Economia do Futebol, Ruanda e um show de variedades
Nu sucialismo quello che é di uno é di tuttos. (Juó Bananére)
Eis o v(1) n(54) saindo do forno! Hoje, um pouco dos meus trabalhos em Sports Economics seguido de outro temas.
Talvez você seja novo por estas bandas. Rapidamente: publico duas vezes por semana, geralmente às quartas e sábados. Eventualmente há algumas edições extraordinárias. Assinar (custo = R$ 0.00) me ajuda bastante. A temática? De tudo um pouco. Confira os números anteriores aqui.
Vamos lá?
Futebol e Análise Econômica do Direito (um pouco de auto-propaganda) - A nossa conversa sobre futebol ficou registrada aqui. Agradeço imensamente à professora Amanda pelo convite!
O futebol movimenta milhões (bilhões?) de reais no país. É estranho que ainda não seja alvo de estudos pelos economistas. O pessoal da gestão e do direito, obviamente, já é muito demandado, principalmente pelo futebol brasileiro.
Por outro lado, ainda há uma certa confusão entre o que um economista pode fazer e um analista de desempenho (uma espécie de cientista de dados especializado…) faz. O economista tem muito a contribuir, claro.
Afinal, há muitas questões sobre não só o desenho dos incentivos (lembre-se do meu comentário, por exemplo, sobre o efeito Peltzman e a arbitragem). Há todo um mercado de jogadores, técnicos a ser explorado cientificamente. Hipóteses tradicionais dos modelos de Economia do Trabalho podem ser testadas com dados oriundos do futebol, para dar um exemplo simples.
O principal journal da área é o Journal of Sports Economics e há até uma associação, a North American Association of Sports Economists (estivemos na 1a conferência virtual deles, no Ano I da Pandemia, como você pode conferir aqui).
Em nome da auto-propaganda descarada, deixo aqui alguns dos artigos que publiquei na área de Sports Economics. Acredito que eu, Ari e Leo inauguramos as publicações desta agenda de pesquisa no Brasil, lá em 2005, mas pode ser apenas um wishful thinking meu.
Quebrando o clube: quando a racionalidade política prevalece no futebol. Revista Gestão e Negócios do Esporte, v.6, n.1, p.1-12, 2021. (com Araujo Jr., Ari F. de, Tanure, Rodrigo C.)
Uma nota sobre a Lei de Zipf no futebol brasileiro: o ranking da CBF (2013-2018). Podium. v.8, n.2, p.230-240, 2019. (com Fernandez, R.N. & Carraro, A.)
Determinantes do tempo médio de substituições no futebol: uma análise do campeonato brasileiro de 2014. Sinergia. v.23, n.2, p.71-8, 2019. (com Araujo Jr., A.F. de & Neves, R.C.
“Fine, Mr. Feola, but have You agreed to all of that with the Russians?” An Analysis of the Determinants of Soccer Match Outcomes. The Empirical Economic Letters, v.18, n.1, 2019, p.59-64. (com Araujo Jr, A.F. de, Carraro, A. & Ely, R.A.) [ver também aqui]
O Mando de Campo em Clássicos: os casos Bra-Pel e Gre-Nal. Análise Econômica, v.36, n.71, 2018,p.135-164. (com Araujo Jr, A.F. de & Carraro, A.)
Cartões Vermelhos e Amarelos e a Teoria Econômica do Crime: o caso do Campeonato Brasileiro de Futebol. Economic Analysis of Law Review, v.9 n.1, 2018, p.242-258 (com Araujo Jr, A.F. de & Pinho, F.M.)
Determinantes das Mudanças de Liderança: O Caso do Campeonato Brasileiro de Futebol. Revista Brasileira de Futsal e Futebol, v.10, n.37, 2018, p.130-137. (com Araujo Jr., A. F. de & Ferreira, V.G.)
PPPs e Copa do Mundo: Desenho contratual para estádios. Revista da AMDE, v.15, p.86-108, 2016. (com Rodrigo N. Fernandez, João A.C. Castro).
Campeonato Brasileiro de Futebol e Balanço Competitivo: Uma Análise do Período 1971-2009. Revista Brasileira de Futebol, v.3, n.2, 2010, p.73-87. (com Araujo Jr. A.F. & Drummond, L.).
“Abrindo a “caixinha de surpresas”: uma análise econométrica do futebol brasileiro” Análise Econômica, v.23, n.44, 2005. (com Araujo Jr., A.F. & Monasterio, L.M.)
