Vá ver se eu estou no lugar de fala, po**a! Biscoito de consciência. Outros.
Newsletter alegre, política, crítica e esfuziante. Noticiário avariado, telégrafo sem arame, crônica epidêmica, tiragem de cem mil quilômetros, por ora; colaboração de graça, isto é, de espírito.
Sim, chegamos ao v(2), n(90) desta newsletter.
Esclarecimento: a longa frase da chamada é, trocando ‘newsletter’ por ‘semanário’ a apresentação que fazia a revista Fon-fon!, em 1911, conforme nos relata Elias Thomé Saliba em Raízes do Riso, Companhia das Letras, publicado por aqui em 2002.
Sobre isto… - Estava vendo aqui. Comecei esta brincadeira em 10/05/2021. Era o segundo ano da pandemia. A morte da blogosfera - substituída pelo Facebook - foi muito ruim. Pelo menos para mim.
A newsletter começou com um tom mais não-ficcional e, com o tempo, migrei para um formato misto, com maior ênfase na ficção. Não é uma tendência férrea. A base dos assinantes parece gostar do formato atual (não há queixas) e, assim, sigo em frente.
Sim, já estamos quase no meio de novembro. Em breve, a mensagem de Natal, prometo.
Fiz a contagem manual. Em 2021, lancei não só números regulares, mas também umas extraordinárias. Foram 90 cartas (e mais 3, mas que foram apenas coletâneas temáticas). Em 2022, acho que não tive muitos números extraordinários. Em 2022, até agora, foram 93 (ou seja, tivemos 3 edições extraordinárias).
Fico pensando se conseguirei manter o ritmo de duas cartas semanais (quarta e sábado). O assinante poderia me ajudar aqui. Deixarei o survey aberto por uma semana.
Vá ver se eu estou no lugar de fala! - O dia de trabalho foi duro. Mais dificuldades que o usual. Nem o café havia sido bem passado. Nem menciono as diversas reuniões improdutivas ao longo do dia o que, decididamente, não ajudavam muito em seu humor.
Atrasou-se com um relatório pedido de última hora e, assim, saiu de casa depois do horário do metrô usual, o que não lhe permitiu fazer as compras que havia listado pela manhã (e que eram importantes para o café da manhã dos dias seguintes).
No banheiro, sem querer, abriu a torneira com mais força que o usual ao escovar os dentes e foi premiado com muita água irregularmente espalhada por sua camisa e calça. Por sorte, a pasta estava em sua sala, senão teria sido mais uma vítima de seu, digamos assim, azar.
Seu estado de espírito já era um misto de resignação com indignação (consegue imaginar?). Ora pendia para um, ora para outro. Uma perigosa transição, típica de quem passa por vários dissabores em tão curto espaço de tempo. Tentou se enxugar com as toalhas de papel, mas este não era lá de muita qualidade, desmanchando-se facilmente.
Ao entrar no elevador, viu-se diante de uma das criaturas mais implicantes do planeta, a viúva Tânia, terror de todos não só do escritório, mas de todo o prédio.
“- O senhor anda mal vestido assim, seu Honório?
- …
- O senhor me desculpe, mas saber se enxugar bem não é uma arte tão sofisticada.
- …
- Aliás, o senhor precisa melhorar a qualidade da revisão gramatical nos relatórios.
- …
- Seu Honório, só porque, presumo eu, macho, cis, hetero, patriarcal, radical, não precisa ficar calado. Eu sou uma pessoa muito tolerante e democrática. Não rotulo os outros.
- …
- O senhor não vai falar nada, seu Honório? É machismo isso.
- Eu…
- Ah, e nada de mansplaining, viu?
- Senhora Tânia…
- Senhorita Tânia. O senhor tem este ódio contra viúvas ou é impressão minha? Só porque meu falecido marido não está entre nós…não posso ser senhorita? Meu estado civil, minhas regras.
- Senhorita Tânia…
- Sim?
- Vá ver se eu estou no lugar de fala, porra!”
E assim, pela primeira vez no dia, teve seu momento de felicidade.
p.s. Em breve, a continuação: vá ver se estou no (seu) lugar de fal(h)a, porra!
Livros (parte 1?) - Lidos em 2022. Não saberia fazer um ranking, mas comento brevemente alguns. Talvez faça uma segunda lista. A depender (de várias coisas).
Contra toda censura - Livro do Gustavo Maultasch que, por exclusiva culpa de nós mesmos (nestas horas, por algum motivo, não importamos instituições de países da OCDE, já notaram?), tornou-se muito mais essencial do que, creio, o Gustavo esperava.
