Vazio de ideias. Bandidos Estacionários. Outros.
Viver é uma arte, logo, sobreviver é uma sobrearte?
Este é o v(2), n(18) da newsletter. Chegando com a intenção de me alegrar e ao leitor também.
Vazio - Vazio de ideias, cheio de preocupações, até tentei me concentrar para escrever algo aqui. Contudo, todos os meus textos imaginários me pareciam bem ruins. Não, eu não sou Machado de Assis e, portanto, sei bem que meus textos nem sempre são bons.
Mesmo assim, sentia que a falta de inspiração era imensa. Cheguei a rascunhar uma história, mas logo notei que eu estava preso a um mesmo enredo já usado em um número anterior da newsletter. Maldita seja a seção fordista da minha fábrica de ideias.
Outras ideias me ocorreram, mas havia algo me paralisando. Uma força muito forte que eu precisava romper. Foi aí que me ocorreu uma ideia nada original: por que não escrever sobre a falta de inspiração?
Foi aí que tudo começou. Claro que é uma estratégia antiga e arriscada. Afinal, sempre pode ser que você comece a produzir algo interessante depois de um ou dois parágrafos. Entretanto, não sei se era o calor me fritando os miolos, nada de bom saía do meu teclado.
Ouvi uma voz interior, destas que os homicidas alegam ouvir quando tentam se justificar perante alguma autoridade.
“- Opa, e aí?
- Hein?
- E aí??
- Quem fala?
- Sou eu, sua voz interior.
- Como assim? Não sou eu quem…?
- Mais ou menos. É um pouco complicado, sabe?
- Eu ou a situação?
- Sinceramente? Nós dois sabemos: ambos.
- É, acho que sempre soube. Mas, veja, estou tentando escrever algo…
- Quero ser John Malkovich!
- Como é?
- Que.ro.ser.John.Mal.ko.vich!
- Eu entendi, mas de onde você tirou isso?
- Ouvi minha voz interior…
- Espera…tem outra?
- Não, esta é a minha voz interior e…
- …já sei, já sei. É complicado…
- Puxa, você é bom mesmo.
- Obrigado.
- De nada, mas quero ser John Malkovich.
- Escuta, eu vi o filme, faz um tempo já.
- Não, não. Você ainda não me entendeu. Eu quero mesmo ser John Malkovich. Ser um ator famoso, tentar assassinar o presidente, lutar com Clint Eastwood, estas coisas…
- Mas vozes interiores podem fazer estas coisas? Digo…é complicado, né?
- Bom, depende da sua imaginação.
- Ué, achei que você era minha imaginação.
- Ah, não. Eu sou só a voz interior. A imaginação não fala. Ela fica aqui ao lado.
- É, já vi que realmente as coisas são…
- …complicadas.
- Por que não me surpreendo? Ha, ha, ha.
- Mas, ó, só prá te dizer…tudo vai melhorar. É só sua imaginação funcionar que tudo vai melhorar, tá?
- Espero que sim. Pelo visto ela está em sono profundo…
- Acontece. Ninguém sabe muito bem como é, mas porque você não a pede para que desperte?
- Boa! Ei, imaginação, desperta aí, pô!
- Prefiro não fazê-lo.
- Ih…olha, ela tá usando o conto do Herman Melville, aquele que você leu…
- Putz, Bartleby, o Escrivão! Maldição.”
Tendo me deparado com esta intransponível dificuldade e após este brainstorm (no pun intended) com minha voz interior, desisti de escrever pelo resto do dia e fui tomar um café. A voz interior ainda voltaria a me atormentar com aquela história de ser John Malkovich pelo resto da semana. Já na semana seguinte, cismou que queria ser Toshiro Mifune. Confesso que foram dias complicados…
Bandidos Estacionários - Interessante texto com dados mostrando como instituições formais e informais distintas teriam tido impacto distinto na tendência de longevidade de monarcas europeus, chineses e islâmicos.
