Pão de queijo. Liberdade. Novelas sombrias. Outros.
Da janela aberta veio o pó à minha mesa e ao pó voltaremos.
Chegamos ao v(2), n(38) e não percamos tempo!
O pão de queijo - Faça chuva ou faça sol, não há nada que possa alegrar mais um mineiro do que um pão de queijo. Não faltam piadas sobre isto, eu sei. Qual seria o segredo do pão de queijo? A casquinha amarelada? O recheio de queijo soltando fumaça de tão quente ao sair do forno? Ou seria a parceria com o café passado?
O pão de queijo tem este efeito mágico sobre o mineiro típico. De onde veio? O verbete da Wikipedia em português fala de missões jesuíticas. Já a mesma Wikipedia, em língua inglesa, fala de escravos em Minas Gerais.
O verbete da Wikipedia em língua inglesa, como sempre, parece mais detalhado. O mais curioso é que ambos os verbetes se baseiam, praticamente, nas mesmas referências.
Certo é - quero crer - que o pão de queijo deve ter surgido em alguma cozinha colonial, seja a ‘cozinha’ um canto ao lado de uma senzala, uma clareira no meio do mato perto de algum rio, ou mesmo um cômodo de uma casa.
Provavelmente, no início, não era ‘o pão de queijo’, mas ‘os pães de queijo’, com pequenas variações na receita. Como um dos verbetes destaca, a escassez relativa de ingredientes variou com o tempo, permitindo inovações e a competição entre diferentes especificações junto ao paladar popular resultaram nesta maravilha.
O pão de queijo geralmente é complementar ao café (bens complementares, na linguagem econômica). Para pães de queijo pequenos, a proporção é de um para um. Para os pães de queijo maiores, a mesma proporção se dá com uma garrafa de refrigerante.
Obviamente, o pão de queijo é uma entidade multifacetada. Alguém poderá falar sobre ritos culturais envolvendo o pão de queijo e os primeiros mineiros. As possibilidades são infinitas…e os pães de queijo…também. Talvez saborear um bom pão de queijo seja o caminho para o verdadeiro conhecimento sobre esta iguaria tão apreciada por todos.
(talvez continue)
Liberdade - Acho que mencionei este trecho por aqui, há algum tempo. Se o fiz, peço desculpas pela repetição.
A liberdade dos ingleses não jaz em uma vida de vigorosa iniciativa ou ambiciosos esquemas de autodesenvolvimento, mas na liberdade de serem eles mesmos. É a liberdade de ser deixado em paz - não para perseguir desembaraçadamente algum objetivo prodigioso, mas para cuidar do próprio jardim ou colecionar estatuetas de gesso de Lord Nelson. [Terry Eagleton. Humor - O papel fundamental do riso na cultura, Record, 2020, p.103]
Creio que eu sou um indivíduo com necessidades especiais de liberdade anglo-saxã. Aliás, oportuna esta observação do prof. Tambosi sobre o insight relacionado do Alexandre Soares Silva. Note a interseção com o trecho anterior.
É uma pena que este texto do Alexandre seja apenas para assinantes da Crusoé, não é? Mas eis aí dois textos que se relacionam: tratam da diferença entre um liberal (o Alexandre talvez dissesse ‘conservador também, Claudio!’) e um não-liberal. A existência do outro é tolerada pelo primeiro e é alvo de extermínio pelo segundo. Há muito brasileiro se dizendo liberal nas redes sociais. Alguns até se filiaram a movimentos liberais, é verdade.
Mas uma coisa é aparecer como liberal para os potenciais empregadores e outra, muito diferente, é ser mesmo um liberal (o que pode não lhe garantir um emprego, aliás). Acho que a descrição feita, com bom humor, por Eagleton, é um bom começo. Ela não exclui, note bem, a possibilidade de que você seja um altruísta, preocupado com seus vizinhos pobres: nada melhor do que te deixarem em paz quando você os ajuda.
Sem querer propor nada muito definitivo, não me parece correto falar em liberal pela metade ou por inteiro. Nem discutir sobre se é possível ser liberal na economia e conservador nos costumes. Parece-me muito mais fiel à verdade (ok, ao que eu entendo por verdade, vá lá) dizer que um liberal quer ser deixado em paz para buscar sua felicidade, deixando em aberto como ele fará isto.
Penso, por exemplo, nos liberais que trabalham com pesquisas. Pesquisadores, como se sabe, são muito céticos e dão ao método científico uma importância considerável em suas vidas. Ontem, por exemplo, o ovo fazia mal à saúde. Agora, não mais. E assim por diante. Um liberal destes, creio, tem um core de princípios básicos e deixa o resto em aberto.
