Sono - Silêncios - Festival da Cultura e a Música Folclórica Japonesa - Walkman
Por que me afanam no meu país? Acho que foi Millôr quem disse isso.
O v(5), n(27) da newsletter chega após um período de muito agito. Tivemos o Festival da Cultura da Colônia Nipo-Brasileira no último final de semana, reencontros e muitas reflexões sobre a vida atual.
Sua liberdade de expressão? Já era. Os formados em Direito, dos quais podia-se esperar algum protesto, seguem calados, preocupados em saber quando ganharão supersalários porque, sabe como é, só se vive uma vez (exceto se você for espírita ou o James Bond).
Sono - É o que sentia naquela tarde quente de Belo Horizonte. Frente fria? Frente fria que nada! Mandou lembranças e se mandou com menos de um dia. Deve ter voltado para o Uruguai.
A despeito disso, insistia em carregar uma blusa de frio consigo. Acreditava que o clima da capital mineira iria se tornar parecido com o da capital vizinha, a paulista, famoso por ter - como dizem os de lá - “as quatro estações do ano em um único dia”. Apesar de suas expectativas, o clima ainda era predominantemente quente, com uma leve queda de temperatura à noite.
A blusa de frio que carregava não era daquelas feitas para o inverno europeu. Não, não. Tratava-se de uma blusa azul, mais adequada para um frio de, digamos, 18 a 22 graus, sem capuz, muito boa para compor com um traje levemente social. Presente que ganhara, já não se lembrava de quem, o que se sabe é que ele se apegou muito à blusa ao longo dos anos.
Foi assim que passou os dias de junho e julho daquele ano: carregando-a para tudo o que era lugar, mesmo com o sol intenso. Afinal, como sempre dizia, “nunca se sabe quando a temperatura vai virar”. Suas convicções metereológicas foram de encontro ao clima quente e o choque, eu diria, deixou alguns danos, mas nada que se possa chamar de uma perda total.
Por conta de sua insistência, achava que o menor sinal de queda na temperatura média era uma evidência a favor de suas convicções, a despeito do que lhe diziam os amigos. Passou as férias sem usar a blusa, lavando-a cuidadosamente para se preparar para o ano seguinte.
p.s. Ok, talvez ele tenha usado a blusa em uma manhã ou outra, mas considere a licença poética que, até o momento, não é taxada pela administração da Silva que ora ‘governa’ este país.
Silêncios - O início das férias é um período de transição em que os barulhos do cotidiano vão, aos poucos, diminuindo de variedade e volume. É um clima estranho e parece que ficamos mais inúteis, desocupados etc.
Talvez seja algo no meu planejamento - ou na falta de - das férias. Talvez seja algo que eu precise rever no modo como tenho levado as férias. Ou talvez seja a mistura disto com o calor. O André me prometeu uma frente fria, mas nada. Bad friend!
É curioso como os silêncios não se iniciem exatamente no primeiro dia das férias escolares, mas alguns dias antes. Parece que os silêncios se antecipam às viagens. As pesadas atividades escolares - com suas burocracias que agradam a sindicatos, mas não nos melhoram nos exames internacionais como o PISA - vão sendo cumpridas e os relatórios entregues. Talvez a véspera das férias seja o único momento em que o brasileiro faça questão de não deixar trabalho para a última hora…
Agora mesmo, mal ouço automóveis. O único som mais alto é o de algo sendo cortado, de uma das construções de prédios que estão por aqui perto. Outro, mais marcado, é o dos ônibus que cumprem seus horários independentemente da época do ano. Dá até para ouvir o som do ventilador do computador e, claro, o do teclado.
O coração, este, o mais silencioso, segue bombeando sangue, mas discretamente, como, aliás, devem trabalhar os corações. Coração espalhafatoso, imagino, só os dos italianos, né, Orlando?
Festival da Cultura e a Música Folclórica Japonesa - Todo ano eu reparo que, no instagrão oficial do evento, há stories (daquele tamanho não pode ser uma story, mas vamos lá) de tudo, menos das nossas apresentações, digo das apresentações da Kyoudo Minyou. Mesmo quando publico foto e marco o perfil, sou ignorado pela organização.
Imagino que o fato de apenas nos apresentarmos, sem um suporte para fotos e vídeos (ainda que o perfil oficial pareça nos filmar e fotografar, pelo que me lembro) seja definitivo para sermos, por assim dizer, invisíveis aos organizadores. Contudo, pode acreditar: nós estivemos lá, nos dois dias, e fizemos bonito. A música folclórica japonesa insiste e insistirá sempre, mesmo que organizadores de eventos se percam em confusões.
Ah sim, quem fez a execução do shamisen para minha apresentação foi, neste ano, o Rodrigo Junji. Vale avisar que haverá um show (preço: R$ 0.00) dele, em Sampa, lá pelo meio de julho. Eu aviso aqui quando a data estiver mais próxima e podemos nos encontrar lá.
Seu estilo me lembrou o da Yayu Fish que você pode apreciar na playlist a seguir, que nos lembra de sua apresentação em Belo Horizonte.
Walkman - A guerra contra os walkman.
Até mais ler!
(*) “até mais ler” foi plagiado do Orlando Tosetto, cuja newsletter, aliás, você deveria assinar.
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Sim, Cláudio, o coração italiano é espalhafatoso: canta óperas, morre com a cabeça no forno, chora com os braços abertos e chama aos berros pelos anjos; mas o meu, igual ao teu, igual a todos, tem espalhafatos que só eu escuto.