Tempo Incerto. Liberais ou Conservadores? Estado de Defeso. Mercado. Outros Informes.
"E não só pensam, como também pensam que pensam! E além de pensarem que pensam, pensam que têm razão".
Ok, amigo assinante. Eis o v(3), n(5) da newsletter. O subtítulo é de Cecília Meireles, do ensaio que abre o número de hoje que, aliás, está menor que o usual.
Tempo Incerto - …é o nome de um ensaio de Cecília Meireles que, creio, mostra que, na história, muitos fenômenos se repetem. O último parágrafo, diz aí, não lhe parece familiar?
Pois de tal abundância de razão é que se faz a loucura. Os pedestres pensam que devem andar pelo meio da rua. Os motoristas pensam que devem pôr os veículos nas calçadas. Até os bondes, que mereciam a minha confiança, deram para sair fora dos trilhos. Os analfabetos, que deviam aprender, ensinam! Os ladrões vestem-se de policiais, e saem por aí a prender os inocentes! Os revólveres, que eram considerados armas perigosas, e para os quais se olhava à distância, como quem contempla a Revolução Francesa ou a Guerra do Paraguai - pois os revólveres andam agora em todos os bolsos, como troco miúdo. E a vocação das pessoas, hoje em dia, não é para o diálogo com ou sem palavras, mas a balas de diversos calibres. Perto disso, carestia da vida é um ramo de flores. O que anda mesmo caro é a alma. E o demônio passeia pelo mundo, glorioso e impune. [Tempo Incerto. In: Escolha o seu sonho, p.48, Global Editora, 3a reimpressão: 2021]
Não encontrei, no texto de apresentação do livro, nem na cronologia ao fim do mesmo, a data exata do ensaio, mas suspeito que seja dos anos 50 (publicados em 1964, é, talvez sejam dos 60, vai saber).
De todo modo, não sei você, amigo assinante, mas eu sinto que não vivemos em tempos de tantas novidades assim. Tempos incertos e pessoas cheias de razão: eis uma combinação que não funciona muito bem.
Liberais ou Conservadores? - Desta vez, o Orlando Tosetto, em seu último ensaio para a Crusoé, é quem resolveu a questão de se você é conservador ou liberal, com bom humor.
Para ele, ser liberal é ‘deixar os caras’ e; ser conservador, é ‘segurar os caras’. Entretanto, pode ser que os papéis se invertam em algumas situações. Hayek tem um ensaio chamado Por que não sou um conservador. À primeira vista, não se parece com o que o Orlando diz, mas, se você ler com atenção, verá que, sim, há muito em comum nos dois ensaios.
A confusão entre o que é ser um liberal e o que é ser um conservador é muito comum e pouco esclarecida por estas terras onde, até hoje, em pleno século 21, encontra-se jornalistas e militantes que confundem o conceito de liberal anglo-saxão com o liberal adotado no continente europeu.
Piora mais quando se percebe que no, não menos anglo-saxão, EUA, o liberal passou de um liberal anglo-saxão (ou seja, um sujeito parecido com Adam Smith, um liberal clássico) para um simples apelido dado aos caras do partido Democrata (ou seja, seguidores de Biden e, também, de Bernie Sanders). É como se, no Brasil, chamassem um Bholhos ou um Layla de liberal, por exemplo.
A discussão filosófica sobre o que é ser um liberal ou um conservador pode não ter fim. Basta você querer. Ou pode terminar muito cedo, com jargões. Creio que o melhor é algo no meio do caminho onde, geralmente, encontro o Orlando.
p.s. Pode ser coincidência, mas após meu texto, vi pipocar no Twitter vários apelos para que a centro-direita busque novas lideranças. Sim, isto é importante, mas também é importante que sejam lideranças adeptas das regras do jogo (e, como a esquerda, tenha propostas para aperfeiçoá-las…algo nem sempre notado) e que saibam como implementar políticas públicas.
Estado de Defeso - Por que esta discriminação por gênero? Só se fala em ‘estado de defesa’, como se não houvesse o - tão importante quanto - defeso. Sim, existe mesmo. abra o dicionário, sua preconceituosa!
Minutas - Já que está na moda falar de minutas, fique com a minha sugestão de regimento para a pós-graduação em Economia, muito mais adequada aos tempos atuais e divertida do que as modorrentas versões oficiais perdidas por aí.
Mercado - Incrível, mas sempre é preciso explicar o que é ‘mercado’. Parece que temos até professores de Economia sofrendo de analfabetismo funcional quando o tema é ‘mercado’.
A definição do tuíte é muito precisa. O mercado não é uma entidade que sai por aí, manipulado por cordas por uns quatro ou cinco poderosos.
Claro, o governo pode transformar o mercado em algo manipulável por quatro ou cinco poderosos. Basta criar regulamentações que sufoquem as escolhas individuais e que lhe dê poder sobre a alocação de recursos (podendo, até, fazer com que alguns amigos do setor privado tenham muito poder).
A propósito, lembro que até uma parte da poupança das pessoas é forçada pelo governo. Chama-se FGTS. Quem já trabalhou, com carteira assinada, alguma vez na vida, sabe do que se trata.
A propósito, uma medida muito boa implementada nos últimos tempos foi a do saque do FGTS, devolvendo ao cidadão, ao menos parcialmente, o poder de decisão sobre um recurso que lhe pertence.
Melhor notícia do dia - É esta.
Eis aí algo inesperado - Nem me pergunte…estou gargalhando.
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler! (*)
(*) “até mais ler” foi plagiado do Orlando Tosetto, cuja newsletter, aliás, você deveria assinar.
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