Antonio Marcos e o motorista - Haja paciência! - Estas - Calçada da Infâmia - Caquis - Selmocast e Badé
Canetas-tinteiro são o símbolo da libertação humana. Profundo, né? Gaste seu tempo tentando entender minha sabedoria infinita.
É, e este o v(4), n(17) da nippoletter ou newsletter deste que vos incomoda. Caso tope com uma receita de bolo no meio do texto é porque fui censurado, mas foi por uma boa causa: a deles. Sim, porque a minha causa é, por definição, ruim. Deve ser o glúten.
Antonio Marcos e o motorista - Outro dia fiz uma viagem curta na cidade e tive o prazer da companhia de um motorista educado. Falávamos, como sempre do tempo - o calor e as chuvas aleatórias - e o assunto caiu em “músicas”. É que um carro ao lado estava com um som alto, na famosa batida dum-dum-dum que remete a um bate-estacas na cabeça da pessoa, de qualquer pessoa.
Ele, então, mencionou gostar de alguns cantores nacionais (Fagner, Elba Ramalho e similares). Foi quando, tentando ser simpático, ele me perguntou sobre que músicas eu gosto de ouvir. Fiquei constrangido. Como falar de Sen Masao ou Fukuda Kouhei? Foi quando eu me lembrei do grande Reginaldo Rossi.
O motorista havia encontrado alguém que também gosta de músicas que não são apenas dum-dum-dum. Começou a me contar que acabara de chegar do norte de Minas e me disse, não sem demonstrar certo orgulho, que lá eles ‘eram raiz’ e, por algum motivo, isto significava que eles gostam destes cantores da MPB. Minha raiz, minhas regras…
Foi quando mente me deu um soco no estômago (doeu, sabe?) e me lembrou que tenho apreciado muito o talento do falecido ídolo da Jovem Guarda, Antonio Marcos. Claro que o motorista - provavelmente mascote da Geração Z - nem sabia quem era, mas eu lhe indiquei o clássico O homem de Nazareth que ele rapidamente procurou, encontrou no aplicativo, e - como Deus é sábio! - tocou. Comecei a cantar junto com o áudio, mas a alegria de pobre dura pouco, pois a viagem terminou pouco tempo depois.
Desci do carro e despedi-me desejei boa sorte ao novato - na capital - motorista. Já me preparava para abrir o portão do prédio quando notei que o famoso sucesso continuava a tocar em seu carro. Senti que fiz uma boa ação e acho que esta sempre foi a intenção de Antonio Marcos. Quero crer que não foi só uma estratégia de marketing do motorista e que, genuinamente, ele conheceu uma nova música que acrescentará à sua playlist.
Até imaginei que a semana iria ter um começo promissor, mas, como já falei, a alegria de pobre dura pouco.
Haja paciência! - Não gostou? Vai pescar.
…e assim chegamos em um ponto no qual um moleque que não consegue ler mais do que uma página/assistir um vídeo de mais de um minuto acha que é um herói quando xinga alguém de fascista.
Nunca leu mais do que um resumo (provavelmente um slide com três tópicos…) sobre o tema e acha que tudo bem porque, afinal, quando ele quiser, ele consulta a internet que, a propósito, tem sido ameaçada de regulações que, justamente, tentam diminuir a diversidade do que se pode deixar por lá.
Mais ainda, o cara que diz que ‘é normal ser de esquerda na juventude’ para justificar sua intolerância - que deseja permanente embora nós queiramos que seja temporária - esquece-se do que disse Bobbio, expoente da velha esquerda: ‘não é para ser intolerante, estúpido’. Sim, sim, Bobbio era mais educado e não usaria estas palavras, mas você entendeu, né?
‘Ah, mas não precisa definir fascista, o que importa é a ideia…’ , diz o perdido que se acha porque decorou o que um papagaio travestido de mestre lhe disse um dia. Não, filho, tem que definir sim. Nunca aprendeu o método científico? É aquele que nos separa da barbárie, sabe? Aquele que usamos para organizar o pensamento. Sabe o SUS que você comemora sem nunca ter se debruçado sobre ele para entender como funciona? Pois então, ele só existe porque inventamos remédios, tratamentos e vacinas para doenças. Sabe como? É, definições, conceitos, teorias.
‘Ah, mas é tudo ciência burguesa-patriarcal-misógina-quiabo-sogra’, responde o insistente papagaio de pirata. Não, filho. Não é. O contexto histórico não é critério para a eliminação das invenções ou descobertas científicas. É óbvio que se um marxista te matou justificando-se com sua ideologia, ele está tão errado quanto um nazista que também te matou com a mesma ideologia. Aliás, eu te matei duas vezes neste exemplo e isso não existe, exceto para a vulgata pós-moderna.
‘Ah, mas você é obscurantista e não percebe’, diz uma outra, teimosa. Não, filha. Até porque você não vai me convencer de que saiu do obscurantismo e o resto do mundo, não. Não me venha com esta de que sua pseudoteoria lhe tirou de lá e que se não sigo sua religião, por lá mesmo fico. Preciso desenhar para que você entenda? Sei não, hein? Vai ver que nem desenho você entende. Vai ver você vai até querer jogar sopa no desenho, num ato de rebeldia. Nossa!!! Que heroico, hein? Já lutou em uma guerrilha na periferia do Rio de Janeiro? Você é mesmo um gigante de pés de barro. Barroso você.
