Tentativas Não-Intencionais de Suicídio - A poesia da catástrofe - Crossover - Agenda 2030 e o Hamas - Zonas Econômicas Especiais - Condoleezza Rice
Poincaré, Feigenbaum, Mandelbrot e um papagaio entram em um bar de dimensão fractal e pedem uma cerveja.
Chegamos ao sexagenário número de 2023 (v(3), n(60))! Que marco! Aproveito para citar o matemático francês Henri Poincaré apud Arnold (1989).
…os matemáticos não destroem os obstáculos que povoam a sua ciência mas simplesmente os empurram até sua fronteira. Possam esses obstáculos ser deslocados para o mais longe possível além dessa fronteira, até o domínio do inconsciente e do irracional. [Arnold, V.I. (1989), Teoria da Catástrofe, Editora da Unicamp, 1989, p.9]
Do mesmo modo, que os obstáculos - e não são poucos, nem pouco intensos - que dificultam a confecção (que é artesanal, pois toda escrita o é) desta newsletter sejam empurrados para os limites do universo, para ali, onde está também o restaurante do fim do universo, de Douglas Adams. Pelo meu bem e pelo bem do leitor.
Tentativas Não-Intencionais de Suicídio - Fogões e eu: uma luta eterna. Contabilizo três tentativas (aparentemente ou conscientemente) não-intencionais e uma mais fraca (uns ovos que cozinharam até a água evaporar).
Minha rivalidade com o fogão vem de tempos imemoriais. Somos como Caim e Abel, Flamengo e Vasco, Ucrânia e Rússia etc.
A poesia da catástrofe - Recuperei um antigo livro, Teoria das Catástrofes, de Vladimir I. Arnold e eis que, no prefácio, esbarro nesta afirmação rigorosa que leigos (no tema) podem apreciar pelo seu poder poético.
A descrição matemática do mundo depende de uma interação delicada de fenômenos contínuos e descontínuos (ou discretos). Estes últimos são os primeiros a ser notados. [Arnold, V.I. Teoria das Catástrofes, Editora da Unicamp, 1989, p.5]
Ele se refere a sistemas dinâmicos (equações diferenciais (no caso contínuo) e em diferenças (discreto) e a conceitos matemáticos bem específicos como caos determinista, bifurcação de Hopf, atratores estranhos e tantos outros que mesmo alguns estudantes de Matemática (universitários, digo) não conhecem.
O livro não foi reeditado, mas a teoria da catástrofe pode ser encontrada por aí, na rede mundial de computadores (e, acrescento, de nuvens, muitas nuvens, muitas mesmo).
Deixando de lado o rigor que o trecho merece, em uma interpretação fiel e adequada ao campo da pesquisa, creio que se pode nele perceber uma beleza radiante (eu me sinto irradiado, você não?).
Fenômenos contínuos e outros nem tanto em sua vida. Parece-me óbvio, não? Há o jornal que chega todo dia, a criança que você leva para a escola todas as manhãs, mas há também a festa surpresa que os colegas prepararam por conta de sua promoção e o pai que faleceu. E, sim, tudo isto se mistura de um jeito cujo padrão, quando existe, nem sempre é facilmente perceptível, detectável.
Às vezes os fenômenos descontínuos geram grande ansiedade, às vezes grandes alegrias. São estes que nos dão a sensação de que o que é bom dura pouco. Os contínuos, por sua vez, podem nos dar a sensação de que a rotina tem sua beleza.
Ok, estou sendo bem pouco rigoroso. É que as palavras podem ser esquizofrênicas. Em um contexto são designadas para conceituar e, em outros, para rimar ou, até mesmo, brincar. Claro que se você usa palavras assim ou assado (ou frito, ou cozido), sem nenhum ordenamento, você pode ser mal entendido. Ou tido como louco.
Este era meu ponto: apenas apreciar a boa retórica de um matemático quando, na verdade, ele nem imaginou (será que não?) que a primeira frase de um prefácio deve ter este poder de instigar a imaginação do leitor (ah, com certeza que foi intencional).
Assim é a vida: emocionante nos mais improváveis contextos.
