Pessoas que evaporam - São muitos os convidados - Claudia Goldin - Save the Date - São seus ovos, querido - Outros.
Para discutir o seu green card, imigração é um assunto simples. Para censurar piadas, também. Já quando uma criança é decepada em Israel, bem, é um assunto muito complexo...
O v(3), n(59) chega triste em sua caixa de mensagens porque iniciou-se mais um conflito no Oriente Médio envolvendo, explicitamente, sequestro de civis e não há um ser humano realmente preocupado com a paz (e o amor) que não repudie este tipo de coisa. Pessoas não faleceram, autoridades brasileiras. Elas foram assassinadas. Assassinadas.
À guerra de Putin na Ucrânia soma-se esta, do Hamas. O final de 2023 que não tem notícias tão boas neste país, recebe mais um choque negativo.
Mesmo os que torcem pelo conflito porque gostam do Hamas não devem se esquecer: isto pode ampliar a incerteza e diminuir o ritmo de queda da taxa Selic. Tomara que cheguemos ao final do ano sem tanto prejuízo (financeiro e humano).
Pessoas que evaporam - A onda de calor tem sido intensa nos últimos dias e, não sei se por causa dela ou se por outro motivo, comecei a perceber que algumas pessoas parecem estar borradas em seus contornos.
Olho para a janela, de dentro do Uber sem ar condicionado, e vejo pessoas caminhando ou paradas e, sim, todas parecem estar evaporando. Não sei dizer se são todas ou somente algumas. O fenômeno é novo para mim e eu nunca ouvi falar de alguém que tivesse experimentado algo remotamente similar.
Tentei colocar colírio nos olhos, esfregá-los, mas sigo tendo esta estranha visão das pessoas. Elas parecem evaporar, mas nunca totalmente. É estranho. Quando chego perto de algumas delas para conversar ou por algum outro motivo, elas parecem normais.
Após alguns dias nesta insólita situação, consultei um médico que me pediu uns exames e - adivinhe só! - nada foi detectado. Concluí, por falta de maiores elementos, que o problema simplesmente ainda não encontra um exame médico
(ou laboratorial) à sua altura. Olho à minha volta e vejo pessoas que parecem evaporar.
Talvez exista mesmo uma alma e, por algum motivo, algumas pessoas estejam com a alma à flor da pele. A morte e a vida em um embate mais visível? Pode ser, pode ser. O que eu não sei explicar é o porquê disto ter começado por estes tempos. Sempre tivemos retrocessos políticos, econômicos, guerras e barbaridades. A única coisa que mudou é que, de uns tempos para cá, pessoas gealmente maduras andam passando pano para os mais absurdos dos absurdos como se a vida fosse apenas uma questão de escolher entre o que nos dizem ser o bem ou o mal.
Esta minha teoria - você prontamente protestará! - não tem como ser testada. Pode ser que eu esteja sofrendo de alucinações, não é? Bem, o problema é que não mudei nenhum hábito ou remédio nos últimos tempos. Já a tolerância com a intolerância, esta sim, vejo-a muito maior do que antes. Tanto que já chamam liberdade de expressão de fascismo, sob os olhares beneplácitos de gente que sabe muito bem que isto não procede.
Pode ser que, agora pensando melhor, meu corpo não esteja funcionando bem. Algo em mim pode estar defeituoso e, por este motivo, talvez eu esteja vendo pessoas que parecem se evaporar. Perturbador, mas plausível. Afinal, que raios de pessoas são estas que parecem se evaporar, mas não chegam às vias de fato? Por que é que permanecem neste eterno devir? O que elas querem de mim? Por que é que isto acontece comigo? Por que fui escolhido para experimentar este pedacinho da loucura?
Olhe para mim e diga-me que não estou louco! Você também pode ver que estão todos evaporando, não minta! Não é possível que apenas eu…espere, olhe-se no espelho! Você também está se tornando indistinguível do resto! Também está evaporando. Talvez estejamos vivendo um esticado segundo sob a explosão de uma bomba atômica. Esticado porque somos punidos por nossos pecados e purificados durante a explosão.
Só pode ser isso. Não concorda comigo? Feche os olhos e sinta seu corpo se evaporar em meio a este calor intenso. Estamos indo embora, meu caro. Finalmente…
São muitos os convidados - Quando eu era jovem e frequentava a igreja com alguma regularidade, durante muito tempo ajudei no preparo das missas, além de participar delas. Marcante mesmo era o refrão de uma das canções, cujo nome não me lembro (mas a internet me informa: Vocação), e que dizia: '“São muitos os convidados, quase ninguém tem tempo”.
