Os seres humanos devem estar loucos - Gravata - A Jaboticaba do Mal - Dias - Brasil sindical - USAID - O sonho.
Subitamente, vários perfis do X foram des-censurados, sem qualquer explicação. Engraçado, né?
Eis o v(5), n(7), da newsletter odiada por muitos, amada por poucos. Ou vice-versa. O fato é que a maior parte dos cancelamentos parece vir quando faço algum comentário político. O pessoal defende a tolerância e o diálogo, mas, às vezes, acha isso ou aquilo “demais, até para mim”. Eu também tenho pensado assim, só que o nível do “demais” é um pouco mais alto, para mim. Ou talvez não. Vai saber.
De todo modo, a meta não é ter o maior número de assinantes do mundo, mas ter assinantes que se sintam bem aqui, que percebam que há algo interessante no que escrevo, que lhes ajuda em algo. Ou causam risadas, ou causam reflexões, ou simplesmente ajudam-nas a passar o tempo. É como penso as minhas assinaturas de outras newsletters.
Bem-vindo de volta e…vamos lá!
Os seres humanos devem estar loucos - Afinal, afinal, afinal…alguém certamente já disse isso, pensando ou não na clássica comédia na qual o título obviamente se inspira. Certo?
Temos seres humanos defendendo criminosos e racismos em nome da lei e do tratamento igual de todos perante a lei. Temos seres humanos defendendo estupros e sequestros em nome dos direitos das mulheres e do direito de ir e vir. Temos também seres humanos defendendo impostos sindicais para sindicalizados e não-sindicalizados em nome da liberdade de associação.
Parafraseando Primo Levy, “É isto um ser humano?”. Até acho que é, mas com tantas chagas pelo corpo que sua aparência disforme assusta…
Gravata - Há algo de belo em gravatas e suspensórios. Em si, são adereços que tornam melhor a minha aparência e, dependendo do gosto, a sua. Gosto dos dois, mas, no caso das gravatas, agradeço aos croatas por sua invenção, mas não posso deixar de lamentar o episódio recente envolvendo o que deveria ser a suprema guardadora da Constituição. Gravatas não merecem isso.
A Jaboticaba do Mal - Nos confins do Brasil (ou apenas em Minas Gerais, ou na zona metropolitana…) - não em Confins, que é onde fica o famoso aeroporto - lá em Sabará, em uma jaboticabeira frondosa, brotou, dentre tantas belas jaboticabas, a Jaboticaba do Mal <inserir música sinistra>. Tentadora, seu aspecto era de dar água na boca, de bom volume, brilhantemente preta. Destacava-se das suas companheiras, claro, pois seu papel era tentar as pessoas e, claro, espalhar o mal.
Caiu nas mãos do menino conhecido na vizinhança como Jurerê que, invadindo o quintal de seu Tonhão, deu de cara com a Jaboticaba do Mal. Peralta e satisfeito com o achado, juntou-a com outras no pequeno saco plástico que carregava e pulou o muro antes que seu Tonhão se desse conta do crime (é crime, STF? Já não sei mais. Por gentileza, decida isso para mim, sim? Afinal, sou um pobre cidadão comum que não estudou Direito e, portanto, tenho racionalidade limitada e preciso de sua tutela constante).
Após nossa breve consulta mental ao (caro!) oráculo, Jurerê correu até sua humilde casa, onde morava com os pais e a irmã mais nova, escondeu-se embaixo da cama e passou a apreciar as jaboticabas que havia roubado (mas, novamente, não sei se é crime, tá?), olhando com especial ganância, para a Jaboticaba do Mal (não confundir com a Jaboticaba do Mau, que é uma jaboticaba de um mau menino que mora rua de cima da do Jurerê, ok?). Como bom mau menino, lentamente chupou as menores deixando para o final seu cobiçado troféu.
“Ah, a última bala do pacote, a cereja do bolo…sim, que Jaboticaba exuberante!”, pensou Jurerê pouco antes de colocá-la lentamente na boca. Naquela noite, uma forte chuva desabou em Sabará, com muitos raios e até um pouco de granizo. Carros e telhados foram destruídos e surgiram alagamentos em diversos pontos da cidade. Uma tormenta! Um toró como nunca dantes visto (nem por Dante!)!
Jurerê, no entanto, dormiu como um anjo (um anjo do mal, né?). Na manhã seguinte, levantou, foi ao espelho e percebeu que não era mais o mesmo. Jurerê havia se transformado em uma espécie de burocrata, cheio de carimbos saltando por seus braços e pernas e longos cornos saíam de sua testa, 30 anos mais velha.
Adulto, transformado em uma espécie de Gregor Samsa invertido, Jurerê só queria judicializar, burocratizar, multar e trazer sofrimento e dor a todos. Sua mãe deu um grito ao vê-lo e, só por isto, ganhou uma carimbada na cara e uma multa por perturbar a ordem. O pai até tentou contê-lo, mas ganhou ordem de prisão. Sua irmã, pequena, nada fez e, claro, ganhou uma carimbada que a fez chorar e uma multa por chorar diante de um oficial público.
Jurerê, o pequeno ladrão de jaboticabas, agora fazia a lei, julgava e condenava podendo, inclusive, criar processos que corriam em segredo de justiça e alterar leis existentes da maneira que quisesse, quando quisesse, ao arrepio da lei (a lei, por sua vez, não estava assim tão arrepiada…até parecia gostar do novo Jurerê).