Crossover - Orlando Tosetto, do
, convidou este sujeito aqui para participar de uma iniciativa que ele fez com alguns autores de newsletters. Em resumo, ele nos apresentou, um a um, em edições extras.Os leitores daqui e os de lá - desconfio que existe uma interseção - podem nos conhecer melhor. Eu estou nesta edição extra. Houve mais? Houve! O André Falavigna está aqui. Sérgio de Souza, aqui. Edson Aran, aqui. Não sei vai ter mais desta divertida festa promovida pelo Orlando, mas gostei da idéia (que, sim, vai com acento).
Eis como me apresentou o seu Orlando!
Claudio Shikida é belorizontino de idade inconfessável, mas foge do dialeto e da dieta locais, tentando se fazer de carioca: o único carioca cruzeirense do universo. Não dá certo. Casou e descasou, e portanto sabe que a felicidade é boa enquanto dura e dura é a vida de quem embarca na dura vida a dois. Qual Brás Cubas, não foi pai, mas é tio, e até supertio, com poderes e capacidades avunculares excepcionais. Neto de japoneses e de portugueses, é fã da cultura pop japonesa e, nas horas vagas, se arrisca nos karaokês cantando música enka. Nas horas ainda mais vagas, banca o Watson do Dr. Palhinha, célebre detetive retroflexo. Fundou em Brasília – por onde ele também costuma ser visto nas noites de lua cheia – um grupo de música folclórica japonesa que já anda se apresentando por aí. Escreve a newsletter O que o Claudio Shikida anda lendo, meu Deus?!, na qual divaga literariamente sobre a vida, o universo e quase tudo o mais. E gosta muito de gatos.
Talvez ele me conheça melhor do que eu mesmo e nem terapia, nem reza braba (ou brava) podem resolver isto.
Agenda 2030 e o Hamas - Não sou quem diz. É o pessoal que defende o Hamas. Sabemos que vários foguetes que atingiram Israel no último ataque terrorista promovido pelo Hamas com o patrocínio do Irã foram feitos com canos que foram, anteriormente, usados para melhorar o acesso à água na região. Não é uma invenção, nem uma fake news: eles mesmos divulgaram o fato.
Ao mesmo tempo, no Brasil, há gente que confunde ‘palestinos’ com ‘Hamas’ (os mesmos que confundem, por exemplo, ‘sociedade’ com ‘governo’ etc.) e que, ao mesmo tempo, diz estar muito preocupado com os objetivos do milênio que a ONU acredita serem importantes. Como se comportam agora? Muitos pensam que é compatível apoiar a Agenda 2030 (os famosos “ODS”) e a ação do Hamas simultaneamente, o que é estranho (talvez a dissonância cognitiva explique isto).
Aliás, se você se lembra dos primeiros números desta newsletter, provavelmente leu sobre irracionalidade racional por aqui. Pois bem, os políticos brasileiros que governam, em sua maioria, fazem-se de bobos quando o assunto é terrorismo porque, como bem me recordo, na administração Rousseff, as tentativas de se definir terrorismo no Congresso deram em nada (por que isto aconteceu? Pesquise um pouco que você descobrirá). Isto se traduz em um custo menor para se expressar posições moralmente inconsistentes como apoiar terroristas que trocam saúde com água encanada para sua população por foguetes.
Eis aí um exemplo simples de irracionalidade racional.
Zonas Econômicas Especiais - Meu artigo na Exame sobre um tipo de zona econômica especial que pode acelerar o desenvolvimento econômico de qualquer país.
Condoleezza Rice - Ótima entrevista de Condolezza Rice para a jornalista Bari Weiss, aqui.
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler! (*)
(*) “até mais ler” foi plagiado do Orlando Tosetto, cuja newsletter, aliás, você deveria assinar.
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Talvez você seja novo por estas bandas. Rapidamente: publico geralmente às quartas. Eventualmente há algumas edições extraordinárias. Assinar (custo = R$ 0.00 + valor do seu tempo para apertar o botão subscribe com seu endereço de e-mail lá…) me ajuda bastante. A temática? De tudo um pouco. Confira os números anteriores aqui.