Sebastian, o diafóbico - Econometria -Tablitas - Juó Bananére.
Por que o café esfria tão rápido, Ulisses?
Eis o v(3), n(34) da newsletter saindo do forno. Faça um café e junte-se a nós para combater a obscuridade (ou para disseminá-la, sei lá). Ah, o Por que o café esfria tão rápido é o nome do livro de Oscar E. Fernandez, publicado pela tradicional editora Blucher. Sim, é um livro que mostra como o Cálculo está presente em nossas vidas (e também explica o motivo do café esfriar tão rápido, claro).
Sebastian, o diafóbico - Sebastian era um sujeito calado. Todos diziam isto do alto aluno - tinha quase um metro e oitenta - que, a despeito de ser o único ruivo do colégio, não tinha a popularidade que se esperaria de uma figura como esta.
Mesmo quando fazia trabalhos em grupo, interagia muito pouco. Em sala de aula? Apesar das boas notas, raramente participava e, se pudesse, ficaria sempre atrás da bagunceira ‘turma do fundão’ que, aliás, nem o notava.
Apesar disto, Sebastian tinha um amigo, Pedrinho, vizinho de prédio com o qual trocava algumas palavras de vez em quando. Foi com ele que, naquele final de bimestre, Sebastian abriu seu coração.
‘- Pedrinho, tenho que te contar algo.
- Sebastian, que ocasião! Você não me conta algo há dias!
- …
- Tá, Sebastian, não precisa responder.
- …
- Estou preocupado. O que voc…
- Eu sou diafóbico.
- Heim? Pô, velho, eu não sou chegado nisto não…
- Não, Pedrinho, eu sou diafóbico.
- Ah…bom, e o que é isto?
- …
- Desembucha, cara!
- Toma, olha aí no meu dicionário.
- Você não tem jeito…tá, deixa eu…ahhhh…
- Entendeu?
- Então você tem fobia de diálogo?
- Isso.
- Como é que…?
- …
- Tá, já entendi.
- Podemos conversar depois?
- Claro, amigo. Vou comprar um lanche ali.’
A conversa, claro, só seria retomada uns dias depois. Pedrinho não sabia como ajudar o amigo. Seria a diafobia uma doença tratável com remédios? Uma Neosaldina ajudaria? Ou será que existiria alguma vacina? O fato é que não havia remédio, nem vacina.
Pedrinho resolveu que o amigo só poderia se sentir seguro se fosse, então, protegido dos diálogos. Elaborou um planejamento anual de conversas com o amigo e propôs ao diretor do colégio que as pessoas dialogassem menos. Justificou que o excesso de diálogo gerava muita bobagem e desinformação. A proposta, impressa, foi rapidamente lida pelo diretor.
‘- É, de fato os alunos falam de mais, Pedrinho!’ - disse-lhe o diretor, indeciso sobre se realmente valia a pena aprovar a nova regra.
Após folhear novamente as quatro páginas da proposta de Pedrinho, o diretor começou a pensar se não seria mesmo uma boa idéia (com acento) ter um colégio menos barulhento. Chamou os professores para uma reunião e expôs o projeto.
Vários acharam um absurdo e levantaram o argumento de que a diafobia deveria ser combatida com mais diálogo, ou pelo menos com tentativas de intervenções que ajudassem Sebastian a vencer sua fobia. Já os professores de História e os de Geografia ponderaram que a liberdade de expressão não seria um valor absoluto.
O diretor começou a sonhar com alunos menos falantes, menos questionadores.
‘- Menos diálogos, menos dor de cabeça.’ - pensou.
O projeto de Pedrinho passou a se chamar Regra de Sebastian (que, como sempre, não queria dialogar a respeito) e o diretor o implementou dizendo que melhoraria a comunicação entre alunos, professores e funcionários. Que evitaria a disseminação de mentiras e notícias imprecisas. Que traria mais alegria e paz. Etc. Nomeou os professores de História e de Geografia que o apoiaram como auxiliares na implantação e fiscalização da nova regra e ignorou os protestos dos outros.
Pedrinho, percebendo o que acontecia, tentou argumentar com o diretor, sem sucesso. Ao invés de ajudar Sebastian, agora a escola era um ‘sebastianismo’ só. Sob o pretexto de ajudar a melhorar a vida do aluno diafóbico, o diretor implementou a diafobia coercitivamente, suprimindo a liberdade de expressão em nome do bem-estar de todos.
