Rebeca, Bela, Bubu e a Conexão Escocesa - Lembranças da Cidade Nova - Elon Musk, o boicote e as vilas japonesas - Charter Cities - Trocando as Bolas
Quem diria, heim, seu juiz? Logo o senhor?
O v(4), n(34) chegou mais rápido do que as revelações sobre os estranhos ritos que nosso Judiciário aceita seguir quando resolve atingir desafetos. Que tempos, meu amigo! Que tempos! Pelo menos ainda temos cerveja no freezer. Enquanto ela gela, vamos nos divertir um pouco? Bom, eu vou. Junte-se a mim!
Rebeca, Bela, Bubu e a Conexão Escocesa - Neste episódio, os espiões internacionais Bela e eu encontramos agentes do outro lado da Cortina de Ferro para uma ousada e perigosa troca de informações em um local que escondia - quem diria? - um verdadeiro tesouro. Vamos lá?
São Paulo, como qualquer um sabe, é uma grande metrópole e, assim sendo, é também um ponto de encontro da espionagem municipal, estadual, federal e, claro internacional. Espiões de Morro Redondo se encontram com os de Volta Redonda, Piracicaba, Los Angeles, Beijing etc.
O centro histórico da capital, degradado que está, ainda é palco de reuniões secretas (ou quase secretas porque, já viu, né? O povo é fofoqueiro.) em alguns raros pontos que os espiões consideram como seguros. Não que não haja um ou outro sniper em algum apartamento aparentemente abandonado, pronto para encerrar o fluxo das informações secretas, mas a imprensa raramente toca no assunto.
Desci no aeroporto naquela manhã convenientemente fria. Por que conveniente? Ora, porque podia usar meu colete cheio de bolsos nos quais guardo meus apetrechos de espião, além de alguns charutos e minha moeda da sorte que, aliás, salvou-me de um tiro certeiro quando me aventurei pela Indochina em busca da tarântula de ouro, mas isto é papo para outro dia.
O frio realmente incomodava, mas eu precisava correr. Precisava encontrar a agente Bela no O Império do Filet. Foi o que me passaram em mensagem cifrada, já na fila do desembarque. O tempo era importante e não podia me atrasar. Peguei um táxi e mandei Wesley (o motorista tinha esse nome, ou codinome…) tocar para o tal estabelecimento. Com sorte, ainda assistiria um pouco do jogo de futebol das moças nas Olimpíadas.
Lugar charmoso este O Império do Filet. Paredes de azulejos brancos e uns quadros alusivos à sua história e aos prêmios conquistados. Sentei-me e conferi o celular. Uma enigmática mensagem da agente Rebeca e de seu ajudante, o temível Bubu me informava que a agência (não posso dizer o nome, é secreto, sabe?) os havia designado para participar do encontro em nome de…ufa…quase digo. É secreto, leitor! O fato é que a dupla chegaria até às 13 horas.
Na televisão, o jogo corria, no primeiro tempo, a nosso favor. Só em campo identifiquei umas três agentes nossas e uma dos EUA. Eu pensava em como o futebol feminino era estranho para mim quando fui surpreendido.
“- A águia pousou.
- Não se sabe se é vinho ou água.”
Simples assim. Senha e contrassenha. Só uma pessoa usava esta senha. Virei-me e, sim, lá estava Bela, com seu capote preto e óculos escuros. Sentou-se ao meu lado e começamos a conversar frivolidades. Dei uma bela panorâmica no restaurante, mas não identifiquei suspeitos. Nem Mordecai, o lendário agente de Israel, nem o grande Zoktro, sagaz ilusionista de Moscou, arqui-inimigo de Doris Half Hammer, da sucursal novaiorquina da U.N.C.L.E.. Senti-me em segurança.
Conferi o celular e Rebeca me informava que iria se atrasar. Temi pela vida deles. Bubu sempre se metia com violentos jogadores de cassinos de Montenegro, o que sempre me preocupou. Ouvi um ronco. Não, não era um espião com metralhadora: era minha fome mesmo. Bela me olhou e, sem dizer nada, mostrou-me o cardápio. Uma rápida análise resultou em um pedido de um gigantesco bife de filé com batatas, acompanhado de arroz.
O jogo transcorria não muito a nosso favor. Bela me atualizou os códigos de nossos agentes no sudeste asiático e os novatos do Chipre. O tempo passava. Rebeca e Bubu já estavam meia-hora atrasados. Pensei em ir até um orelhão para ligar, mas Bela me lembrou de que não há mais orelhões e, se os há, são pontos de assalto ou de espiõescídios (a Lei Mata Hari, leitor, estabeleceu este novo tipo de crime…). Quando ia fazer a chamada, o filé, as batatas e o arroz chegaram.
O restaurante estava ganhando novos fregueses e eu temia pela segurança da missão. Nós, espiões, sabemos que existe uma espécie de número ótimo de espiões em uma aglomeração. Segundo o Manual do Espião, cujos autor e editora não mencionarei, para uma aglomeração de vinte pessoas, o número ótimo - i.e., aquela quantidade que não gera perigo para as missões é 6.55. Bom, mas 6.55? É, uns arredondam para 6 e outros para 7 e isto é uma controvérsia e tanto no meio. De todo modo, se meus instintos estivessem corretos, Bubu, Rebeca, Bela e eu seríamos os únicos ali, em, pelo menos, umas duas horas (dado o atraso dos dois).
Saboreávamos o filé e assistíamos à iminente derrota da seleção quando…
“- Osíris na balada.
- Sapo Caco é whisky”.
