O meu eu jovem - A expectativa de vida na URSS - Cinzeiro e eu no 7 - Dr. Palhinha - Tá com medo da tecnologia? - Haidt e Hayek - Cientista Político - Músicas.
Corram para as montanhas! Corram para as montanhas!
Este é o v(4), n(38) desta newsletter, com ou sem queimadas.
O meu eu jovem - De dentro do carro aprecio as calçadas e prédios, alguns conhecidos e outros novos, no entorno da região em que passei a maior parte da minha adolescência. Enquanto observo despretensiosamente, eis que surge a imagem do Cláudio jovem, andando. Ao me ver, sorri e me chama, em um sincero convite para reencontrá-lo.
Sei que é impossível, mas ele insiste, dizendo que posso voltar para uma época da vida em que as preocupações eram outras. Uma época em que havia muita angústia, mas também muitas perspectivas. Ele me chama e o carro anda lentamente em uma rota congestionada, fazendo com que eu veja meu eu jovem caminhando, ora com roupas de final de semana, ora com a mochila e uniforme do colégio.
O convite dele é tentador, mas não há como reencontrá-lo agora. É tarde demais por aqui. Só mesmo depois de me tornar pó. Ele interrompe a caminhada, levanta a cabeça, vira-se para mim, lançando-me um sorriso. É o suficiente para que mais lembranças reapareçam dos baús empoeirados das minhas memórias.
Avançou bastante o carro e agora a paisagem, aos poucos já não me é tão conhecida. Assim, meu eu jovem acena e desaparece aos poucos, deixando-me com a estranha sensação de que, em breve, poderei me sentar com ele em uma mesa de bar quando conversaremos sobre os rumos que a vida tomou. Discutiremos sobre o que poderíamos ter feito, sobre desejos não realizados e sobre surpresas inesperadas que, boas ou ruins, sempre fazem com que nos desviemos do caminho original, temporariamente ou não.
Adeus, meu eu jovem. Até a próxima. Agora tenho que ir até Santa Luzia e o trânsito está carregado.
A expectativa de vida na URSS - Eis um exercício interessante sobre a ex-URSS e suas colônias (ou satélites) europeus. Depois de 1960, as coisas pioram por lá.
Cinzeiro e Eu no 7 - O Cinzeiro de Latão é uma newsletter que recomendo. Eis um trecho de sua reflexão sobre o 7 de setembro.
Nesta dia, fico pensando nos símbolos pátrios, ausentes das escolas em que estudei, porque os militares nos fizeram cansar deles de tanto os esfregar na nossa fuça, achando que isso fosse nos dar caráter ou algum patriotismo. A bandeira às vezes estava hasteada em algum lugar, mas sempre esgarçada e puída, como se fosse a de um país recém-derrotado. Volta e meia me pergunto o que é ser brasileiro; como resposta a minha mente me mostra uma dessas bandeiras rasgadas que eu via na infância. Um trapo drapejando. O Brasil nasceu puído e esgarçado.
Mas estamos aí há dois séculos, sendo brava gente, sem temor servil. Aliás, sem o menor temor servil. Porque se tem uma coisa de que o brasileiro gosta é ter umas botas pra lamber.
Aliás, esta reflexão final, sobre o servilismo brasileiro, é um tema que me remete a um pequeno texto do falecido James Buchanan, nosso Nobel de Economia de 1986, no qual ele nos lembra o principal problema das liberdades: o nosso medo.
Almost subconsciously, those scientists-scholars-academicians who have tried to look at the “big picture” have assumed that, other things being equal, persons want to be at liberty to make their own choices, to be free from coercion by others, including indirect coercion through means of persuasion. They have failed to emphasize sufficiently, and to examine the implications of, the fact that liberty carries with it responsibility. And it seems evident that many persons do not want to shoulder the final responsibility for their own actions. Many persons are, indeed, afraid to be free.
O texto foi publicado na Public Choice de 2005 (p.19-31), em um volume dedicado ao clássico Capitalismo, Socialismo e Democracia, de Schumpeter. O ponto de Buchanan é tão simples quanto correto: muitas pessoas têm medo de serem livres. Não é à toa que esquerdistas adoram falar de um suposto dilema entre ‘segurança’ (cuja definição nunca é muito precisa, ao menos para mim, já que, em média, os mesmos professores defendem que pequenos furtos não são um problema social) e ‘liberdade’.
