O que faz com seu tempo, senhor ministro (em minúsculas mesmo) - A inocência do Padre Brown - Mercados para quem precisa
Black Friday! Newsletter gratuita tem preço reduzido a um quarto! Assine já!
Bem-vindo ao v(2), n(93) da newsletter. Um pouco menor que a usual, creio.
O que faz com seu tempo, senhor ministro? - Fala-se muito, nos tempos atuais, que precisamos ser breves na transmissão de mensagens importantes. Breves e claros. Não me entenda mal. Eu também acho que é importante ser objetivo e claro na comunicação. Breve? Talvez. Acho que há momentos e momentos e, sim, alguns exigem brevidade.
Mas há algo que me incomoda.
Suponha que seja correto - e acho que é uma suposição bem razoável - que a tecnologia tenha aumentado nossa produtividade ao longo do tempo de modo que, hoje em dia, podemos alocar nosso tempo entre mais atividades.
Por exemplo, antes era o tempo todo caçando ou dormindo. Hoje, são muito mais atividades (lendo, passeando, trabalhando, dormindo, jogando futebol, etc.) do que nos tempos dos mamutes.
É verdade que escolhemos o que fazer ao longo da semana. Primeiro, escolhemos pagar boletos e poder financiar algumas das outras atividades, o que significa que dormimos e trabalhamos para poder, então, dividir o tempo restante entre outras atividades.
Coloque uma lente de aumento sobre um de nós, um tomador de decisão de uma empresa privada ou o ministro de algum governo. Diz-se que uma figura assim tem menos tempo do que eu ou você (supondo que você não se enquadre nas categorias do exemplo). Provavelmente é verdade.
Vamos ser mais específicos. Pensemos no ministro. Diz-se que o governo tem como meta aumentar o bem-estar dos seus governados sem o uso de meios ilícitos. É quase uma missão religiosa, neste sentido. Ao longo do tempo, como vimos, a produtividade aumentou e não há motivos para achar que um ministro tenha menos tempo liberado para outras atividades que um engraxate (o que não significa que alocarão o tempo nas mesmas atividades, na mesma quantidade).
Neste sentido, o ministro (e todos os demais envolvidos na tomada de decisão pública) podem usar seu tempo de maneira eficiente. Ótimo, certo? Eu também acho. Mas aí eu olho para os indicadores de resultados - aqueles que o governo precisa atingir (e que são quase impossíveis de se manipular) - e não vejo o país melhorar tanto assim.
Não, não sou cruel. Não olho de um mês para o outro. Posso examinar um indicador como as notas no PISA para notar que o sistema educacional brasileiro, regulado pelo governo, não consegue um avanço tão rápido quanto o necessário, inclusive, para sustentar os avanços de produtividade futuros.
Também sei que há uma rotatividade elevada nos cargos de ministros e que isto explica parte do problema. Ainda assim, o tempo extra conseguido ao longo dos anos é democrático: aplica-se a todos nós. E os ministros, sejam eles quem forem, têm mais tempo livre para usarem (e nós também, claro).
Caso o leitor tenha uma conta no LinkedIn, sugiro que veja como as pessoas usam parte de seu tempo. Há lá um viés de seleção porque a pessoa só publiciza aquilo que a exalta (ou exalta aos seus superiores ou potenciais superiores…é uma rede para se buscar empregos, afinal).
Ainda assim, o ministro que não possui tempo para ler um relatório de 3 (três) páginas e precisa da informação em um bullet point é-me um mistério. Se ele é tão bom assim, no uso do tempo, participa de tantas reuniões, grupos de trabalho e conferências, e se ele decidirá sobre questões tão complexas, como poderá estar tão eficientemente informado com um bullet point? Eis como penso nisto: você colocaria todo o seu dinheiro nas mãos de algum gestor financeiro que só lê bullet points?
A verdade é que ninguém estará bem informado só com um bullet point. Deve - e eu concordo com isto também - haver um link ao lado da frase (frase?) destacada que leve o leitor (leitor?) para um documento um pouco mais extenso (de 5, 10 ou mesmo 100 páginas).
