A loja de amigos usados. O mercado do sexo, o crime e a mobilidade social. Outros.
As vozes na minha cabeça não me entendem. Só você, leitor(a).
Eis o v(2), n(84). Talvez um pouco menor que o usual e com foco, por assim dizer, ‘mercadológico’…
Loja de Amigos Usados - Ela tinha muitos amigos. Sempre que precisava de um, sacava a agenda do bolso, e via sua marcação: era um amigo para conversar que ela queria? Lá havia. Ou era só para tomar um café? Também tinha. E assim por diante.
Durante anos gerenciou seus amigos até que, um belo dia, viu que precisava renovar seu estoque. Precisava desapegar dos amigos antigos (também estava na moda aquele minimalismo cool, sabe?). Foi então que teve uma idéia (com acento e quem discorda é fascista): abrir uma loja de amigos usados.
Correu para o computador e, após rápida busca, notou que não havia concorrência. Ela seria a primeira a comercializar amigos usados. O negócio começou pequeno, com a venda de alguns amigos seus para umas amigas. Betinho era um disputadíssimo, pois sabia ouvir como ninguém. Havia também o Zeca, que tinha um papo muito bom. Os preços, claro, variavam pela lei de oferta e demanda.
Logo, percebeu que poderia expandir o negócio: passou a comercializar também os amigos usados de suas amigas. Joana, por exemplo, tinha ótimos amigos usados, úteis para shows de música. Laurinha - ah, Laurinha! - tinha bons amigos usados que discutiam literatura.
Eu não disse que o negócio estava em expansão? Pois é. Logo veio o aluguel de amigos usados, outro sucesso entre as mulheres, pela opção de se desfazer mais rapidamente do produto, evitando um envolvimento emocional maior (o site falava em ‘relacionamento emocional tóxico’ ou R.E.T.).
Jorge, que era um bom companheiro de passeios fez um sucesso tremendo. E o Alexandre, que fazia uma costelinha como ninguém? Era o alugado em todo churrasco das moças. Pedro, malhadão, era figurinha carimbada em despedidas de solteiro e, dizem as más línguas, ganhava uns adicionais por fora…
O site ficou sofisticado. Até anúncios nas redes sociais (inclusive aquelas com vídeos rápidos) eram usados para impulsionar a venda ou aluguel da mercadoria. Depois foi criada a opção de compra e venda entre clientes do site. As mulheres podiam negociar entre si, usando a plataforma da loja, mediante o pagamento de uma pequena taxa.
Passou a empregar muita gente (até alguns amigos usados passaram a trabalhar para ela). Ao final do segundo ano, o faturamento já lhe rendia um bom lucro. Algum tempo depois, vendeu o negócio para um grupo de mulheres empreendedoras e foi aproveitar a vida viajando, sozinha, pelo mundo. Aliás, vendeu em um bom momento, já que o governo já considerava tributar o comércio de amigos usados…
Que sirva de lição para você, mulher empreendedora e cheia de amigos usados. Compre na alta e venda na baixa. Não se meta em confusos R.E.T. com amigos! Alugue-os! Venda-os! E vá se divertir porque, sabe como é, né, menina? Amigo é t.u.d.o. igual.
O mercado do sexo (e outros mercados) - O prof. Cristiano Oliveira é um dos poucos economistas brasileiros (acho que são poucos mesmo) que seguem a tradição de Gary Becker. O que quero dizer com isto é que ele gosta de pensar a aplicação do arcabouço teórico econômico a situações não usualmente estudadas por economistas.
Nos EUA, quando Becker começou com isto, foi chamado de heterodoxo (no Brasil, claro, é chamado de ortodoxo). O prof. Cristiano é um que segue esta tradição, o que é ótimo para nosso pequeno mundo acadêmico. Vez por outra eu o encontro nos congressos da Associação Brasileira de Direito e Economia (ABDE).
Seu último working paper é sobre sexo. Sobre o mercado do sexo, melhor dizendo. Você pode encontrá-lo aqui. Para estimular sua leitura, reproduzo parte do resumo, a seguir.
