A caminhada - Você irá falir com o envelhecimento da população - O gatinho fujão - Era um irmão anódino - Survey - O caminho da prosperidade
"Sua mãe está doente, à beira da morte. Descubra como isto pode ser bom para você." Título de coluna típica do 'jornalismo' econômico contemporâneo.
O v(4), n(18) chegou no feriado. Será que você irá lê-lo?
A caminhada - Toda caminhada começa com um primeiro passo, dizem os livros fininhos que encontro à beira do caixa, todos custando uns poucos reais e prometendo um bocado de sabedoria.
Óbvio é que qualquer caminhada se inicia com um primeiro passo porque, se não houvesse um primeiro passo, como é que alguém caminharia? Não é à toa que este tipo de livro venda tanto. O preço convida e a sabedoria entregue, bem, ela não é lá estas coisas. Contudo, para o cidadão médio, é satisfação garantida.
A caminhada matinal não começa na boca do caixa de uma livraria, nem em um sebo. Para ser sincero, acho até que pode terminar em algum deles, se a caminhada for ambiciosa e a manhã ser a de um sábado (ensolarado ou não). Aliás, há alguns anos, eu fazia umas caminhadas assim. Ultimamente, minhas caminhadas de sábado terminam em um café.
Há também as caminhadas matinais de domingo, não tão rigorosas quanto as de sábado, mas que, ultimamente, também terminam em um café, onde os fones de ouvido disputam com a música ambiente a posse de meu relaxamento mental. Não, isto não é correto. O correto é dizer que meu relaxamento mental depende de músicas que não estão na playlist do café. É a vida e isso não me incomoda mais. Sou “O Estrangeiro” (do Camus ou do Plínio Salgado) ou, sei lá, sou “Um Estranho no Ninho” (com Jack Nicholson).
Fico feliz que tenham inventado o fone de ouvido e, mais ainda, que tenham inventado algo que pode reproduzir músicas sem interrupções durante uma caminhada. O walkman e o discman que me desculpem, mas a vida melhorou mesmo quando inventaram o “MP3 Player” e seu sucessor, o celular com aplicativos (uso o YT Premium, mas a patuléia usa o Spotify…notaram minha arrogância exótica?).
Aliás, ultimamente, até programas de entrevista você consegue usar para se distrair por conta deste formato mais livre e leve que os empreendedores dos ‘podcasts’ nos trouxeram. As opções de material, digamos assim, cultural ou informativo, ampliaram-se. Obviamente, isto significa diversificação dos níveis de qualidade: há muita coisa boa, mas também muita porcaria.
Não importa porque o que queremos é caminhar. Caminhar como se não houvesse amanhã, nem ontem…pensando bem, talvez nem hoje. A caminhada geralmente nos brinda com encontros, seja com um ou outro conhecido ou com simpáticos cachorros. A beleza da caminhada não se resume à apreciação de seres vivos. Vale mencionar a natureza e as fachadas de prédios, casas ou comércios. Sim, nem todos são belos, mas, acredite em mim, há mais beleza do que feiúra. É só caminhar o suficiente.
Claro que se você mora em Belo Horizonte, tem um problema por conta do relevo montanhoso. Nada contra fazer um exercício mais puxado, mas seja razoável com você mesmo: caminhe em locais planos. A não ser que sua caminhada seja um compromisso com alguma maratona futura. Caminhadas como exercícios para provas esportivas são distintas das caminhadas como exercícios sem compromissos, pois enquanto as primeiras exigem concentração, as outras nos permitem a distração.
A caminhada é, para mim, melhor, quando tem efeito relaxante, o que nem sempre é o caso. Mesmo assim, insisto: caminhe, leitor!
Você irá falir com o envelhecimento da população - A população brasileira está envelhecendo e os governos estão todos empurrando o problema para o futuro. Disso já sabemos. Agora, o que me surpreende é a falta de discussão no setor privado. Não, não falo dos empreendedores individuais, mas das empresas.
Por exemplo: você tem uma faculdade ou um colégio privado. Hoje você tem alunos. Amanhã, não haverá aluno suficiente para bancar uma sala de aula (e, neste sentido, o preconceito contra o homeschooling é um tiro no pé, por exemplo). Mesmo que você não concorde com o homeschooling, pense na escola privada. Sem alunos, como ela vai se manter?
Resposta: ela não vai se manter. Não do jeito que ela é hoje e os acionistas que pretendem seguir no ramo deve(ria)m estar com os cabelos em pé. Os que pretendem embolsar algum ganho e ir embora, obviamente, não precisam se preocupar.
Outro problema é que o estoque de capital humano brasileiro é sofrível. O QI médio do brasileiro não é lá aquela maravilha, mas muito pior é nosso desempenho. Os exames PISA cansam de nos alertar e alguns burocratas já chegaram à pachorra de afirmar que o PISA não era um exame adequado para o governo brasileiro. Enquanto estes senhores e senhoras se garantem com seus salários oriundos dos nossos impostos, os pagadores dos mesmos seguem com um alto índice de analfabetismo funcional à sua volta.
