Se quiser falar comigo, bata três vezes na madeira! - Descarte! - Doutor Palhinha e o Crime do Whisky - Anúncio.
Quem tem medo do lobo mau, lobo mau, lobo mau?
Ok, você venceu, batata frita (sem glúten, sem gordura trans, consumido em excesso, é igual à política: mata). Ou então: chegou o v(3), n(49) da nippoletter mais divertida do planeta, segundo minha madrinha.
Se quiser falar comigo, bata três vezes na madeira! - Foi o que ela me disse. Quem? A secretária eletrônica da diretora. Sim, eu sei, quem é que ainda usa uma secretária eletrônica? Bem, ela, a diretora, figura carismática, controvertida e - por que não? - divertida.
Sempre assertiva e muito preocupada com o desempenho da equipe, a diretora estava sempre em alguma reunião, algum trabalho. Uma mulher de seu tempo, como se vê. Mais ou menos, né? Afinal, ela tem uma secretária eletrônica. Acho que você não me entendeu: ela realmente tem um aparelho em sua mesa, uma secretária eletrônica, destas que ainda existiam até a primeira metade do século.
Presente de um antigo funcionário, a secretária foi adotada desde o início. A diretora adorou a concepção. Só que, no dia em que foi gravar a mensagem, bebeu um pouco a mais do vinho e acabou deixando um se quiser falar comigo, bata três vezes na madeira!. Antes que pudesse apagar a mensagem, pois cochilou (derramando algum vinho em seu caríssimo tapete branco), recebeu algumas mensagens e, pensando na graça do ocorrido, resolveu deixar por isto mesmo.
Pois…foi só o sapeca sobrinho da diretora de 7 anos descobrir a mensagem que nunca mais ela teve paz. Houve um dia em que, ao reproduzir a fita, ouviu umas 300 batidas na madeira. Pior que, no dia, o presidente havia tentado contato com ela para um assunto urgente e aquilo quase lhe custou o emprego.
A diretora podia perder o amigo, o sobrinho, o pai, mas não o emprego (e nem a piada). Assim, bateu três vezes na madeira, comprou um celular e deixou a linha fixa para seu sobrinho favorito (era o único que tinha, mas ainda assim, dizia sempre ao moleque, era seu favorito)…e foram felizes para sempre.
Descarte! - Foi quando deixou a casa da namorada. Aos pontapés, claro, porque o fim das relações foi conflituoso. Ao invés de ter suas roupas jogadas pela janela como antigamente - o código de condutas das cidades tornou-se muito rígido, sabe? - seu descarte da vida dela ocorreu de forma, digamos assim, inusitada.
Quando, em uma modesta república, achou um quarto para se mudar, começou a transportar seus pertences, sempre após o expediente, ou seja, à noite (e aos finais de semana). Diligentemente separou e encaixou tudo, sempre alerta para não levar aquilo que não lhe pertencia.
Como foi então, que o inusitado descarte ocorreu? É que a namorada era uma bruxa. Não, não a xingo. Era mesmo uma bruxa. Não daquelas de primeira linha, mas uma bruxa modesta, uma espécie de faixa marrom do judô, digo, das bruxas. Não voava na vassoura, mas fazia pequenos feitiços e, claro, o namorado nada sabia destes seus atributos.
Usando o que havia aprendido na escola das bruxas (um curso que se tornou online, por conta da pandemia …), em cada caixa lacrada pelo namorado fez aparecer alguns objetos dos quais queria se descartar. Por que jogar no lixo quando podia fazer o maldito de mula?
Foi assim que, na caixa de roupas apareceram umas saias velhas. Na de livros, umas revistas de moda antigas. E o que dizer dos LPs do Wando, cantor que ele jamais ouvira? Até pacote de alho (eu disse que ela era bruxa, não vampira!) ele ganhou, só que na caixa do material de escritório…
No início, as estranhas aparições não lhe chamaram a atenção. Acumulou-as em um dos cantos da sala ao longo dos primeiros dias. Como a exótica pilha de objetos tomou uma ameaçadora dimensão, começou a elucubrar sobre como teria sido capaz de encaixotar objetos tão distintos dos que via como sendo, efetivamente, seus.
Em uma manhã de sábado, diante das xícaras com a figura do papa João Paulo II em tons esverdeados, das minissaias rasgadas, dos pratos de plástico e da coleção completa de discos de Simone, Joana, Fafá de Belém e do Balão Mágico, teve seu momento de epifania e descartou tudo que não reconheceu como seu.
Sim, a bruxinha conseguiu fazê-lo de lixeiro, mas ele não via isto como um problema. No final, cada um descartou o outro e tudo bem.
