Totolinos invadem as livrarias. Angela Lansbury. A taxização do Uber. A vida de Tristeza.
Slavnomu dolgi dni. Dei na semli! Slavnomu dolgi dni. Dei na zemli!
Sim, é o v(2), n(83). Chegou. Tentei evitar, mas foi mais forte do que minha vontade.
Totolino - Uma das inspirações para voltar a me expressar por escrito, como na era dourada dos blogs, foi um livro chamado O homem que lia os seus próprios pensamentos, do Alexandre Soares Silva. Depois vieram as newsletters e, bem, algum dia vou contar toda a história no asilo.
O humor nonsense do Alexandre é sempre dosado de maneira a não deixar o leitor cansado. Lembra muito o de Campos de Carvalho (se você leu o Púcaro Búlgaro, notará o que quero dizer). P.G. Wodehouse também é, eu diria, uma influência.
Em Totolino, este humor se une a uma atmosfera onírica em que o leitor fica quase em transe, como naquela história do sujeito que sonha que é uma borboleta, acorda e fica na dúvida se está em um sonho ou não. Pois bem, esta é a atmosfera em todas as 251 páginas do livro.
É uma trama não-usual. A bem da verdade, Totolino é o leitmotif por trás das ações de Ponza (Dario Ponzo), Loyola, Bel, Torrones (André) e Josie (devo ter deixado algum personagem de fora e já me desculpo por isto). Poderia dizer que Totolino abre e fecha o livro passando toda a trama como um personagem distante.
Neste livro, em especial, o melhor são os nomes dos capítulos (compre, leia e, se não concordar, pode me chamar para um duelo). A leitura flui bem. A sensação de que você está em grande sonho, de certo modo, ajuda nas pausas: afinal, você quer voltar ao sonho depois e assim os capítulos lidos vão ganhando terreno.
Na última quarta-feira, ao terminar o livro, fiquei pensando se alguns destes personagens (Ponza, Bel, Torrones, etc.) não mereceriam, senão um livro, um conto só para eles. Fica aí a (pretenciosa, de minha parte) sugestão para o autor.
Alexandrito, este livro ficou muito bom!, diria Bel.
The Worst Pie in London - Dica do Cisco Costa, eis aí a recentemente falecida Angela Lansbury que, aliás, esteve no clássico ‘Sansão e Dalila’, filme típico dos feriados religiosos e das sessões de filmes de aventura, juntamente com Heddy Lamar (Dalila) e Victor Mature (Sansão), fazendo o papel de Semadar.
Acho que eu me lembro dela mais da época do início da TV paga, no falecido canal USA, em Murder, She Wrote que, aliás, não acompanhei muito.
Agora, este trecho aí, a seguir, com ela, é muito bom.
p.s. A propósito de filmes, assisti a um, no feriado. Mais um daqueles clássicos que nunca vi porque nunca fui fã de filmes de faroeste (ao contrário do meu pai). John Wayne, James Stewart, Vera Miles e Lee Marvin (e Lee Van Cleef) em The man who killed Liberty Valance. Que ótimo filme!
A Taxização do Uber - Sabíamos que era inevitável, já que a concorrência é pequena. Revela-se, pois, que, como preconiza a boa ciência econômica (no singular mesmo, porque sou teimoso e não acredito em homeopatas econômicos), no final das contas, o preço é o que importa.
Sim, pois agora você entra no automóvel e o motorista não pede mais para você usar o cinto antes de dar partida (melhor dizendo: 1 em 10 pedem). A música? Já fui obrigado a pedir para uns motoristas diminuírem o volume. E olha que não sou destes que implicam com o gosto musical do motorista, mas eles nem perguntam mais se você quer ouvir a estação X ou Y.
Lembro-me, antes da pandemia (então falamos de 2019 ou antes), de um motorista que deixava a pessoa tocar a playlist dela no rádio (algo como bluetooth, spotify, creio), uma inovação de sua parte que, mesmo eu não tendo uma playlist, elogiei bastante. Não há mais isto.
Há uns esnobes que criaram o termo uberização, não para significar que a pessoa pode ganhar uma renda extra que não venha dos meus impostos (e sim de seu trabalho), mas para dizer que os motoristas trabalham muito mais do que o que elas acham razoável (eu arriscaria uma ofensa aqui sobre o quanto estes críticos trabalham, mas estou educado…por enquanto).
Pois eu proponho o termo taxização (sem querer ofender, mas inevitavelmente ofendendo alguns taxistas…e lembro que vários motoristas trabalham nas duas frentes, como taxistas e motoristas de aplicativos, segundo ouvi em conversas com os mesmos). Diz respeito ao fato de que a qualidade do serviço piorou, embora o preço ainda compense.
Fico satisfeito? Parcialmente. Tenho prazer em constatar que a lei da oferta e demanda resiste aos modismos e aos ataques dos negacionistas (cujo direito de expressar suas burrices defendo sinceramente porque é sempre bom saber com quem (ou o que) se está falando). Por outro lado, eu gostaria que os motoristas dos aplicativos voltassem aos tempos iniciais em que a ênfase na qualidade era um traço marcante.
Quem disse que o mundo seria como eu quero, né? Por isso não é fácil. Ainda mais com a uberização dos influenciadores, que acusam tudo de estar uberizado enquanto sequer se olham no espelho…
Livro novo sobre imigração - Promete ser interessante. É do Garret Jones e um resumo está aqui. Reproduzo.