Aliás, você vai me dizer que o desenho também é ideologia? Ou que fazer xixi é ideologia? Comer bolacha é ideologia? Seu namoro é só ideologia? Totalitária sua visão de mundo, hein? Você não era contra o totalitarismo? Como é? Na ‘ciência verdadeira’ é assim? Algum outro mestre que plagiou alguns textos, trapaceando no TCC quando era aluno é que lhe ensinou isso, eu bem sei.
‘Como assim eu não posso ser o que eu quero?’, diz mais um, olhando-me com desdém. Ué, meu filho, você pode querer ser um pássaro, mas duvido que irá voar ao saltar da janela. Tente. Quem sabe? Vai ver os livros de física, tais como os de economia, estão desatualizados e o que vale é a mística ‘vontade política’. Como? Você não vai pular da janela e eu é que sou hipócrita? Heim? A questão é outra? Qual é a questão, então? Você não sabe? Ou vai jogar dizer que a questão precisa ser ‘construída’ pela ‘sociedade civil organizada’ (organizada por você sob critérios que lhe favorecem, né?)? Ah, menos. Menos…
Olha, eu sei que você percebeu que me cansei desta besteirada travestida de discurso sério. Vai ver se estou lá na esquina, vai. Eu sei que isto você consegue fazer.
Estas - Só agora notei que isso aqui foi inaugurado em 10 de maio de 2021. Ou seja, em breve, farei 3 anos de uma rotina - que era mais intensa (eram dois números por semana) - e que já deve ter totalizado uns…nem sei…digo, sei sim, foram 293 missivas até esta (que é a 294a). Não é pouca coisa.
Aproveito para sugerir a leitura de uma antiga aqui: a do programa de governo do Juó Bananére para a campanha de 2022. Tá mais atual do que nunca. Só falta defender a censura em nome da liberdade de expressão, mas a gente sempre pode atualizar o programa de governo de nosso candidato favorito.
Calçada da Infâmia - Proponho a criação de uma calçada da infâmia. Pode ser do judiciário brasileiro, mas não apenas dele. Que seja democrática e inclua infames do executivo, legislativo e, por que não, dos eleitores? A calçada seria maior que a da praia de Copacabana.
Caquis - Entra ano, sai ano e sigo procurando caquis no supermercado. Sejam caquis fuyu ou só caquis, encho o carrinho com, no mínimo, três bandejas de cada. Eu sei que há maçãs (argentinas, claro), bananas (prata), goiabas (vermelhas ou brancas) e até peras. Gosto de todas, mas, por algum motivo inexplicável, de uns tempos para cá, tenho me fixado nos caquis.
Poderia ser alguma doença mental? Ou será algum efeito colateral de remédios? Mudança fisiológica causada por algum desequilíbrio químico? Aquecimento global? Conspiração da extrema-esquerda mundial? Algum novo vírus chinês que escapou do laboratório?
Sim, assinante (e seguidores), eu sei que há muitas teorias que poderiam ser exploradas na explicação desta minha obsessão recorrente com os caquis. E olha que eu acho que deveria comprar mais frutas, diversificar um pouco estas fontes naturais de saúde (incluo aqui as proteínas dos bichos de goiaba). Acho mesmo.
Só que algo mais forte do que minha vontade me prende aos belos e suculentos caquis. Agora mesmo, confesso, antes de começar este texto, comi um dos últimos que ainda tenho. Quando voltava da cozinha para cá, não sei se já te contei, eu passo pela sala de jantar. É o caminho para o escritório que este apartamento me permite. Lá na mesa da sala de jantar eu vi - juro! - uma caixa de chocolates com recheio de conhaque. Uma boa barganha que me faz sempre pensar em alguma visita imaginária que poderia se deliciar com um pequeno agrado.
Sim, eu parei por uns segundos e quase abri a caixa, mas me lembrei que preciso cortar os doces e aí talvez esteja uma parte da explicação de minha obsessão pelos caquis. Acho que pode ser uma boa voltar à cozinha, abrir a geladeira e pegar mais um caqui.
(…)
É, lá se foi mais um. Os caquis restantes que se cuidem. Não deixarei um único naquela bandeja de plástico. Serão devorados, transformados em energia. Será um caquicídio. Não pensem vocês, senhores caquis, que vão se livrar de mim. Pois comprarei mais de vocês e vou aprisioná-los na geladeira para transformá-los em parte de mim aos poucos.
Pensando melhor, por que comer outras coisas? Só caquis me bastam. O sol não sou eu. O caqui, sim. Eu e o caqui, o caqui e eu. Quem está se alimentando de quem? Não, caquis, não são vocês os senhores desta relação. São escravos, vítimas de minha gula obsessiva. Vejam por este lado: vocês têm a honra de serem parte de mim. De escravos a parte de seu senhor. Agradeçam aos deuses por isto.
Sim, agora está tudo muito claro. Vocês é que precisam de mim, caquis. Eu e vocês somos um só. Nada mais importa.
Selmocast e Badé - Eu fui citado no meio de um grupo bem mais qualificado em no início do último Selmocast.
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler! (*)
(*) “até mais ler” foi plagiado do Orlando Tosetto, cuja newsletter, aliás, você deveria assinar.
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Talvez você seja novo por estas bandas. Rapidamente: publico geralmente às quartas. Eventualmente há algumas edições extraordinárias. Assinar (custo = R$ 0.00 + valor do seu tempo para apertar o botão subscribe com seu endereço de e-mail lá…) me ajuda bastante. A temática? De tudo um pouco. Confira os números anteriores aqui.
O caqui foi trazido para Brasil pelos japoneses, não? Está no DNA :)
Valeu pela citação, SHIKIDA! =)