O homem que sabia de menos
Você o conhece. Ele é seu conhecido. Vive brigando no grupo do zap. Mas ele não acha que 'las vidas de los cubanos importan'...
Chegamos ao v(1) n(22), um dia antes do usual. Eu (e quase todos vocês) estamos juntos há mais ou menos 10 semanas. Dá uma sensação de cansaço? É possível fazer a leitura mais agradável? A variedade de temas está bem calibrada? Nenhuma destas perguntas será respondida aqui e, talvez por isto, a gente continue nesta relação agradável.
Hong Kong e Cuba - O que há em comum? Sim, ambos seguem a orientação de governos socialistas. Verdade que Hong Kong foi um enclave britânico na China socialista por anos e é também verdade que, aproveitando-se da pandemia, o governo chinês rompeu o acordo que tinha com os britânicos e tem tentado apagar qualquer traço de independência política e econômica que Hong Kong ainda possa ter. Os fervorosos defensores de Hong Kong como um exemplo de charter city tiveram que encarar o fato: não era1.
John Woo, o cineasta, disse, em alguma entrevista, que haveria um clima de pânico quando o governo chinês resolvesse tomar Hong Kong (acho que ele se referia a alguma pergunta sobre um de seus filmes2). Sua ‘profecia’ mostrou-se bastante aderente aos fatos. Já outro famoso chinês, Jackie Chan, parece ter tomado uma decisão racional. Lamentável, mas racional. Pobre Hong Kong, tão longe de Deus, tão perto de Beijing…
Cuba, por sua vez, tem sua história conhecida (tem?) por aqui (sério, Claudio?)3. A revolução cubana (ou castrista, ou socialista, ou bolivariana) não trouxe prosperidade e democracia à ilha. Quem conhece cubano(a) que estão fora do país sabe das histórias de que, caso ele(a) (o governo cubano é bem democrático na repressão) fale mal do governo, os familiares sofrem represálias. Faz-se terror com uma imaginária ou real vigilância estrita sobre seus cidadãos.
Ah, mas Cuba tem ótimos indicadores educacionais! Errado. A saúde é maravilhosa! Errado (mesmo). Era (ou é) uma democracia igualitária. Errado. Não é questão de preferência ideológica. O pessoal lá fracassou e, sim, parte da culpa é devida à crença de alguns na viabilidade do cálculo socialista com base no marxismo (houve até quem tentasse uma abordagem matemática como o talentoso Nemchinov, mas…).
Claro, nem tudo o que dá errado é totalmente derivado de hipóteses teóricas sem sentido (ou mal formuladas). A ação humana é um poderoso fator de erros como cada um de nós sabe da própria experiência4.
É verdade, autocracias podem entregar algum crescimento econômico no curto prazo. No longo prazo, nem sempre (existe aí uma vasta literatura científica e a questão, obviamente, é empírica). Entretanto, o ser humano médio não curte muito crescimento econômico sem liberdade, independentemente do que dizem os dados.
Lembro, aqui, um caso interessante, de um escravo, nos tempos dos EUA escravocrata, que foge, é capturado e interrogado por um juiz. O caso está no ótimo The Joy of Freedom: An Economist’s Odyssey, de David Henderson. Como não achei o meu livro por aqui, cito de cabeça.
Capturado e levado a julgamento, o juiz pergunta ao escravo sobre como ele era tratado pelo seu dono. O escravo, então, diz que tinha permissão para morar em um casebre, até com uma pequena horta e que, de vez em quando, o dono lhe convidava para pescarem juntos. O juiz, então, algo surpreso com o tratamento dispensado pelo senhor ao escravo, pergunta-lhe: - Por que, então você fugiu?
Eis que o escravo responde algo mais ou menos assim: - Meritíssimo, a vaga está em aberto. Caso o senhor queira se candidatar...
Problema de endogenia - Há algum tempo eu me pergunto sobre o que aconteceria se eu, por conta de falta de inspiração, diminuísse a frequência da newsletter para um número semanal. Ao mesmo tempo, eu me pego coçando a cabeça pensando que diminuir a frequência levará a uma queda em minha inspiração. Pois, quem vem primeiro: o ovo ou a galinha?
Até a próxima.
Obviamente, a discussão sobre os requisitos constitucionais para que charter cities possam ter sua existência garantida mostra-se bem relevante…
Esta matéria sobre ele e seu Bullet in the Head, por sinal, é ótima. Pelo visto, ele também está cedendo aos impulsos autoritários do governo…
O pessoal nem tem olhado para os dados antes de falar do ‘poderosíssimo’ embargo do governo dos EUA. Quando descobrirem que faltaram algumas informações na aula de história…(sim, dados)
Por exemplo: onde é que eu estava com a cabeça quando resolvi inventar de fazer uma newsletter que ninguém lê?