As superaventuras - Economia explica - Populismo econômico desconstruído - O preço da censura chinesa.
A vodca me deu um sonho e outra vodca levou-o embora.
Depois do lamentável atraso no último número - verdade, gente, o sistema do substack não funcionou e eu não sei o motivo - vamos enviar este aqui (o v(4), n(31)) manualmente mesmo. Ah sim, a frase de hoje é do Graham Greene, em Monsenhor Quixote e, provavelmente, eu já a usei aqui.
Com a consciência pesada pela falha no envio da última newsletter, resolvi enviar esta como um castig…digo, brinde ao assinante tornando-a a segunda desta semana. Sim…e semana que vem tem mais.
As superaventuras - Uma seleção de encontros e desencontros que ninguém pediu, mas que narrarei assim mesmo. Afinal, o que importa é a narrativa, né?
I.
Cheguei ao bar com cara de pub britânico afim de experimentar uma cerveja diferente. Creio que o pub britânico deveria ser patrimônio da humanidade, mas quem sou eu para pensar algo neste país que a tudo censura? Assim, desconsiderem meu suposto pensamento anterior acerca dos pubs e concentrem-se nos aspectos democráticos e progressistas do que narrarei a seguir.
Não vou descrever o pub. É óbvio que tem uma iluminação noturna, com balcão e mesas e um monte daquelas decorações típicas: letreiros luminosos com nomes de bebidas, artefatos esportivos, bandeiras etc. Também é óbvio que tem torneiras de chopp e cervejas artesanais na temperatura que pedi a Deus.
É, acabei fazendo uma descrição parcial da coisa. Sou ruim com promessas, mas, bem, eu não prometi que não iria descrever nada, só disse que não iria descrever, o que certamente não me enquadra em nenhum crime (ainda) que nossa flexível legislação considera como dignos de punição (não me refiro às aposentadorias com salário integral, mas às tornozeleiras que só funcionam para os pobres não vinculados a partidos de traficantes). Ok, prometo parar com isto. Devo ter déficit de atenção, só pode…
Continuando, comecei com uma cerveja japonesa - claro, né? - e, na sequência, pedi a ajuda da simpática garçonete para escolher uma artesanal. Sim, foi só isso, juro. É que, mais cedo, havia degustado uma pizza realmente saborosa com um casal de amigos e só queria mesmo ter aquele momento de reflexão a sós, em meio à agitada taverna.
Quando a conta chegou…
“- Senhor, foram duas cervejas e os 10%.
- Ok.
- Só que não vou lhe cobrar os 10%.
- Ok…epa, como assim?
- O senhor chegou, pediu duas cervejas, não fez arruaça, e ficou pouco tempo.
- Ok?
- Então não vou lhe cobrar os 10%.”
Meio sem jeito, aceitei. Depois fiquei pensando se deveria ter deixado meu número no guardanapo…
II.
Na manhã seguinte, eu estava decidido: iria que iria comprar uma camisa do Juventus (ou seria ‘da Juventus’?) e, claro que eu marquei no aplicativo de transporte o endereço da loja do clube no estádio que só abre em dias de jogos e tive que arriscar o segundo e único endereço que o aplicativo me mostrava. Sim, tive sorte.
Na sede do clube, uma loja simpática. Pequena, mas com uma entrada decorada como uma trave induzindo o incauto aqui a pensar que entraria com bola e tudo ao comprar uma camisa do grená paulistano. Bem recebido por uma igualmente simpática jovem, dei uma olhada na prateleira que tinha, à esquerda, três camisas da linha ‘retrô’ e, à direita, três variações do uniforme atual.
Devo ressaltar aqui que não gosto do símbolo do patrocinador do simpático clube: a Kappa. Manifestei, voluntariamente (sou meio sem noção, creio) minha opinião (que ninguém havia pedido, claro) à vendedora e notei que as camisas retrô, mais bonitas, também eram mais em conta. Tiro certeiro: peguei uma, salvo engano, de 1982.
A moça já guardava a camisa quando entrou um senhor - vamos chamá-lo de Fabrizio, um nome hipotético (creio) - que, como todo italiano (ou descendente de), chegou já gritando de forma alegre:
“- Cuidado com esta moça que ela vai te vender mais coisas! Ela é esperta! O que ele tá levando?
- Uma camisa retrô.