Com uma população envelhecida - e nem estou falando de outros problemas como o da geração nem-nem ou da falácia da não-reprovação como solução universal para os problemas de ensino - e com baixo capital humano, o futuro é facilmente previsível. Teremos advogados, médicos e professores, em média, mal qualificados. Isto significa que os representantes eleitos do povo e os juízes de todos os tribunais conhecidos serão piores do que hoje e não teremos muitas ‘peças de reposição’ de qualidade.
Nossa literatura já não é mais a mesma coisa - vai me dizer que a qualidade aumentou? - nem nossa ciência foi (ou é) lá estas coisas. O pessoal do #vivaSUS sabe muito bem que não desenvolvemos vacinas por aqui, por exemplo. Nossos avanços científicos, não raramente, ainda sofrem com a politização do que funciona. Morremos de dengue, mas não importamos vacinas japonesas porque preferimos esperar (pelo menos) dois anos para fabricar as nossas, assim me disseram alguns seguidores do lema: “política industrial é show”. Puxa vida…
O futuro, leitor, será um futuro envelhecido, mas sua qualidade, temo dizer, será pior. Tudo isto está bem óbvio e quem é dono de escola ou faculdade já deveria estar se preocupando com isto. Você pode brincar de sacrificar lucros agora, cedendo a pautas que agradam ao público, mas não terá lucros para se sustentar se não se preocupar com a questão demográfica agora.
O gatinho fujão - ‘O gatinho fujão e outras poesias’ é o livro de Susi de Queiroz, lançado pela editora João & Maria no ano passado. É um livro maravilhoso. Precisa educar seu pequeno ou sua pequena na língua portuguesa de modo lúdico, sem se preocupar? Compre este livro. Junto com as poesias para crianças de Cecília Meireles, nas mãos de um bom tutor (seja ele um professor de escola ou um pai em homeschooling), não tenho dúvidas: o aprendizado virá.
Era um irmão anódino - …como tantos que existem por aí. Não fazia questão de saber como estava o outro porque nunca resolveu um problema de ciúmes na infância. Sempre que ficava nervoso com os pais idosos soltava um: “quando eu tinha 5 anos, vocês favoreciam o fulano”.
Nunca superou.
Tanto que, quando os pais precisaram de ajuda financeira e ele passava por dificuldades, parou de ajudar, como eu e você faríamos, claro. Só que se negou a responder ao irmão que lhe perguntou como fariam dali para frente ou se ele achava que poderia retomar um dia. Escondeu-se em seu silêncio assoberbado. Anos depois voltaria a ajudar sem sequer avisar o outro, que continuou ajudando.
Para ele, a ajuda aos pais não deveria ser igualitária, mas conforme uma subjetiva fórmula que somava (somava?) a riqueza de cada um, somado com a da esposa, descontada da posição política…bem, ninguém nunca entendeu a fórmula confusa que ele propôs, exceto que lhe era muito conveniente, financeiramente, claro.
Fazia questão de dizer à filha que o tio era uma pessoa estranha, que defendia valores estranhos, e evitava estimular seu contato com ele. Só ligava para ele na véspera do aniversário da menina, para garantir uma fantasiosa relação familiar que lhe servia em dois propósitos: fingir diante da cria que era uma pessoa muito democrática, que não escolhia parentes e dar aos pais a ilusão de que era outra pessoa. Na prática, não dava a mínima para a vida do irmão que, aos poucos, também passou a retribuir-lhe o descaso.
Achava correto que as crianças aprendessem a viver sem qualquer educação. Seguia o lema: libertino na educação dos filhos, socialista no discurso. Se a filha não dissesse bom dia, bem, ela era assim mesmo. Um dia melhoraria. Se ela não agradecesse o presente, qual o problema? O problema é seu, não da criança de 16 ou 17 anos, ora bolas! Deixa a menina em paz! Interferência demais atrapalha!
Perdeu o respeito do irmão e, de tanto mentir a si mesmo, passou a culpá-lo dizendo aos pais estranhar que não respondesse suas mensagens, sempre em texto, semianuais e sintéticas que enviava pelo celular. Acho até que enviava só para desencargo de algum fiapo de remorso. Chamou-o de muitas coisas, mas a que mais me marcou foi a expressão irmão anódino. Nisso concordavam, pois ambos se viam como anódinos. Como dizem os entusiastas do atual ocupante do Palácio do Planalto, que, aliás, têm um conceito diferente de ‘família’, o amor venceu.
Survey - Quem você levaria para um festival literário?
O caminho da prosperidade - Vem filme novo por aí.
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler! (*)
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