O jornal - Trump - Livros - Poptimsm - Tudismo - Life among the Econ.
Sim, eu sei o que fez no outono passado. E na primavera. E no inverno...e até no verão!!
O vol(4), n(30) deste ataque à censura da liberdade de expressão (e também à arbitragem da CBF) chegou já explodindo tudo. [nota: eu havia programado para ontem, mas algo saiu errado…]
O jornal - Cheguei à cidade em um frio e ensolarado domingo (acabo de me lembrar de algo…) e, cansado da esbórnia do dia anterior com Orlando e Carlão no reduto do Juventus (a famosa Moocaa, não, Moocca, não…Mooca!), passei o dia praticamente deitado, assistindo uma maratona de Law & Order (isso deprime a gente…) com um único intervalo para o almoço. À noite dormi o sono dos justos, uma raridade nos últimos tempos.
Na manhã seguinte, com a preguiça que o período de férias exige de qualquer filho de Deus, acordei e passei um tempo deitado sem fazer nada. Coloquei-me de pé contra minha vontade (parcialmente). O café da manhã do hotel, este eu aproveitei até o meu limite, pois descobri que eram duas bancadas: uma com frios e outra com doces e ovos mexidos. Na minha chegada, com fome e no limite do final do horário do café da manhã, eu não havia notado esta última.
Resolvi que iria comprar um exemplar do Gazeta do Povo para ler na cadeira do meu quarto, apoiado nesta mesma mesa. O porteiro me deu a indicação: haveria uma banca de jornal à uma quadra do hotel. Feliz com a idéia (acentuadíssima) de caminhar pouco e comprar o jornal, pus-me para fora do hotel (já não tão a contragosto) e, ao passar pela mercearia vizinha, notei estilhaços de vidro no chão sobre os quais me informei com duas senhoras de que não havia sido um assalto, mas que o vidro estourou sozinho, ao abrirem os portões de ferro, sem mortos, nem feridos. Ainda bem.
A visão da rua plana não me mostrava nenhuma banca, mas, como há sempre uma loja ou outra recuada, acreditei na dica do porteiro e saí. Vez por outra via algum estabelecimento comercial: lojas de móveis, bares de lamen, e bares em geral. Passei por algumas construções e por vários prédios bonitos, limpos de pichações criminosas. As pessoas, bem, as pessoas aqui não respondem ao cumprimento tímido que se faz ao abaixar levemente a cabeça. Depois dizem que mineiro é que é desconfiado. Não, isto não me chateou porque, claro, minha missão era comprar o jornal.
Ocorreu-me, pois, que a tal quadra havia terminado e agora eu estaria por conta própria, como Cabral depois que o estagiário virou o leme para uma rota diferente no caminho para as Índias. A aventura eletrizante de se caminhar mais em busca de um jornal iria começar, agora para valer! O primeiro semáforo com faixa de pedestres foi a primeira prova para esta caravela humana e foi superada com relativa facilidade.
Veio o início da segunda quadra. Da ponte imaginária, de posse de uma luneta não menos imaginária, vasculhei cada pedaço de terra em busca da banca de jornais, mas não havia mais do que monstros marinhos e prédios. Desviando-me dos primeiros e ainda admirando os segundos, prossegui em decidida navegação até que avistei uma praça com o que parecia ser uma banca de jornal. Indiquei à tripulação que a viagem de ida estava chegando ao seu glorioso final.
Atravessei nova faixa de pedestres para confirmar que era mesmo uma banca. Contudo, ela parecia estar fechada. Desembarquei na praça e circundei-a para me certificar de que era mesmo uma banca. Do exterior eu podia enxergar, pelas partes envidraçadas da dita cuja, algumas revistas. Uma propaganda de um álbum de figurinhas de futebol confirmava minhas suspeitas. Olhei para o relógio e já eram mais ou menos umas sete horas e quarenta minutos. Em nenhum lugar do mundo uma banca abriria depois disto, imaginei. Quem é que vai ler jornal depois das sete? Talvez a leitura online tenha mudado os seus hábitos, leitor, mas jornal físico é entregue sempre cedo, por volta das seis da manhã.
Frustrado, voltei-me para a caravela imaginária ancorada na baía imaginária de águas calmas. Cabisbaixo, retornei e pus-me a navegar de volta, visivelmente frustrado pelo fracasso da missão. Eu só queria ler um jornal e voltava para o hotel de mãos vazias. Sem muito vento, naveguei em direção ao meu destino para, quem sabe, ao menos ler algum livro.
post-script - Polzonoff me informa que não existe mais versão impressa da Gazeta. Malditos!