Sim, com uma hora de atraso, chegavam Rebeca e Bubu (a versão brasileira de Lady Penelope e Parker do antigo seriado de marionetes, Thunderbirds). Finalmente poderíamos completar o quebra-cabeças de nossa secretíssima missão.
Mortos de fome, o casal pediu o mesmo prato que nós.
“- Por que a demora?
- A Conexão Escocesa.
- De novo isso?
- É, né?
- Puxa vida…”.
A Conexão Escocesa, caro leitor, se é que posso falar dela, é uma operação maligna de vários de nossos inimigos. Envolve whisky, agentes escoceses e contrabando de gaitas de fole e outras drogas mais pesadas (brincadeira, o som da gaita de fole é-me agradável) e senhoras inocentes. Um horror! Um horror!
Pediram eles também o mesmo que nós porque, se já estávamos com fome, imagine os dois! O garçom esboçou um sorriso e quase puxei minha faca até me lembrar de que, ora bolas, ele só estava feliz com o aumento nos pedidos que lhe cabiam.
Nossa seleção havia tomado um gol e foi quando Rebeca e Bubu nos passaram uma folha de papel no qual podíamos ver frases escritas em código sofisticado. Uma, em especial, continha, finalmente, a mensagem principal que esclarecia toda nossa missão.
PêEpêlipêmipênem Pêo pêgarpêçom, pêele pêé pêo pêipênipêmipêgo!
Imediatamente chamamos o garçom e pedimos a conta. Ele trouxe a máquina e cada qual passou um quarto da conta total. Ele ia se despedir quando, subitamente caiu morto. Sim, os cartões estavam envenenados. Enquanto se formava um bolinho de gente (e umas senhoras soltavam gritos de horror), pegamos nossos óculos escuros, chapéus, capotes e saímos, lado a lado, em câmera lenta, como em um daqueles filmes de John Woo (ou como naqueles seriados japoneses em que, enquanto o monstro explode, os cinco mascarados de uniformes de cinco cores diferentes andam lentamente na direção do telespectador).
Descobriríamos depois que o garçom fazia parte da Conexão Escocesa…
Talvez este seja o fim, mas não nego, nem comprovo tudo o que você leu.
p.s. Rebeca e Bela podem ou não ser nomes fictícios. Bubu é o nome verdadeiro, acho.
Lembranças da Cidade Nova - Sempre que passo pela avenida Cristiano Machado eu me admiro: a zona leste da cidade era bem mais esparsa no passado. O bairro Cidade Nova cresceu mais ou menos comigo, bem, pelo menos a partir dos meus 13 anos.
Tivemos o Pop Pastel e, depois, a boate Baturité, como pontos de encontro de jovens. Ficavam ali perto da Feira dos Produtores, na confluência de algumas ruas (a principal sendo a Coronel Pedro Paulo Penido (que, na minha lembrança, tinha três nomes em seus subtrechos)) onde hoje ainda há um comércio, mas não sei mais do movimento boêmio de meu antigo bairro.
Quando nos mudamos para o bairro eu estava muito triste, pois as primeiras amizades da adolescência surgiram nos meus três anos anteriores, morando no outro lado da cidade, no bairro Serra. Levei um tempo para aceitar sair de casa para conhecer os vizinhos de idade similar. Alguns deles levei para toda a vida. Talvez eu pudesse ter desentocado antes, mas cada um tem um tempo certo para se permitir viver.
O leitor mais jovem pode achar estranho, mas naquele tempo não era fácil encontrar-se com amigos que morassem longe. Minha família não era rica e viagens de ônibus, tanto lá como hoje, são demoradas. Falar ao telefone era caro e você ainda tinha que ter a sorte de encontrar seu amigo em casa, ou a ligação terminaria rapidamente com educada despedida à mãe ou irmã mais velha de seu correligionário de passeios.
A zona leste cresceu muito com a implantação do Minas Shopping e do gigantesco atacado vizinho e o, sempre bom, Baby Beef (que ainda resiste ao passar dos anos). Várias de minhas tardes de sábado foram dedicadas a uma caminhada de ida e volta a este shopping. Às vezes com amigos, às vezes só. Hoje, percebo que programas solitários ocupavam boa parte dos meus passeios. O que um jovem sem dinheiro pode fazer para se divertir?
Elon Musk, o boicote e as vilas japonesas - Na discussão sobre a batalha legal entre Elon Musk e uma associação de anunciantes (GARM) que tentou boicotá-lo antes dele se transformar no chefão do X (ex-Twitter), o excelente professor de Teoria dos Jogos, Eric Rasmusen, menciona um fato curioso.
If one member of a Japanese village was ostracized by the rest, he could sue them and win. Any one villager was free to ostracize someone, but he couldn’t do it as part of a group effort.
O artigo (versão preliminar) está aqui. É um estudo sobre ostracismo e, em tempos da intolerante cultura do cancelamento, uma leitura destas é mais do que importante. Aliás, o No Apologies, de Katherine Brodsky, é um livro (em inglês apenas) que também merece a atenção de quem se interessa pelo tema.
A máquina do desenvolvimento norte-americana são as suas universidades e a cultura do cancelamento - alimentada por gente das próprias universidades, como a plagiadora Claudine Gay - é o que permitirá a ditaduras que não ignoram o poder da ciência (como a China continental) ultrapassar nosso poderoso vizinho, para a alegria dos que usam e abusam da palavra “democracia”. Só posso lamentar…
Charter Cities - O João Loyola fez um ótimo texto sobre o tema. Fiquei feliz em ser citado, mas o texto é ótimo mesmo, a despeito disto.
Trocando as Bolas - Não assistiu ainda? Não perca mais tempo! O programa é semanal.
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler! (*)
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