O v(5), n(19) da newsletter chegou, minha gente. Não adianta fingir que não o viu.
Pois é… - Pois é, eu até pensei em dizer a ela tudo o que eu achava a respeito daquela moqueca, mas desisti. Sempre que olhava para ela, sentia algo diferente, uma certa passividade e nunca conseguia ser sincero. Talvez fosse sua beleza, indestrutível e vencedora sobre qualquer roupa que usasse (ou que não usasse), sua beleza hipnótica. Acho que me apaixonei desde que a vi pela primeira vez e nunca mais deixei de amá-la. Por isso, nem falei daquele espinho de peixe na moqueca. É verdade que ele me machucou a garganta e desceu dolorosamente, sangrando-me por dentro. Deitei-me ao seu lado e, suportando a dor, senti muito sono. Morri com hemorragia interna.
Sebos - Estive em um sebo semana passada. Um pouco careiro, mas achei por lá um bom presente para um grande amigo. Temos este hábito eu, ele e outro amigo: vez por outra trocamos livros comprados em sebos. Para alguns pode parecer indelicado presentear com livros usados, eu sei. Contudo, quem gosta do cheiro de livro velho sabe como é. Um livro velho, às vezes, vem com prêmios. Outro dia mesmo, ao chegar no quarto do hotel, descobri que um livro usado comprado vinha com autógrafo do próprio autor! Que alegria! A gente descobre boas surpresas em livros usados.
Nihonjin - É o livro, digo, o título do livro de Oscar Nakasato (fiquei na dúvida se é Nakassato ou Nakazato, já que a grafia usual me faria escolher o primeiro, mas desconfio que o autor, pela cacofonia, deve ser mesmo Nakazato. É um palpite, claro). Nossa, que parêntese longo!
Eu falava do livro, ah sim. Isso, é isso mesmo. O livro é muito bom. Narrativa envolvente e uma história que toca no coração dos descendentes, sejam eles nisseis, sanseis, yonseis ou mesmo goseis. Reconheci no livro traços da história de meu pai e de seus pais, sem falar nos pais e avós de outros amigos da colônia.
Recomendaram para mim e eu repasso: leia que é bom mesmo!
p.s. o próximo passo é ler “Ojiichan” (“vovô”), lançado em 2024, antes do Nihonjin.
Mii kun - Reiji Matsumoto (conhecido também como Leiji Matsumoto) tinha um gato que o inspirou a criar o Mii kun (kun é sufixo, em geral para moços, crianças, enfim, alguém do sexo masculino mais novo do que você). Mii kun apareceu em vários de seus mangás e animes.
Escrever - Outro dia, com alguns amigos, surgiu a pergunta: por que é que você escreve? Uma resposta comum, disseram-me, é que você viu ou viveu uma história e bate aquela vontade de contá-la para o mundo. É uma legítima e ótima fonte de bons ensaios, contos, crônicas etc. etc.
No meu caso - e sou sincero - a escrita me impede de enlouquecer. Algo no exercício rotineiro da escrita me faz esquecer das chateações da vida. Eu sei que não sou lá aquele escritor (mas já começo a, sinceramente, acreditar que posso entrar na ABL…), mas de que me importa ser ou não um exímio escriba? Eu preciso manter minha sanidade. Sustar o processo lento e discreto de insanidade dentro do meu cérebro.
Obviamente, escrever para contar uma boa história também é uma motivação, mas nem sempre tenho boas histórias. Talvez, agora, pensando melhor, isto se deva ao fato da insanidade tentar me embotar os pensamentos racionais ou os criativos. Alguém poderia dizer que a insanidade seria uma espécie de tempero que melhoraria a escrita. Pode ser, mas eu duvido. Pelo menos, acredito, no meu caso é o oposto. Isto mais parece desculpa de alcóolatra ou viciado em drogas para se dopar para, supostamente, produzir sua obra-prima.
Não, não. A vida é insana e seu significado não existe a priori, sendo construído por cada um de nós ao longo da caótica caminhada. Sempre buscamos um rumo - o que não significa que dele não desviemos em algumas ocasiões - mas é um rumo rudimentar, baseado em alguns princípios que, em certos momentos da história, são jogados no lixo por gente muito pouco chegada a uma reflexão sincera…
A vida é insana e, paradoxalmente, buscamos nela a sanidade. Organizar os fatos e buscar explicações - sejam elas religiosas ou científicas é o que nos move (Alberto Oliva diria, como disse em um de seus livros, que a religião responde às questões da fé e a ciência nos responde as outras questões). Ah, vida, como você é um pé no saco da minha existência! É, sei que soa estranho, mas é isto mesmo.
“Escrever é preciso. Escrever ou Morrer!”, grita o autor desesperado. Aos poucos, as palavras saem de sua mente e passam para o teclado (ou para a pena, ou para o lápis etc.)…eis-me aqui, pois, escrito. Eis-me, o texto, algo caótico, que você afirmou ser a sua tábua racional de salvação contra a insanidade! Rá! Ti! Bum! Supere esta, autor!
Até mais ler!
(*) “até mais ler” foi plagiado do Orlando Tosetto, cuja newsletter, aliás, você deveria assinar.
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