O Queijo - Padre Brown e outros detetives - Cidades Novas - Outros.
O fim está próximo e ninguém poderá impedí-lo.
O v(3), n(58) da nippoletter chegou e nem te cumprimentou.
O Queijo - Zé acordou cedo. Era dia de comprar queijo na feira da praça. A cada 30 dias, este mineiro, residente em uma vila perdida no interiorzão do estado, cumpria sua rotina de comprar queijo. Geralmente era o meia cura que ele mais gostava. Sempre que possível, comprava na barraca do seu Joaquim, seu fornecedor de queijos há mais de 20 anos.
Com o desejo pelo queijo tamborilhando sua mente, montou em seu pangaré e pôs-se a caminho da fazenda até a praça da cidade, onde se localizava a feira semanal. Sentiu o calor penetrar-lhe os ossos enquanto apreciava as plantações vizinhas. Não praguejou o Zé porque católico da gema ele era. Seria incorreto dizer que ele não pensou em alguns palavrões, mas se segurou.
Junto ao pangaré e ao Zé vinha caminhando seu fiel cachorro Bituca, membro da família há quase dez anos. O cãozinho era mais magro do que a maioria dos cachorros da vizinhança. Talvez fosse da raça - ou por conta da mistura de raças - que tivesse aquela aparência. Bituca não se importava muito com isto, mas Zé sim. Por isto é que as viagens em busca do meia cura mensal também eram viagens de compras de ração para seu fiel companheiro.
Chegaram na praça com uns minutos de vantagem por conta de um atalho que Zé descobrira há uma semana, passando por uma fazenda abandonada. Procurou pela barraca de seu Joaquim, mas não a encontrou. O que era peculiarmente estranho é que os demais feirantes afirmavam não conhecer o velho Joaquim.
Zé chegou a pensar que fosse alguma piada ou brincadeira de mau gosto. Mesmo Bituca, que sempre latia ao chegar no exato local onde seu Joaquim armava a banca de queijos, não se manifestou. O silêncio de Bituca, mais do que o estranho comportamento dos outros feirantes, foi o que mais intrigou Zé.
A vontade de comer um bom queijo levou-o a uma outra banca, de um vendedor diferente. Não sabia dizer se era um novo feirante ou se ele mesmo é que nunca havia reparado na pequena figura morena e careca de sorriso desdentado que se apresentou como “seu Herodes”.
'“- Seu Herodes?
- Sim, freguês querido. Tenha medo não. Foi uma piada dos meus pais.
- Eita, sô, que piada mais encapetada!
- Ligue não, ó os meus queijo aí! Tudo de bão e do mió.”
Zé tentou não pensar no fato do vendedor de queijo se chamar Herodes e o cheiro dos saborosos queijos frescos ajudaram a acalmá-lo. Comprou um e foi até a loja de artigos para animais. Comprou uns remédios para o pangaré e uma nova ração para Bituca que, da porta, abanou-lhe o rabo em claro sinal de satisfação.
Sentou-se no banco em frente à loja, viu sua sombra no chão e sentiu o suor alcançar a ponta do nariz saltando, rapidamente, em direção à calçada. Bituca veio e Zé fez-lhe uns afagos. Deu-lhe um pouco da nova ração e percebeu que deveria, ele também, tomar um café da manhã. Preferencialmente, claro, aquele ótimo pão com queijo e café da padaria do Pipoca. Àquela altura, o pobre pangaré apenas estava sem almoço, embora ele beliscasse algum mato entre as pedras do calçamento.
A feira, reparou Zé, não estava tão animada quanto das vezes anteriores. Havia algo diferente, mas que não soube identificar. Olhou para o céu e notou algumas nuvens carregadas se aproximando para mudar a sorte de quem não sai por aí com guarda-chuva e não teve dúvida: assobiou para Bituca, montou no pangaré e começaram sua jornada para casa.
A perspectiva da chuva próxima não deixava dúvidas: teria que usar o atalho novamente. Talvez até tivesse que se abrigar na fazenda abandonada. Carregar ração e queijo no lombo de um pangaré sob chuva era um pensamento que lhe agradava tanto quanto o café frio que o leitor tomou (ou tomará) no trabalho, feito com o mesmo carinho que alunos afirmam imputar em suas respostas desleixadas às questões de prova.
Avistaram a sede abandonada da fazenda e os primeiros pingos de chuva foram um incentivo para que o próprio pangaré, sempre tão metodicamente lento, apressasse o passo. Não demorou muito e logo estavam os três sob o telhado velho que, apesar de tudo, protegia a pequena varanda e um pouco do terreno adjacente à casa.
A ração e o queijo ficaram com Zé, nos primeiros degraus da escadinha da entrada principal. Bituca e o pangaré se acomodaram no limite da proteção do velho telhado. A chuva não era tão forte, mas contínua. Um vento forte veio a refrescar-lhes os corpos. Era, contudo, um vento frio, mais frio do que deveria ser.
Zé instintivamente virou-se para trás e notou que a antiga casa nem porta mais tinha em sua entrada principal. O interior da casa não sabia o que era a luz de um lampião ou mesmo de uma lâmpada há muitos anos. Era, certamente, um terreno a ser explorado por alguém corajoso. Alguém bem diferente de Zé e este pensamento foi suficiente para lhe causar um calafrio como há muito não sentia.
Baixou os olhos e apreciou uma fila de formigas que se formava em torno da sacola onde estava o queijo. Foi quando notou uma mão pesada em seu ombro. Assustado, deu um salto e caiu da pequena escada. Do chão, pôde ainda ver o vulto de seu Joaquim, o feirante.
“- Por que não comprou meu queijo hoje, meu jovem?
- Seu Joaquim? Seu Joaquim, é o senhor?”
Zé, Bituca e o pangaré nunca mais saíram da fazenda abandonada. Diga-se de passagem, ninguém na região se lembra mais de quem eram Zé, Bituca e nem se havia um pangaré com eles. Também não há traços de Herodes, o vendedor. Dizem que voltou para sua cidade, há 4 quilômetros dali.
Padre Brown e outros detetives - Quase no fim de A inocência do Padre Brown, de Chesterton. Aproveitei duas de horas de vôo (e algum tempo de aeroporto) para me divertir com os casos que o padre-detetive esclarece ao longo do livro. Acho que quem gosta de Columbo também gosta do pequeno padre.
Por outro lado, já que falo de detetives, que decepção foi a versão original do filme baseado em obra homônima de Agatha Christie, Assassinato no Expresso Oriente. Grande elenco - como na versão original de famoso e estupendo fracasso Cassino Royale - mas muito chato. Pelo menos o filme do James Bond tem um enredo atrapalhado o tempo todo. Do filme envolvendo Hercule Poirot eu esperava um pouco mais de talento para evitar que eu dormisse. O mistério a ser resolvido é até bacana, mas confesso que me desagradou a condução da trama.
É, não gostei mesmo do filme. Já o Padre Brown, recomendo muito.
Cidades Novas - Diogo menciona algo sobre este tema interessante. Adicionalmente, você sabe o que seria a Ipê City? Descubra aqui.
Desempenho econômico…- …baseado em evidências.
Uber e nós - Ana Fischer coloca os corretos pingos nos merecidos ‘is’.
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler! (*)
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Feirante era Joaquim ou James?