Sempre torço para que mais pesquisadores trabalhem com o tema. Ari F. de Araujo Jr, talvez meu coautor mais presente na lista acima, atualmente, é doutorando em Economia no PPGOM-UFPel.
Antes do doutorado ele já publicava prolificamente. Não duvido que siga como uma das maiores referências no tema (e seus alunos de graduação deveriam trabalhar mais com o tema, penso (enviesadamente) eu).
E você, o que acha do futebol como um objeto de análise para pesquisas? Caso queira, deixe aí seu comentário.
Governança Radical - Neste pequeno texto, Michael Strong discute questões do que chamo de governança radical. Eis um trecho interessante.
Rwanda began a gradual process of switching from civil law to common law following the 1994 genocide. In 2004, Dubai created the Dubai International Financial Centre (DIFC), a common law jurisdiction in a Sharia law nation-state, in order to attract Big Finance.
Eis algo que eu não sabia: Ruanda está mudando seu sistema legal. Também está usando zonas econômicas especiais (ZEE) para produzir vacinas. Francisco Litvay, inclusive, relata que esta ZEE tem muito mais:
Not only does Flag of Rwanda Kigali SEZ have Africa's first self-driving car factory, first African smartphone producer, and the Carnegie Mellon Campus for Africa, they will now also be home to Africa's first vaccine manufacturing facility (…).
Eis aí uma variedade de temas tratados em uma única ZEE. O quanto isto promoverá um maior desenvolvimento econômico é um ponto a ser estudado no futuro. Aqueles que leram O Nó de Salomão de Cooter e Schäffer e ‘compraram’ a tese central do livro têm, no caso de Ruanda, um possível experimento a ser analisado com mais calma.
De todo modo, o país vem, há alguns anos, numa lenta, mas sólida trajetória de melhora no Índice de Liberdade Econômica do Fraser Institute. Não é pouca coisa, principalmente quando você pensa em um país africano…
Queima o barquinho! - Cerimônia trianual dos taiwaneses para afastar pestes? Temos. Está aqui. Há duas explicações para a origem do evento.
Na primeira delas, 36 servidores públicos da elite do império são enviados de barco para espalharem os bons ensinamentos pelo império e afundam.
Já na segunda, são apenas 5 servidores que descobrem que deuses da peste querem envenenar uma fonte local e, numa (eu diria: exagerada) tentativa de impedir que o povo se contamine, pulam do barco na tal fonte e morrem afogados/envenenados.
Há algo de irônico, penso, em se ter uma cerimônia que vive de queimar, periodicamente, o navio-símbolo que transporta os 5 ou 36 servidores (ainda mais em formato de tábuas funerárias…). É deliciosamente irônico, pelo menos para mim. Aliás, minha versão da lenda está aqui.
Liberdade de Expressão…mesmo - Ótima thread sobre Popper e a liberdade de expressão. Vendo algumas manifestações no Twitter, contudo, fico na dúvida se, realmente, brasileiros apreciam a liberdade de expressão. Pensando melhor, é o país em que todos se acham grandes criadores de nudges para resolver vieses de comportamentos…alheios. É, não sei não…
Cancelamentos - A loucura do cancelamento (o wokismo) não deixa de gerar boas piadas. Esta, da Titania, por exemplo.
O tempo ótimo para se cortar madeira - Problema clássico de cálculo intertemporal, este aqui parece uma piada. Ou então, o que seria bem engraçado, a 3a Guerra Mundial começará com uma tentativa dinamarquesa de revanche…
Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil - Localizado dentro do prédio do Bunka (a Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social), em SP, o museu sofreu com a pandemia. Os administradores lançaram, então, uma campanha para arrecadar fundos, destas com prêmios diferenciados conforme a contribuição.
Mais de um ano depois, passei lá e tive a alegria de ver os funcionários saudáveis e o museu firme e forte. Ganhei um catálogo, uma linda camisa e dois ingressos para visitar o museu, algo que farei novamente em breve.
Liberdade Econômica (dias 9 e 10 de novembro) - O V Fórum Mackenzie de Liberdade Econômica será online e ocorrerá semana que vem. Eu e mais alguns coautores estaremos lá. Também participarão Peter Boettke, William Summerhill e Jorge Caldeira. Claro que eu sugiro que você participe.
Reagan e Carter - Reagan não gastou tanto assim em defesa e Carter foi um grande desregulador (ouviu, Biden? Biden? Acorda!).
Bem, por hoje é só. Tudo correndo bem, a gente se encontra no próximo sábado ou a qualquer momento, em edição extraordinária.