O v(3), n (45) chegou e, desta vez, ele passou por outro caminho porque a prefeitura da alma fechou algumas ruas do espírito para obras. Ainda que peça desculpas pelo transtorno, o fato é que a alma ficou bem transtornada. Até tentou me esbofetear sem motivo.
O dia do chacal (conclusão) - Odair Alencar saiu do banco para almoçar no restaurante Pé de Porco, dois quarteirões à direita da entrada do banco. Em dias normais trazia sua marmita de casa, mas, na noite anterior, sua esposa passou mal e teve que ser acompanhada até o sistema público de saúde para uma longa noite que teria um final feliz, já que nem de remédio precisou.
Para ele, o bom do Pé de Porco, apesar de seu sugestivo nome, era a salada de batata, não a feijoada (o que lhe agradava, já que uma feijoada no almoço dificultaria sua vida no turno da tarde). Odair notou que o restaurante estava ainda vazio e tratou de colocar sua pasta na cadeira ao lado da mesa mais próxima da janela. Não gostava muito desta prática de ‘guardar lugar’, mas, puxa vida, o restaurante estava vazio.
Começou a se servir quando outro sujeito entrou no restaurante: Zé Chacal, que já chegou inspecionando o ambiente. Cuidadoso, escolheu uma mesa mais isolada, quase ao lado do banheiro e foi se servir, deixando uma sacola de pano, encostada à parede.
Odair já terminava de montar seu prato quando Zé Chacal começou o seu. Enquanto um preferia salada de batatas, o outro não deixou de seguir a sugestão de seu chefe, Eugênio Trabuco, e tratou de encher o prato com a feijoada da casa. Como foram os primeiros, não tiveram opção senão formar uma fila já que o funcionário ainda se atrapalhava com os últimos detalhes da cozinha.
- Que demora, não?
- Sim.
O diálogo curto não evoluiu, já que o mal-humorado funcionário voltou para pesar os pratos e se livrar dos dois clientes incômodos que ajudariam em seu salário, mas também lhe exigiam algum empenho. Aliás, é assim que funciona a vida, mas sempre há quem não goste da vida como ela é.
Pesados os pratos, Odair foi à pia lavar as mãos enquanto Zé Chacal foi com tudo para cima da feijoada. Sim, o sr. Trabuco havia acertado. Realmente a feijoada era saborosa. Entre uma garfada e outra percebeu que Odair comia com uma serenidade acima do normal. Era como se, para ele, a salada de batatas fosse uma iguaria de luxo. Aquilo incomodou um pouco Zé Chacal. Afinal, quem iria preferir comer uma salada de batatas em um restaurante chamado Pé de Porco?
Em sua aparente serenidade, Odair observava a salada de batatas e pensava nos problemas do banco: os negócios não andavam bem. Atormentava-o o aumento da inadimplência dos grandes clientes. Havia previsto que o crescimento baixo da economia teria algum impacto, mas não tanto. Deu-se conta de que não havia pedido nada para beber e chamou o garçom.
Zé Chacal estava incomodado com o serviço que lhe havia passado Eugênio Trabuco. Olhou para os lados. O restaurante ainda estava vazio. De sua sacola pegou um punhal. Quando ia se levantar, ouviu um barulho: Odair acabara de tirar sua própria vida. Assustado, guardou rapidamente o punhal. Eugênio Trabuco, seu chefe, devia prestações de um empréstimo para o banco de Odair e, sim, havia encomendado a morte do pacato gerente.
Algumas horas depois, Zé Chacal foi preso por assassinar Trabuco que se recusou a lhe pagar as horas dedicadas ao serviço que não precisou concluir. Afinal, faz parte do código de honra dos chacais (e dos assassinos chacais) que o ‘extra-classe’ seja pago. Afinal, foram horas de preparação.
Zé Chacal foi assassinado em uma briga dentro do presídio, semanas depois.
Missão Impossível - Algo em seu inconsciente deve ter acionado a chave (ou o apertado o botão do controle remoto) e sua vontade de assistir aos antigos episódios de Missão Impossível atingiu o ápice. Resultado? Assistia a dois episódios por dia!
Talvez fosse o momento de sua vida, peculiar em vários sentidos. Ou talvez fosse alguma nostalgia, um apego ao passado, saudades da infância em que era feliz (e não sabia?).
Estas perguntas nem lhe importavam tanto. A única certeza era a de que ele assistiria episódios do seriado até o fim. Ou talvez ele tivesse mesmo entrado em mais uma missão impossível!
p.s. A propósito, que série ótima!
<ouvir música-tema do seriado>
A arte de resolver problemas - Reencontrei meu livro de G. Polya, o A arte de resolver problemas. Eis o início do início do início do livro que é a ‘Parte 1 - Em Aula’. Diz Polya:
O estudante deve adquirir tanta experiência pelo trabalho independente quanto lhe for possível. Mas se ele for deixado sozinho, sem ajuda ou com auxílio insuficiente, é possível que não experimente qualquer progresso. Se o professor ajudar demais, nada restará para o aluno fazer. O professor deve auxiliar, nem demais nem de menos, mas de tal modo que ao estudante caiba uma parcela razoável do trabalho. [p.1]
A descrição de Polya é perfeita. Existe um ponto ótimo para a ajuda do professor e, arrisco, o ponto ótimo varia de aluno para aluno (não estou, realmente, falando nenhuma novidade, não é?).
Force: Five - Não foi produzido pela Canon, mas é diversão pura. Você o encontra por aí.
Brasileiros que brilham no Japão - …cantando músicas Enka? Sim, temos também. Estão aqui.
The Misery Index - É um índice ad hoc, mas de apelo popular. Para os EUA, está aqui.
Sabedorias não tão sábias assim - O homem é um animal social, mas não tão sociável assim.
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler! (*)
(*) “até mais ler” foi plagiado do Orlando Tosetto, cuja newsletter, aliás, você deveria assinar.
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Talvez você seja novo por estas bandas. Rapidamente: publico geralmente às quartas. Eventualmente há algumas edições extraordinárias. Assinar (custo = R$ 0.00 + valor do seu tempo para apertar o botão subscribe com seu endereço de e-mail lá…) me ajuda bastante. A temática? De tudo um pouco. Confira os números anteriores aqui.