Totolino - Já falei que muito do meu incentivo para voltar a me arriscar em peças ficcionais veio do O homem que lia os seus próprios pensamentos, do Alexandre Soares Silva. Pois bem, este ano ele lançou o Totolino (lançamento na sexta que vem, na Livraria da Travessa, em São Paulo). A narrativa é bem diferente do que já vi. Meu palpite é que não haverá meio-termo. Ou vão amá-lo, ou odiá-lo. Eu amei.
Antes que o café esfrie - Livro de Toshikazu Kawaguchi. Interessantíssimo. De leitura rápida, esta é outra obra de ficção que trata do tema da viagem no tempo. Contudo, o autor consegue diferenciar seu livro de outros que exploram o tema. As regras das viagens no tempo, neste livro, são únicas e tornam a história mais interessante.
A carteira do meu tio - De Joaquim Manuel de Macedo, é uma sátira política divertida. A impressão que se tem é que os personagens extrapolam o período histórico. Comecei a continuação (Memórias do sobrinho do meu tio), mas não a terminei ainda porque me distraí com outros livros.
Instruções para os criados - Jonathan Swift, claro. Livro pequeno, de leitura rápida. Divertido, como toda sátira do autor. Swift pode ser ácido em algumas ocasiões como é o caso deste livrinho.
O Púcaro Búlgaro - Livro de Campos de Carvalho. Foi uma segunda chance que dei ao autor. Não me arrependi. O nonsense do autor, neste livro, é um destaque. Guarda certa semelhança com o Totolino. Afinal, o clima de ‘sonho’ deste livro não deixa de ser uma forma de nonsense. Os livros do Campos de Carvalho, eu os conheci por conta das recomendações do escritor Carlos Freitas, no ótimo Fitas, Bolachas, Catataus, melhor programa das noites de quinta, no YouTube.
Shamisen - canções do mundo flutuante - Livro de Tiago Minamisawa e Guilherme Petreca. Este livro é maravilhoso por vários motivos. O principal, para mim, é trazer a cultura da música folclórica japonesa para um público mais amplo que apenas o dos descendentes (e a arte é linda, é um belo presente de Natal).
Um bairro distante - É um mangá em volume único. O autor é Jiro Taniguchi e, veja só, também tem uma viagem no tempo. A história tem um tom melancólico, pois o personagem principal busca entender os motivos que levaram seu pai a, em sua adolescência, abandonar a família sem qualquer explicação.
Japanese Death Poems - Organizado por Yoel Hoffman, li no Kindle. É uma coletânea ótima. O autor faz muitos comentários interessantes em quase todos os poemas. Você aprende um pouco de história, do contexto dos poemas, além de conhecer poemas muito bonitos.
Cats in Spring Rain - Organizado por Aya Kush, também lido no Kindle, é um livro pequeno, com haikus com a temática preferida de todos nós: gatos.
História em Rótulos de Cigarros - Livro comprado no sebo. O autor é Mauro Mota. Foi uma decepção. Esperava ver mais fotos dos rótulos. O livro é de leitura rápida e termina com um apêndice que é o catálogo dos rótulos…que eu esperava ver.
Falecimento - Morreu, em um dos últimos dias, o grande Ed Prescott. Quem estudou Economia em boas escolas sabe da importância dele para a macroeconomia moderna.
Urnas - Uma urna de voto impresso, uma urna eletrônica e um padre entram em um bar.
<Piada interrompida por conta do clima (chuvoso). Em seu lugar, uma receita simples: biscoito da consciência.>
Biscoito da consciência
200 g de consciência
100 g de margarina
1 ovo
4 colheres de sopa de açúcar
Desembale a consciência e bata bem até que vire pó. Mas pó mesmo. Misture com 100 g de margarina para dar uma aliviada. Junte esta gogoroba ao ovo (sem casca se for a favor; com casca em caso oposto (não faça composições)).
Caso ainda haja alguma resistência, adoce com açúcar que a vida fica mais bela, colorida e feliz. Para prevenir, misture tudo, assim a consciência se enfraquece e relaxa mais.
Coloque em uma assadeira. Amasse bem porque, bem porque você merece. Leve ao forno pré-aquecido e asse em forno médio. Não ouça os gritos da consciência, caso ainda haja alguma.
Servir com café ou chá.
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler! (*)
(*) “até mais ler” foi plagiado do Orlando Tosetto, cuja newsletter, aliás, você deveria assinar.
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Talvez você seja novo por estas bandas. Rapidamente: publico duas vezes por semana, geralmente às quartas e sábados. Eventualmente há algumas edições extraordinárias. Assinar (custo = R$ 0.00 + valor do seu tempo para apertar o botão subscribe com seu endereço de e-mail lá…) me ajuda bastante. A temática? De tudo um pouco. Confira os números anteriores aqui.