Paixões - Os dias - Trocando as Bolas - Dia 20 - Esquecer um amor não correspondido - Nuvens.
O dia está chegando...
O v(5), n(25) chegou, em meio ao frio que se abateu sobre a cidade, tornando o belo horizonte mais belo ainda.
Paixões - Paixões vão e vêm. Outro dia foi o seu Paixão que saiu de casa para fazer as compras do mês e se perdeu na frente de um caminhão desgovernado no mesmo dia em que seu sobrinho nasceu. Acontece com Paixões, com Portos, Fidalgos, Caldeiras…
O vai e vem das (e dos) Paixões é, portanto, apenas mais uma prova de que a vida continua e que a regra é a de que a transitoriedade ocupa mais de nosso tempo do que as permanências (o que me leva a pensar que ‘conservadores’ prefiram, na verdade, ‘transitoriedades’ mais longas, não ‘permanências’, por exemplo).
É verdade (para mim) que as paixões nem sempre são correspondidas. Trata-se de um fato corriqueiro em minha existência cômica. Houve a vez em que me apaixonei por um Ferrorama, por exemplo, mas apenas filhos de pais abastados podiam ser agraciados com este belíssimo brinquedo. E o Autorama? Um dos motivos de eu não ter me tornado um fã de fórmula 1, creio, foi não poder ter um na infância. É desde cedo que aprendemos sobre os limites e as possibilidades de Papai Noel…
Eu tive, decerto, outras paixões, algumas correspondidas - e que depois se revelariam mais transitórias do que minhas expectativas - e outras não (a maioria). Evidentemente, o passar dos anos (ou o peso da idade, conforme seu humor) foi trazendo uma certa sabedoria (se não trouxesse eu seria um incapaz, creio) com relação às paixões. Aprendi que algumas paixões moram mais em minha imaginação do que na realidade. Melhor dizendo, elas nem sempre têm fundamentos na realidade, mas apenas em certos desejos.
Obviamente, no meu mundo ideal, todas as minhas paixões seriam fundamentadas. Por exemplo: um convite para um café seria, de fato, um convite feito a este belíssimo exemplo da espécie humana (por óbvio, eu) teria uma segunda intenção apaixonada, o que tornaria o café apenas o prelúdio para uma ópera (ou uma opereta) de final feliz, a despeito dos percalços dos heróis e heroínas envolvidos.
Sobre óperas, aliás, recentemente assisti a uma de Ravel, algo como “O Relojoeiro Espanhol” (não vou pesquisar o nome agora, mas é algo assim, juro!), divertidíssima. Em geral, sempre fui capturado pelas óperas de Wagner, este gênio de péssimo caráter que andou pela Alemanha no final do século 19. Ainda são minhas favoritas, mas há tempos não as escuto. Creio que ainda tenho a caixa de CDs com algumas delas compradas há muitos anos.
É possível se apaixonar por alguém assistindo a uma ópera? Eis uma pergunta sem muito sentido, ou importância que me ocorre neste exato momento. Creio que se eu fosse me apaixonar por alguém seria no intervalo entre os atos da ópera. Estaria eu passeando pelo saguão para, como dizem por aí, “esticar as pernas” e veria, aos longe, aquela bela mulher, de cabelos longos, olhos feitos para a sedução e gesticulações suaves de mãos que lhe dariam o aspecto de uma garça. De boca pequena e sorriso particularmente simpático, a moça sequer iria notar meu brevíssimo olhar (até porque brevíssimo, né?). E a imagem dela ficaria marcado a ferro quente, para sempre, em meu coração (e é por isso que paixões causam tanta dor).
Após este intenso momento de apreciação, claro, eu voltaria para o segundo ato da ópera e jamais iria vê-la novamente. Ou iria, mas de nada adiantaria porque, sabe como é, não sou lá aquele maestro nas artes do cortejar. “O mundo me fez assim”, poderia dizer, claro. Seria preguiçoso de minha parte porque, no fundo, no fundo, parte do mundo foi feito por mim. Meu reino, meu mundo, meu castelo. São realidades parcialmente construídas por mim, com insumos da realidade e da imaginação.
Imaginação esta que, aliás, viaja muito, sonha muito e, por isso, sempre me dá um cansaço porque a realidade é sempre mais pobre ou mais cruel. Nada que não possa ser atenuado com o olhar de cada um dos filhotes que me cercam agora. Mii kun e Momo chan querem brincar e Mii, eloquentemente, chama minha atenção para si, motivo pelo qual interrompo esta reflexão.
p.s. Moças de boca grande também me agradam. Nada de reclamação!
