Aos bons mestres, com carinho...
E as consequências não-intencionais das decisões jurídicas cheias de amor?
Neste 32o número do 2o volume da newsletter, um comentário sobre o erro que é seguir tudo o que os outros fazem sem pesquisar cuidadosamente antes. O caso em questão - inimaginável há alguns anos - é o do Canadá e o retrocesso que a política educacional deste país acaba de sofrer.
Claro, outros assuntos também estão por aí. Boa leitura!
O Canadá está no caminho errado - Emil Kirkegaard, ironicamente, comentou a pior decisão que a suprema corte canadense poderia ter tomado, qual seja, proibir a aplicação de testes de matemática para professores de colégio.
Isso mesmo: aqueles que ensinam os filhos dos canadenses os princípios básicos de matemática não precisam ser proficientes em…matemática. Com ironia, após um exercício numérico simples, ele conclui:
Um teste de proficiência de matemática é muito diferente de uma licença ocupacional que grupos de interesse usam para impedir o aumento da competição com os sindicalizados, com prejuízos para a prosperidade econômica. Por que?
Porque o teste de matemática diz respeito à avaliação de habilidades (skills) universais: qualquer um proficiente em matemática é apto para diversos trabalhos (alguns que, é bom lembrar, nem existem ainda…).
Em recente Millenium Paper, eu e Diana Coutinho fizemos um exercício igualmente simples. Em resumo (leia o paper para se inteirar dos detalhes técnicos), se você troca um professor ruim por um mediano, o salto de aprendizado do aluno tem consequências claras: o aumento da renda deste aluno, em valor presente, é de R$ 34 mil.
A decisão da suprema corte canadense nos permitirá, em breve, medir o impacto desta queda no padrão de qualidade dos professores canadenses sobre o desempenho dos alunos daquele país. Não deixa de ser tristemente irônico lembrar que a medida de impacto de uma política também pode ser obtida quando a mesma piora uma situação existente1.
Termino com uma citação do polêmico livro de Bryan Caplan sobre educação.
An old joke says, “Those who can, do. Those who can’t, teach.” Insinuation: we should expect our education system to fail, because teachers lack the skills they’re hired to impart. The truth is stranger and funnier . . . if you’re blessed with a twisted sense of humor. In the real world, teachers rarely teach practical skills they can’t do. [Caplan, B. The Case against Education: Why the Education System Is a Waste of Time and Money.]
Imagine seu filho de 6 anos numa escola onde o professor que não tem proficiência em Matemática lhe ensina o básico? Se até motoristas precisam fazer testes periódicos para renovarem suas habilitações…
O seu QI importa? - Há muito o que falar sobre QI, mas continua sendo uma variável útil (e, por puro preconceito, muitas vezes desprezada) nos estudos sobre educação ou mesmo sobre mercado de trabalho.
Considere, por exemplo, estes trechos, do ótimo Hive Mind: How Your Nation’s IQ Matters So Much More Than Your Own, do Garret Jones.
There are good reasons to believe that national IQ scores can rise—and the best reason is because they already have. In the rich countries, IQ scores have consistently risen over the twentieth century, a phenomenon known as the Flynn Effect, after the philosopher—the philosopher, mind you—who discovered it.
Better average social skills are typically just another benefit of having a higher IQ score, and since the economy is a social system, those social skills may prove important in explaining why higher-scoring nations tend to be more productive.
E, finalmente:
How does education change students? It’s clear that education raises something called an “IQ score,” but it matters whether that increase shows up in general problem-solving skill or merely in the ability to do well on a trivia test. The evidence, limited as it is, suggests that education may be able to boost general reasoning ability, at least in the short run, a result that would perhaps be no surprise to Flynn. In Flynn’s view, the twentieth century was a time when life became more like an IQ test in the rich countries.
Os trechos acima mostram que a boa educação, portanto, tem efeitos que vão além dos R$ 34 mil que estimamos. Mas eis que há mais um resultado importante, ainda oriundo do livro de Garret Jones, mencionando o já conhecido Bryan Caplan.
É que Caplan já mostrou, empiricamente, que a pessoas bem educadas pensam como economistas (racionais, inclusive). Isto levou Jones a propor um mecanismo explicativo do impacto da educação sobre o desempenho econômico dos países por intermediação do QI médio do país (sim, há bases de dados com o QI médio de países…).
So if education makes people think like economists, that might help explain why national average IQ predicts good economic performance across countries. Countries with high average test scores tend to have high education levels, which means that on average the high-scoring countries will have better-informed voters. In democracies, that means those politicians are going to respond to the more market-oriented beliefs of their voters by pushing through the market-oriented policies that will get them reelection. And in both nondemocracies and democracies alike, it means that a better-educated, higher-scoring population will tend to fill out the ranks of the government bureaucracy, carrying their somewhat better knowledge about economics (and toxicology) into the halls of government. We’ve been told all our lives that informed voters matter, and that claim is right according to Caplan.
A tese é interessante e, claro, seria ótimo ter resultados de testes de QI para testarmos algumas hipóteses por aqui, neste país em que se gasta muito em educação, com baixo retorno.