A diferença, contudo, é que mesmo o seu core não é inviolável. Um liberal gosta de testar a robustez de suas crenças. Talvez haja um princípio último (Hayek disse algo sobre isso em um ensaio no qual discutiu os dois conceitos de razão) que lhe diz que ser liberal é sempre colocar à prova de sua razão proposições ou hipóteses as mais variadas1.
Um não-liberal, neste meu exemplo, seria um sujeito que se recusa a discutir sobre seus princípios mais básicos. Pense, por exemplo, em um esquerdista que se recusa a acreditar nas barbaridades russas na Ucrânia (Holodomor). Ou em um conservador retrógrado, que se recusa a ver defeitos em monarquias.
É, eu sei. São só alguns pensamentos que me ocorrem. Não estou sendo original, eu sei. Contudo…
Sob este argumento de autoridade, pois, eu me calo e passo ao próximo tópico. ^_^
Bustos de famosos - Houve um tempo em que era mais fácil encontrar por aí bustos de alguns famosos para se enfeitar a mesa do escritório ou a biblioteca particular? Quero crer que sim.
Por curiosidade, fiz uma busca aleatória pelo Mercado Livre e encontrei bustos bem pitorescos. Os preços variam muito e a qualidade, também. Mas, friso, vi lá pouca variedade de personalidades. Talvez não seja muito da nossa cultura (ou então uma demanda maior poderia estimular os empreendedores do ramo…).
O ótimo humor do Hanania - Não tem como não rir.
Novelas sombrias e mais problemas do audiovisual brasileiro - Este texto, sobre um assunto do qual pouco entendo, conseguiu traduzir meu sentimento ao ver trechos de uma novela de uma rica emissora brasileira lá por 2014 ou 2015, após anos sem ver uma novela da mesma. Foi uma sensação de horror.
Eu estava em uma pizzaria e, no dia seguinte, ministraria um minicurso de R para estudantes de Economia. A televisão passava uma novela e, de cara, notei que a qualidade da imagem era muito boa. Ao mesmo tempo, parecia que todas as cenas tinham um tom sombrio. Até aí, nada demais, exceto o incômodo de que não vivemos em um mundo com o colorido de um filme de terror.
Enquanto aguardava a pizza, vez por outra assistia a trechos da novela. Foram, creio, três momentos distintos e, em cada um deles, havia quase que uma celebração da corrupção ou da violência. Ou da traição. Já não me lembro os detalhes, mas eu me lembro de sentir que havia algo diferente no roteiro dos episódios.
Não era mais o ‘mal’ de ver Leôncio maltratando a escrava Isaura. Era como se Leôncio fosse, agora, um personagem cujos valores devessem ser considerados como bons. Ou que o ‘mal’ fosse algo, assim, tão complexo quanto a guerra na Ucrânia (como dizem, acredite, alguns). Algo que claramente me incomodou.
Comentei sobre isto com uns dois ou três amigos à época e o assunto ficou esquecido em minha mente até eu ler este texto de Victor Bruno (por indicação do Alexandre). Ele conseguiu traduzir o que senti naquela noite, na pizzaria.
Eu não teria dito melhor.
Agricultura orgânica não é sinônimo de eficiência - Nem sempre. Como tudo, aliás, no mundo da ciência. Confira em mais um número desta news do Diogo Costa. O Diogo fazia isso diariamente. Passou um tempo parado e, agora, parece estar voltando aos poucos. Ele poderia mudar sua newsletter ‘5 links’ para 2 links e ganhar uns dias (piadinha!).
Governança Radical: Charter Cities - Hong Kong era usada como exemplo de charter city, embora eu nunca tenha me convencido. A ditadura chinesa retomou a cidade ao arrepio dos acordos prévios. Agora, Próspera, em Honduras, acaba de levar um duríssimo golpe do governo hondurenho (este texto do Jeff Mason é interessante, a propósito).
Eu gosto da ideia das charter cities, no sentido original que lhe deu Paul Romer. Em breve, aliás, darei publicidade a um estudo sobre o tema. Apenas aguardo as últimas revisões (talvez já esteja pronto e eu mude este texto…).
De todo modo, eis uma conversa bem interessante sobre o tema, no podcast do Caos Planejado.
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler!
Caso queira compartilhar, clique no botão abaixo.
Talvez você seja novo por estas bandas. Rapidamente: publico duas vezes por semana, geralmente às quartas e sábados. Eventualmente há algumas edições extraordinárias. Assinar (custo = R$ 0.00 + valor do seu tempo para apertar o botão subscribe com seu endereço de e-mail lá…) me ajuda bastante. A temática? De tudo um pouco. Confira os números anteriores aqui.
O ensaio, de cujo nome não me lembro, é o primeiro ou segundo capítulo de uma coletânea publicada sob o nome de Individualism and Economic Order. Não é o livro mais popular do Hayek, mas este ensaio, ah, este ensaio…