Doutor Palhinha e o Caso do Dr. Godofredo Jekyll e do Sr. Louis Hyde. Mais do mesmo. Bananére ao fim.
Um clássico instantâneo! Só precisa deixar 3 minutos em água fervente!
No v(2), n(50), um conto um pouco mais extenso usual. Trata-se de um novo caso do Dr. Palhinha. Neste número, a temática é uma só: Dr. Jekyll e Mr. Hyde. Por motivos alheios à sua vontade, este número chega adiantado (o senhor GMT tomou a redação de assalto e…) em um dia.
Doutor Palhinha e o Caso do Dr. Godofredo Jekyll e do Sr. Louis Hyde - Não conhece o peculiar método investigativo do Dr. Palhinha? Então vá primeiro ler isto aqui. Criado por Alexandre Soares Silva e ‘tomado de empréstimo à força’ por mim, o personagem segue gerando cancelamentos, choros, revoltas e, por que não, gargalhadas.
E como sou teimoso, vamos ao que interessa.
Parte I - Doutor Jekyll sempre quis achar a cura para alguma doença. Um misto de vaidade com altruísmo, claro. Foi durante a pandemia que o nobre doutor resolveu que acharia a cura para o famigerado Covid-19.
Aproveitando-se do isolamento - já que havia contraído a doença em um encontro acadêmico umas semanas antes - dedicou-se exclusivamente à pesquisa. Pelo serviço de delivery, encomendou alguns congelados e uns sucos. Desligou a televisão, o celular, e se trancou no laboratório.
Por dias, o obcecado doutor testou várias fórmulas em ratos até que, próximo à exaustão, achou ter chegado à cura. Por meio de medições constantes de sua própria temperatura, podia monitorar o avanço da doença, auxiliado por uns aplicativos que ele mesmo havia criado, há alguns anos, para o acompanhamento de doenças similares.
Sua abordagem não se enquadrava nas modernas tecnologias que nos deram as vacinas conhecidas. Não senhor. Jekyll não queria pagar um único centavo por usar patentes alheias. Nem era tanto pelo dinheiro, mas o doutor tinha uma certa aversão pela falta de originalidade. Tudo, em seu laboratório, aliás, fora feito por ele. Mesmo o computador que usava, ele o construiu comprando as peças. Tinha algo de artesão esta versão do Dr. Jekyll.
Ou talvez isto seja apenas um artifício do autor para deixar o clima mais parecido com o da obra original. Vai saber. Nem todo autor é talentoso. De todo modo, tal qual no famoso livro, nosso doutor também chegou a uma fórmula que pensava ser a definitiva. Seria a cura? Não sabia. Teria que testar.
De seu armário pegou o mais belo cálice. Afinal, ou morreria de Covid-19 ou estaria curado em breve. A ocasião merecia um certo glamour. A substância cor de esmeralda combinava com o cenário. Sua fórmula parecia mesmo um drinque destes de novela.
Dr. Jekyll remexeu uma de suas gavetas cheia de tralha inútil e deu ao evento de sua vida um pequeno toque de bom(?) humor, colocando um pequeno guarda-chuva de plástico que ele trouxera do bar, há algumas semanas, em seu cálice. O humor, sabemos, é útil para aliviar a tensão e era sua vida que estava em jogo…
Parte II - Doutor Palhinha pediu um café e um misto quente. Estava visivelmente de mau humor. Mal havia terminado de escovar os dentes quando descobriu uma cárie que passou a lhe incomodar mais quando, acidentalmente, bateu forte com a escova no dente danificado.
Também não ajudava muito o fato de ter sido acordado antes das seis da manhã com um telefonema do delegado que lhe requeria, novamente, ajuda com suas habilidades investigativas únicas. Menos ainda quando lhe disseram que a vítima era um amigo.
Mais um crime hediondo desafiava o serviço de inteligência da polícia que, nos últimos anos, recebeu treinamento contra o machismo, o racismo e também sobre a pedagogia do oprimido. Lamentavelmente, nenhum treinamento, nenhuma oficina sobre o uso da inteligência no combate ao crime foram ministrados. Ou seja, tinham mesmo de contar com o doutor Palhinha.
‘- Pipoca, manda a conta!’
Mais uma vez, o sagaz doutor Palhinha tentou ‘pendurar’ a conta, mas não conseguiu. Resmungando algo sobre somente a elite do judiciário receber bons salários, pagou e pôs-se a caminhar em direção à delegacia. Para sua alegria, o sol ainda não estava tão quente quanto ficaria lá pela hora do almoço (que, para mim, leitor, é às 11 h, mesmo que a modernidade diga que é depois do meio-dia).
Na delegacia encontrou os policiais em polvorosa (embora não falassem palavrões e evitassem termos supostamente misóginos). O crime, pelo visto, não era dos pequenos. Para seu horror, foi informado que havia sido encontrado morto com tiros de um 38 o seu amigo, o sargento Sancho.