Gargalhando como um demônio em dia de lançamento de especial de Natal do Porta dos Fundos (Yeshu e Iemanjá me livrem disso…), saiu pelas ruas multando e carimbando os aterrorizados cidadãos de Sabará (e adjacências).
Foi ali que tudo começou.
Dias - Há dias e dias. Uns são de tristeza, outros de euforia. O problema é que a divisão entre eles não é igualitária.
Brasil sindical - Eu ia contar uma história pessoal sobre como a mentalidade sindicalista criou raízes até em associações não-originalmente-sindicais, sem fins lucrativos, mas deixa para outra oportunidade. (não, não é um recado…é só um aviso de que um dia eu conto, não precisa se preocupar com judicialização, estas coisas…). Fique em paz.
USAID - Ela já beneficiou estudantes brasileiros que precisavam adquirir conhecimento técnico (vários PhD’s brasileiros, que orientaram os orientadores da geração atual de doutores, por exemplo). Fez coisas realmente ligadas ao desenvolvimento? Fez. Claro que chamaria a atenção de bilionários e grupos de interesse que adoram promover suas agendas por meio das bolsas supostamente destinadas ao fomento.
Começa com a sabotagem dos conceitos. Por exemplo: “não, gente, o desenvolvimento não é só econômico. Tem as almas das crianças, tem os cachorrinhos das madames, a infelicidade dos pobres, o meio-ambiente, a cura de doenças que não sabemos se são mesmo doenças etc. etc.
Assim, o desenvolvimento passa de um conceito que define (sic) algo com precisão para um esboço de conceito que indefine tudo com imprecisão e qualquer idéia (com acento) louca, vomitada ou cheirada se equipara às verdadeiras idéias (que também têm acento porque não respeito acordo ortográfico besta). Já notou que sempre faltam recursos para as pesquisas de sempre? Claro que faltam. A cada inclusão de um problema no conceito de desenvolvimento, menor fica a fatia que sobra para cada um. Como o tamanho do bolo depende do total de recursos aportados e o dinheiro não dá em árvore…
Até aí, é um problema sério, tudo bem. Agora, quando estes financiamentos começam a influenciar na política local - inclusive em eleições - aí o problema sério ganha uma dimensão perigosa. A conferir.
p.s. Depende de se há censura ou não aos investigadores e independência de jornalistas, a despeito das polpudas verbas governamentais nas empresas da big media, que pedem regulação e censura à concorrência das redes sociais sempre que pode, dia e noite…).
O sonho - Nas vésperas da volta às aulas tive um pesadelo (pesadelo? Julgue você mesmo ao fim do relato) em que, saindo de casa para lecionar, chegava a um campus gigantesco em que se tinha que andar um bocado à pé para se chegar a um prédio para o primeiro horário de aula.
No percurso, fui parar em um local distante e resolvi pegar um ônibus que, entretanto, seguiu um caminho desconhecido e desci em local mais distante, após passar por um imaginário viaduto que sai ali do centro de BH e corta a avenida dos Andradas, levando-me não para o bairro Floresta, mas para um bairro não menos imaginário mais distante que os limites da capital com outras cidades mais próximas.
Não obstante, chamei um carro por aplicativo, mas não consegui, de forma alguma, colocar-lhe o endereço de chegada. Sim, o destino não me era permitido, por assim dizer. Desesperado, forcei-me a acordar o que, de fato, aconteceu.
Há muitas interpretações possíveis para um sonho, eu bem o sei, mas este, que volta e meia reaparece com outras camadas contextuais e ligeiras mudanças no roteiro, foi particularmente incômodo pois me fez acordar mais cedo do que a minha meta (que são as seis horas da manhã, sem mais, sem menos).
O que significa? O fato de se repetir, creio, sinaliza que ainda não consegui desvendar-lhe o significado. Certamente não é um apelo para que eu faça um regime (embora eu já tenha começado um), nem para que eu compre um carro (coisa que não farei por tempo indefinido). Talvez ele esteja me dizendo que os caminhos almejados são inalcançáveis e os não-almejados deveriam ser considerados.
Ou talvez eles digam que é melhor nunca mais lecionar para ninguém (talvez eu seja, afinal, um professor indesejado). Ou talvez ele seja apenas um disfarce para um sonho mais profundo cujas pistas preciso descobrir ao longo destes sonhos para, então, ter o sonho definitivo, uma espécie de sonho platinum, diamante para o qual precisaria pagar uma polpuda anuidade e, só então, ter um cardápio de interpretações para escolher.
Vai saber.
Enquanto não sei, aqui me despeço do leitor. Até mais ler!
(*) “até mais ler” foi plagiado do Orlando Tosetto, cuja newsletter, aliás, você deveria assinar.
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Talvez você seja novo por estas bandas. Rapidamente: publico geralmente às quartas. Eventualmente há algumas edições extraordinárias. Assinar (custo = R$ 0.00 + valor do seu tempo para apertar o botão subscribe com seu endereço de e-mail lá…) me ajuda bastante. A temática? De tudo um pouco. Confira os números anteriores aqui.
Como sempre muito bom. Obrigado.