Juo Bananére encontra Furnandes Albaralhão. Um homem introspectivo. Outros.
E a Ucrânia segue para o sorteio...
Eis que chegamos ao 15o número de 2022, ou, na minha nomenclatura, o v(2), n(15). Neste, um inédito diálogo, uma brevíssima história sobre a busca da paz e, claro, outros assuntos.
Por que você está aí esperando? Corre!
Juó Bananére em campanha encontra Furnandes Albaralhão - Ok, meu domingo terminava melancolicamente quando recebi uma mensagem com um link de um blog que nunca havia visitado. Não era um link qualquer. Ou pelo menos não seria pois, afinal, lá estava outro personagem criado pelo humor do Brasil do passado (especificamente, da década dos 30).
Trata-se de Furnandes Albaralhão, criação de Horácio Mendes Campos, que fez com Furnandes o que Alexandre Ribeiro Marcondes Machado fez com Juó Bananére, só que, desta vez, com os amigos lusitanos. Seu livro, Caldo Berde, é tão raro, que nem a Biblioteca Nacional possui um exemplar. Eu até achei um, no sebo, mas pedem R$ 1500,00 nele. Fosse eu abonado, compraria e doaria para a Biblioteca, pedindo que fosse digitalizado e incluído na maravilhosa Hemeroteca Digital.
Aliás, como Furnandes Albaralhão apareceu no famoso A Manha, do Barão de Itararé, se minha (péssima) memória não me confunde, deve ser possível achar alguns de seus textos na Hemeroteca. Enquanto terminava o parágrafo, pesquisei e, bem, veja por você mesmo.
Posto isto, eis que, em meio à sua (cada vez mais vitoriosa) campanha presidencial, nosso candidato, Juó Bananére, encontrou Furnandes Albaralhão. Quer que eu te conte? Eu conto.
Juó Bananére encontra Furnandes Albaralhão (melhor que crossover DC-Marvel Comics) - Juó Bananére, sempre junto ao povo (muitas vezes em seus braços), esteve na capital carioca. Quer que ele te conte? Ele te conta.
Lustrissimu inlettore,
Altro dia io ‘stava nu Rio de Janêro, che e’ una citá molto formmosa co’as bambina de biquini, che gostozzura! Ah, che delizzia! U Cristo Redentore, a praia xiigna de bambina de biquini i biscoitto Globo!
Molto bene. Io ‘stava, intó, n’a campagna tomando un schoppe n’a padaria carioca chi era de um signore molto gotuba: Furnandes Albaralhão. Io parlê c’o illo chi io ‘stava gandidatumu pr’a presidenti du Brasile.
‘- O signore Furnandes gyá é inletôre pr’a votá pr’á presidenti?
- U gajo seria u italian’ Bananére?
- Eh! Isso! Molto bene!
- Nu Vrasile vóto, ora baim, só nu sinhoire!
- Porca miséria! U signore Furnandes é um inletôre valoroso!
- O sinhoire é a soluçãon prá todos pruvlemas du Vrasile!
- Chi maraviglia! Un schoppe pr’u signore Furnandes!
- Eu cá acho que o inlustre Bananére ganha a ruf’rida eleição!
- Eh! Tutto mundo fica feliche! Chi stupendo este signore Albaralhone!
- Cunsidero-te eleito, gajo! Fica u cumbite pra cummemorar a vitória cá n’a pa’dria!’
Intó io e u Albaralhone i tutto os freguêse da padaria gyuramo chi Bananére iria ser campeão da inlezione federale.
Ok, foi só o início (de uma grande amizade?). Se já é difícil pensar em Bananerês, Albaralhês não fica para trás. Ah sim, já que falamos de Furnandes Albaralhão, aí vai um poema dele.
O leitor encontra mais do A Manha na Hemeroteca Digital.
A Curta História de um Homem Introspectivo - A chuva atrapalhava seus planos. Mesmo assim, caminhou com o guarda-chuva aberto, praguejando em voz baixa contra o tempo. Achava desconfortável (ou mesmo intolerável) ter que sair com um guarda-chuva quando caminhava.
Para ele, o caminhar não era um exercício. Não era um passeio. Nem era uma pesquisa. Era, tão somente, a maneira com que ele tentava lidar com seus temores. De algum modo, caminhar, falando consigo mesmo mentalmente, foi a solução que encontrou, ao longo dos anos para encontrar alguma paz interior.
Desde criança, como foi o único filho do casal até os 6 anos, acostumou-se a falar consigo mesmo o que, provavelmente, serviu para hipertrofiar seus hábitos introspectivos. Talvez isso tenha ajudado a criar nele uma imensa preocupação em ser compreendido quando se comunicava com outras pessoas.
A chuva, para seu alívio, diminuiu. A calçada irregular quase o fez tropeçar. Calçadas irregulares eram o mais evidente sinal de que os políticos e governantes não se preocupavam com seus ‘financiadores’, os famosos pagadores de impostos. Assim lhe ensinou seu pai, pouco antes de morrer, aos 90 anos.