- É, tô levando uma camisa retrô.
- Mas…por que não comprou das novas?
- Sabe, é que não gosto do símbolo da Kappa, acho feio…
- O senhor não me diga isto logo pela manhã…(coloca uma das mãos na cabeça e faz expressão de tristeza…bom…italiano, né?).
- É, bem…
- Moça! Já finalizou a compra?
- Já.
- Tira esta camisa! Eu vou dar a ele uma das novas!!
- Não precisa, espera!!
- Não! Eu faço questão!! Só que você terá que enviar a foto para o instagram da loja!
- Ok, ok. Não fique bravo, mas eu vou manter minha compra.
- Certo. Escolha aí uma das três!
- Sim, sim…”.
E foi assim que virei um admirador da Juventus (ou seria do Juventus?), da Mooca e de tudo que se relaciona a este time simpático.
p.s. tinha até time de futebol de botão lá, mas resisti à tentação.
III.
Depois de minha desventura com a busca por um exemplar impresso da Gazeta do Povo (a não tão eletrizante aventura aqui narrada), parti ao encontro do meu amigo Paulo Polzonoff. Como assim ‘amigo’, Claudio? Você não foi amigo de infância dele, sequer o viu ao vivo?
Deixa eu te explicar uma coisa, amigo leitor (notou que também te chamei de amigo e recusei o uso de um bom “Deixe-me”?), a gente fica amigo das pessoas, hoje em dia, após um tempo conversando (ou mesmo trabalhando) com várias delas virtualmente. Tem sido assim desde o final dos anos 90. Tenho amigos que só conheci ao vivo depois de trabalhar virtualmente (à época, isto era possível apenas por trocas de mensagens de e-mail).
O almoço com o Paulo me mostrou, mais uma vez, que o que acabei de dizer, sobre amizades, não é refutado pelas evidências. Mais um que reforça minha esperança de que ainda haja vida inteligente no planeta. Foram três ‘submarinos’ cada, no Bar do Alemão e não me perguntem o que são os submarinos porque não vou contar. O sigilo é de 100 anos porque põe em risco a democracia do país.
IV.
No dia seguinte, no final da tarde, fui até o Vila Izabel, cenário recorrente das Crônicas do Badé, especificamente no BarBeca (assim mesmo). A missão era simples: conhecer o Badé pessoalmente. Beca, aliás, é B.E.C.A., ou Bloco Esportivo Capão da Amora, que foi um clube que existiu de 1950 a 1972 na capital paranaense. Um ótimo bolinho de carne é o prato principal do estabelecimento 5 estrelas no meu guia particular de restaurantes e bares Michelinho Copo Cheio (MCC).
Badé conheço faz menos tempo e já vi que ele não dispensa uma boa conversa. Gente boa, eu o entupi de referências da cultura pop nipônica (não tão recente, mas, vá lá, Takeshi Kitano ainda é sucesso, né?). Falamos mal de todo mundo que não estava ali e tomamos algumas cervejas, não tantas quanto gostaríamos, mas o suficiente para nos lembrar da importância da geração de empregos que a indústria cervejeira proporciona ao país. Mais um novo amigo.
p.s. Teremos mais relatos de superaventuras? Talvez.
Economia explica - Um ótimo resumo de um artigo do Casey Mulligan que mostra o quão poderosa é a teoria econômica para nos ajudar a entender nuances das escolhas humanas.
Populismo econômico desconstruído - Ótimo - e didático - texto do David Friedman, mostrando porque o nacionalismo econômico (muito amado pela extrema-esquerda e pela extrema-direita) não é exatamente o melhor para o bem-estar de todos.
O preço da censura chinesa - …aos filmes norte-americanos. Um estudo bacana.
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler! (*)
(*) “até mais ler” foi plagiado do Orlando Tosetto, cuja newsletter, aliás, você deveria assinar.
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Talvez você seja novo por estas bandas. Rapidamente: publico geralmente às quartas. Eventualmente há algumas edições extraordinárias. Assinar (custo = R$ 0.00 + valor do seu tempo para apertar o botão subscribe com seu endereço de e-mail lá…) me ajuda bastante. A temática? De tudo um pouco. Confira os números anteriores aqui.
Sometimes a Pub is the Best place in the world.
Oi Cláudio. Fique à vontade para castigar mais vezes :)