que se segue. Nesta edição eu terceirizei o texto. Como assim? Senta que eu te explico, uai!
A ideia de uma história para o doutor Palhinha surgiu no Twitter e eu e outros aderimos (veja o divertido resultado aqui).
Contudo, nem todos sabem do desafio, motivo pelo qual convidei uma pessoa que gosta de ler como ninguém: a talentosa Antônia Melcher (seu nome artístico).
Antônia é lá do sul (não do sul de Minas, mas do sul, RS, ok?) e conheceu o doutor Palhinha há pouquíssimo tempo. Mesmo assim, ela topou o desafio. O resultado? Já vamos ver.
Antes, um aviso importante. O desafio de escrever sobre o doutor Palhinha não é trivial, dada a natureza do personagem (é da personagem? Já não me lembro). Afinal, o investigador é uma das pessoas mais preconceituosas que existe.
Mas Antônia não é autora que treme diante de um desafio. Como boa gremista (é o que me diz o pai dela), ela enfrenta a adversidade com obstinação. Com vocês…
“Quem diria? Doutor Palhinha veio pro sul!”
Por Antônia Melcher
Olhando para o seu relógio, Dr Palhinha pensou quanto tempo ainda ia demorar para o diretor chegar. Ele tinha sido chamado por conta de um simples roubo de um computador e com toda a sua ignorância, se remexeu na cadeira achando que aquilo não valia o seu tempo.
-Desculpe a demora Doutor, entre para falarmos mais sobre o caso. Falou o diretor da escola.
-Achava que não iam me chamar nunca, parece que vocês não ligam para descobrir quem cometeu esse crime. Disse o Doutor, revirando os olhos sem ao menos se importar com quem estivesse vendo.
Após uma troca de sorrisos amarelos pela parte do diretor, ambos entraram na sala de informática.
-Aqui foi onde o crime aconteceu, roubaram o computador na sexta, mas tivemos que esperar segunda para te chamar. Então o suspeito conseguiu devolvê-lo mas, se ajuda, eu me lembro qual foi o roubado.
-Que escola é essa que um objeto de valor é pego e depois devolvido sem ninguém ver. É por isso que o Brasil tá assim.
-Felizmente, isso é incomum aqui. Então, não estávamos prontos para isso.
-A competência da sua escola naum é da minha conta, quero pegar esse vagabundo. Me conte sobre os suspeitos.
-Tinham apenas quatro pessoas na escola naquele horário, sendo uma a secretária, mas que está doente hoje e não pode vir.
-Se ela for a ladra não me responsabilizo por nada, além do mais com o salário extremamente baixo que vocês devem dar prá ela, eu naum a culparia de roubar alguma coisa de vocês.
-Mas me mostre quem está aqui.
O diretor o levou até a sala onde os suspeitos estavam, enquanto pensava na ignorância da fala do doutor Palhinha.
-Esses três são os suspeitos, se quiser pode começar a conversar com eles.
-Já imaginava que ia ser alguma coisa desse tipo, dentre os três suspeitos um parece um fresco, esquerdista e tarado, uma gorda que naum deve nem conseguir levantar aquele computador e um neguin fudido, zé ninguém que parece um maconheiro.
Todos naquela sala ficaram chocados com os preconceitos do Dr Palhinha. Ele tinha conseguido insultar vários grupos de pessoas em apenas uma fala. Depois dessa primeira impressão, o inspetor começou a interrogar os suspeitos.
Primeiro a mulher, apelidada de ‘a gorda’ pelo doutor. Logo em seguida foi a vez do professor de história, apelidado de ‘fresco’ pelo detetive que sempre anotava tudo no seu bloquinho. Por último, o professor de filosofia, ou melhor o ‘neguin fudido’, foi entrevistado.
Após o Dr Palhinha falar com todos os suspeitos, pediu para o diretor mostrar o computador novamente, para ele tirar as suas últimas conclusões.
Dito e feito, logo depois de ver o notebook o doutor chegou com o veredito final.
-Já sei quem foi o ladrão do computador.
-Já? Não sabia que o senhor era tão bom assim.
Dr Palhinha encarou o professor de filosofia.
-Foi esse ‘neguin’ aqui.
-Como você pode ter tanta certeza? Perguntou o diretor já tentando ignorar os insultos vindo do detetive.
-É óbvio, essa gorda aqui só deve usar o computador prá ver receita de comida, e naum existe nenhuma pesquisa relacionada a isso no histórico, sem contar que naum tem uma migalha de comida no teclado, o que seria impossível vindo da sua situação. Também não foi o ‘fresco’ pois esse com certeza é um baita de um tarado que só pensa naquilo no meio das perna de homem. Novamente: não tinha nada assim no histórico de pesquisa. Assim sobra só este ‘neguin’, que não deve ter capacidade de usar o computador. Por isso logo após o roubo ele o devolveu.
-Foi isso mesmo que aconteceu? Perguntou o diretor
-De certa forma, tinha muita coisa para corrigir então seria melhor levar o computador para casa, vendo o rebuliço que causei não falei nada.
Após o incidente, o ‘fresco’ segue sua vida, esperando o cara certo. A ‘gorda’ segue sua faculdade de nutricionismo e o ‘neguin fudido’ continuou sendo o professor de filosofia mais bem pago de todo o estado do Rio Grande do Sul.
Sobre a autora: Antônia Melcher é uma leitora voraz e pouco introspectiva.
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Pois é, amigos. Espero que tenham gostado. Bom final de semana e, claro, encontro vocês na próxima quarta.