O esquecimento - Intankável - Godzilla Minus One - Os Pioneiros - Outros.
Seus vícios o matarão, não resta dúvida. E eles vão te assassinar com facas e espadas.
O v(3), n(68) desta missiva chegou, a despeito do calor.
O esquecimento - O nosso destino não é ser lembrado, mas ser esquecido. Encare os fatos, leitor: quantos vai se lembrar de você após uns três anos da sua morte? Duas pessoas? Bom, provavelmente alguém estará pagando prestações do enterro e, sim, talvez se lembre de você. Verdade, mas será uma lembrança burocrática, como são as lembranças associadas a boletos.
Nada me convence do contrário. Repito, pois, para enfatizar: nosso destino não é ser lembrado, mas esquecido. A mais doce das suas amigas não resistirá a um quinquênio sem você. No sexto ano, nem uma vela acenderá. Seu amigo mais fiel - não me refiro ao cachorro (este, admito, pode se lembrar de você por muito tempo) - também vai esquecê-lo logo porque a vida é assim: nós saímos do pó para a ele voltar e quem se lembra do pó? A gente limpa o pó, pelo amor de Deus!
Outro dia, o amigo Polzonoff (um amigo que talvez eu não consiga conhecer pessoalmente, talvez sim…a conferir) percebeu que meu estado de espírito não estava lá muito festivo e me ofereceu palavras muito bonitas e inspiradoras. É bom quando um amigo percebe que você não está de bom humor e tenta te animar (Polzonoff é uma pessoa do bem). Espero ter feito também um bocado disto ao longo da vida com meus amigos e minhas amigas. Se o fiz, espero não ter pecado e tê-lo feito incondicionalmente porque o amor deve, para ser pleno, ser incondicional. Não sei, parece-me que é o certo.
Eu dizia, contudo, que viemos para sermos esquecidos, não lembrados. Quando percebi isto pela primeira vez, ao contrário do que você pode imaginar, não me senti triste ou deprimido. Senti um certo alívio. Foi como se um peso saísse de meus ombros (que não andam lá muito malhados) e se jogasse ao chão indo embora e praguejando contra mim. Peso mal-agradecido! Quantos cafés eu lhe paguei, peso?
Pois ser esquecido ajuda a explicar o motivo pelo qual pessoas evaporam (já falei disso aqui) e porque isto não deveria preocupar ninguém já que de vapor ninguém se lembra (exceto se você estiver em uma sauna, eu sei). A cada dia que passa, mais e mais as pessoas parecem se evaporar e isto não é algo para se assustar. É assim que vamos sendo esquecidos: por meio de um lento evaporar deixamos o mundo físico e nos tornamos tudo e nada.
Você poderia me dizer que alguns de nós ganham estátuas ou mausoléus chiques e que, portanto, não seríamos esquecidos. Não tão cedo, eu diria, mas inevitavelmente seremos sim. Nem os homens que ganham estátuas permanecem na lembrança dos outros. Quantos antepassados com vidas interessantíssimas não temos? Ninguém sabe. Afinal, ninguém se lembra deles. Q.E.D.
Lutar pela lembrança é, portanto, um esforço inútil. Cedo ou tarde, seremos esquecidos e, olha, pensando bem, seria até muita vaidade de minha parte achar que eu seria digno de uma lembrança de mais de uns cinco anos. A vida tem que seguir em frente para quem permanece e, faz parte do processo que você seja esquecido. A própria lógica da continuidade da vida das pessoas pede o seu esquecimento.
Ser esquecido mesmo tendo descoberto a cura de uma doença? Ou tendo pisado na Lua pela primeira vez? Sim! Talvez demore mais, mas nem é tanto assim. A tecnologia ajuda nisto: não precisamos mais guardar tantas lembranças em nosso coração. Terceirizamos muitas delas para o computador e, sinceramente, ninguém vai se lembrar de você naquela foto perdida dentre milhares de álbuns de fotos.
Não somos grandes demais para ocupar todas as memórias de alguém (estou considerando a orgânica e a inorgânica). Não se deixe enganar por seu ego. Não pense que falo que vamos ser esquecidos para entristecê-lo, leitor. Pelo contrário, o objetivo te tranquilizar e, quem sabe, deixar você feliz. Sabendo como as coisas realmente são e abandonando pré-conceitos, trilhar o caminho fica mais fácil.
Pois não se esqueça: fomos feitos para o esquecimento.
Intankável - Aí o cara me diz que acho que não é muito hipável este drive, mas com blockchain é intankável se você pensar, dando um pump, talvez…
Sério?
Godzilla Minus One - Que filme, meus amigos! Não quero dar “spoiler”, então não falo mais nada. Vá ao cinema e assista o melhor filme da franquia da Toho em anos.
Ok, Shin Godzilla também foi bom, mas este tem menos o estilo do diretor e mais a cara da franquia. É como voltar ao filme original, só que com um enredo mais focado em alguns personagens, não tanto no monstro. Filme de monstro como deve ser? É este.
Os Pioneiros - Não é segredo para ninguém que gosto muito desta série (originalmente conhecida como Little House on the Prairie). Vez por outra, revejo alguns episódios.
Por estes dias revi o sexto episódio da sétima temporada, Portrait of Love. Em resumo: uma pintora cega ganha um inesperado momento de fama e sua mãe, que a abandonou quando criança, quer vê-la uma última vez.
Obviamente, a moça não quer saber da mãe porque, antes de ficar cega, tem a lembrança da mãe a abandonando. História trágica, certo? Pois o final é maravilhoso: a mãe reencontra a filha que a acusa de tê-la abandonada porque ela estava ficando cega…até descobrir que a mãe também ficou cega.
Por conta da febre escarlate na gravidez, a mãe e a filha desenvolveram a cegueira e, assim, a mãe a abandonou porque esperava que ela fosse criada por alguma outra família. Decisão trágica, mas que mostra que a cegueira não foi a causa do abandono da filha. Como sempre, na série, prevalece a lição mais bonita, que é a filha perdoar a mãe.
Episódio bonito.
Um modelo econômico ineficiente - Em apenas um ano, estatais voltam a ter déficits e não me venham com este papo furado de que é tudo investimento.
Dark Kitchens de novo - Registro aqui meu artigo sobre a pesquisa mencionada no último número da newsletter.
A volta do Selmocast! - Selmo voltou…e com Diogo Gugisch. Não perca!
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler! (*)
(*) “até mais ler” foi plagiado do Orlando Tosetto, cuja newsletter, aliás, você deveria assinar.
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Talvez você seja novo por estas bandas. Rapidamente: publico geralmente às quartas. Eventualmente há algumas edições extraordinárias. Assinar (custo = R$ 0.00 + valor do seu tempo para apertar o botão subscribe com seu endereço de e-mail lá…) me ajuda bastante. A temática? De tudo um pouco. Confira os números anteriores aqui.