Michael Landon e a vida - Nobel de Economia - Indicações - Revelações - Venda - O Azul dos Egípcios - Censura - Ary Toledo morreu - Outros temas.
Preciso recivilizar o país para diminuir o número de brasileiros(as) gordolas no futebol!
O v(4), n(43) chegou, após uma segunda-feira de Prêmio Nobel em Economia.
Michael Landon e a vida - Assistir ao “Os Pioneiros” (Little House on the Prairie) no Prime, ou ao “O homem que veio do céu” (Highway to Heaven) na PlutoTV me causa, sempre, uma sensação boa com a vida. Como assim? E que vida é essa?
Na minha adolescência, os finais de noite no domingo pertenciam, em geral, ao SBT. Ou porque tínhamos “CHiPs”, “A Super Máquina”, “Esquadrão Classe A” ou “O homem que veio do céu”. O velho Sílvio sabia trazer bons seriados e, cá entre nós, o programa alternativo, na Globo, era muito chato, de modo que eu preferia ir ao SBT. Minha mãe não se importava muito e meu pai estava sempre cansado, de forma que a TV era mais dos filhos do que deles neste horário.
Após o fim das nove (nove!) temporadas de “Os Pioneiros”, Michael Landon embarcou em sua última empreitada na TV (morreria após o final da série), esta na qual era um anjo em estágio probatório, acompanhado do policial aposentado, Mark Gordon (vivido por Victor French), em missões as mais diversas para ajudar as pessoas.
Em comum com “Os Pioneiros”, além do ator Victor French, há os temas de sempre: pobreza, adoção, pessoas com deficiências lutando para serem aceitas (hoje em dia alguém falaria de “necessidades especiais”, mas sou mais velho e o leitor que me conhece sabe que meu vocabulário é outro), viciados buscando a recuperação etc.
O que sempre me chamou a atenção nos dois seriados em que Landon atuou, dirigiu ou produziu - e acho que já falei disso por aqui - é a forma como problemas sociais eram tratados. Toda a reflexão ou solução sempre foi compatível com melhor ativo que já criamos: a sociedade liberal-democrática (aqui definida como você bem entender porque não estou escrevendo um artigo acadêmico, mas acho que você captou a mensagem).
Tolerância, respeito, ensinar e, às vezes punir, enfim, ensinamentos básicos que, embebidos em caldos morais/religiosos (também não estou nem aí para possíveis diferenças entre moralidade e religiosidade, tenha dó, isso é uma apenas uma descontraída newsletter…) nem sempre idênticos (católicos, protestantes etc.), mas que geram o mesmo resultado da coesão social.
Coesão, sim, que nem sempre é tranquila ou livre de turbulências porque, como disse Og Leme em seu Entre os cupins e os homens (minha edição é a original, dos anos 80), o homem quer tocar sua vida, mas é obrigado a viver com os outros e, para tolerar a convivência (e evitar ser dominado), aceita que haja um Estado, desde que mínimo (justamente para evitar sua captura por poucos poderosos).
Assistir aos dois seriados me faz também voltar no tempo - ou pelo menos para um tempo que eu suponho ter sido o que eu gostaria de ter vivido - e pensar em como minha vida era melhor (melhor?), descomplicada, inocente até. Sei lá, há algo ali, naquelas histórias que me lembram da minha própria história. Bate a saudade de um eu diferente, com outros problemas e, infelizmente, com menos recursos financeiros para ser independente.
Michael Landon certamente teve seus problemas, mas conseguiu ser um ator excepcional, ou não causaria tantas reações com seus personagens, seja em Walnut Grove, ou nos EUA dos anos 80.
Nobel de Economia - Acemoglu, Johnson e Robinson foram os agraciados. Claro que fico feliz que a importância das instituições no desenvolvimento das nações e que o uso de modelos teóricos em história econômica sejam alvos de premiação pela Academia.
O trabalho dos três surgiu no debate que começou no início dos anos 2000, com Easterly, Levine, Sokoloff e outros que debatiam o papel das instituições no desenvolvimento. No início, tínhamos um interessante debate sobre o papel das dotações iniciais e como estas se relacionavam com as instituições implantadas nas colônias nos tempos da expansão europeia. É um tema que me é caro porque foi o de minha tese de doutorado (lá nos anos 2002-3) e, na época, Acemoglu e seus associados não eram tão famosos.
