Uta-napishtim, traz um chopp e dois pastel, por gentileza!
Porque Uruk era o Redil! Uh! Uh! Uh! Uruk era o Redil!
Este é o v(2), n(22) de nossa newsletter. Ela chega até você em um momento que, bem, talvez não seja o de maior inspiração de minha parte. De todo modo, a despeito do atraso, lembrei-me de Og Leme e de uma conversa divertida que tive com ele lá pelo final dos anos 90.
Uns outros poucos assuntos tentam trazer alegria ao meu assinante e, se você não assina ainda, bom, você é quem sabe. O que eu quero mesmo é continuar me divertindo. Se quiser vir junto, estamos aí!
Lembrança de Og Leme - Encontrei-o uma vez apenas, em um evento de vários dias. Numa das noites, calhou de me sentar com ele e a esposa na mesa do jantar. A despeito de sua aparência sisuda, o sr. Og revelou-se uma simpatia só. Digo, o casal foi muito simpático, mas lembro-me de ter conversado mais com ele.
O sr. Og Leme morou no Chile (acho que trabalhou na Cepal). Depois foi para a University of Chicago. Naquele jantar ouvi muitas boas histórias e me diverti muito. Uma das ótimas histórias que ele me contou foi sobre um ocorrido numa viagem de avião.
Ele me dizia que, tendo tomado seu assento junto à sua esposa, foi questionado por outro senhor - igualmente idoso - sobre se não estaria no lugar deste. Como às vezes ocorre, descobriram que ambos tinham cartão de embarque indicando o mesmo assento. Diante disso, o senhor que estava de pé perguntou: - E agora, o que fazemos?
A resposta foi rápida e certeira. O sr. Og disse-lhe (eu imagino o tom jocoso): - Colinho!!!
Não me pergunte como se resolveu, de fato, a história. Eu não me lembro. Minha memória parou aí, neste ponto. A felicidade, muitas vezes, esconde parte das nossas lembranças.
Você pode me dizer que talvez o sr. Og fosse um ótimo contador de casos e que talvez tivesse me enganado, contando a piada como se fosse um caso real. Não me importa. Eu só sei que, nos meus setenta e muitos anos, eu me encontrar em situação similar…
Gilgámesh - Li que andaram descobrindo mais tábuas (acho que mencionei em um número anterior desta). Será que encontraremos surpresas nestas novas tábuas? Vai que encontramos lá um registro sobre Gilgámesh encontrando Juó Bananére? Ou um antepassado do doutor Palhinha?
Na Tabuinha 10, por exemplo, ironicamente, em Os conselhos de Uta-napíshti, há vários versos incompletos. Reproduzo-os da ótima tradução de Jacyntho Lins Brandão (Editora Autêntica, 2021).
Quando, Gilgámesh, a um parvo ——?
Um trono na assembleia puseram: senta-te! - falaram-te.
Dá-se ao parvo borra de cerveja como manteiga ——
Farelo e cascas como ——
Veste andrajos como ——
Como cinto, uma corda ——
Porque não tem conselheiros ——
Conselhos em palavras não têm ——
Cuida dele, Gilgámesh ——
—— senhor deles, todos que ——
——
—— a Sin e os deuses da noite ——
Os espaços são partes do texto que seguem perdidas. Poderíamos nos divertir, claro, complentando-as.
Quando, Gilgámesh, a um parvo trouxe um chopp e dois pastel?
Um trono na assembleia puseram: senta-te! - falaram-te.
Dá-se ao parvo borra de cerveja como manteiga de garrafa
Farelo e cascas como se fosse uma porção de linguiça com mandioquinha!
Veste andrajos como uma toalha de praia
Como cinto, uma corda de capoeira
Porque não tem conselheiros em Copacabana
Conselhos em palavras não têm valor na roda de samba.
Cuida dele, Gilgámesh porque pior não há
Seu Joaquim, senhor deles, todos que bebem
em seu boteco e falam de futebol e sobre a vida.
Mandem zapzap a Sin e os deuses da noite virão com um barril de Heineken!
É, não é uma sugestão inspirada. Mas fica o convite para o leitor brincar com os versos incompletos…
Cidades Empreendedoras - Hoje é o lançamento da última edição do índice que já repercutiu na imprensa (por exemplo, aqui e aqui). Como todo índice, este é um termômetro, baseado numa escala composta de vários indicadores.
Estudar o empreendedorismo tem um efeito colateral positivo que é fazer o estudioso perceber o quão preconceituoso e errôneo é pensar na economia como um jogo de soma zero (onde alguém ganha quando alguém perde).
