Mini-edição extraordinária: o dia da segunda dose da vacina
Não, não, a vida não passou diante dos meus olhos...
Extra! Extra! Tomei a segunda dose da vacina e não tirei fotos. Mas agradeço muito aos indivíduos envolvidos que se empenharam como os rapazes e moças que nos orientam na fila, os servidores municipais que preenchem os dados no sistema (a despeito de um jornal acusá-los falsamente de nos fornecerem vacinas vencidas) e aos amigos que me avisaram, no grupo, da mudança de datas noticiada.
Vamos ao relato.
Neoliberalismo globalizante e excludente - A prefeitura resolveu adiantar a segunda dose da vacina para os jovens de 52 anos de idade (minha classificação de jovem difere da usada pela OMS1) e, portanto, agora sou um homem com duas doses de Coronavac no organismo.
Graças ao jornal local (este terrível veículo divulgador de notícias em uma economia de mercado neoliberal) e a um amigo (que trabalha por conta própria no setor privado neoliberal) do grupo do WhatsApp (este aplicativo privado desenvolvido pelos neoliberais), a notícia chegou até mim2. Como pode notar, leitor, sou uma vítima do famigerado neoliberalismo.
Ao contrário do evento da primeira dose, fui pego de surpresa. Esperava pacientemente pela manhã de segunda-feira (havia agendado há semanas…). Havia feito planos detalhados para me precaver (ao máximo) de imprevistos e, não, eu não iria levar um cartaz agradecendo a indústria farmacêutica pelas vacinas.
Diante da novidade que chegou a mim pelos fantoches do neoliberalismo mencionados na manhã de ontem (sábado), ao término de um compromisso matinal, peguei meu cartão de vacinação, as chaves do carro, e parti para mais esta emocionante aventura (assim eu poderia tomar uma cerveja mais tarde como, de fato…).
Surpreendentemente, a fila (no mesmo local da primeira dose) era pequena e tudo transcorreu sem percalços. Do que estou falando? Lembre-se do relato no dia da primeira dose. Por que a fila pequena? Não sei explicar a causa.
Pode ser mesmo que a população de jovens de 52 anos da cidade seja muito pequena. Ou eu cheguei tarde. Ou estão todos fazendo outras coisas na manhã de sábado e vão, como bons brasileiros, deixar para os últimos 30 minutos do prazo. Algum motivo, claro, há. Só que, como sempre, eu não faço ideia de qual seja3.
Durante toda esta (eletrizante?) aventura, o cartão de memória recheado de músicas que faz a trilha sonora do meu automóvel sorteou músicas infantis japonesas (por algum motivo eu me esqueci de apagá-las). Poético porque, creio, as primeiras vacinas a gente toma na infância, não sem algum choro (ou escândalo). Vacinas nos acompanham desde sempre, não? Não, gente. Na história, vejam, é recente. Nós é que demos sorte.
Na sua opinião, há efeitos colaterais? - Eu tenho a sensação de que a vacina não causou danos colaterais. Como eu sei? Fácil! Dois exemplos.
Eu leio a notícia de que Jeff Bezos resolveu passear de foguete e continuo não manifestando os sintomas fascistóides de gente infectada pelo vírus do Autoritarismo Moralista Estupidificante (ironicamente, A.M.E.) muito comum desde o advento da seção de comentários em redes sociais4.
Segundo exemplo. Vejo uma foto de jornalista vestida de quimono para falar das Olimpíadas e não consigo sentir uma revolta profunda a ponto de pensar em condená-la (ou pedir que a queimem em uma fogueira) por uma imaginária (e que má imaginação!) apropriação cultural.
Óbvio, não? A vacina não afetou minha inteligência5. Espero que ela tenha me ajudado a passar por esta pandemia de uma forma melhor. Ainda não posso lamber o corrimão, beijar o rodapé ou esfregar minhas costas nuas no portão do estacionamento. Pensando bem, eu não iria fazer isso mesmo, mas acho que você entendeu as sensações que eu quis transmitir, certo?
Eu agradeço ao Dr. Li Wenliang por ter, de dentro de uma ditadura, tentado nos avisar do perigo que ele vivenciou. Não fosse por ele, a indústria (neoliberalismo de novo!) farmacêutica não teria corrido para produzir vacinas.
Viva Li Wenliang!
![](https://substackcdn.com/image/fetch/w_1456,c_limit,f_auto,q_auto:good,fl_progressive:steep/https%3A%2F%2Fbucketeer-e05bbc84-baa3-437e-9518-adb32be77984.s3.amazonaws.com%2Fpublic%2Fimages%2F0b292c56-9d4e-4c4d-bed0-af47dd3f4916_4718x3145.jpeg)
Meu corpo, minhas regras.
A página da prefeitura não é exatamente um local de fácil navegação e, sim, a integração digital com o cidadão ainda não é suficiente para você receber avisos em seu celular. Existe aí uma oportunidade de mercado para o desenvolvimento de aplicativos que, de fato, sejam de fácil uso para qualquer usuário, inclusive os rabugentos.
Minha vida é uma eterna busca de alguma compreensão no mar de ignorância. Por exemplo, ao invés de aprender a tocar banjo, eu dedico muitas horas do meu tempo pesquisando sobre os motivos (meta)físicos ou (meta)humanos que me levam a não aprender a tocar o (mal)dito banjo. Teria a ver com o DNA? Faltou educação (e a culpa é dos meus pais)? Seria um problema social mais profundo? Minha falta de interesse em banjos poderia ter a ver com a escravidão na época do império? Do que é mesmo que estamos falando? Quem falou em banjo?
Patenteá-lo-ei!
Minha avaliação é preliminar. Não leve muito a sério. Pode ser que eu me veja com vontade de queimar estátuas de Paulo Freire ou de bandeirantes famosos mais tarde.
Não sou muito fã de política americana, mas este canal do youtube tem debates muito interessantes com neoliberalistas: https://www.youtube.com/c/SamSeder Um dos mais chocantes que assisti nos últimos tempos foi este: https://www.youtube.com/watch?v=exHYiLDLq4E&t=707s