Nas irregulares e ainda molhadas calçadas, casais com filhos passeavam juntamente com alguns dedicados corredores e donos de cães. O clima era amistoso. Fechou o guarda-chuva. Olhou distraidamente para algumas vitrines. Não se sentia melhor, nem pior. Apenas olhava distraído para tudo e todos.
Sentou-se em um Café e, claro, pediu um café. Sorriu com o cheiro do café passado. Pensou nos livros que leu durante a semana, nas pessoas com as quais conversou. Também pensou se não estava, novamente, pensando demais e voltou a sentir certa tristeza por não se comunicar tanto com as pessoas.
Enquanto tentava, mentalmente, achar uma solução, levantou-se, pagou a conta e voltou a caminhar. A paz interior que buscava? Novamente não havia sido alcançada. Seguiu para casa. No meio do caminho, subitamente, começou a ser seguido por um pequeno gato alaranjado. Meio desconcertado, parou e, com muita cautela, conseguiu acariciar a cabeça do pequeno felino que retribuiu com visível docilidade.
Sentiu uma certa alegria e pensou que, talvez, a paz interior pudesse ser alcançada não só com suas caminhadas. Lamentou profundamente que não pudesse falar a língua dos felinos, mas como o bichano insistia em lhe acompanhar, levou-o para o veterinário e, resolutamente, adotou-o.
A paz interior, ele continuou a buscá-la em suas caminhadas. Mas, aos poucos, passou a sair menos porque conversar com seu novo amigo passou a ser sua nova forma de relaxar. Deu ao gato o nome de Mostarda e conversava de tudo com ele.
A comunicação com os outros seres humanos continuou sendo a sua preocupação até sua morte, anos depois, quando, ao levar Mostarda ao veterinário, foi atingido por um caminhão desgovernado.
Dizem que Mostarda e seu dono estão no paraíso onde, finalmente, podem conversar a mesma linguagem. A paz interior? Não é mais uma preocupação. Aos domingos, chupa picolé de jabuticaba na praça central do paraíso enquanto Mostarda come um pacote de ração divina.
A falta que nos faz uma boa educação liberal - Pedro Sette Câmara segue como uma das minhas referências quando o assunto é educação (note, não estou falando de ensino ou de aprendizado de técnicas, falo de algo mais geral).
Ezra Klein conversa com Alex Tabarrok - Uma ótima conversa, aliás. O mote é o ótimo livro do falecido Mancur Olson Jr, o The Rise and Decline of Nations e sua atualidade nos EUA de hoje.
A propósito, o livro é mesmo atual. A esclerose institucional que Olson observou no Reino Unido do pós-guerra é um conceito importante quando se deseja discutir a lentidão do governo em assuntos em que dele se esperaria maior agilidade.
Por aqui, a Edusp traduziu o clássico A Lógica da Ação Coletiva de Olson, mas nunca tivemos a tradução deste seu outro livro, tão famoso (e importante) quanto.
O combate à esclerose institucional, aliás, é um ponto importante naquilo que defino como governança radical. Este diálogo-entrevista está sensacional.
A mente política - Eli e Ágata conversam com Felipe Novaes sobre a ‘mente política’. Aliás, o Eli fala sobre a propaganda enganosa que se faz sobre Karl Popper em memes. Recomendo. Aliás, o podcast de Eli e Ágata é bem divertido.
Recomendações de livros - Eis um livro que deve entrar na minha fila (também aceito como presente, claro!). Acho fascinante este comportamento (de manada?) que alguns assumem diante do mal que suas crenças fazem ao mundo real.
Teoria dos Jogos e a ‘Aliança Anglo-Portuguesa’ - Nuno Palma, um ótimo economista português, criticando um artigo do The Times. Aliás, no meio da thread, outro ótimo economista: Nuno Garoupa (este, mais conhecido do pessoal que curte Law & Economics aqui no Brasil).
Iron Sky - Os dois primeiros filmes foram divertidíssimos (eu gosto muito de b-movies). Mas, pelo que li no verbete da Wikipedia do segundo filme, complicada a questão dos copyrights dos filmes. Uma bagunça completa. Ou seja, jamais teremos o terceiro filme que o diretor finlandês, Tiro Vuorensola, pretendia fazer. Pelo menos o canal no YouTube permanece de pé. Uma pena.
Heitor dos Prazeres avisava… - Já que o carnaval está chegando, não custa notar esta curiosa marchinha de Heitor dos Prazeres (figura a seguir), Olha a Rola. O ano? 1933.
Para os curiosos, parece que a música se perdeu por aí. Uma rápida busca pela internet não rendeu em nada. Teria sido Heitor censurado? Cancelado? Ou a música simplesmente se perdeu?
Pesquisadores podem começar sua busca pela música perdida de Heitor dos Prazeres? Não sei. De todo modo, cuidado ao caminhar por aí. Vai que você tromba na Rola do Heitor, né?
Bom carnaval para você.
Por hoje é só, pessoal!
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