Tankável - A geração ansiosa - Futarquia - Skate, este perigosíssimo esporte! - Uma nova governança - Os dados do IPCC - To Beer or not to Beer - Municípios - Godzilla - Maduro.
Repita comigo: censurar as redes sociais é coisa da extrema-esquerda venezuelana. Viu? Nem doeu. Tome aí um café e sorria (enquanto pode).
O v(4), n(33) é este aqui mesmo. Não, você não bebeu (o suficiente). Hoje é quarta-feira e você está com a newsletter na tela e eu tenho que dizer que, desta vez, ela tá recheada de conteúdos diferentes. Começo a desconfiar que tenho problema de disper…do que eu falava mesmo?
Tankável - A 2a Guerra Mundial deu ao Brasil Stanislaw Szmajzner, polonês, vítima do nazismo (e autor de “Inferno em Sobibor - a tragédia de um adolescente judeu”…que virou filme), Gustav F. Wagner (seu algoz, que fugiu para o Brasil…e encontrou Stanislaw em frente às câmeras) e, claro, o croata Josip Bogoslaw Tanko, mais conhecido como J.B. Tanko.
Tanko trabalhou até com Leni Riefenstahl fazendo cinema para os nazistas. Ao final da guerra, quando notaram que ele não era um ‘nazista ideológico’, mudou-se para o Brasil. Eu o descobri por culpa de Antonio Marcos, o cantor falecido nos anos 90, pois tentava achar os raríssimos filmes em que ele teve alguma participação (o cinema nacional é incrível mesmo…não lançam uma caixa de DVD, nem colocam nos serviços de streaming nada disso. Bem, talvez não haja demanda…).
Tentei encontrar, sem sucesso, uma biografia de Tanko (assim como também nunca encontrei uma do Antonio Marcos), mas, ora, bolas, eu falava do filme. Bem, você já deve ter visto Cannonball, a divertida comédia de 1976 com David Carradine, Burt Lancaster, Dean Martin e grande elenco (até Jackie Chan está lá). Em português, passou com o nome Quem não corre, voa.
Os anos 70 são os anos dos desenhos da dupla Hannah-Barbera que, em nossa infância, deu-nos o famoso Corrida Maluca (com personagens que marcariam nossa cultura pop como Dick Vigarista e seu cão Muttley, cuja risadinha imitávamos sempre).
Pois Tanko dirigiu Salve-se quem puder - Rally da Juventude, que você encontra em cópias precariamente gravadas, nas plataformas da vida. É uma comédia de corrida (terá existido uma ‘era de ouro de comédias de corrida’?) com uma história bem simples e divertida na qual há até um calhambeque com personalidade própria, bem ao estilo do fusquinha Herbie, da Disney. Trata-se de Boody II - o calhambeque malandro. Uma cena antológica é quando Boody II se aproxima da barraca onde uma das mulheres se prepara para tirar o sutiã e é pego no flagra. Como não rir?
Eis aí um resumo do filme.
Eu me peguei imaginando um diálogo imaginário entre Fritz Lang e J.B. Tanko. Afinal, Lang, ao perceber a furada que a Alemanha iria se transformar sob o Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães, fugiu para os EUA, onde, dizem, ajudou a revolucionar o cinema norte-americano.
Seria um diálogo em um saguão de algum hotel, em um país da América Latina. Talvez o México. Imaginei ambos trocando olhares no saguão, quando ambos pegam as chaves de seus quartos e uma leve lembrança de já terem se encontrado desperta não só no coração, mas também nas memórias de cada um, causando um abraço educado, mas pouco ou nada efusivo.
“- Herr Tanko!
- Herr Lang, é você?
- Sim, sou eu. Tanko, o que faz aqui? Não ouço falar de você desde…
- Bom…é o seguinte, Herr Lang, eu precisava de grana e…
- Ai, ai..fez como a Lenisinha…
- É, Frau Riefenstahl também ficou…mas ela se deu bem por lá.
- Tô sabendo. Não falo com Lenisinha há anos…
- E o Murnau?
- O que tem o Murnau?
