Um pouco sobre este Shikida (ninguém perguntou, mas eu conto assim mesmo)
De onde viemos? Para onde vamos? Vai ter coxinha?
Neste v(2), n(5), um pouco sobre a minha família. Bom, 50% dela, já que, por parte de mãe, sou descendente de portugueses (meu avô materno foi o único filho a nascer no Brasil, mas não tenho seu sobrenome, ‘Silva’). Outros temas? Tem também, claro.
A Família Shikida migrou para o Brasil em 1931 - É uma viagem no tempo possibilitada pelo Arquivo Público de São Paulo, indicação do prof. Colistete. Como é? Já explico.
Do Museu da Imigração Japonesa (ou de alguma plataforma similar gerada no Centenário de 2008, descobre-se que meus avós paternos saíram do Japão em 31 de janeiro de 1931, chegando por aqui em 19 de março do mesmo ano. Uma viagem de quase 3 meses em um navio.
‘Shikita’ ou ‘Shikida’ são formas alternativas de se ler os mesmos caracteres. Acontece, por exemplo, com os ‘Kajiwara’ ou ‘Kajihara’, sobrenome muito comum na região de Fukuoka. Outro exemplo? ‘Kanashiro’, ‘Kaneshiro’ e ‘Kinjyou’ em Okinawa.
Antes de seguir em frente: notou a família ‘Amano’ na imagem acima? Este era o sobrenome original do meu avô, do qual abdicou para que minha avó, filha única, pudesse continuar a linhagem dos Shikida ao casar.
Um parêntese: houve também um filho adotivo dos meus bisavós, que ficou no Japão e, salvo engano, tornou-se um monge. Assim, minha avó foi filha única de sangue, por assim dizer. Sobre este filho adotivo, sei que trocavam cartas. Com a morte da vovó, o contato se perdeu…
Podemos ver, ainda na figura acima, que meu avô veio ao Brasil com sua mãe (sra. Ume), um irmão e uma irmã. Anos depois, meu avô voltou ao Japão para buscar a mãe da minha avó.
Sobre os irmãos, Chio e Takeo, sei pouco. Creio que Chio era a que chamávamos de ‘titia’, uma idosa senhora com a qual troquei algumas poucas palavras na casa da minha avó, quando ainda criança. Outra parte da família dos Amano emigrou para Brasília.
Pois bem. Com a data de partida em mãos e com a dica do prof. Colistete, fui em busca de um documento mais interessante: o registro digitalizado dos passageiros. Eis o que encontrei.
Emocionante, não? Servirá para atualizar a página que fiz sobre minha avó (está aqui) há algum tempo. Como explico lá, segundo os registros que temos, nossa linhagem (ao menos com sobrenomes) tem pouco mais de 180 anos (acho que já estamos próximos dos 200, mas os documentos estão longe do meu alcance por estes dias. Logo, não vou arriscar um chute tão impreciso…).
Começamos como Shikijitani (敷地谷), depois Atarashiiya (新屋), na era Meiji (foi moda, na época, mudar sobrenomes e adotar alguns, já que muitos nem isso tinham). Depois, Shikida (敷田).
Uma curiosidade é que se você procurar por Shikijitani, encontrará um Shikiji Nishi no Tani (敷地西の谷), em Shizuoka. Não sei se tem relação, mas é um local de algum valor histórico. Há também uma estação de trem, Shikiji, em Shizuoka. Finalmente, há um prédio com o nome Shikida (ou Shikita) em Fukuoka, o 敷田ビル (Shikida Building), que me faz pensar (ou delirar) que eu poderia ter um quartel-general ‘shikidiano’ só meu...
Mais algumas informações que obtive desta minha nova pesquisa: no Japão, há um Shikita famoso no beisebol (nascido em Shizuoka), o Naoto Shikita. Parece que preciso aprender mais sobre beisebol…
Existiu também um outro Shikida, Toshiharu Shikida, que parece ter tido algum destaque na era Meiji (quem sabe, um dia, não pesquiso melhor sobre isso…) como scholar de algum tema relacionado ao shintoísmo (ou xintoísmo, como queiram).
Antes de terminar, eis o brasão da nossa família.
Ah sim, falei tanto da família em si que não mencionei que, quando nasci, meu avô ainda era vivo. Mas ele morreu antes que eu me desse conta. Minha avó, bem, ela faleceu aos 100 anos. Faz muita falta. Graças a ela, a memória da família foi transmitida a quem quisesse conversar com ela a respeito.
Aliás, quando iniciei meus estudos de japonês, lá nos anos 80, ela trocava cartas comigo, propositalmente colocando poucos ideogramas em meio ao alfabeto fonético porque sabia que eu era um iniciante.
Eu penava, já que, ironicamente, sempre tive facilidade com os ideogramas (os kanji), mas pouca familiaridade com a língua, o que fazia com que eu tivesse muitos problemas em entender frases que não usassem alguns ideogramas. A bem da verdade, ainda tenho muitas dificuldades com o japonês, como bem o sabem todos meus antigos professores (verdadeiros heróis da paciência…).