Ao criarem o dilema entre segurança e liberdade (uma versão mais sofisticada e interessante seria a famosa escolha Rawlsiana sob o véu da ignorância), eles despertam a mais antiga sensação humana, a do medo, que naturalmente assusta pois a vida é, não menos naturalmente, incerta (um ponto que Hayek já destacava).
Uma sociedade na qual as pessoas estão acuadas, com medo da vida por conta das incertezas, na qual há poucos indivíduos com espírito empreendedor, na qual crianças não são estimuladas a explorar a caixa de areia, a caírem ao tentarem andar de bicicleta…é uma sociedade propícia para soluções autoritárias.
Sabemos que democracias podem ser gerenciadas com mais ou menos autoritarismo (não é preciso nem sair da sua cidade para perceber isto), mas também sabemos que pessoas reagem a incentivos e, ao contrário do que pensam os autoritários, medo demais pode criar uma reação contrária violenta.
Feliz 7 de setembro para você também, leitor.
Custos do uso obrigatório das máscaras - Eu fui um dos primeiros a usá-las no início da pandemia, mas jamais por imposição. Também nunca fui destes que ignora o caráter transitório de muitos dos supostos ‘consensos científicos’ e sempre pensei nos benefícios e nos custos do uso das máscaras. Agora, Jeffrey Miron nos traz informações sobre o custo de seu uso obrigatório. Vale a leitura.
Dr. Palhinha - O Roger também criou mais um caso para o Dr. Palhinha. Divirta-se!
Tá com medo da tecnologia? - Faça este teste do Caplan.
Step 1: Create a graph where the x-axis runs from 1948 to the present, and the y-axis shows the overall level of technology.
Step 2: Sketch whatever you personally believe about the evolution of the overall level of technology during this period. Do NOT proceed to Step 3 until you have finished Step 2.
Step 3: Compare your graph to the actual history of U.S. unemployment from 1948-present. I repeat: Do not peek until you’ve completed Step 2.
Step 4: If technology were an important cause of unemployment, the two graphs should look a lot alike: more tech, more unemployment. (If you favor the more sophisticated theory that it’s tech growth, not tech level, that raises unemployment, eyeball that instead).
Step 5: So what do your own eyes tell you?
Sim, eu sei que o Brasil é incapaz de nos dar uma série longa da taxa de desemprego do país, sem falar nos paranóicos que acham que não se pode fazer nada com séries diferentes (por eles, não se fazia uma única política pública, embora eles sempre digam que precisam receber a sua aposentadoria…), mas vale a pena tentar fazer uma versão brasileira do teste.
Haidt e Hayek - Recentemente escrevi aqui sobre o que penso ser um ponto relevante de Jonathan Haidt para o bom funcionamento de uma sociedade livre. Usamos mesmo de forma eficiente as informações descentralizadas quando estamos em uma crise social de ansiedade e depressão? É esta a reflexão. Dá uma lida lá.
Cientista Político - Outro dia ouvi um ‘cientista’ político (ou um sociólogo, nunca sei a diferença (sei sim, mas quero tripudiar) fazer a seguinte análise das eleições paulistas: (a) tem que votar no PM porque o PM está fora do sistema, por isso todos têm medo dele; (b) se bem que o melhor é que ele perca agora porque pode concorrer para o governador e, obviamente; (c) se ele ganhar a prefeitura, como não elegerá muitos vereadores ele entrará no sistema.
Juro. Foi isso mesmo.
Músicas - Vez por outra eu me pego ouvindo repetidas vezes um tema de abertura de seriados dos anos 70-80. Será que você conhece algum deles? Se sim, tem um favorito?
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler! (*)
(*) “até mais ler” foi plagiado do Orlando Tosetto, cuja newsletter, aliás, você deveria assinar.
Caso queira compartilhar, clique no botão abaixo.
Talvez você seja novo por estas bandas. Rapidamente: publico geralmente às quartas. Eventualmente há algumas edições extraordinárias. Assinar (custo = R$ 0.00 + valor do seu tempo para apertar o botão subscribe com seu endereço de e-mail lá…) me ajuda bastante. A temática? De tudo um pouco. Confira os números anteriores aqui.
Agradeço-lhe a menção, Cláudio.