Senhor GMT. Regulação. Desenvolvimento Econômico e Cultura. Star Trek. Outros.
Só dando com uma pedra nela!
Bom dia, amigo. Chegou o v(2), n(49) da newsletter. Quase cinquenta números em 2022!
Senhor GMT: o Viajante do Tempo - Foi mais ou menos por ali, na adolescência, que se manifestou sua mania de viajar no tempo. Havia uma festa às 17 h? Chegava às 16:50. Os pais achavam-no um bom rapaz, comportado e fiel aos horários. De fato, mesmo quando iniciou seu estágio, nunca se atrasava. Chegava, até mesmo, mais cedo.
Em certo emprego, descobriu que chegar cedo garantia-lhe uma vaga no estacionamento coberto que era, para ele, a melhor. Deste modo, passou a sair uns 30 minutos mais cedo de casa. Este foi o início de suas viagens no tempo. Quando jovem, o adiantar-se não lhe custava tanto. Era fácil chegar mais cedo e saía no horário (ou mais tarde) sem significativa perda de sono.
Alguns amigos o chamavam de Senhor GMT (Greenwich Mean Time), já que ele parecia viver em um fuso horário particular. Os médicos e dentistas (e prestadores de serviço em geral) tinham um sentimento ambivalente: ou achavam-no maravilhoso ou queriam-no morto. A moça do café, por exemplo, exasperava-se ao vê-lo chegar quase no mesmo horário.
Totalmente averso a questões burocráticas, nosso Senhor GMT não ligava para bancos de horas: seu adiantamento era mesmo algo de sua personalidade, não de algum tipo de estratégia para ganhar horas da empresa. Logo que percebiam isto, gerentes e supervisores também passavam a amá-lo. Chegou a ganhar alguns relógios de presente em empresas pelas quais passou.
Com a velhice, contudo, veio o aumento do número de tubos de sangue nos exames de rotina e, claro, o cansaço. Já não conseguia mais permanecer ativo como antes. A idade parecia constranger-lhe o espaço de tempo em que conseguia se manter trabalhando.
Percebendo o que lhe acontecia, lutou o quanto pôde para se manter regular em seus adiantamentos, mas, aos poucos, teve que escolher: ou se atrasava, ou saía mais cedo. Não deu outra: não poderia jamais se atrasar.
O pessoal do trabalho não lhe repreendeu, haja visto o quanto de horas ele não usufruira previamente e, claro, há sempre uma consideração especial para os diligentes funcionários que estão próximos à aposentadoria. Os amigos, igualmente idosos, não o incomodavam quando se retirava mais cedo de seus encontros sociais.
Tendo falecido de causa natural, em sua casa, chegou ao céu um pouco antes do horário, mas teve que esperar na fila por algum tempo (não se sabe se muito ou pouco porque a noção de tempo na eternidade é algo diferente da nossa). Foi o seu purgatório. Ou sua redenção, já que criou amizades eternas na fila…
Regulação - Sempre fui e nunca deixarei de ser cético quanto à regulação. O que não me impede de apreciar os esforços para que a mesma seja menos danosa à sociedade.
Neste sentido, sou um stiglerita com um pouco de moderação (mas só um pouco!) e gosto de ver que um avanço institucional que precisa ser tratado com carinho, para que não se desvirtue, é a adoção da Análise de Impacto Regulatório por parte do governo brasileiro. É algo de bom que este processo de acesso à OCDE tem trazido.
O leitor mais antigo sabe que a regulação é um tema recorrente aqui.
Cultura - Eis uma ótima conversa entre Kurtis Lockhart e Jared Rubin sobre desenvolvimento econômico. E eis um trecho que ilustra o que há de melhor no espírito da pesquisa científica (e que mostra o quão o politicamente incorreto é anticientífico):
Because I mean, I think that in the end, as social scientists, people that like to think that they’re using something akin to the scientific method, we should at least be willing to consider any type of explanation, no matter how distasteful.
Sim, é preciso ter a mente aberta, o que não quer dizer que você não deva ser criterioso ao testar esta ou aquela hipótese. Ajuda muito se você se esforçar para medir os fenômenos, ainda que criando um conceito um pouco mais restrito - mas com forte correspondência - do conceito mais geral.
Por exemplo, a cultura.
O tema da cultura no desenvolvimento econômico tem sido muito explorado nos últimos anos porque, dentre outras, aprendemos a usar definições específicas de ‘cultura’. Definições que, aliás, são passíveis de mensuração. Afinal, pesquisar é também reconhecer que sua hipótese pode ser falseada (Popper!). É isso, ou falar platitudes (e/ou virar um fanático).
Quem disse que pesquisa séria seria fácil, né?
Falando em temas que causam desconforto, pense no caso dos cabelos não-naturalmente coloridos. Como assim? Bem, veja o resumo deste estudo.
A number of lines of evidence, such as studies of religious converts and members of conspicuous subcultures, have found a relationship between holding and expressing a strong counter-cultural identity and mental instability. Here we test whether dying your hair an unnatural colour - something which conspicuously expresses non-conformity - is related to mental instability, using a large dataset of online daters (OKCupid dataset, about n=14k used in this study). We find the expected pattern, which was moderate in size (p = -033 to -0.23, depending on controls). This pattern persisted even when controls for age, race, sex, sexual orientation, body type, intelligence, polyamory, vegetarianism, and political beliefs were included.
Provocativo? Sim. Ainda bem. Análise feita com base em dados e com metodologia que pode ser discutida e revisada? Sim. Podemos reproduzir o estudo com outras amostras. Sim. Muito bom, não?
Dicionários - Vi, não me lembro onde, o Dicionário do Palavrão e Termos Afins, de Mário Souto Mayor (com prefácio de Gilberto Freyre!). Comprei. Amostra?
Legal, né? Estou lendo com calma e estou de boa (ops!).
Ainda livros - Do grande chileno Roberto Ampuero estou quase terminando o Quem matou Cristian Kustermann? Livrinho que introduz o personagem Cayetano Brulé, um detetive cubano radicado no Chile.
Tenho tido algum prazer com a temática: Columbo, Dr. Palhinha, Cayetano Brulé e Júlia (a criação de Giancarlo Berardi, desenhada de forma a nos lembrar de Audrey Hepburn).
Deu até vontade de rever Law Order Criminal Intent, com aquele ótimo detetive, o Goren…
Os incríveis curtas da Filmation - Bem, não exatamente…é mais um what if a Filmation tivesse produzido mais da franquia. Os produtores destes dois vídeos conseguiram me fazer voltar à infância (há algum tempo em comprei os DVDs da série animada que assisti quando criança).
Usufrua!
Só dando com uma pedra nela - O Luigi Marnoto (do Fitas, Bolachas e Catataus, o melhor programa do YouTube) mencionou uma sonzeira que eu não conhecia (eu não conheço muita coisa de música, já falei?). Trata-se de Lamartine Babo. Há uma versão completa e uma, mais divertida, com uma estrofe a menos (e com uma bela orquestração).
Aqui vão as duas. Ouça primeiro esta aqui, com Mário Reis.
E, aqui, a versão completa.
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler!
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