Os dias - Têm sido longos estes últimos dias. O povo brasileiro aceitou a maior censura nas redes sociais, a esquerda se mostrou extremista, desfazendo as ilusões que tínhamos sobre seu suposto amor à democracia e às instituições acima de tudo. É só falar “INSS” e eles esbravejam, acusando o ‘neoliberalismo’, o ‘liberalismo’, o ‘bolsonarismo’ ou o ‘americanismo’ (nesta hora eles não arriscam a dizer ‘estadunidentismo’, porque, sabe como é, não são idiotas, embora nos achem estúpidos). Insinuar que ocorreu no governo deles? Crime capital, sinônimo de ‘terraplanismo’ ou, sei lá, motivo para o STF censurar (e ele o fará, principalmente se você falar da necessidade do judiciário se ajustar e rever seu peso na Reforma da Previdência, pode apostar).
Os dias têm me mostrado que estamos em um país sem lei e em um mundo onde as relações ficaram complicadas. A ditadura venezuelana é chamada de democracia por nossa extrema-esquerda que também é antisemita (um passo para ser nazista, um pequeno passo, é o que falta…) e os comentaristas da TV, em franca decadência, tentam desconversar com seus argumentos supostamente técnicos ou com suas piadas infantilizadas.
Infantilizadas? Sim, pois um povo que se submete aos caprichos dos poderosos e entrega sua liberdade não pode ser tratado como adulto pois não se comporta como tal. É esta grande parte do povo brasileiro, aliás. Não é um ‘povinho’, mas um povo sem coragem, eunuco de desejo de independência, castrado pelos de sempre que promete mundos e fundos, mas só faz arrancar impostos de tudo o que há (só falta um asobre a respiração), em nome do ‘meio ambiente’, da ‘igualdade de gênero’, do ‘fim do racismo’ e outros objetivos igualmente sonoros e belos, mas que apenas são um verniz para um verdadeiro massacre da independência individual.
Houve um tempo em que isto era uma fala de velhos ranzinzas. Hoje, é fala de velhos ranzinzas porque o jovem, ah, o jovem..o jovem, este aí, chamado por muitos de ‘xóven’, acha-se independente e inteligente porque nasceu já no mundo da internet e entendeu tudo errado: achou que era para terceirizar o pensamento e abrir mão da liberdade por, sei lá, um joguinho online. Como os pais estavam muito ocupados trabalhando (ou traindo um ao outro, nas sombras…), deixaram de lado o puxão de orelha providencial e aí as crianças fizeram 30 anos de idade e não querem sair da casa dos pais. Particularmente, não consigo imaginar castigo mais merecido…
Velhos ranzinzas…
…em que me torno? Há retorno possível? Ou só mesmo a morte agora? Vai saber…
Trocando as Bolas - O último está ótimo!
Dia 20 - Dia 20 será o dia em que ficarei mais velho. Há alguns anos que meu aniversário não me agrada mais. Vinha assim até a pandemia, quando conheci e fiz novos amigos que me mostraram que ainda havia o que se comemorar.
Honestamente, não são os melhores tempos para se comemorar, mas vamos tentar sorrir um sorriso sincero (não o protocolar, do dia a dia, do serviço) durante algumas horas. Terei amigos e amigas? Sempre há imprevistos que me deixam sozinho e tenho um episódio da adolescência em que quase fiquei só em minha própria festa de aniversário, o que me ensinou que eu não deveria contar com ninguém nesta data. Ao longo dos anos, aprendi a comemorar sem me preocupar com quem estivesse ao meu lado (mas quem chega é sempre bem-vindo!).
A vida passa e bem poderia passar mais rápido porque a hora de dormir chegaria logo e estou com sono. Até mais!
Esquecer um amor não correspondido - É como tentar tirar um adesivo antigo colado em uma mesa de madeira de um bar: você arranha, arranha e a pessoa só vai saindo aos poucos, em pedaços aleatoriamente rasgados. E leva tempo.
Nuvens - Antigamente você acordava, olhava para o céu e via nuvens dispostas em configurações distintas, com várias cores e formatos. A cada dia - ou mesmo a cada hora do dia - uma surpresa.
Hoje está tudo catalogado, dizem, e você pode escolher aquelas imagens congeladas do céu que mais lhe agradem. Ou mesmo os melhores vídeos. Diria que leva até um tempo longo para você escolher (os algoritmos podem minimizar isto, claro), mas o pessoal se esqueceu de que a experiência era mesmo a de ser surpreendido. Talvez o algoritmo consiga fazer isso também, mas eu prefiro olhar para o céu, não para as duas telas.
(*) “até mais ler” foi plagiado do Orlando Tosetto, cuja newsletter, aliás, você deveria assinar.
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Talvez você seja novo por estas bandas. Rapidamente: publico geralmente às quartas. Eventualmente há algumas edições extraordinárias. Assinar (custo = R$ 0.00 + valor do seu tempo para apertar o botão subscribe com seu endereço de e-mail lá…) me ajuda bastante. A temática? De tudo um pouco. Confira os números anteriores aqui.
Obrigado professor, mais um ótimo texto.