Quer ver um milagre de multiplicação dos pães? Pergunte-me como.
E lá vou eu falar de pão francês...
O v(1) n(19) traz um curioso relato (curioso para alguns de vocês, creio) sobre um certo milagre da multiplicação de pães que aconteceu comigo. Serei eu um santo? Descubra a seguir. Outros assuntos, como sempre, complementam este número.
Desejo a todos um bom dia!
O meu ‘quase-milagre’ da multiplicação dos pães - Descobri uma padaria nova, meses atrás. aqui perto. Tem ótimos produtos, bem perto de onde moro, o que facilita minha vida para obter o que comer ou beber. Sim, eu sei que não se pode só comer pão e beber água com gás, mas você me entendeu: tenho uma economia de tempo.
Pois foi naquela segunda-feira em que tudo de mais insano me aconteceu que eu vi um quase-milagre da multiplicação dos pães. Aconteceu mais ou menos como narro a seguir.
Logo quando a descobri, vi que tinham lá um cartão-fidelidade. Você completava dez compras de mais de tantos reais e ganhava pães franceses. Por algum motivo, quando conversei com a caixa, entendi que eram três pães e, mesmo com o cartão berrando para mim que eram dez, segui confiando em minha memória auditiva.
Passados alguns meses, completada a cartela, aguardava a oportunidade de ir até a padaria. O leitor deve ser informado, creio, que não sou exatamente um fanático por pães, um acumulador de focaccias, nem um devorador de bolos (talvez eu tenha mentido aqui). Não senhor.
Eu apenas pensava em comer um pão (francês) com presunto e queijo destes que vêm em belíssimas e eficientes embalagens de plástico e que se abrem facilmente, revelando uma pequena toalhinha de queijo. Duas fatias de presunto, uma de queijo e estou feliz. Não absurdamente feliz, mas simples e mundanamente feliz.
Posto isto, chegou o dia em que resolvi usufruir do meu direito conquistado. Cheguei à padaria, que não estava tão cheia, encontrei a atendente (que preencheu boa parte da cartela, diga-se de passagem) e confirmei que eram…opa…dez pães! Assustado, forcei-me a ler a cartela mais uma vez. Ok, agora eu teria dez, não três, pães.
Meu primeiro pensamento foi o de que poderia congelar os pães. Satisfeito com a ideia, mentalmente eu me derreti em elogios à minha perspicácia, talvez tentando esconder o desconforto com a ideia de ter errado por ter acreditado no que ouvi da atendente sob a máscara que nos acostumamos a usar (ah, estas sim, as culpadas!).
Vi que o pão de queijo me chamava e pedi os dez pães franceses e um pão de queijo. Ao entrar na fila, eu me distraí com um bolo de milho verde que me comia com os olhos (ou seria o oposto?). Seduzido, peguei-o. Pensei que gastaria uns trinta reais ali. Ao mesmo tempo, pensamentos dos problemas irresolvidos do serviço me incomodavam.
Cheguei ao caixa e não era a familiar atendente a que me atendeu. Dei-lhe a cartela e paguei. Foram uns quarenta reais. Algo me ocorreu, mas eu me distraí. Para minha sorte, guardei a nota.
Sim, ela havia me cobrado os dez pães e eu, algo distraidamente, algo incrédulo, algo preocupado com problemas (põe aí um terço para cada um e teremos uma média aritmética simples da minha preocupação) não me detive.
Fui para casa. Peguei o celular e, para minha alegria, a turma resolvia o problema que me atormentou o dia todo. Algo me perturbava e, claro, chequei a nota fiscal descobrindo que minha cartela havia sido solenemente ignorada pela (também distraída?) atendente.
Sou um homem que não gosta de conflitos e que não gosta de ser pego compreendendo mal alguma coisa. Como uma chuva fina caía, descobri o telefone da padaria e redigi um pequeno texto no aplicativo de mensagens para o gerente que, claro, ignorou-me porque estes telefones parecem existir apenas para cumprir alguma legislação municipal.
Com o fim da chuva e com o problema do serviço já em solução avançada (que alegria!), parti para a padaria em busca de algum esclarecimento (alguns dirão: iluminação, satoru (悟), etc.). Para minha sorte a atendente com a qual geralmente trato estava no caixa. Após atender um casal de crianças, ela me atendeu e, esclarecida a situação, tive de volta minha cartela à qual poderá ser trocada por mais 10 pães franceses.
Assim o leitor percebe que passei por um peculiar processo ‘milagroso’ em que os pães se multiplicaram. O que esperava (ingenuamente, para não me xingar de algo pior) serem 3 pães viraram 10 e, estes 10, ainda que com algum custo, viraram 20 (e ainda ganhei uma cartela nova, já com uma bolinha marcada…).
O dia foi confuso com vários problemas - que não dependiam de mim, nem da minha equipe, mas de terceiros - que só foram se resolver no final do dia (literalmente, às 17:58 e a padaria, pouco depois disso). Isto me levou a uma reflexão profunda sobre meu relacionamento com a fortuna (no sentido de sorte).
Mais cedo, conversando com a secretária, eu comentava que eu já considerava me comportar de forma errática, insana mesmo, esperando com isso mostrar ao universo - também insano - que havia entrado em sintonia, o que, presumia, poderia ser a chave para tudo voltar ao normal. Funciona na série da TV e todo mundo adora o que passa na TV. Poderia dar certo, né?
