O som das páginas - Elm Welk - Onibaba - Supermodulares - Disseminação de informações científicas - Se você soubesse que vou morrer amanhã… - Como salvar meu casamento - Oi?
Às vezes o silêncio...
O v(4), n(21) chega até você na esperança de que os dias estejam melhores, principalmente, no Rio Grande do Sul. Várias campanhas de doação já estão se encerrando, mas é importante que não nos esqueçamos das lições mais importantes deste trágico evento. Quais seriam? Não vou me arriscar. Fica para você elencar as lições que mais lhe importam.
O som das páginas - Ou melhor, o som do folhear das páginas. Assim como alguns dizem que não é a mesma coisa - ou experiência - ler um texto no computador ou em um livro, é também absolutamente verdadeiro que este som, em um livro de bolso (como aqueles da LP&M) e um livro bem encadernado não é o mesmo.
Por óbvio, o amigo leitor irá concordar comigo que livros de bolso são tão úteis quanto outros livros (em formato impresso ou digital) para seu fim último, que é transmitir alguma mensagem. Autores querem passar algo adiante. Seja um teorema (no caso de um livro de Análise na Reta), seja uma aventura ou apenas uma história com moral. Seja o que o autor quiser, na verdade.
Ocorre que a experiência não é a mesma entre os diferentes meios de transmissão. Há alguns anos, estudando Teoria dos Jogos para colorir uma aula sobre o tema, passei por um artigo de Neuroeconomia que mostrava que o cérebro reagia de forma diferente quando um ser humano jogava com outro da mesma espécie, ou com um computador. Do mesmo modo, há indícios de que tomar notas de próprio punho é diferente de tirar fotos do conteúdo ministrado em sala.
A escolha da tecnologia, aprendi há muitos anos, nas aulas do prof. Delso (Microeconomia II, ou algo assim), lá pelos meus 18 ou 19 anos, dá-se conforme seu custo. Bem, isto pode parecer óbvio agora, mas para um jovem fascinado pela tecnologia, isto era novidade. Aliás, qual jovem não é fascinado pela tecnologia? Só aqueles que não conseguem se desgrudar da tela de um celular por mais de um minuto. Estes estão escravizados pela tecnologia, não restando muito tempo para o fascínio. O usuário da tecnologia nem sempre consegue desenvolver a habilidade de apreciá-la. Uma pena.
Evitando divagar mais, volto ao tema que é o das experiências distintas relacionadas ao mesmo objetivo. Até certo ponto, se você se recorda do que falei há algumas linhas, parece não haver muitas diferenças entre um livro físico e um digital. Ainda assim, a experiência nem sempre é a mesma. Arrisco - propondo minha experiência como ponto de partida - dizer que livros técnicos não caem muito bem no meio digital, ao contrário dos romances, contos, ensaios e assemelhados.
Digamos que você e eu concordamos com isto. Agora eu acrescento: o que estou dizendo é que até entre livros físicos há diferenças. Livros com encadernações mais cuidadosas me proporcionam uma experiência muito diferente daqueles em que, por exemplo, as páginas descolam. Ou daqueles livros de bolso, cuja abertura de página é um desafio (sem falar que, muitas vezes, não cabem nos bolsos…).
Livros da antiga História Ilustrada da 2a Guerra Mundial da Editora Renes, publicados no Brasil lá por 1975, são terríveis: tente abrir mais as páginas e você destruirá o livro. Já os de bolso, vários deles, desafiam os leitores a completarem a frase. O livro não arrebenta ao se forçar a abertura, mas alguns finais de palavras ficam eternamente perdidos, escapando do campo de visão de qualquer ser humano (normal ou não).
Arrisco mais. Aposto que você irá me dizer que até mesmo ler um mesmíssimo livro, em diferentes momentos do tempo, também lhe proporciona diferentes experiências. Você irá me dizer isto, como se me colocando em uma armadilha argumentativa, mas o fato é que eu concordo com você. O contexto, bem ou mal, importa. Talvez seja por isso que gosto de ter uma biblioteca à mão (sic, mil vezes sic). Não é só o formato (físico, digital, audiobook etc.). É também em diferentes pontos do tempo (ou da vida, se você quiser uma pitada de poesia nesta prosa).
Pois bem. Muitas vezes ouço alguns dizerem que “agora os jovens não sabem mais o que é…”. Geralmente, a referência é alguma experiência. Ou não sabem mais o que é brincar, ou não sabem mais o que é ler ou, nem mesmo, estudar. Talvez nem namorar saibam mais porque, bem, antigamente…etc.
O problema todo está na experiência. Alguém teve uma boa experiência com a leitura de um livro (ou, como já concordamos, várias experiências com o livro), lembra-se apenas de uma média e, comparando com o que percebe no rosto cheio de espinhas do adolescente à sua frente, pensa que ele nunca terá a mesma experiência que ele.