‘- Somos todos diafóbicos agora!’ - disse Pedrinho em voz baixa, para si mesmo, quando saiu do portão do colégio no final da fatídica semana. Sendo o ensino obrigatório e sendo aquela escola pública a única da região, Pedrinho, Sebastian e tantos outros não tinham mesmo para onde ir. Só podiam mesmo seguir diafóbicos…para a alegria do diretor.
Sebastian? Não se sabe sua opinião. Tentei contato com ele, mas nem sendo autor desta estória, ele me respondeu. Anda mais diafóbico do que nunca o menino. Como não sorri muito, nunca sei se está feliz de estudar em uma escola diafóbica ou não. Só sei que começou a escrever mais. Quem sabe, um dia, ele não nos dê um livro de contos sobre diafóbicos? Ou sobre os males da política? Aguardemos!
Econometria - O procedimento de Callaway e Sant’Anna (2021) já é parte do pacote econométrico Stata. Ele está explicado aqui (citado em 2398 trabalhos, diz-me o Google Scholar). A página do Pedro Sant’Anna está aqui.
Tablitas - Estava me lembrando dos tempos em que os pais da atual heterodoxia que reina na área econômica da administração da Silva pensava que congelar preços seria uma boa idéia para se combater a inflação.
Dizia-se que a inflação seria inercial (os mais fanáticos diziam que era ‘apenas’ inercial) e que a indexação era parte do problema (o que é correto). Assim, combater a indexação seria essencial a qualquer plano anti-inflacionário. Veja o caso das ORTN. Ah, você não sabe do que se trata?
Bem, em 1986, o governo usava a ORTN (Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional) como meio de se financiar evitando recorrer à emissão de moeda (não que conseguisse não recorrer à emissão, mas…).
Como os contratos habitacionais do antepassado do Minha Casa, Minha Vida, o Sistema Financeiro de Habitação (SFH) haviam incorporado a ORTN como indexador em seus contratos, bem, você imagina o que aconteceu: a indexação se disseminou por toda a economia.
Logo, uma das propostas do Plano Cruzado, como diz este texto, foi:
“(…) substituição das ORTNs pelas OTNs, que ficariam com o valor congelado durante doze (12) meses, transformaram-se os juros acima da correção monetária em juros nominais para os contratos pós-fixados com proibição de cláusulas de indexações em contratos com menos de um ano, com exceção das cadernetas de poupança, que teriam correção monetária, mas o reajuste voltava a ser trimestral. A Tablita, que era uma tabela de conversão com desvalorização diária de 0,45% para os contratos pré-fixados tinha o objetivo de retirar a inflação embutida e evitar a transferência de renda para os credores.”
Um parêntese: na busca por ‘tablita’, no Google, o primeiro resultado diz que a tablita eram as tabelas de preços, o que não é correto. Tablita era isto aí: uma tentativa de desindexar contratos (lenta e gradualmente?) com desvalorizações diárias.
Sim, o Plano Cruzado deu errado e as tablitas são parte da memória do país. Um problema adicional das tablitas, digo, da pesquisa por tablitas, é que os mais apressados tentam escapar da leitura dos livros e se dão muito mal usando o google ou o chatgp(icare)t(a).
Pois é, leitor. Tablitas, não fajitas. Aliás, eis um bom nome de banda: Tablitas & Fajitas.
Juó Bananére - Eh! U signôre i a signóra tutto pode acumpanyá u altro Bananére che ‘stá nu Tuíttere. Achi. Io ‘stô molto felicce perche aora son’mos duo Bananére bananérizando as rede sociale. Che alegria! Che fartura!
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler! (*)
(*) “até mais ler” foi plagiado do Orlando Tosetto, cuja newsletter, aliás, você deveria assinar.
Caso queira compartilhar, clique no botão abaixo.
Talvez você seja novo por estas bandas. Rapidamente: publico duas vezes por semana, geralmente às quartas e sábados. Eventualmente há algumas edições extraordinárias. Assinar (custo = R$ 0.00 + valor do seu tempo para apertar o botão subscribe com seu endereço de e-mail lá…) me ajuda bastante. A temática? De tudo um pouco. Confira os números anteriores aqui.