No modelo é avaliado como a aparência e características socioeconômicas e geográficas afetam a probabilidade de indivíduos solteiros serem sexualmente ativos no Brasil. Os resultados indicam que, tal como predito pela Teoria Econômica do Sexo, a atividade sexual se reduz coma idade e que mulheres mais atraentes e homens com maior renda são sexualmente mais ativos. Ademais, homossexuais apresentam uma probabilidade maior de ter vida sexual ativa, em especial, as mulheres.
(20) (PDF) Uma análise econômica do mercado de sexo para solteiros no Brasil. Available from: https://www.researchgate.net/publication/364348817_Uma_analise_economica_do_mercado_de_sexo_para_solteiros_no_Brasil [accessed Oct 18 2022].
Ah sim, o ‘modelo’ ao qual ele se refere é um estimado com dados estaduais brasileiros (e, ressalto, os gaúchos ficarão felizes, creio, com um dos resultados…preliminares, preliminares…o jogo ainda pode mudar, meu povo!). Quer saber mais? Invista seu tempo na leitura do trabalho. Vale a pena.
A Ciência Econômica é sempre muito interessante, mesmo, não acha? Outro dia, estava lendo sobre a relação entre a Economia da Saúde e a Economia do Crime, em artigo do prof. Ari F. de Araujo Jr.
E sobre o que fala o professor? Eis uma pista.
Um artigo interessante publicado na revista “Crime Science”, por Halford, Dixon, Farrell, Melleson e Tilley, em 2020, sugere que a teoria criminológica de mobilidade, possível de ser relacionada à literatura econômica, contribuiu para explicar quedas observadas nas taxas de crime.
Os autores analisam o efeito da alteração na mobilidade avaliado pelo acompanhamento dos usuários de celulares e aplicativos do Google no período da pandemia o qual as restrições foram impostas. Os autores estimam o efeito (elasticidade) da alteração na mobilidade sobre taxas de diversos tipos de crime do Condado de Lancashire no Reino Unido.
Os autores geram previsões para o período pós-fevereiro de 2020 a partir de um modelo estatístico (ARIMA) e dados diários das diversas taxas de crimes de 2016 até início de 2020. Dessa forma, foi possível calcular para o período pós-fevereiro a diferença percentual dos valores previstos (esperados) e observados (reais). Tal diferença percentual foi explicada pela variação de mobilidade do Google.
Ou seja, se você tranca as pessoas dentro de casa, não sobra muita gente para ser assaltada nas ruas ou nos estabelecimentos. Aliás, até mesmo alguns ladrões estarão trancados (e nem todos possuem a expertise para cometerem crimes virtuais. Pelo menos não no curto prazo. Obviamente, a solução para os crimes não é aprisionar as pessoas em casa, vale dizer…
Como se vê, o prof. Ari é outro que também trabalha nesta tradição beckeriana e o artigo completo, no jornal, você o encontra aqui e, sim, Gary Becker não é só uma referência a ser citada quando se fala de capital humano. Ele fez muitas contribuições outras, igualmente (ou mais) relevantes para nosso entendimento da dinâmica dos diversos (e, às vezes, inesperados) mercados que a sociedade humana cria, espontaneamente, para resolver seus problemas.
Os professores Ari e Cristiano trouxeram-me um pouco de alegria. Quando iniciei esta newsletter, pensava em falar um pouco mais de pesquisas em Economia. Vez por outra, você que me acompanha há mais tempo, é o que acontece por aqui.
Respeita ‘as manas’ - Só se elas mostrarem que merecem meu respeito. Não existe respeito grátis. Aliás, Cynthia Rothrock e Cynthia Khan merecem. Até porque, bem, assista ao trailer. A propósito, este filme é ótimo, mas não me lembro do nome que ganhou no Brasil.
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Paródias - Uma ótima paródia, feita pelo Bryan Caplan.
Revisão de provas - Eu usava uma espada de madeira na revisão de provas. Funcionava muito bem. Ou talvez eu só a tenha deixado na sala por conta de algum imprevisto na mudança.
Já não sei mais qual é a história real e qual é a versão (ou lenda). O leitor pode decidir. Vou deixar um survey aqui, após a foto, com o número de registro no TSE.
Registro da pesquisa no TSE: THX1138-danou-se
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler!
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