Junto ao corpo, um bilhete enigmático dizia apenas: Sargento Sancho, afrodescendente, mestiço. Gênero socialmente construído: provavelmente macho. Idade: 58 anos e 3 meses. Pelo contexto social, um desfavorecido pela sociedade, ainda que não o percebesse por seus preconceitos herdados de família patriarcal. Não sofria de pobreza menstrual. Discurso social levemente individualista. Eliminado.
O assassino era, claramente, alguém que buscava se mostrar como um indivíduo politicamente correto. O motivo do bilhete, pensou Dr. Palhinha, era apenas o de sinalizar o quão comprometido o assassino se achava com algumas causas sociais muito difundidas.
O investigador notou que alguns policiais admiravam o conteúdo politicamente correto do diabólico bilhete o que, talvez, explicasse o porquê de demorarem tanto para fazer os trâmites da papelada afim de agilizar a investigação. Percebeu que teria, ele mesmo, tomar a frente da investigação. Era o mínimo que poderia fazer pelo amigo falecido.
Pensava sobre o problema que tinha pela frente, sentado em um canto da sala, quando, de repente, o telefone tocou. Atendeu-o o subdelegado Lorenzo Argilas que fez um sinal chamando nosso investigador para que o acompanhasse.
Parte III - O corpo do sargento Sancho, de bruços, não era exatamente uma visão que agradasse ao investigador.
‘- Lorenzo, o que é isso?
- Calma, Palhinha, não é o que parece.
- O Sancho era viado?
- Não, não. Mas o médico descobriu algo inusitado, algo sinistro.
- Desembucha, Lorenzo!
- Vou fazer melhor. Vou te mostrar.’
Delicadamente, e com certa repulsa, o subdelegado abriu as pernas do cadáver e apontou para o orifício anal da vítima. Lá estava tatuado, em letras minúsculas, três palavras ordenadas de forma a sugerir uma expressão: existe almoço grátis.
‘- Olha, Lorenzo, nunca vi algo assim.
- Nem me fale.
- Alguma pista adicional?
- Bem, parece até piada, mas há umas pegadas que seguem até o muro da Mansão Jekyll, lá na rua das Camélias, perto do…
- Sei onde é. Não é onde mora aquele cientista?
- Acha que deveríamos…?
- Vamos lá.’
O subdelegado chamou mais dois oficiais e, com o Dr. Palhinha no banco da frente, dirigiram-se para a mansão onde morava o pesquisador (bolsista do CNPq há alguns anos), Godofredo Jekyll que foi quem os recebeu à porta.
‘- Bom dia, senhores.
- Bom dia, seu Godofredo. Somos da polícia. Este aqui é o doutor Palhinha…
- Doutor Palhinha a seu dispor…
- Muito prazer. Entrem, entrem! Querem uma bebida?’
Nem os policiais, nem o doutor Palhinha ou o subdelegado aceitaram o convite, embora os dois últimos, diante dos fatos escabrosos, até estivessem dispostos a um belo trago.
Sentaram-se todos à mesa circular que havia na biblioteca da bela mansão do Dr. Jekyll. As estantes da biblioteca mostravam a variedade de interesses do estudioso. Desde filósofos clássicos, passando pela coleção Brasiliana e obras consagradas da literatura universal, sem dúvida, o pesquisador era um homem culto.
Como o subdelegado Lorenzo Argilas e os soldados nada falassem - talvez intimidados pela grandiosa biblioteca - tomou o doutor Palhinha a iniciativa.
‘- Então, seu Jekyll, o que o senhor anda pesquisando?
- Ah, seu Palhinha, busco a cura para a Covid-19.
- Nobre, nobre! Que chique!
- Obrigado.
- E tem avançado?
- Veja, meu caro, para a cura da Covid-19 é preciso crer na ciência e a ciência não é algo que seja alvo de fé. Percebe a contradição? Muitos falam que são ‘a favor da ciência’, mas defendem políticas públicas que se baseiam apenas em sua fé, em pré-conceitos. Isto me mostrou que eu precisava criar um remédio que resolvesse esta contradição.
- Deixa eu ver se entendi, seu Jekyll. O sujeito diz que gosta de ciência, mas só quando esta não contradiz seus preconceitos?
- Isso!
- Mas tem como resolver isso, doutor? Não é perigoso tentar brincar de Deus?
- É não, seu Palhinha. Veja, basta ter um pouco de fé…na ciênci….argh…’
Interrompido pela dor, o Dr. Jekyll caiu no chão, em espasmos. Os soldados correram em seu socorro e quando tentavam segurá-lo, viram que o Dr. Jekyll se transformara. Seu rosto, agora, tinha bigode e barba, lembrando, discretamente, uma curiosa combinação de Fidel Castro com Justin Trudeau.