Dr. Palhinha e Crime do Whisky - Às vezes, Dr. Palhinha acordava de mau humor. Era um destes dias. Levantou-se do sofá, pisou em alguns restos de batatas fritas e quase derrubou a garrafa de cerveja que estava em cima da mesa. A vida solitária trazia-lhe vantagens e desvantagens, mas ele não abria mão de sua liberdade.
Após um demorado banho, trocou de roupa e tentou ressuscitar sua cafeteira que já havia tentado suicídio alegando excesso de trabalho. Com algum esforço, conseguiu fazer duas xícaras de café cuja qualidade poderia fazer com que fosse detido pelas autoridades responsáveis pela saúde pública, ou pela sua falecida avó, se pudesse ressuscitar... De sua geladeira arrancou alguma gororoba congelada e, pronto, estava feito seu luxuoso café da manhã.
Da janela de sua casa avistou Gohan, o gato branco do seu Yamazaki, o dono do hortifruti da esquina. Acenou-lhe e recebeu um miado em resposta. Gohan e Dr. Palhinha se conheciam já há alguns anos. Foi o investigador que o encontrou, ainda bebê, em uma caixa de papelão e o deu ao seu Yamazaki, na época, recém-enviuvado. Claro que foi amor à primeira vista.
Enquanto eu pensava em como contar a história do gato, o telefone celular de nosso herói vibrou.
‘- Olá.
- Doutor Palhinha, precisamos do senhor.
- Tá bão. Já vou. Quer pão com mortadela da padaria do Pipoca?
- Não perca tempo! Precisamos do senhor aqui. É um crime terrível.
- Tá bão. Já vou.’
Minutos depois, Doutor Palhinha encontrou a equipe do inspetor Pimenta em popular pastelaria no centro da cidade. Entrou e viu um corpo coberto com um cobertor velho.
‘- É o que tínhamos. Corte de verbas…
- O que que aconteceu, uai?
- A mulher teve uma fratura craniana. Parece que foi jogada contra a parede.
- Sei.
- E tem aquela garrafa de whisky ali. Ela estava ao lado do corpo. Daí o cheiro fort…
- Num precisa falar, ômi! Dá prá sentir de longe…’
Doutor Palhinha examinou a cena. Puxou o cobertor e examinou a ferida. Olhou novamente para a garrafa de whisky.
‘- E então, doutor Palhinha?
- É, acho que temos um suspeito. Ó, o whisky é irlandês. Só quem toma whisky irlandês é conservador, sabe? Destes que fazem vídeo pro iutyúbi.
- Eles não tomam vinho?
- Alguns, mas aí são aqueles carolas que só falam de religião. Este aí é um conservador que deve ser católico, mas sem muita carolice. Vai ver gosta de ler Chesterton.
- Sabe que umas testemunhas afirmam que havia mesmo um sujeito aqui com ela, antes do crime. Só que foi tudo tão rápido que quase ninguém viu o rosto da figura. Dizem que carregava mesmo um livro.
- Ele usava cachecol?
- Parece que sim.
- Prendam Luigi Marnoto!
- Quem?
- Vamô, ômi!’
Luigi Marnoto, famoso filósofo conservador (um ‘burkeano de cachecol’, diziam os amigos) - e também jogador de futebol (já havia até jogado bola com o Pelé, sabia?) - foi preso duas horas depois em sua mansão, no Itaim Bibi, e confessou o crime. Estava bêbado e teria discutido com a mulher por conta de algum comentário dela sobre seu cachecol.
‘- Foi sem querer, seu Palhin…
- Doutor Palhinha prá você, ômi.
- O senhor não conhece um certo Alexandre Soares…um escritor…acho que já o vi em algum conto…
- Teje preso e pare de tanta falação! Tá achando que sou um personagem de ficção? Junqueira! Algeme o elemento.
- Quinto elemento.
- Tá, algeme o quinto elemento!’
Doutor Palhinha havia resolvido mais um crime.
- Jogando bola com Pelé, sei…
- O que foi, doutor.
- Nada, Junqueira. Vamos embora que este conto já ficou muito hermético.
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Por hoje é só, pessoal e…até mais ler! (*)
(*) “até mais ler” foi plagiado do Orlando Tosetto, cuja newsletter, aliás, você deveria assinar.
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Minha primeira leitura de seus textos, confesso que fiquei um pouco perdido, mas ao final do texto entendi a proposta da sua newsletter e adorei. Senti um gostinho de Sherlock Holmes no Dr. Palhinha😁