Ou não. Talvez a TV também fizesse (ou ainda faça) parte deste plano do universo contra mim…
Também pensei em enviar uma mensagem para o presidente russo informando que o sistema que travava a minha vida (e de parte de minha equipe) era parte do território ucraniano, na esperança de que ele, de certo modo, acabasse com meus problemas. Só não fui adiante porque não tinha o endereço de e-email dele.
Há a possibilidade de que Deus tenha resolvido escrever o certo por linhas tortas, mas sabendo dos meus garranchos, tenha tentado escrever o certo por linhas de caderno de caligrafia, o que, por sua vez, pode ter sido um problema na burocracia divina que manipula as restrições que se impõem para testar meu livre arbítrio. Afinal, vai que Deus também usa um sistema igual ao que deu pau hoje, só que em escala muito mais, digamos, onipotente, onipresente e autolimpante.
Ou talvez seja mesmo um milagre e eu deva ser respeitado como um santo e deva mandar fazer uns cartões em que conste lá que sou São Claudio (ou São Cláudio, mas esta é uma polêmica para o futuro).
Vou dizer a você, leitor, não sei que lição tirar disso. Mas sei que vou economizar nas refeições do aplicativo e comer uns pães com presunto nos próximos dias. Às vezes acho que vivo em um esquete do Monty Python (o que, de certa maneira, deixa-me até feliz).
Eram tantas batalhas… - Batalhas, batalhas e batalhas. Às vezes parece que perdemos até o apoio da liderança. Acho até que isso procede. Ficamos só nós, ali, na trincheira, à espera de munição e apoio na retaguarda (apoio que nem sempre chega).
Tá achando que vão comemorar o Natal com você como na 1a Guerra? Pode esquecer. O pessoal não quer sair das trincheiras. Aos poucos vou me sentindo mais e mais cansado. Fecho os olhos durante o tiroteio e, sabe, só queria viver com a família Ingalls em Little House on the Prairie (Os Pioneiros, por aqui).
Intervalo: voltei ao bolo de milho do texto anterior. O negócio é gostoso mesmo…
As rainhas que não eram amigas - É um livro infantil de Rebeca Loureiro que, claro, dei de presente para minha espertíssima afilhada.
Comecei a ler sobre dois ricos países e ela não pestanejou:
“- Dindo, rico? Peraí!!”
Correu para o quarto tão rápido quanto voltou, carregando seu cofre em forma de urso (presente dos dindos para ela, diga-se de passagem). Como o cofre é de plástico (e transparente), pude ver lá umas muitas moedas e uma nota de dois reais. Fiquei chateado por não ter uma moeda na hora para lhe presentear, mas prometo me preparar melhor na próxima visita.
O livro? Sim, o livro é ótimo e a história tem uma lição importante que valoriza a amizade (não dou mais spoilers porque o bom é você comprá-lo, né?
Empreendedorismo no Brasil - Reencontrei minha xará, engraxate, que trabalhava no aeroporto de Brasília. Agora trabalha em um conjunto de lojas, no Lago Sul. Diferentemente de antes, trabalha pra si, com o marido. Duas cadeiras.
Por que falar da dona Claudia? Porque o serviço dela é excelente. Mais ainda: como não trabalha para outrem, o preço caiu (minha memória é ruim, mas tenho certeza de que paguei muito mais pelo - repito - excelente serviço em 2020 ou 2021.
Também porque eu fico feliz de ver que gente competente e esforçada enfrenta crises e as supera. Não, dona Claudia não tem um iate e nem vive numa mansão. Mas ela e o marido venceram os dois anos da pandemia. E meus sapatos foram salvos pela segunda vez.
Eu gosto de empreendedorismo por isto. Porque aumenta as oportunidades das pessoas, ajuda imigrantes a se instalarem no país e propicia ganhos para aqueles que persistem nas boas práticas.
Não é que empreendedorismo seja sinônimo de virtude ou bondade. Não mesmo. A prática rent-seeking não é uma peça de ficção, mas uma realidade. O que não nos impede, obviamente, de, como disse o falecido - e criativo - economista William J. Baumol, de apreciar o empreendedorismo produtivo.
Boas instituições são as que estimulam mais o empreendedorismo produtivo do que aquele voltado para o rent-seeking. Simples assim.
Governança Radical - Acho que um dos temas que acho não apenas interessante, teoricamente, mas importante, pensando em nossa realidade, é o de como o governo pode produzir bens públicos com menos ineficiência.
Sim, há vários problemas aí (corrupção, etc). Mas saber que arranjos contratuais podem ser testados e analisados sob bons métodos é reconfortante. Talvez a conclusão destacada pelo comentador do tuíte abaixo não seja tão agradável assim, mas, afinal, não é justamente no útero do desconforto que as expertises e a inquietação se unem para gerar novas pesquisas? (É, não sei se foi uma boa figura de linguagem…)
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Qualquer análise séria de uma política pública não pode olhar separadamente o custo e o benefício e, sim, é bem complicada a vida de quem deseja fazer a análise do custo-benefício de uma política. Mas se este é o seu desejo, enfie a cara nos livros e estude muito porque esta é uma área de pesquisa que ainda é carente de muitos bons talentos.
Parei para pensar nisto… (1) - E realmente, o Jacó…
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Parei para pensar nisto…(2) - …e agora não consigo ‘desver’ Olívio Palito, o que me causa algum desconforto (mas não posso evitar uma sonora gargalhada).
![Twitter avatar for @AnnyManrich](https://substackcdn.com/image/twitter_name/w_96/AnnyManrich.jpg)
Até mais ler - O Orlando escreve tão bem que morro de inveja a cada newsletter nova dele. Na última tem o até mais ler que incorporarei aqui.
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler!
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