Voltando à minha avó, foi com ela que vi meu primeiro filme do famoso ‘Tora san’ (男はつらいよ - É triste ser homem, a famosa série de comédias românticas do diretor Youji Yamada). Foi em algum cinema da Liberdade (nos anos 80 havia um ou outro que ainda passava filmes japoneses). Quem já assistiu e não gostou, bom da cabeça não é.
Toda família é imperfeita porque somos imperfeitos. Mas a história da sua família é algo que vale a pena pesquisar. Bom, não sei você, mas eu gosto. Olho para o passado e vejo coisas interessantes. Já minha prima, Maya, gosta do passado e do presente. É dela a iniciativa de fazer a árvore genealógica da família.
Passado e presente são apenas alicerces para o futuro. Cada Shikida molda o seu e, daqui a algum tempo, será parte do passado. O futuro nos vê como história, né?
p.s. Quantas pessoas no Japão carregam o sobrenome Shikida (Shikita)? Descubra aqui. (spoiler: são poucos…, mas não sei o quão exato é este site…)
Japoneses… - O filho de um amigo meu, que também é descendente de japoneses partiu para os EUA no final do ano passado. Recebeu bolsa para fazer a graduação por lá (o menino é fera!). As notícias que me envia, de vez em quando, são sempre animadoras. Sabe que torço sempre por ele. Espero que use o bookholder que lhe dei para agilizar seus estudos. Aliás, eu mesmo preciso usar o meu que sempre me acompanha na mochila...
Mais Japão (o gerente enlouqueceu!) - Li os dois finíssimos livros da caixinha Patriotismo. Um é o conto de mesmo nome de Yukio Mishima. O outro, de Victor Kinjo (é, eu falei deste sobrenome lá em cima…), é um curtíssimo ensaio sobre, claro, Mishima.
Sinceramente? Não gostei muito. Não sou conhecedor da obra de Mishima (li só um comentário dele a um antigo código de conduta dos samurais, o Hagakure, há muitos anos e me lembro de ter gostado), mas o Patriotismo é um pouco chato.
Não é fácil encontrar, mas já assisti o filme baseado neste conto. Acho até que é melhor do que o mesmo. Mas a ideia do suicídio ritual como tema de arte? Prefiro o filme com Tatsuya Nakadai, o famoso Haraquiri que teve uma nova versão (até aceitável) há alguns anos.
Sim, como muitos da minha idade eu vi o filme sobre Mishima no cinema lá pelo início dos anos 90 (ou seria no final dos 80?). Depois comprei, li o livro e gostei de ambos.
É, ele era um cara esquisito mesmo (mas esta outra newsletter me faz ler mais Mishima).
Clássicos de futebol - Confesso: fui poucas vezes ao campo de futebol até meus quarenta e poucos anos. Meus pais não tinham dinheiro ou tempo para isto. Quando criança, fui com um tio meu (um jogo do Cruzeiro). Depois, na adolescência, dona Norvina, mãe de um grande amigo, levou-nos a um jogo da seleção, também no Mineirão.
Só comecei a frequentar mesmo os estádios por conta do Esporte Clube Pelotas, o famoso lobão. A Boca do Lobo, para mim, é uma segunda casa. Mas não cheguei a presenciar um BraPel, exceto pela TV, por volta de 2018.
De todo modo, isto tudo apenas para dizer que o livro BaVi - tem muita história (editora Mondrongo, 2021), tem, em sua crônica de abertura (Ba-Vi em família, de Aleilton Fonseca), uma das mais divertidas que já li sobre futebol. Sigo lendo e achando-o divertido.
Randomized Control Trials e a Econometria - O famoso RCT virou moda para o pessoal de econometria aplicada (mas, note, nós, das time series, temos muito mais diversão que este pessoal que adora um microdado em painel).
RCT é importante? É. RCT é infalível (como alguns parecem, quase fanaticamente, querer crer)? Não. O prof. Caplan tem um belo texto a respeito. Um trecho (para incentivar a sua leitura):
You can be enthusiastic, or you can apply the methodology. But not both. The randomista crusade is either hypocritical or stillborn.
… common sense tells us that RCTs are the most helpful way to advance our understanding of extremely narrow questions. But when you ponder bigger questions, RCTs are just one intellectual input out of many. Including the bigger question of, “When should we dismiss people who fail to use RCTs as charlatans?” For pharmaceuticals, the right answer is “often.” For economic growth, in contrast, the charlatans are those who dismiss everything we’ve learned without RCTs.
Sentiu-se provocado? Espero que sim. Aliás, eu gostei muito deste tuíte do Vincent Geloso.
Afinal, nada pior que a soberba, né?
Godzilla - Terminamos com Godzilla, claro.
Por hoje é só, pessoal. A gente se vê.
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