Insônia - Ansiedades - O que falta? - Perigo é ter você perto dos olhos... - Negrinha.
Um bom café, um bom pão de queijo e uma boa dieta são compatíveis?
O v(5), n(26) chegou! Não vai lhe oferecer um café com pão de queijo?
Insônia - Havia melhorado e, sim, ainda acho que melhorou, mas não tanto quanto gostaria. O problema da insônia é que você começa a conversar com ela, mesmo que não queira. É como aquela pessoa incômoda que você encontra por aí e, após breve conversa, percebe que ela nunca te deixa ir, entabulando sempre um papo novo, nem sempre desejado.
Ontem à noite - ou melhor, na madrugada de hoje - foi assim. Lá pelas duas da manhã, por conta do frio, acordei e…
“- Fala, Claudio, e aí?
- Estou com sono, vai.
- Ah, espera…você tem que olhar a questão da viagem.
- Amanhã eu olho.
- E tem os médicos, os exames…
- Já me programei. Só falta agendar um…acabou?
- Como fica a ração do Mii e da Momo?
- Temos o estoque, calma.
- Viu lá o bombardeio no Irã? Que coisa, não?
- Dá para parar com isso?
- Ah, vai. Sei que está ansioso pelo próximo jogo do Cruzeiro…”
Foi assim no início. Tentei fechar os olhos e atrair algum sono, mas a danada não parava de tagarelar. Ficou a me perturbar com questões de foro (mais) íntimo (ainda) que não posso reproduzir aqui por motivos mais que óbvios (para mim e para quem tem bom senso).
O fato é que se foram mais duas horas e, claro, Mii e Momo não ajudaram muito. Confundiram os horários quando despertei. Em algum momento, entre três e quatro da manhã eu tive que colocar os dois para fora do quarto e fechar a porta. Creio que os pedidos só vieram mesmo ali, como disse, perto das quatro e, graças a Deus, eles logo se acalmaram.
A insônia ainda tentou me pegar para outros debates, mas consegui uns minutos antes das cinco da manhã quando, então, capitulei, escovei os dentes e fui cuidar do café da manhã das duas criaturas. Juro que vi insônia dormindo na cama, roncando…
Ansiedades - Não, a guerra não me assusta. Cresci vendo várias delas. Alguns e$peciali$ta$ vendem o apocalipse - e fazem sucesso, como fazem sucesso! - enquanto outros, mais razoáveis, ponderam custos e benefícios da guerra.
Minhas ansiedades vêm de outras fontes. Curiosamente, a melhora no meu bem-estar com a chegada de Mii e Momo trouxe novas fontes de preocupação. É curioso e estranho para mim e não sei dizer muito à respeito no momento. Fica para outro dia.
O que falta? - Há várias listas sobre o que alguém “deveria fazer antes de morrer” por aí, não? Bem, eis a minha:
Escrever um livro (feito, mas escondido de (quase) todos);
Ter uma garrafa de whisky em um bar (feito, há pouco tempo);
Comemorar seu aniversário em um karaokê (feito);
Plantar uma árvore (reajustado para plantinhas para ajudar na digestão dos felinos de casa, consider it done!);
Cumprir todas as missões que lhe sejam atribuídas, mesmo que estas lhe exijam sacrifícios (algumas vezes pesados), desde que não firam sua ética (até hoje, feito);
Ter amado alguém (feito…feito mesmo);
Atingir a maturidade de evitar quem é venenoso e se aproximar de quem realmente é amigo (feito, embora, às vezes, a gente se engane);
Ter dançado a dança da polenta (feito, mas acabei de incluir este objetivo);
Lembrar que o dinheiro é importante, mas, em certas situações, a felicidade precisa ser priorizada (mais ou menos feito ao longo destes anos);
Visitar a terra dos ancestrais (feito).
Achei minha lista bem completa, mas estou aberto a sugestões.
Perigo é ter você perto dos olhos… - …mas longe do co.ra.ção! Assim cantava, creio, Zizi Possi lá nos anos 80 (ou entre os 80 e 90, não vou pesquisar agora…). Verdade, mas existem outros lados: muitas vezes queremos alguém que está longe do coração e longe dos olhos e achamos isto nada perigoso. Ou alguém queria estar perto do Supremo Líder da República Islâmica do Irã, mesmo que lhe não caíssem bombas ao lado?
Também é perigoso ter alguém longe dos olhos e perto do coração porque o perigo é de muito sofrimento. Por outro lado, é ótimo ter alguém perto dos olhos e do coração. Claro, neste caso, que seja eterno enquanto dure.
Talvez haja uma transição entre estes estados. O diagrama poderia ser chamado, sei lá, Zizi Possidetis.
Negrinha - O conto é de Monteiro Lobato e, agora, passados alguns dias da leitura no sebo (é, comprei o livro com este e outros contos), creio que, sim, eu o li no colégio. Triste? Bastante. Lembrou-me um pouco Mishima (“Sol e Aço”) que dizia que a vida deveria terminar enquanto a pessoa fosse bela.
Não é exatamente o caso da personagem - só a conhecemos por ‘Negrinha’ - criada com crueldade por uma senhora que, ao ver uma boneca trazida por algumas das netas, cai por amor pelo brinquedo. Vida miserável com um lampejo de alegria. Quando as férias das netas terminam, vão-se com a boneca, mas Negrinha não consegue mais escapar da tristeza de ter vivido a felicidade apenas naquele breve período.
Ao longo do curto conto, a sua ‘mãe adotiva’ começa a ser menos dura com a pobre Negrinha, mas ela morre logo. Eis aí o que me lembrou do Mishima: a beleza da vida não é como a beleza física, mas ambos morrem após experimentar uma espécie de beleza pura, imaculada. Mishima, que via em seu corpo moldado com exercícios, a beleza da juventude e; Negrinha, que experimentou a ternura e amor que antes lhe eram negados com um brinquedo simples, uma pequena boneca. Um se matou para não se ver envelhecer e a outra morreu porque a felicidade momentânea foi um contraste imenso com sua vida nada bela.
Minha edição é de 1959, da editora Brasiliense, com bela capa dura verde-oliva.
Até mais ler!
(*) “até mais ler” foi plagiado do Orlando Tosetto, cuja newsletter, aliás, você deveria assinar.
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Salve professor! Achei essa edição romântica demais, tive que abrir o spotify e dar play no Best of Wagner para continuar lendo.
Brincadeiras a parte, me parece que a grande ironia sobre o Mishima é que ele provavelmente é mais lembrado pela beleza contida na sua obra do que pela beleza física, o que, de certa forma, talvez contradiga a obra dele. Pode até ser bonita, mas não é verdadeira (ou boa, já que é um tanto niilista).
Me parece que uma vida admirável e íntegra deveria ser bela, boa e verdadeira, mas aí teríamos que falar de outro livro que os Jesuítas tentaram emplacar no Japão.
Grande abraço, professor!