Doutor Palhinha e as vacinas contra o SARS-COV; Bobagens de Sombart; Veblen e Slutsky no Twitter, etc.
Uma torção no seu espaço-tempo!
Eis o v(1) n(56) na porta da sua casa! Os temas principais de hoje são uma ideia para uma história mais longa do doutor Palhinha (criação do grande Alexandre Soares Silva que insiste em me assombrar), um breve puxão de orelha em Werner Sombart. Falo também de um aspecto da personalidade de Thorstein Veblen e, bem, deu preguiça. Vamos para o próximo parágrafo.
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Ok, então vamos ao que interessa!
A vacina do SARS-COV só existe por ação do doutor Palhinha - Time Travelers, de 1976, é um filme produzido por Irwin Allen com roteiro original, supostamente, de Rod Serling. A premissa da história é simples: para achar a cura de uma peste surge nos EUA dos anos 70, dois viajantes do tempo deverão voltar até o século 19. Por quê?
Ora, porque, naquele tempo, um vírus similar havia atacado o país e um cientista havia achado a cura mas, por motivos diversos, suas anotações tinham se perdido. Que outro motivo haveria, não? Bem, o filme pode ser encontrado, na íntegra, aqui.
Será que ninguém pensou na mais óbvia das ideias? A melhor teoria da conspiração seria a de que a rapidez com que encontramos as vacinas para a Covid-19 é resultado direto da ação de viajantes do tempo que foram até o passado investigar alguma peste obscura cuja existência o serviço secreto norte-americano (ou a U.N.C.L.E. ou os Kingman etc) esconde do mundo.
Para tanto, teria sido enviado ao passado o doutor Palhinha (claro, né?), com a missão de, usando seu método pouco usual de investigação, tentar encontrar as anotações perdidas do abominável Dr. Phibes (por esta você não esperava!).
Em meio à sua vingança pela morte da mulher, Dr. Phibes, incidentalmente, descobre a cura para um vírus similar ao nosso popular SARS-COV, mas guarda as anotações em alguma gaveta de sua mansão.
Doutor Palhinha, transportado para os anos 70, encontra o entristecido e vingativo Dr. Phibes, com o qual terá que interagir até descobrir onde estão as anotações.
No desenrolar da história, doutor Palhinha descobre novos (digo, antigos) preconceitos e estereótipos que o ajudarão em novas aventuras quando de sua volta ao século 211.
‘- Ô seu fíbes.
- É Phibes, doutor Palhinha!
- Desculpa, doutor. Mas eu preciso dos seus papéis…
- Ah, estou ocupado planejando uma vingança aqui. Procura ali no criado mudo.
- Cientistas vingativos descuidados. Típico. Todo mundo sabe que cientista é um sujeito distraído. Claro que deve ter largado as anotações no local mais improvável…
- Pare de me incomodar, doutor Palhinha. Tô arquitetando um plano aqui…
- Ó, achei. Amassados, dentro do bolso deste belo toalhão de banho.
- É um robe!
- Isso, seu fíb..opa, seu Phibes.
Após o desaparecimento do Dr. Phibes, doutor Palhinha voltaria ao final de 2019 e encaminharia seus achados para os grandes laboratórios que, finalmente, desenvolverão as principais e inovadoras vacinas em tempo recorde.
Como é que não vendi isto para um roteirista de Hollywood/Bollywood ainda?
Judeus e a Companhia das Índias Ocidentais - Lembro, lá do longínquo 2002, de pesquisar sobre a Companhia das Índias Ocidentais e ver mais de um autor criticar fortemente o famoso Werner Sombart, que falava umas bobagens sobre o tema.
O ponto é que Sombart, no afã de tentar se igualar ao rival Max Weber, teria o péssimo hábito de ‘inventar’ estatísticas para comprovar suas teses.
Neste caso específico, ele tentava sustentar que a maior parte dos acionistas da mencionada companhia eram judeus. Lira Neto, em seu Arrancados da Terra, relembrou-me que a história foi bem diferente...
Aliás, quem gostava muito dele por aqui era o Oliveira Vianna, aquele sobre o qual fiz um breve conto por aqui, há algum tempo. A esquerda brasileira dos anos 60-70 também curtia o sujeito. Um exemplo?
Bem, ele foi tido como um autor importante a ponto de merecer estar em uma coletânea. Em um dos capítulos de Economia e Ciências Sociais, da Zahar Editores, 1969, Sombart aparece com Os Judeus e o Capitalismo, uma tradução, da falecida professora Maria Regina Nabuco Palhano, de trecho de um texto do famoso alemão2.
Revisitando alguns verbetes sobre este estranho pensador, notei que a Wikipedia parece estar menos crítica a ele atualmente, o que me causou certo estranhamento.