‘- Prenda ele, Lorenzo! Algemas no meliante! Rápido! Explico depois’, gritou o investigador.
Os soldados e o subdelegado agiram rápido e o hediondo sujeito em que Dr. Jekyll havia se transmutado acordou já algemado e fortemente vigiado pelos dois soldados.
‘- Quem são vocês?
- Eu sou o investigador Palhinha. Este aqui é o subdelegado Lorenzo Argilas. E você, quem é?
- Ora, ora…o famoso pervertido Palhinha, sujeitinho preconceituoso, finalmente…
- Desembucha!
- Eu sou o Sr. Hyde, Louis Hyde, o homem mais politicamente correto que o mundo já conheceu! O perfeito guerreiro social. O algoz daqueles que negam as teses da justiça social e da dignidade humana!
- Ah, entendo. Veja, Palhinha, o bandido aí é…
- …sim, Lorenzo…é o meu oposto!
- Há anos acompanho sua vida horrenda, seu investigador preconceituoso, defensor da masculinidade tóxica! Usando estereótipos e preconceitos para resolver crimes. Que patético! Nunca pude me manifestar porque o enxerido Dr. Jekyll não me permitia. Mas foi fácil usar sua vaidade e pretensiosidade nesta missão estúpida de vencer os preconceitos na busca da cura de uma doença para poder me libertar.
- Ó que o senhor é muito vaidoso também. Logo vi, pelo recado no corpo do Sancho, que o facínora não seria alguém normal. Quem não consegue conviver com a imperfeição humana facilmente cai na tentação criminosa de fazer justiça a qualquer preço. Não, seu Hyde, não existe almoço grátis. O senhor mesmo, por exemplo, não viu que tinha preconceito contra gente imperfeita ao abraçar sua luta maligna.
- Maldito! Não, não pode ser. Eu sou um justiceiro social! Eu não tenho preconceitos! Os fins sociais justificam os meios! Pós-modernismo é vida! Antonio Risério é fascista! ’
Enquanto vituperava, o Sr. Hyde foi colocado dentro do camburão e levado à delegacia.
O laboratório do Dr. Jekyll foi revistado, os materiais recolhidos e suas anotações foram enviados para um hangar, nos EUA, onde também se encontra a Arca da Aliança.
Doctor Jekyll and Sister Hyde - Está em uma coletânea (Obras-Primas do Terror, vol.8). Vi, não sei onde, e achei curiosíssimo…e comprei. Comentei com um colega que também adora filmes da Hammer e da Amicus que ponderou: seria um filme de terror?
Eis o trailer.
Eu diria que é um filme de terror. O documentário, incluído na coletânea, revela que tudo começou com uma piada do tipo e se ele virasse mulher ao tomar a fórmula? Para nossa sorte (bom, pelo menos para a minha, não sei vocês…) a ‘irmã’ é representada por, Martine Beswick que atuou em 2 (dois!!) filmes da franquia 007: From Russia with Love e Thunderball.
A história (olha a chuva de spoilers) é que, em suas pesquisas, Dr. Jekyll percebe que morrerá antes de conseguir testar suas ideias de antivirais que poderiam salvar a humanidade. Logo, passa a perseguir a maior longevidade e é aí que entra o elemento feminino do filme: ele nota que a expectativa de vida das mulheres é maior que a dos homens o que o leva a crer que a fórmula da longevidade precisa ter algo de feminino…
Em busca de seu novo objetivo, cria o soro que, experimentado, sobre uma mosca, altera seu sexo (ou gênero, não sei mais a terminologia…). Mesmo sabendo do risco - e aí ficamos com a sensação de que ele não é tão vítima assim do que virá a acontecer - ele aperfeiçoa o soro usando restos humanos de cadáveres de mulheres e o resto da história é mais ou menos o que leitor pode imaginar.
Ah sim um último ‘spoiler’: há uma família que se muda para o andar de cima da casa de Jekyll, composta da mãe e um casal de filhos. O tom tragicômico do filme é dado pela paixão da filha pelo Dr. Jekyll e a do filho pela ‘irmã’, a Srta. Hyde. Pensando bem, a Hammer foi bem atrevidinha para a época…
Juó Bananére Presidente! - A campanha continua arrebanhando corações por todo o país. Infelizmente, as pesquisas eleitorais fraudadas não mostram nosso candidato que, sabemos, é líder. O comitê de campanha de Juó Bananére comunica que oficializará a sua queixa junto aos órgãos competentes.
O candidato do povo assim se pronunciou: Eh! Mediatamenti vô acuntá p’ro seu delegado chi tuttos isto ‘surveis’ só tutto infalsificatto! Bando di gyentti chi tem gara di gavallo!
#juobananerepresidente
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler!
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