Eis um trecho:
São muitos os convidados
São muitos os convidados
Quase ninguém tem tempo
Quase ninguém tem tempoSe ouvires a voz de Deus
Chamando sem cessar
Se ouvires a voz do mundo
Querendo te enganarA decisão é tua
A decisão é tua
A música deixa claro que não é o meio, o céu ou o mar, nem a poluição ou a pobreza, nem a desigualdade: a responsabilidade pela decisão é, em última instância, sua.
Além disto, os convidados sem tempo não se restringem apenas ao chamado vocacional. Apesar de não ouvir a canção toda há algum tempo, o refrão dos convidados sempre ecoa em minha mente porque, na vida, há tantos momentos em que somos convidados a alguma tarefa que, sim, pode ser que não tenhamos tempo mesmo…
Só que há também momentos em que estamos com tempo livre e o convite para melhorar a própria vida quase grita em nossos ouvidos que, embora limpos, parecem cobertos de cera.
Há o convite para um futuro profissional melhor que ignoram(os) ao não estudar(mos). Há também o convite para a reflexão que, supostamente, é algo que até Paulo Freire dizia querer e que é recusado porque já sabemos que quem de nós discorda só pode ser fascista. O que dizer do convite para julgar as pessoas conforme as leis? Poucos que juraram respeitar a Constituição o fazem em seus julgamentos. O diabo está na falta de tempo.
Claudia Goldin - Além do belo nome, Claudia Goldin é uma pesquisadora em História Econômica. Junta-se a Fogel e North em um Nobel que nos lembra da importância do campo (história econômica) na construção de nosso conhecimento sobre a realidade.
Em 1992, aliás, ela comentou o Nobel dos dois gigantes, neste artigo. Outros trabalhos dela estão aqui. Claudia Goldin sempre fez trabalhos sérios com dados, o que nem sempre agrada o pessoal que acha que ciência não deve ter tantos dados porque, sabe como é, dados são ‘frios e sem coração’.
Uma passada de olhos sobre seus trabalhos mais recentes mostra que a historiadora tem preocupações antenadas com os principais problemas de nosso tempo. Não é só o hiato de rendimentos entre homens e mulheres, mas também o impacto da Covid-19 ou a questão do envelhecimento populacional. Aliás, há até o estudo dela que tenta explicar a vantagem, empiricamente verificada, das mulheres no que diz respeito à expectativa de vida.
Para mim, um Nobel bem recebido (e inesperado).
Save the Date - O amigo e a amiga que estiver em São Paulo no início de novembro pode querer saber deste evento. Há várias apresentações de trabalhos e três palestras.
São seus ovos, querido - O curioso caso do taiwanês que criou caso por conta de um programa governamental de importação de ovos. Alguns deles, aliás, foram comprados do Brasil.
Breaking News - Após o anúncio do Nobel para Claudia Goldin por seu estudos sobre, dentre outros, a disparidade de rendimentos entre homens e mulheres, várias amigas economistas (mestrandas, doutorandas, mestres e doutoras) abriram mão de parte do salário para não invalidar os resultados da colega agraciada.
É isso aí, meninas! Estamos juntos (como não tenho lugar de fala, não posso ajudá—las neste generoso ato)!
César Miranda - O simpático César Miranda (conhecido do tal “X” e de outras bandas) esteve em Belo Horizonte e quase não nos encontramos. Obviamente, ele queria fugir de mim, pois conhece a minha fama.
Não deu certo. E também o obriguei a almoçar comigo em conhecida cantina da cidade. Falamos mal de todos que não estavam lá (e que são da convivência comum, senão o tempo não seria suficiente) e bem de nós mesmos que é como os cavalheiros fazem.
É difícil conhecer pessoas…pessoalmente hoje em dia. Ficou tão incomum conhecer pessoas assim que, note, a gente valoriza bastante estes encontros. Há quem promova eventos nestes casos. De minha parte só digo que foi um prazer imenso. César é um cara muito bacana e sortudo: tem uma simpática esposa que o atura (maldade, maldade, ele é legal…mas se há uma piada e uma chance de perder a amizade…).
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler! (*)
(*) “até mais ler” foi plagiado do Orlando Tosetto, cuja newsletter, aliás, você deveria assinar.
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Talvez você seja novo por estas bandas. Rapidamente: publico geralmente às quartas. Eventualmente há algumas edições extraordinárias. Assinar (custo = R$ 0.00 + valor do seu tempo para apertar o botão subscribe com seu endereço de e-mail lá…) me ajuda bastante. A temática? De tudo um pouco. Confira os números anteriores aqui.