Mas que você que me lê não se engane. Sombart não era um bom cientista social. Pode até ser que haja algo em suas obras que possa ser salvo do esquecimento, mas acho pouco provável. Recentemente soube que traduziram um livro dele (está à venda por aí). Cada um que gaste seu dinheiro como melhor preferir, né?
Os horários de atendimento de Thorstein Veblen e a Equação de Slutsky das postagens dos economistas - O sonho de muitos professores é viver cercado de alunos. Este é exatamente o pesadelo de outros professores. Claro, há mil e uma considerações como, sei lá, muitos alunos mal-educados não valem um bom aluno ou melhor estar cercado de alunos que desejam aprender do que um bando de convencidos.
Poderíamos conversar sobre mil conjecturas e ponderações, claro. Mas o melhor, para mim, é o que fez Veblen (já pensei em fazer algo assim, mas o bom humor, hoje em dia, é tido como ofensa por muito sujeito de mente fraca). E o que fez Veblen? Ele colocou, na porta de seu gabinete, seus horários de atendimentos aos alunos.
‘Thorstein Veblen, de 10 às 11, segundas, quartas e sextas’, foi aos poucos sendo modificado, até dizer simplesmente: ‘segundas, de 10 às 10,5’. [Heilbroner, R.L. Introdução à História das Idéias Econômicas (Grandes Economistas), 1974, p.203]
Percebe-se que seu desejo de provocar era maior que o de ser popular. Eu não sou um adepto das teses do Veblen, mas admiro este seu traço de personalidade. A diferença para os dias de hoje?
Ora, hoje, a maior parte dos professores de Economia (ou dos economistas em geral) só querem agradar a gregos, troianos, romanos e bárbaros. Sempre. As redes sociais têm efeitos adversos sobre os economistas. Vejo a exposição dos professores de Economia nas redes como a soma de dois efeitos.
Há o efeito-substituição: quanto maior o preço de se expor na rede, menos ele é original em suas postagens (ou, diria alguém, menos ele comete sincericídios). Mas há o efeito-renda também: o aumento da renda real pode gerar tanto maior demanda por reconhecimento com postagens originais como seu efeito inverso.
A soma destes efeitos compõe a chamada equação de Slutsky, comum nos livros básicos (e também nos avançados) de Microeconomia. Apenas adaptei-a para pensar no caso dos impactos de variações no custo de ser original, ou até politicamente incorreto na vida dos economistas nas redes sociais. Alguém deveria testar esta hipótese. Eu gostaria de ver mais gente como Veblen e menos sombras3.
Kimonos nas Províncias Unidas - A propósito dos neerlandeses, eis uma interessante curiosidade histórica: no final do século 18, uma vestimenta fashion entre os cidadãos ricos era esta aí embaixo, baseada nos kimonos.
Economia - Um singelo, mas esclarecedor texto sobre o que economistas estudam.
Forward - Vem aí, partido novo nos EUA. O fundador? Andrew Yang. Quem é ele? Pois é, o artigo é uma entrevista com ele, feita pela ótima Bari Weiss.
Bens públicos gerados pelo setor privado - Scott Alexander está oferecendo bolsas de pesquisa. Detalhes aqui.
Miss Dollar - De posse de um conto do Machado de Assis ('Miss Dollar’, que, além de ser o título do conto, é nome de uma cachorrinha perdida que dá origem a toda a trama…) e de criativa postagem sobre um anúncio de recompensa por uma perdida bicicleta invisível (sucesso no Twitter há um tempo), criei algo. Tá aí embaixo. Clica na figurinha que a imagem abre por inteiro.
Espero que goste.
Talvez você seja novo por estas bandas. Rapidamente: publico duas vezes por semana, geralmente às quartas e sábados. Eventualmente há algumas edições extraordinárias. Assinar (custo = R$ 0.00) me ajuda bastante. A temática? De tudo um pouco. Confira os números anteriores aqui.
Isto, inclusive, daria fôlego para a franquia de livros/filmes (acompanhada de bom merchandising que incluiria um álbum de figurinhas da Panini, livros de bolso infantis, bonecos, funko pop, pelúcias, chaveiros e, claro, canecos e camisas estampadas…do doutor Palhinha (e seus arquiinimigos).
Sombart divide espaço com Seligman, Toynbee, Veblen, Kropotkin, Lenin, Keynes, Marchal, Spiethoff, Schumpeter e Baran. O livro é uma espécie de introdução a algumas ideias de cada um dos autores.
Lembra daquela história da irracionalidade racional? Dá uma olhada. Tá em um ou dois dos números anteriores desta newsletter.