Do (meu) Riso, dos grupos de interesse e obrigado pelo peixe, Cato Journal...
Meu riso? O chi é chi tê vucê cum istu?
No v(1), n(49) desta newsletter, eu me impus um exercício não-usual (falar unusual é incrivelmente mais agradável aos meus ouvidos, mas…) que já explico a seguir. Além dele, alguns outros temas.
Talvez você seja novo por estas bandas. Rapidamente: publico duas vezes por semana, geralmente às quartas e sábados. Eventualmente há algumas edições extraordinárias. Assinar (custo = R$ 0.00) me ajuda bastante. A temática? De tudo um pouco. Confira os números anteriores aqui.
O desafio do humor macarrônico - Não sei quantos gostariam do desafio a que me submeti, mas aí vai. Recentemente adquiri o A Volta Ao Mundo Do Riso, de Pierre Daninos, da Livraria Bertrand (publicado sem data, mas tudo indica que se trata dos anos 50, ali, depois do/durante o maoísmo chinês.
Na verdade, Daninos é apenas o organizador do livro. Cada capítulo é escrito por um (ou dois) autor(es) distintos. O humor, assim, varia bastante e o estereótipo ‘cultural’ provavelmente não sobrevive a um estudo mais sério, mas, ora bolas, é um livro sobre humor.
Sim, pois se os estereótipos fossem tão rígidos quanto verdadeiros, eu não acharia graça em boa parte do livro. Pelo contrário, num plot twist irônico, encontrei ali muitas piadas das quais ri muito quando adolescente.
Mas eu falava de um desafio. Como os leitores desta missiva bi-semanal sabem, tenho usado, bem recentemente, como exercício de relaxamento, escrever como Juó Bananére. Assim, do capítulo sobre o continente americano retirei uma piada do Brasil (reproduzo-a logo, logo).
O desafio é bananérizar a dita cuja, o que não é simplesmente fazer uma transcrição literal, mas tentar deixá-la adequada no molde humorístico do grande mestre. Não é uma tarefa simples. De todo modo, é o desafio auto-imposto.
Dito isto, a piada é:
Um dia um paulista parte em viagem de inspecção para as terras distantes do Mato Grosso, onde os habitantes parecem atingidos de letargia. Descobre um camponês que dorme à sombra de uma bananeira:
‘Ora diz-me, meu amigo, pergunta, designando uma enorme extensão inculta, esta terra não dá café?
-Não dá café.
-Também não dá algodão a tua terra?
-Também não.
- E cana-de-açúcar?
- Também não.
- Mas se plantasses café, a tua terra daria café?
- Oh! com certeza, se você o plantar…’.
Sim, eu já ouvi esta quando criança. Algo ali na minha memória se mexeu e levantou um bocado de poeira quando comecei a rir. Agora, a versão bananérizada.
Altro dì uno baolista viajó nas inspeção nas terra du Matto Grosso che tutto gente vivia na insposiçó para o trabaglio. O baolista incontró o dignore camponês che stava facendo una sunecca baxo a bananéra:
‘Eh! su facendiere, o baolista preguntó, apuntando para aquela terra molto maior qui o Bó Ritiro, ma come é che não dá caffé esta terra?
-Eh, no lo dá.
-Ma i u algodão?
-Esto também no lo dá, seu baolista.
-I o cana do azucaro?
- Né uno puquinho.
- Porca miséria! Ma che si os facendiere pranta os pé de caffé, si nascia?
- Eh! Come no! Si pranta os pé de caffé, fica tutto bunitigno!
Não foi fácil, mas eu me diverti. Quem sabe alguém mais topa o desafio de bananérizar esta mesma piada? Convite feito!
Ah, eis outra piada, tirada da p.54 do mesmo livro, falando do humor escocês (tipicamente, sobre sovinice…).
- O filho de Mac Farlane volta da escola, radiante, dizendo:
-’Papá, tens razão para estar contente comigo: economizei seis pence. Em lugar de tomar o autocarro, vim a correr atrás dele.
-’Idiota - responde o pai - , devias correr atrás de um táxi; terias, desta maneira, economizado três xelins’.
Finalmente, da p.275, um pouco do humor mexicano que, a propósito, diz-nos algo sobre direitos de propriedade e política.
Conversa:
’Parece que o governador nasceu nesta propriedade!
- Não, foi a propriedade que nasceu depois de ele ser governador.
Bom humor ajuda a aliviar o dia, não?
Cato Journal - Um dos mais influentes journals, com mais de 40 anos, infelizmente, será descontinuado. Perde-se uma publicação influente. Tudo bem que o acervo seguirá disponibilizado mas…Cato Institute, nunca te pedi nada, né?
Em 2011 (puxa, já se vão dez anos!) eu, Ari e - um então jovem e promissor Pedro Sant’Anna - publicamos um artigo lá. O tema? Segue atual. Ari ainda emplacaria um outro artigo no mesmo periódico, é bom lembrar.
Public Choice e grupos de interesse - Não é que, em 1958, a Revista do Serviço Público publicou uma tradução de um artigo de um tal Jean Meynaud (aparentemente, famoso entre os cientistas políticos) sobre o tema dos grupos de interesse? A análise é bem preliminar, nada tão sofisticada quanto o faria Mancur Olson Jr em seu clássico de 1965, mas é muito legal o artigo.
Surpreendeu-me ver um artigo promissor como este na Revista do Serviço Público (RSP).
A RSP, é bom lembrar, recebe submissões de artigos com ênfase em gestão pública e economia do setor público (incluindo public choice, claro!).
Literatura Brasileira em Decadência - Não, não. Nem todos. Mas de onde menos se espera, aí que não vem nada mesmo, diria o Barão de Itararé. Alexandre diz o mesmo, com seu talento usual.
O Guia do Mochileiro das Galáxias - Fez aniversário em 12/10, conforme me lembra Matt Ridley. Talvez seja um dos livros que melhor me mostrou que o humor inglês é, mesmo, um dos meus favoritos (explica esta, Pierre Daninos!).
Papo Reto sobre o Efeito Peltzman no futebol - No finalzinho da tarde do dia 25 de outubro temos um Papo Reto AED (Análise Econômica do Direito) comigo, Felipe Falcone, sob moderação dos ótimos Alexandre Cateb e Amanda Flávio de Oliveira. Será um prazer poder trocar uma ideia sobre duas áreas de pesquisa que me agradam muito.
Muita gente não sabe, mas, em 2005, eu, Leo e Ari publicamos um artigo (pioneiro em termos de Brasil?) em Sports Economics. A pergunta era sobre os determinantes da liderança no campeonato brasileiro de futebol. Voltaríamos eu e Ari ao tema, nos anos recentes, com algumas pesquisas envolvendo dados brasileiros (nosso último artigo trata das evidências empíricas da política sobre a gestão dos clubes).
O efeito Peltzman, por sua vez, é tema tradicional na Análise Econômica do Direito. Já falei dele nesta newsletter (em nosso 45o número) e, bem, vamos conversar mais sobre o tema, na interseção das agendas de pesquisa (AED e Economia dos Esportes) na segunda. Não perca!
Antônia Melcher - A autora de um dos contos do Dr. Palhinha, a Dra. Antônia Melcher, informou-me que arrumou um caderno para aprimorar sua escrita. Não, não é um pseudônimo meu. É mesmo um pseudônimo, mas de outra pessoa. E ela vem aí, em breve, com força total. Assim espero. Sigo na torcida.
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Por hoje é só, pessoal. Espero que fique bem e até a próxima.