- Pega no meu pau!
- Herr Tanko! Que Scheiße é esta!! Não te dei esta liberdade!
- Ah, desculpe, é minha brasilidade…sabe, acabei indo parar no Brasil, Herr Lang.
- Ah, ja? Desculpo desta vez. Bem, ainda faz cinema?
- Bem, faço, mas não como naquela época.
- Ainda bem que não. Que filmes?
- São tantos…tem o Areias Ardentes, A Outra Face do Homem, Metido a Bacana, Com Jeito Vai, Garota Enxuta, Salve-se Quem Puder - Rally da Juventude, Robin Hood, o trapalhão da floresta, O Trapalhão na Ilha do Tesouro e O Trapalhão no Planalto dos Macacos, para mencionar alguns.
- Títulos variados, Herr Tanko.
- A gente faz o que pode.
- Cuidado para não se perder, Herr Tanko, o mundo do cinema tem muitas armadilhas…
- Eu sei, Herr Lang. Bem, que tal um vinho? Dizem que há bons vinhos no restaurante deste hotel.
- Pode ser, Herr Tanko. Aí você me conta mais sobre este “Trapalhão”…seria um filme de mistério?
- Não é bem assim, Herr Lang…
Claro, ambos caminham para o restaurante onde não há piano, nem Sam tocando piano. Talvez umas maracas…
A geração ansiosa - O livro de Jonathan Haidt foi uma revelação para mim e o que me assusta é o quanto nossos supostos especialistas em educação - sejam eles membros de ONG, do governo, colunistas de jornais e, claro, pais - ignoram as evidências que, se já eram anedóticas, agora são empíricas mesmo.
Conforme Haidt, a combinação da superproteção dos pais (que não permitem crianças brincarem sob regras próprias) com a superlibertinagem que os mesmos pais lhes dão no mundo virtual e a introdução dos smartphones, em 2010, criaram as condições propícias para o aumento de várias doenças mentais que qualquer um de nós observa sem dificuldades em sala de aula (ou em eventos familiares).
O tema é muito sério e me faz, Deus me perdoe, comemorar não ter filhos porque criá-los hoje em dia não é só inerentemente difícil. O comportamento desavisado dos outros pais sempre foi um problema (“você não é como os outros, Claudio, não é porque fazem assim na casa do fulano que…”), mas a despreocupação dos professores e pedagogos dos níveis iniciais do ensino é impressionantemente desleixado e desavisado das evidências empíricas. Os pais que desejam salvar seus filhos da depressão e da ansiedade não encontram apoio onde deveriam…
Enquanto a pedagogia da extrema-esquerda - que é o mainstream no setor público brasileiro há anos e anos - luta para desencorajar métodos alternativos de ensino (o que, aliás, não é o que diz a nossa Constituição federal), ou briga por recursos sem contrapartida em qualidade de ensino (não preciso dizer que há exceções porque isso é óbvio e se tiver que escrevê-lo a cada texto…olha o tempo que você já perdeu aqui), gestores de escolas privadas (desde creches a universidades), preocupados apenas com modismos (“basta dar um tablet novo ou inventar uma ‘sala de aula invertida’ e tá tudo bem: os pais acham lindo, então vale o investimento!”), ignoram o problema, colaborando para diminuir a diferença entre a qualidade do ensino privado e do público (só que para pior).
Não se trata de fobia à tecnologia, amigo leitor. Trata-se do que sempre digo aos alunos: é questão de usar a tecnologia como complemento à sua vida, não um substituto. O mercado de trabalho não paga muito para quem pode ser substituído pela, digamos, Inteligência Artificial (IA), ou pela planilha. O mercado paga bem por quem cria e usa a tecnologia em seu favor, seja na vida ou no trabalho. Agora, como usar a tecnologia em seu favor? Simples: coloque regras, limites ao seu uso (eis aqui um exemplo). É assim que se evita o vício, não. Crianças e adolescentes precisam de orientação para que possam ser adultos ativos e independentes.