Trump - Um ponto importante levantado pelo Hanania é sobre o que é o Partido Republicano de hoje. Ele não é o único a fazer este tipo de análise. É interessante lembrar que, apesar de toda mudança cultural no partido, doadores ainda são favoráveis ao livre mercado e, portanto, servem de contraponto ao populismo de Trump e Vance.
Muitos brasileiros olham para os republicanos dos EUA e pensam nos anos 60 ou 70. A diplomacia, as relações internacionais, sob a administração Trump, pode não ser o que delas se espera. Ainda temos tempo para conferir isto. Ainda mais que Biden deu um golpe no partido e está tentando forçar a escolha de sua vice. É curioso como poucos analistas da imprensa brasileira notem que sua renúncia tem um efeito negativo na democracia daquele país. Afinal, candidatos são escolhidos nas primárias. Talvez o erro seja terem empurrado sua candidatura até o limite (ou talvez tenha sido algo planejado mesmo).
Livros - Estive no lançamento de Censura por toda parte, de André Marsiglia, na Livraria Drummond, lá no Conjunto Nacional paulistano. Ainda não comecei a ler, mas o tema é grave o suficiente para que não se lhe dê a devida atenção. Cresci no final da ditadura militar e vi como deixamos de ter medo de criticar autoridades, o que reputo como sendo um bom aspecto de um regime político aberto. Autoridades merecem nosso escárnio com muita frequência.
Desde 2022, contudo, noto que muitos críticos passaram a temer a simples possibilidade de criticar algumas autoridades e isto, meu amigo, não é sinal de que a democracia brasileira está salva e você sabe bem disto. Henfil sabia disto e, ironicamente, seus aliados são os que mais pedem por censura nos dias de hoje. Tal como o Partido Republicano mudou nos EUA, a esquerda brasileira também se radicalizou. Difícil achar alguém que se encaixe no rótulo de centro-esquerda.
Você pode, claro, sempre criar um critério, uma métrica, para distribuir políticos e partidos em uma linha horizontal imaginária em que há uma extrema-esquerda e uma extrema-direita. É um exercício válido. Agora, se ele representa nossa realidade é outra história. Até porque, não por acaso, vários analistas simpáticos à extrema-esquerda nacional, não se cansam de rotular a centro-direita de “ultra-direita” sem apresentar nenhum critério razoável para esta retórica escandalosamente viesada.
De todo modo, não, não gosto de liberdade de expressão censurada.
Poptimism - É, eu nem sabia que o termo existia.
Tudismo - Eis o nome que eu daria (já existe um termo para isto, mas, quem sabe, né?) para esta mania de quererem fazer uma teoria de tudo. É o que eu sinto quando leio a newsletter do Michael Bauwens. Sei que todo mundo gosta deste tipo de teoria porque ter uma cosmovisão alivia a sensação de insegurança com o mundo.
Por exemplo, saber que tudo é materialismo histórico te dá um argumento quase religioso para apedrejar empreendedores sem dor na consciência. Já os Dez Mandamentos te dão o mesmo argumento, mas não necessariamente para apedrejar empreendedores. Livros de sucesso, sempre noto isto, são aqueles em que alguém tenta explicar toda a história com uma teoria (quantos não entraram na onda do Harari…e quantos já não o esqueceram?).
O ‘tudismo’, por outro lado, tem aquele problema clássico: se tudo é explicado por sua teoria, como é que vamos testá-la? Por isto eu não gosto muito deste tipo de tendência (taí uma boa frase para se descrever nos ‘tinders’ da vida: “se for tudista, dê dislike”).
Life among the Econ - O Leo Monasterio publicou este ótimo texto no SSRN, continuando o clássico do Axel Leijohnhufvud.
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler! (*)
(*) “até mais ler” foi plagiado do Orlando Tosetto, cuja newsletter, aliás, você deveria assinar.
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Talvez você seja novo por estas bandas. Rapidamente: publico geralmente às quartas. Eventualmente há algumas edições extraordinárias. Assinar (custo = R$ 0.00 + valor do seu tempo para apertar o botão subscribe com seu endereço de e-mail lá…) me ajuda bastante. A temática? De tudo um pouco. Confira os números anteriores aqui.
Um apanhado muito bom da semana.