Teorema de Coase e Reciclagem - O governo federal inovou na busca de uma política mais adequada para a reciclagem. A Política de Créditos de Reciclagem (popularmente conhecido como: Recicla+) é apresentada nesta nota técnica conjunta do IPEA e da SPE.
Do texto tem-se uma idéia (tchau, acordo ortográfico) dos ganhos potenciais. Um deles, para os catadores:
"...estima-se que os créditos de reciclagem possam elevar a renda média de catadores em pelo menos 25%, passando de R$ 930 para R$ 1.163 por mês. Além disso, registram-se outros possíveis impactos sociais: a) redução do trabalho infantil e incentivo à escolarização das crianças; b) mais renda para as mulheres que são chefe de família e; c) redução da informalidade".
É um impacto potencial bem elevado. Ainda que sejamos pessimistas, na minha opinião, é uma política interessante. Ah, se você não conhece o Teorema de Coase e achou tudo muito esotérico, eu faço um resumo.
O Teorema de Coase diz que, basicamente, se os custos de uma transação forem baixos, é melhor, para a sociedade, deixar os envolvidos barganharem entre si. A política de créditos equivale a uma queda de custo para os interessados na reciclagem. Conforme a nota técnica:
(…), um agente de reciclagem, seja uma cooperativa ou um catador de recicláveis individual, comprovará, via nota fiscal, a comercialização de uma determinada quantidade de resíduo extraída do meio ambiente. Essa comprovação gerará um crédito de reciclagem que poderá ser vendido a uma empresa que possua um débito associado à logística reversa. Esse processo possuirá um mecanismo de checagem em duas pontas, garantindo a conformidade e a rastreabilidade (evitando que o mesmo crédito seja vendido a duas empresas diferentes). Note: não se está falando do valor da reciclagem física. Esse mercado continuará a existir e não será afetado. Mas, com os créditos, adiciona-se um novo valor associado à venda da mercadoria física.
Como apontado na mesma nota, não são apenas os catadores de lixo os únicos atores deste novo mercado. Condomínios e empresas poderão participar. A comercialização destes créditos, aliás, lembra muito o famoso mercado de créditos de carbono (para uma boa resenha, em português, veja este documento).
Talvez um efeito indireto desta nova política seja o de familiarizar as pessoas com novas possibilidades na frente da preservação do meio-ambiente.
Battoutai - A batalha de Tabaruzaka foi um episódio da história japonesa do qual uma consequência foi a reabilitação do uso da espada. Gerou uma famosa marcha militar composta, veja só, em colaboração com um francês, a Battoutai (抜刀隊).
Vale mencionar que a música ocidental não era tão familiar aos japoneses na época.
The song was first publicly performed the same year at a concert hosted by the Greater Japan Music Society at the Rokumeikan. It was considered the first Western-style military song in Japan and the first to become popular across the country, although it was initially believed to be difficult to sing for Japanese unaccustomed to modulation.
A marcha pode ser encontrada facilmente na nossa amiga, a internet.
Inspirador - …este texto de Katherine Boyle. Trecho (que se aplica ao nosso Brasil também):
Build housing for the middle class. Build schools for the kids who want to learn math. Build next-generation defense capabilities with young people who grew up coding. Build PCR tests so that a nasal swab stops the nation from closing businesses at the mere sight of Covid case increases. Build trade schools. Encourage men and women to work with their hands again. Cut the red tape that stops us from building infrastructure fast. Build factories in America. Build resiliency in the supply chain. Build work cultures that support mothers and fathers so they can have more children.
É, construir futuros…
A seleção anda te decepcionando? - Há uma sensação generalizada de que a seleção brasileira de futebol não está lá aquelas coisas. Segundo o comentarista de futebol Dedé Carraro, isto se deve a um erro crasso do técnico Tite: escala o jogador de pôquer, Neymar Jr, ao invés de um conhecido astro do futebol gaúcho (foto a seguir).
Desde as categorias de base, o senhor Sabino é destaque entre os peladeiros de Porto Alegre. Pessoal do atacado (e também do varejo) até pensou que ele fosse um grande comerciante, já que distribuiu canetas e chapéus em diversos adversários regularmente por muitos anos. O melhor? O melhor é que ele não joga pôquer.
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler!
Caso queira compartilhar, clique no botão abaixo.
Talvez você seja novo por estas bandas. Rapidamente: publico duas vezes por semana, geralmente às quartas e sábados. Eventualmente há algumas edições extraordinárias. Assinar (custo = R$ 0.00 + valor do seu tempo para apertar o botão subscribe com seu endereço de e-mail lá…) me ajuda bastante. A temática? De tudo um pouco. Confira os números anteriores aqui.
Para não dizerem que sou pessimista, sim, às vezes a educação vem por caminhos inesperados, como nos lembra Joseph Henrich: Furthermore, detailed analyses of the African data reveal that Protestant missions not only built formal schools but also inculcated cultural values about the importance of education. This is consistent with 16th- and 17th-century Europe, where the Catholic interest in literacy and schooling was fueled in part by the Protestants’ intense focus on it. [Henrich, Joseph. “The Weirdest People in the World: How the West Became Psychologically Peculiar and Particularly Prosperous”]