Como nos ensinou o falecido Baumol, a oferta de empreendedores responde a incentivos. Ele falava de empreededores improdutivos (crime e rent-seeking), produtivos (inovação).
Russ Sobel, que escreveu um artigo testando a teoria de Baumol, explicou bem:
In areas with institutions providing secure property rights, a fair and balanced judicial system, contract enforcement, and effective limits on government's ability to transfer wealth through taxation and regulation, creative individuals are more likely to engage in productive market entrepreneurship—activities that create wealth (e.g., product innovation). In areas without strong institutions, these same individuals are instead more likely to engage in attempts to manipulate the political or legal process to capture transfers of existing wealth through unproductive political and legal entrepreneurship— activities that destroy wealth (e.g., lobbying and lawsuits). This reallocation of effort occurs because the institutional structure largely determines the relative personal and financial rewards to investing entrepreneurial energies into productive market activities versus investing those same energies instead into unproductive political and legal activities. [Sobel, R. S. Testing Baumol: Institutional quality and the productivity of entrepreneurship. Journal of Business Venturing, v. 23, n. 6, p. 642, 2008.]
Em resumo: instituições distintas incentivam comportamentos distintos. Um empreendedor que esteja sujeito a instituições que lhe assegure seu direito a colher os frutos de seu trabalho no futuro alocará a maior parte do seu tempo neste empreendedorismo produtivo. E vice-versa.
Ao invés de usar o dinheiro dos pagadores de impostos em subsídios, conclui o autor, melhor seria que o governo se esforçasse para criar instituições que aumentassem o custo relativo das atividades improdutivas. Este seria a recomendação de política do artigo à qual, por sinal, sou simpático.
Fabricar dados não é uma boa ideia - Para os que não são muito acostumados ao jargão, em inglês, quando se fala que alguém fabricated data, não é que o sujeito seja um exímio pesquisador, mas que inventou/falsificou dados.
É um problema sério que, geralmente, danifica irremediavelmente a reputação do pesquisador. O mais novo caso é de um professor de Harvard. Leia mais aqui (em inglês).
Quando alguém fala que políticas são baseadas em evidências, claro, não quer dizer que as evidências tenham sido necessariamente fabricadas. Mas, vez por outra surgem casos tristes como este jogando por terra o esforço de muita gente séria.
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Dados, mas não fabricados - O Banco Mundial publicou um novo banco de dados (você pode fazer o download dele). A seguir, um print de uma visualização, para despertar a curiosidade. ^_^
A gata Calisco - Não sei explicar, mas esta espécie específica me causa um certo prazer visual. Acho bonito o animal assim. Ultimamente tenho encontrado uma destas, que reside em um apartamento térreo.
É curioso como sempre olha para mim e mia. Sempre a cumprimento quando a vejo. Outro dia dei-lhe o dedo para que cheirasse. Não me atacou e segue me olhando. Acho que os gatos devem ter feito chegar a seu conhecimento que sou amistoso com os felinos.
Vídeoconferências - Meu sobrinho já deve estar próximo do sexto ano de vida. Ainda só consigo falar com ele por vídeoconferência, infelizmente. O lado bom é que estão se tornando mais divertidas devido à criatividade dele.
Um ponto que está se tornando comum é que ele quer começar assustando-me. Pede que o pai foque o celular em alguma parede e, vestido de drácula (ou de Papai Noe, com uma imensa barba azul, como hoje), surge do nada. Claro que sempre levo um susto.
A sala do apartamento, por conta da pandemia, transformou-se em um imenso parque de diversões que ele modifica a cada dia. Já me mostrou um automóvel, pinturas, enfim, tudo o que uma criança adora.
Hoje, entretanto, bateu o recorde. Em menos de uma hora ele me mostrou que sua sala tinha um esgoto (o sistema tinha a privada e a pia por cima e um monte de ratos, ‘doença’, vírus, bactérias etc., na parte de baixo), uma cabana de um antigo índio (sim, tinha uma lança lá, além de comida e bebida) e um trenó de Papai Noel (com renas, pó mágico e tudo o mais). Acha que terminou? Não mesmo. Desta vez o quarto dele entrou na brincadeira. Segundo ele, era um museu de coisas antiiiiiigas. Até a foto dele virou a foto de um antiiiigo menino indígena.
Eu sempre me surpreendo com a criatividade dele. Parece ter um certo gosto pela engenharia das coisas e, como já notei, tem um apurado senso de experimentação (bom para quem gosta de testar hipóteses). Quem sabe, né?
Idade - Nem todos chegaremos a uma idade avançada. De certo modo, é esta obviedade que me faz admirar o feito de alguns outros habitantes do planeta.
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Por hoje é só, pessoal e…até mais ler!
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