Nada disso é novo, claro. Um grego muito higiênico já disse que um homem não se banha duas vezes no mesmo rio. Acho que foi Heráclito quem disse isso. Não o jogador de futebol, nem o da tia Matilde, mas o de Éfeso. Ou, como o conheço: o arqui-inimigo do Cascão…
p.s. acho que a qualidade do papel também importa. Acho não, tenho certeza. Digo, para a melhor experiência possível com o som do folhear.
Elm Welk - Welk foi um jornalista alemão ‘cancelado’ por Goebbels (na época, cancelar era sinônimo de censurar e, eventualmente, enviar o sujeito para um campo de concentração). É que Welk publicou um artigo em que disse como os jornais alemães eram obrigados a seguir apenas a orientação nacional-socialista. Ficou pouco tempo preso. Solto, foi banido do jornalismo.
Não se esqueça que, claro, tudo foi feito sob o império da lei. A lei dos juízes nacional-socialistas, da qual o mais famoso representante foi Roland Freisler. Sobre ele, diz-nos a Wikipedia em língua inglesa:
He was appointed President of the People's Court in 1942, overseeing the prosecution of political crimes as a judge, and became known for his aggressive personality, his humiliation of defendants, and frequent use of the death penalty in sentencing.
Um talento e tanto, hein?
Onibaba - Vou ter que ver este filme. Ainda mais, depois deste resumo.
Supermodulares - Meu último texto para a coluna do Instituto Millenium, na Exame, fala do RS.
Disseminação de informações científicas - Quando alguém fala sobre isto, logo penso: ok, mas a ciência é viva e nem tudo é consenso. Por exemplo: amianto. Antes não era problema usá-lo em construções. Nem vou comentar sobre a história do colesterol.
O fato é que as pessoas precisam ter acesso a uma informação importante sobre a Ciência que é a de que ela é volátil. Também é preciso ser realista. Cientistas são seres humanos e, assim, também respondem a incentivos. É uma das evidências mais antigas da história.
Se você soubesse que vou morrer amanhã… - …o que você iria me pedir? Eis aí uma pergunta que nunca havia me ocorrido. Há duas situações aqui. Só você sabe ou ambos sabemos.
Sei que a pergunta pode ser diferente em cada caso, mas eu me pego imaginando o que você iria me pedir em cada situação. Comente aqui.
Como salvar meu casamento - Eis a (famosa) música de abertura de uma novela cujo final nunca foi exibido. Será que o casamento seria salvo? Talvez nos anos 70. Hoje? Hoje ninguém casa mais. Ah sim, o vídeo tem a trilha completa.
O legal de rever alguns capítulos desta novela é perceber como o verbo transar era usado de forma bem diferente no final dos anos 70. Você ‘transava’ algo ou alguém no sentido de gostar, curtir, consertar, arrumar (deve haver outros significados). Depois, claro, virou sinônimo de intercurso sexual.
Oi? - O LAI resolveu usar a lei de acesso à informação para falar de um livro que foi alvo de ‘censura de secretarias estaduais’. Até aí, não há nada de anormal. O pessoal vive de produzir conteúdo sobre a lei de acesso à informação (inclusive ensinam a fazer o pedido).
O que ficou estranho foi a gratuita caracterização dos que não gostaram do livro de ‘extrema-direita’. O texto não deixa claro o conceito dos autores (ou do autor?) da newsletter de extrema-direita. Eis o trecho em que o termo surge.
Seriam os governos do Mato Grosso do Sul, de Goiás e do Paraná de ‘extrema-direita’? Acho difícil fazer esta afirmação. Alguns diriam que é, inclusive, desinformação. Ou talvez o que tenhamos são governos de ‘extrema-esquerda’ e seus oponentes estariam no ‘centro’. Sem um conceito, fica fácil puxar a referência para um lado ou para o outro. Este recente artigo, inclusive, mostra como o descuido pode ser desinformativo.
Note, inclusive, como os autores têm o cuidado - correto - de não estabelecer um limite numérico para definir o que seja a extrema-esquerda ou a extrema-direita. Entretanto, se algum dos autores da newsletter tiver votado no PSOL, posso dizer que ele é de ‘extrema-esquerda’? Mais ainda: o que isto significaria, na prática?
Livros didáticos podem ter seu conteúdo contestado e a contestação não significa, automaticamente, que o contestador seja de ‘extrema-isto’ ou ‘extrema-aquilo’…e você não precisa de Lei de Acesso à Informação para saber disto.
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler! (*)
(*) “até mais ler” foi plagiado do Orlando Tosetto, cuja newsletter, aliás, você deveria assinar.
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Talvez você seja novo por estas bandas. Rapidamente: publico geralmente às quartas. Eventualmente há algumas edições extraordinárias. Assinar (custo = R$ 0.00 + valor do seu tempo para apertar o botão subscribe com seu endereço de e-mail lá…) me ajuda bastante. A temática? De tudo um pouco. Confira os números anteriores aqui.
Adorei o texto. Obrigado pela citação de Onibaba s2
Don't drop dead Dude ! You are a Brilliant Newsletter Writer,!