Lafcadio Hearn e Thomas Blake Glover: dois 'japoneses' pouco conhecidos?
Um pouco de um Japão que talvez você não conheça...
Bem-vindo ao v(1) n(53) da newsletter. Hoje vamos aproveitar para falar mais de cultura japonesa. Como todos sabem, estou longe de ser um especialista no tema, mas tenho cá minhas leituras e filmes assistidos... Quem sabe não adiciono algo novo?
Talvez você seja novo por estas bandas. Rapidamente: publico duas vezes por semana, geralmente às quartas e sábados. Eventualmente há algumas edições extraordinárias. Assinar (custo = R$ 0.00) me ajuda bastante. A temática? De tudo um pouco. Confira os números anteriores aqui.
Que comece o espetáculo!
Lafcadio Hearn - Na BH dos anos 80, um dos eventos que eu mais gostava era a ‘Feira do Livro’. Eram algumas barraquinhas de livrarias que ficavam no quarteirão fechado entre a rua Curitiba e a avenida Afonso Pena. Acho que a feira, pelo menos neste formato, não existe mais.
Em meio aos meus 12 ou 13 anos, idade em que meu interesse pela cultura nipônica havia se estabelecido mais fortemente, fui lá, numa das edições anuais da feira, e comprei uma edição do Kwaidan de Lafcadio Hearn.
Pois bem, pouca gente fora do mundo da literatura clássica japonesa conhece Lafcadio Hearn e, veja só, o Japão do século 19 é um pouco diferente do estereótipo que divulgam por aí, de um país onde apenas japoneses são protagonistas das ‘coisas do Japão’.
Hearn era um grego que teve uma vida bem internacionalizada (veja o verbete da Wikipedia anglo-saxã) e foi parar no Japão, casando-se com uma japonesa com a qual teve dois filhos. Kwaidan (ou melhor, Kaidan (怪談)) é um (delicioso) livro de contos de fantasmas japoneses.
A edição que comprei nos anos 80 estava em castelhano e era uma publicação de 1977 da Ediciones Librerías Fausto, argentina. Foi com este livro, muito provavelmente, que tive meu primeiro impulso de arriscar a leitura em castelhano (ou será ‘espanhol’?). A surpresa em perceber que conseguia entender praticamente todo o sentido de um parágrafo foi uma ótima sensação.
Foi nesta mesma feira que comprei o livro de Akutagawa, Rashomon e outros contos, numa edição conjunta da Civilização Brasileira e da Massao Ohno Editores e, eis uma lembrança que tenho da época: eu não lia muita ficção nas horas vagas (mas lia bastante não-ficção). Meu gosto. na ficção, sempre foi por histórias mais curtas, basicamente os contos1.
Ah sim, Kwaidan foi lançado por aqui, em uma edição de 2006 ou 2007 por uma editora chamada Claridade. O título é Kwaidan - Assombrações seguido de Estudos de Insetos (que é um estudo mencionado no verbete da Wikipedia que indiquei).
Bons tempos eram estes da Feira do Livro…
Thomas Blake Glover - Você já tomou a cerveja Kirin? Já notou aquele bonito rótulo? Pois ele foi desenhado pela filha de Thomas Blake Glover. Quem? Sim, isso mesmo. Um escocês que foi parar no Japão, teve participação em importantes eventos políticos e ainda tem relação com a ópera Madame Butterfly.
Conheci sua história por meio do livro de Michael Gardiner, At the Edge of Empire: The Life of Thomas Blake Glover, que recomendo fortemente. Aliás, na próxima viagem ao Japão, vou tentar conhecer o jardim de Glover em Nagasaki.
Textos divertidos - O último número do Elpênor em Queda está ótimo! Não conheço o autor, mas assinei por indicação e não me arrependi. Também foi muito boa a discussão sobre procriação sem sexo do Pedro Sette-Câmara.
Ah, e antes que me esqueça, o neto do Adalberto deve ser o garoto mais invejado do bairro. Não é todo dia que um avô explora toda a literatura de um país por causa de um neto. No último número da sua newsletter, ele tratou do, provavelmente, mais infanto-juvenil (que também é o meu favorito) dos livros de Souseki.
Eu conheci este livro por meio do filme, de mesmo nome, que assisti, ainda nos anos 80. Esta época, creio, foi brilhante para a colônia nipônica de Belo Horizonte. Assistíamos filmes e shows no salão de cinema do antigo Banco Nacional, (logo ali, sô) no centro da cidade. Como dizem por aí, fond memories…
Passei anos procurando o livro por conta deste filme. Depois, dei-me conta de que gostaria de rever o filme. Nunca o encontrei, mas desconfio que, muito provavelmente é este, de 1977, com o ator e cantor Nakamura Mas(s)asatoshi (em português, Masatoshi Nakamura).
Claro, só encontrei o filme ao usar a busca em japonês mesmo… Há, adicionalmente, outra versão, com o cantor Sakamoto Kyu (Kyu Sakamoto), aquele da clássica “Ue wo Muite Arukou”, conhecida no Ocidente como ‘Sukiyaki’.
Aliás, Sakamoto morreu no famoso acidente do vôo JAL-123 cuja gravação das comunicações dos pilotos com o controle aéreo ainda estão disponíveis na internet (e é meio assustador ouví-las).
Alasca - A despeito do avanço da vacinação nos EUA, o Alasca tem um curioso aumento do número de casos.
Ideia para um episódio de Twilight Zone - Num mundo alternativo, a África do Sul nunca terminou o apartheid e é o maior comprador de produtos brasileiros o que leva muita gente a dizer que não se pode denunciar o racismo porque, veja bem, é um parceiro comercial.
Sonhos - A ideia para o breve ensaio sobre Hearn e a Feira do Livro veio de um inusitado evento que narro a seguir. Estava eu dormindo quando, subitamente, acordei pensando ter ouvido um gato miando. Achei que poderia ser a Sofia (Gigi dormia, como sempre, aos pés da esposa).
Como sempre faço nestes momentos, fui até a sala checar se estava tudo certo…e estava. Eram três da madrugada. Deitei-me no sofá principal (não o das gatas. Para elas, o sofá mais velho é o principal).
Sofia, claro, não parecia ser a algoz do meu sono e, como sempre, acomodou-se no alto do sofá (não confunda, falo do meu sofá, e eu não sou um gato) e eu fiz o que sempre faço para tentar voltar a dormir: liguei o celular e procurei por alguma mídia para ouvir em volume baixo.
Como não havia escutado o FiBoCa por inteiro (que havia sido transmitido no mesmo dia e era sobre 'arrepios'), este foi minha escolha óbvia. Claro que comecei a ouvir e entrei naquele estágio estranho do sono em que o programa se transforma em um sonho. No meio deste lá estava eu, assistindo à gravação ao vivo. No fim, chamava um Uber para voltar para casa. Acordei lá pelas cinco da manhã.
Sobre a relação do FiBoCa com Hearn? Ah, é que, mais cedo, durante a transmissão, falei sobre Kwaidan no espaço de comentários (e, ao escrever isto, recordo-me de ter por lá dito que também existe o filme homônimo (em DVD, inclusive) de Mas(s)aki Kobayashi, baseado no livro, que é muito bom também).
Por hoje é só, pessoal. Espero que tenham gostado. A não ser que haja algo extraordinário, a gente se encontra na quarta. Até lá, tudo de bom!
Dos anos 80 é também a minha aquisição de Contos Japoneses, da Ediouro.