Claro, se você está no topo da gestão, e não tem tempo (ou não quer ter tempo) para ler, é só pedir aos seus assessores para que cuidem da leitura e dos resumos. Ainda assim, se os assessores não vão lhe acompanhar para as reuniões decisivas, sei lá como você conseguirá fazer para que a decisão seja a melhor possível, mas este é outro problema.
Resumindo, até aqui: concordo com a necessidade de objetividade, clareza e brevidade (quem já falou tanto da importância da retórica aqui, divulgando os argumentos de Deirdre McCloskey não poderia pensar diferente, claro). Contudo, ainda acho um mistério que se acredite que isso aumenta o bem-estar da sociedade.
Você poderia dizer: mas, Claudio, o brasileiro lê muito pouco, o que piora as coisas! Eu não discordo e isto é mesmo ruim porque significa que, entre os assessores do ministro hipotético, há alguns com dificuldades de interpretação de texto. Pior ainda, mesmo que se tente recrutar alguns novos assessores, o brasileiro mediano é uma negação em leitura (a desigualdade aumenta por isto também, já que quem souber ler e entender um texto passa a ter um valor maior).
O leitor mais antigo sabe que sou um sujeito adepto dos testes empíricos para a maior parte das questões (as científicas, creio). Eis algo que eu gostaria de ver: qual o efeito desta cultura (há todo um mercado disto) da escrita objetiva, com infográficos, altamente resumida, sobre as políticas públicas de um país? O bem-estar da população aumenta, de fato? Ou apenas temos políticas apresentadas de forma visualmente mais clara, mas inúteis? Mais ainda: caso haja este efeito (suspeito que há), ele é o mesmo, independentemente do grau de qualidade do capital humano médio do país?
Não à toa, este texto ficou um pouco maior do que o normal. A qualificação do argumento exigia que eu fosse um pouco mais detalhista que o habitual. Meus assinantes, eu bem sei, apreciam textos que não sejam tão curtos, tampouco tão longos. Espero não os ter deixado zangados.
A inocência do padre Brown - Comecei a ler. O primeiro capítulo, em si, já foi um show. Livro do falecido G.K. Chesterton que me foi recomendado por alguns meliantes (vide foto do número anterior da newsletter).
Como se sabe, no Brasil, onde as pessoas só pensam superficialmente, ler Chesterton é sinal de que você (para um bando de analfabetos, se me permite (ou não) a ofensa) é um sujeito malvado, a favor da queima de mendigos (ou pneus) em praça pública, é a favor da volta da escravidão e, possivelmente, é um praticante de tiro ao alvo com crianças.
Eu não sou nada disto (ainda), mas estou gostando muito do Chesterton. Pelo menos deste livro dele. Por enquanto, o ‘recomendômetro’ está em 10, numa escala de 0 a 10. Mas, como disse, apenas comecei a leitura.
Bons textos curtinhos para se ler - Este, do Orlando e este outro, do Alexandre. Ambos na Crusoé.
Mercados para quem precisa - Eu tenho muita paciência com quem não entende o que é o mercado. Mais, até, do que deveria (eu sou paciente com a ignorância, principalmente quando vem de alguém que deseja, genuinamente, aprender).
Sobre isto, aliás, esta aula do Michael Munger está sensacional. Recomendo fortemente. O tema central é a moderna economia do compartilhamento e, ao longo da pequena aula, você aprende muito mais sobre Economia do que poderia esperar…
Você é o Pelé? - Dica do último FiBoCa que não consigo não reproduzir. É de morrer de rir.
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler! (*)
(*) “até mais ler” foi plagiado do Orlando Tosetto, cuja newsletter, aliás, você deveria assinar.
Caso queira compartilhar, clique no botão abaixo.
Talvez você seja novo por estas bandas. Rapidamente: publico duas vezes por semana, geralmente às quartas e sábados. Eventualmente há algumas edições extraordinárias. Assinar (custo = R$ 0.00 + valor do seu tempo para apertar o botão subscribe com seu endereço de e-mail lá…) me ajuda bastante. A temática? De tudo um pouco. Confira os números anteriores aqui.
Chesterton vale cada linha. As biografias de santos que ele escreveu são leigas e lindas. Forte abraço nipo-brasileiro
Poxa… não sou assinante da Cruzoe… não consegui ler as indicações…