Acho irônico - mas compreensível - que Acemoglu tenha se voltado para a defesa de limitações à liberdade de expressão (notadamente no caso do X). Pode ser que seja consistente com a visão dele sobre elites e desenvolvimento (será?), mas é estranho que alguém que defenda melhores instituições também defenda esta posição. Talvez ele não tenha compreendido os argumentos em defesa da liberdade de expressão ou, e não quero crer nisto, talvez tenha, mas resolveu optar por um caminho diferente (outro problema que Acemoglu teve e que, para mim, ficou mal resolvido: a querela dos dados que ele teve com David Albouy).
De todo modo, ganhamos nós, que sempre ensinamos e defendemos a importância dos direitos de propriedade na economia. Mais informações sobre este prêmio em nível simples aqui e, avançado, aqui. Falei um pouco sobre o tema na coluna do Instituto Millenium, na Exame e a McCloskey tem uma crítica que soou exagerada, mas tem um ponto importante.
Indicações - Primeiro, o Os Bastidores (da Vida)! , novo por aqui, e que já mandou muito bem no primeiro número. Há também a Miss Tory Anarchist, que anda devendo textos. Um que voltou a publicar - e já indiquei aqui - é o Um Errado Capitão Rodrigo que, aliás, entende tanto de futebol quanto o Orlando e os engraçadinhos Carlos de Freitas e Luigi Marnoto.
Revelações - Extra! Extra! Cinzeiro de Latão foi influenciado por Orlando Tosetto!
Venda - O João Filho escreveu um texto pequeno, em que ele expressa seu desconforto com a palavra ‘venda’. O desconforto, claro, é motivo para ele desenvolver seu raciocínio sobre a venda na qual, em foto apresentada no texto, vê-se seu pai e seus tios. Imagine quando alguém lhe disser que está vendo tudo…
O Azul dos Egípcios - A cor azul dos antigos egípcios tem implicações interessantes. Aliás, o restante desta última Past Imperfect está ótima de se ler.
Censura - Conheça os acadêmicos brasileiros que, abertamente, defendem a diminuição da sua, da nossa e das deles próprios, liberdade de expressão. Assinaram uma carta aberta. Ah, mas leia uma ótima crítica a esta carta aqui. Reproduzo um ótimo trecho.
Many of these academics live in societies and work in universities founded on liberal principles of due process, individual liberty, and open debate. Censors in Brazil and elsewhere are growing in their boldness because we live in a time when it is increasingly acceptable or even praiseworthy to favor suppression and intolerance toward liberal ideas.
Given that this support for censorship extends to the heart of our elite institutions, we cannot sit idly by and rely on First Amendment jurisprudence to protect us. Judge Learned Hand famously said, “Liberty lies in the hearts of men and women; when it dies there, no constitution, no law, no court can even do much to help it.”
We must commit ourselves to not only the legal defense of free expression but also boldly support a culture of free speech that rejects the digital authoritarianism of our would-be censors.
É o que também penso. Que carta mais infeliz (e reveladora)…
Ary Toledo morreu - …antes ele do que eu! Falando sério, outra perda. Mais uma testemunha da história que viu o valor da liberdade de expressão - inclusive via big media - ao trabalhar nos ‘anos militares’ e, depois, em nossa suposta democracia.
p.s. O ‘suposta’ foi só para te incomodar.
Manchetes que gostaríamos de ver - “Deputados monitoram ministros do STF que votaram a favor de pacote anti-Congresso”.
Manipulando estatísticas - Barbara Maidel nos dá um exemplo simples.
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler! (*)
(*) “até mais ler” foi plagiado do Orlando Tosetto, cuja newsletter, aliás, você deveria assinar.
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Talvez você seja novo por estas bandas. Rapidamente: publico geralmente às quartas. Eventualmente há algumas edições extraordinárias. Assinar (custo = R$ 0.00 + valor do seu tempo para apertar o botão subscribe com seu endereço de e-mail lá…) me ajuda bastante. A temática? De tudo um pouco. Confira os números anteriores aqui.
Seu Shikida: muito obrigado pela citação!
obrigada pela recomendação, tenho que traduzir/retomar os textos mesmo