Over the last two decades, as economists began using big datasets and modern computing power to reveal the sources of national prosperity, their statistical results kept pointing toward the power of culture to drive the wealth of nations. In The Culture Transplant, Garett Jones documents the cultural foundations of cross-country income differences, showing that immigrants import cultural attitudes from their homelands—toward saving, toward trust, and toward the role of government—that persist for decades, and likely for centuries, in their new national homes. Full assimilation in a generation or two, Jones reports, is a myth. And the cultural traits migrants bring to their new homes have enduring effects upon a nation's economic potential.
Built upon mainstream, well-reviewed academic research that hasn't pierced the public consciousness, this book offers a compelling refutation of an unspoken consensus that a nation's economic and political institutions won't be changed by immigration. Jones refutes the common view that we can discuss migration policy without considering whether migration can, over a few generations, substantially transform the economic and political institutions of a nation. And since most of the world's technological innovations come from just a handful of nations, Jones concludes, the entire world has a stake in whether migration policy will help or hurt the quality of government and thus the quality of scientific breakthroughs in those rare innovation powerhouses.
Nada como uma boa revisão da boa literatura científica. Tomara que não seja um livro muito caro (24 dólares, na famosa loja, em pré-venda).
p.s. Depois de ter mesmo escrito, como bem o sabe o leitor que sabe o significado de ‘p.s.’, o livro já foi comprado em pré-venda e, em breve, estará me esperando no Kindle.
Tristeza - Era seu nome. Por que os pais fizeram isto com ela? Parece que havia uma folha de papel com a justificativa, guardada pela mãe em uma gaveta de roupas. Infelizmente, em uma das inúmeras mudanças da família, perdeu-se a dita cuja (a folha, não a Tristeza, nem a gaveta).
Tristeza foi uma menina medianamente normal. Desde bebê chorava muito e tinha um olhar melancólico, características que sempre a deixaram com a suspeita de que seu nome teria um certo sentido…
Suas fotos de aniversário, invariavelmente, mostravam-na triste, sem um sorriso. Algum colega de infância jurou de pés juntos que ela teria sorrido em 1973, por alguns segundos, numa visita ao jardim zoológico, mas ninguém nunca corroborou a história e o menino morreu desgostoso, já adulto, acusado de ser um contumaz mentiroso.
Na adolescência, quando vieram as primeiras mudanças hormonais, Tristeza se apegou ao romantismo. Adorava ler livros de finais tristes (tinha até um poster de Osamu Dazai em seu armário, conseguido sabe-se lá como por seu pai). Não para a surpresa geral, seus filmes favoritos eram dramas e aqueles famosos cinema catástrofe dos anos 70-80.
Tinha poucas amigas, pois seu jeitão sorumbático não combinava muito com o clima de festas e paqueras da idade. Mesmo estas amigas, vez por outra, evitavam conversar muito com Tristeza, cujos desabafos eram, quase sempre muito…tristes, quando não monótonos. Até episódios felizes da vida familiar ganhavam tons pesados quando narrados por ela.
Seu primeiro namorado - sim, houve um herói! - levou quase um mês para conseguir um encontro. Depois foram meses tentando descobrir o que poderia deixar Tristeza feliz(!). Os abraços e beijos que lhe oferecia eram recebidos e correspondidos, sim. Mas havia algo diferente com Tristeza e, de certo modo, foi isto que o atraiu.
Sim, ela foi colega de Aynitta na escola (mais sobre Aynitta aí embaixo, mas não vá lá agora. Paciência. Termine aqui primeiro).
O namorado, obcecado em saber o que a deixaria feliz - não disse que seu nome era Sylvio? Pois era. - pesquisou primeiro com os pais de Tristeza, mas sem muito sucesso. Depois, aproximou-se de suas amigas, mas permaneceu no mesmo ponto. Não havia uma única pista, uma dica. Nada. Niente. Nothing.
Insistente e apaixonado, Sylvio não desistiu. Algum tempo depois, casou-se com Tristeza e abriu uma cafeteria. Por motivos óbvios, Tristeza não atendia no balcão, apenas cuidava da contabilidade (Tristeza cursou Ciências Contábeis e se formou em cinco anos, com louvor).
A cafeteria era um negócio modesto, mas Sylvio sentia-se realizado. Ficava feliz de ter a esposa ao seu lado praticamente todo o dia. Tristeza não implicava com Sylvio. Não brigava com ele. Sylvio era feliz? Era… Contudo, todo seu tempo livre era dedicado a descobrir o que deixaria Tristeza feliz. Sim, porque, mesmo casado, ainda estava obcecado com o tema.
Um dia, após sentir uma forte dor no peito, desabou no balcão derramando alguns cafés recém-servidos. Os clientes ajudaram Tristeza a levá-lo para o hospital. Foi, contudo, um exercício inútil: Sylvio morreu mesmo na cafeteria. Tristeza derramou algumas lágrimas ao fechar a cafeteria naquela noite. Apesar dos pesares, Sylvio era realmente o amor de sua vida.
Sozinha, a enviuvada Tristeza resolveu vender a cafeteria e viajar pelo mundo (ou pelo menos até Fernando de Noronha). Desde então não se tem mais notícias de Tristeza. Dizem que abriu uma pousada em alguma praia paradisíaca do nordeste e ainda é viva.
…o que, por uma ironia cósmica, dá razão ao que se lê na empoeirada lápide de Sylvio: Tristeza não tem fim. Felicidade, sim.
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É só um plano sem schedule algum
Não gostei de Totolino. Abandonei a leitura. O primeiro Alexandre não combina com o recente. Não me agrada. Gosto de conviver com os posts dele hoje, mas romances são os da primeira safra, até ali a altura de A alma da festa. Mas isso é muito pessoal. Há um culto em torno dele hoje e o fato de escrever scripts deve tê-lo mudado muito como narrador.