Recomendo fortemente que você, aluno, pai, mãe de aluno, avô ou avó de aluno, ou mesmo você que se preocupa com os alarmantes níveis de ansiedade e depressão (e o que dizer, por exemplo, da geração nem-nem?) leia o livro e visite o substack de Haidt, bem como a página de suporte ao livro. Ah, veja este vídeo também.
Futarquia - Robin Hanson retoma um tema que, revolucionário à época (e ainda o é!), merece a atenção de quem se preocupa com regras de decisão coletiva e construção de instituições realmente inovadoras: a futarquia.
Skate, este perigosíssimo esporte! - O Pessimists Archive é uma ótima newsletter para quem gosta de ver o quanto os ‘especialistas’ (e seus melhores amigos: os reguladores) são viesados pelo medo, em todas épocas e lugares. Veja, por exemplo, o caso do skate.
Uma nova governança - Um texto que fala sobre estas novas utopias (utopias?) em que estados são substituídos por estruturas descentralizadas. Já tem até esquerda neste movimento. Sim, leia lá.
Os dados do IPCC - Os dados do IPCC (o pessoal da ONU que tem autorização para falar oficialmente sobre problemas do meio ambiente) podem estar sendo interpretados de forma incorreta? Se sim, por que não se faz divulgação da correção? Parte da explicação está nos incentivos porque cientistas vivem de bolsas de pesquisa e cancelar bolsas…já sabe, né?
To Beer or not to Beer - Um interessante webinário sobre cerveja e desenvolvimento econômico.
Municípios - Deveríamos poder ‘descriar’ (extinguir) municípios? Claro que sim. A teoria econômica do federalismo nunca postulou que os governos subnacionais devem existir a priori. Países se unem ou se separam (olhe o mapa da Europa nos últimos 50 anos) e, dentro de um país, o mesmo fenômeno deveria ser permitido. Ainda me lembro de um pequeno texto do falecido Nobel de Economia, James Buchanan, defendendo o direito à secessão…
Obviamente, o interesse de políticos nem sempre se alinha com os da população, mas só com alguns grupos de interesse. Nestes casos, como sabemos, prevalece a redistribuição de recursos, não a eficiência em seu uso conforme o desejo do eleitor mediano. Por isso é difícil extinguir municípios. É, você que acha que a política é a solução para tudo, tome aí um chute no meio das pernas…
É um caso clássico de livro-texto de Public Choice!
Godzilla - Eis uma leitura interessante dos últimos filmes do Godzilla (do universo dos monstros, não o japonês).
Maduro - Qualquer artista realmente amante da democracia já teria feito uma versão disto para o ditador reeleito (segundo ele) da Venezuela, ou ao menos começado a campanha de arrecadação e prospecção para fazê-lo. Onde estão os produtores de conteúdo endinheirados e engajados deste planeta?
Mel Brooks simplesmente o fez DUAS vezes com Hitler. Riu da cara do imbecil DUAS vezes (no mínimo, pois desconsidero “Sou ou Não Sou”, comédia que relê um filme antigo de Lubitsch de mesmo nome tornando a gozação com os nazistas mais engraçada ainda).
Por que ninguém consegue fazer ao menos um décimo disto? A melhor forma de mostrar o ridículo das ditaduras é…mostrar o quão são mesmo ridículas. Ou o humor do Henfil não servia para isto? Os artistas devem estar doentes, só pode. Não se perde uma oportunidade assim, exceto por doença ou por muito dinheiro (quem aqui assistiu o clássico “Mefisto” sabe muito bem que artistas se vendem fácil, fácil, não são nada melhores do que o resto da humanidade, como eu e a amiga leitora).
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler! (*)
(*) “até mais ler” foi plagiado do Orlando Tosetto, cuja newsletter, aliás, você deveria assinar.
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Talvez você seja novo por estas bandas. Rapidamente: publico geralmente às quartas. Eventualmente há algumas edições extraordinárias. Assinar (custo = R$ 0.00 + valor do seu tempo para apertar o botão subscribe com seu endereço de e-mail lá…) me ajuda bastante. A temática? De tudo um pouco. Confira os números anteriores aqui.