Mancur Olson famously argues that if rulers expect to stay in power for a long time, they will promote economic growth so they have something to steal in the future. These rulers become stationary bandits, which distinguishes them from the roving bandits who simply plunder and maximize short-term gains.
Why do some rulers become stationary bandits, while others roving bandits?
Uma parte do argumento está nas instituições formais.
While feudal institutions served as the basis for military recruitment by European monarchs, Muslim sultans relied on mamlukism—or the use of military slaves imported from non-Muslim lands. Dependence on mamluk armies limited the bargaining strength of local notables vis-à-vis the sultan, hindering the development of a productively adversarial relationship between ruler and local elites.
Além disso, há a questão de se ter um sucessor. Outro estudo citado pelo autor do texto encontra evidências de que a primogenitura teria ajudado na duração das monarquias, a despeito de efeitos opostos como a monogamia e a impossibilidade legal de se divorciar.
No caso da China, usava-se uma instituição mais flexível em que o monarca podia escolher o filho mais capaz, não necessariamente o primogênito e os dados mostram que a tendência de durabilidade das monarquias européia e chinesa é similar (o período de análise é o de 1000-1800).
O autor conclui, um tanto rapidamente, que a estagnação chinesa no período seria um contra-argumento ao do bandido estacionário de Olson. É apenas um texto de um blog, mas eu seria mais cauteloso. Afinal, muitos fatores podem agir no sentido de diminuir o poder de ação dos déspotas (choques tecnológicos, por exemplo).
É, mesmo assim, um ótimo post. Recomendo.
Prisões na Antiguidade? - Sim, mas os estudos não avançaram muito. Um fator pode ter sido a disseminação de concepções errôneas por parte de alguns autores.
O STF já pode implementar - A sugestão do Orlando é perfeitamente sintonizada com as aspirações dos pais de hoje, que abdicaram mesmo do papel de pais, condenam a ‘figura paterna’ e acham que não se pode ensinar o valor das coisas para as crianças porque, sei lá, isto é ‘capitalismo-patriarcal-fascista-a-favor-do-extermínio-de-crianças-na-Faixa-de-Gaza’.
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De certo modo, a plaquinha de aviso: Sorria, você está sendo filmado, neste caso, ganha um significado, digamos assim, mais jurídico…
A linguagem cuneiforme e nós - Gilgámesh, pelo visto, ganhará nova versão em breve. Segundo esta thread, acharam 22 novas linhas do épico poema.
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Saudades do Dr. Palhinha, Aynitta e Bananére? - Eu também. Contudo, ultimamente, não tenho tido muita inspiração para os contos. Talvez esteja em um momento de entressafra. Ou talvez falte-me um pouco mais de vitamina C.
Assim que tiver uma ideia nova, aí sim, voltarei aos personagens…
Literatura Apenas - Assim me diz o aviso.
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Guido, o Ganso - Conheci outro dia este simpático personagem de livros infantis. Gostei muito do traço da autora, Laura Wall. Olha, se tem em casa uma criança de uns 2 ou 3 anos, Guido é sucesso certeiro. Aliás, o primeiro livro, Guido o Ganso, é muito bonito. Você quase chora (eu sei, é um livro infantil…) com a curta, mas bela história de amizade entre Sofia e Guido.
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Ao longo dos anos, muitas crianças passaram por mim como afilhados, afilhadas, ou mesmo filhos e filhas de amigos. Nenhuma delas resistiu às minhas brincadeiras. Talvez eu tenha melhorado muito desde um certo dia no jardim de infância, em São Leopoldo (uma história que merece ser (re)contada qualquer dia destes).
Tenho poucas qualidades. Uma delas é conseguir brincar com crianças e fazê-las sorrir. Em outra vida, creio, seria, alegremente, professor no Ensino Básico. Pensando bem, melhor não.
A bagunça que as crianças aprontam demandam uma paciência que talvez eu não tenha. Só trabalho com crianças em baixa escala. Mais do que duas ou três é um trabalho para especialistas, gente treinada para lidar com crianças a rodo…
Por hoje é só, pessoal!
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