Natsume Soseki está bravo comigo. Jonathan Swift e a criadagem. Cantei com Yashiro Aki? Outros.
Sanhudamente lançou-se sobre o desafeto com ódio e um pedaço de pão com linguiça.
Eis o v(2), n(78) da news. Talvez devêssemos discutir…deixa para lá. À leitura que os moinhos de vento não vão se derrubar sozinhos!
Natsume Souseki (Soseki) - Sempre que olho para fotos de Souseki, meu coração bate mais rápido. É que, nelas, ele parece me fitar com certo ar de reprovação. É como se ele estivesse a exigir-me mais empenho na escrita. Até tento, mestre, mas não tenho este talento todo não.
Pronto, escrevi a última frase e já o vejo me olhando com desaprovação. Tento não pensar que é isto, mas, veja, leitor, se não tenho razão?
Digo mais, amigo (ou inimigo). Dependendo da foto, ele parece estar até desesperançoso com meu progresso marginal. Há algo de ‘Mona Lisa’ nele não acha? Estaria ele bravo? Ou só decepcionado? Não há um sorriso de canto de boca para me dar algum alívio. Então não é tão ‘Mona Lisa’ assim…
Aquela expressão de o que eu faço com este menino? é devastadoramente óbvia na próxima foto, ao menos para mim. Diga-me, com sinceridade se não tenho ao meu lado a razão.
Duvido que o leitor encontre argumentos para discordar de mim. É óbvio que o mestre está decepcionado comigo. Tentou de tudo. Mandou-me ler os clássicos, os não-clássicos, o Almanacão da Turma da Mônica e até o Diário Oficial da União.
Esperava que, desta combinação exótica de textos (Oliveira Vianna, em outro contexto, o racial (e ele era bem racista), usaria a expressão, sonoramente agradável, melting pot), de algum modo, surgisse uma espécie de poção mágica que faria com que eu melhorasse a qualidade da minha escrita.
Ah, meu caro escritor famoso! Tantas esperanças depositou neste pobre (a Receita Federal bem o sabe) e inábil autor…
Não desenho e não escrevo como o senhor, eu sei. Sigo um esforçado discípulo, a despeito dos meus imensos fracassos. Não se deixe levar pela tristeza. Ainda que meus textos não sejam lá aquele primor que o senhor e eu imaginávamos, quando comecei a escrever, o que importa é o ambiente geral e, neste aspecto, há muitos bons autores escrevendo por aí.
Gente que trata a pena com um carinho que me é (ainda) uma impossibilidade. Fique feliz pelos outros! Até livro novo tem, mestre. É um tal de Totolino, do Alexandre. Há esperança (fora de mim, eu sei), mestre!
Veja só, iniciei falando com o leitor e agora já falo com o senhor, mestre (sem falar do verbo ‘falar’ repetido ad nauseam no início da frase e a petulância, agora, do latim, para disfarçar…). Delírio total! Sequer ordeno meus pensamentos e, por consequência, meus escritos. Não à toa o senhor me reprova e, acompanhando-o, o leitor que já deve estar enfurecido com isto tudo.
Eu sei o que está pensando. Que eu tenho umas preocupações muito estranhas. Talvez eu devesse mesmo ser internado. Ou talvez você é quem deva ser internado. Sei lá. Aliás, tem gente que acha feio internar louco. Então, todos para o boteco! Eu, você, seja lá quem for, Souseki, o leitor, o gato, a vaca e o bode! Vamos todos! Certamente o Juó Bananére estará por lá!
p.s. Descobri recentemente que Souseki também era bom no desenho. O autor do clássico ‘Eu sou um Gato’, inclusive, pintou um. Admire a peça clicando aqui.
Jonathan Swift - Acho que um dia lerei o seu Viagens de Gulliver. Tendo já conhecido o sensacional Uma Proposta Modesta, chegou a vez de rir um pouco com o Instruções para os Criados.
A minha edição é de 2016, pela editora Ayiné. Um livrinho de bolso, praticamente. Tem sido divertido ver o sarcasmo de Swift em suas pretensas instruções aos criados. As sugestões são as mais insanas possíveis.
Depois que você lê os livros de Wodehouse - digo, os livros em que o mordomo Jeeves salva seu patrão das mais loucas enrascadas - este manual diabólico de Swift é quase que um guia para um ‘anti-Jeeves’. Quer um exemplo? Vou lhe dar um que poderíamos chamar de keynesianismo vulgar (quem já leu aquele ensaio sobe a janela quebrada do Bastiat, sabe…).
Amole o lado oposto da faca até ele ficar tão afiado quanto a ponta, o que será vantajoso pelo seguinte motivo: quando um cavalheiro achar que um dos lados está cego, ele poderá usar o outro. Para mostrar que não poupa esforços afiando as facas, amole-as até desgastar boa parte do ferro e até mesmo a base do cabo de prata. É motivo de orgulho para o senhor, pois mostra um bom governo da casa, e assim talvez o ourives faça um presente para você. [p.51]
Os conselhos de Swift são desse naipe. Só coisa finíssima. Há para todos os membros da criadagem: mordomo, lacaios, governanta, cozinheira, cocheiro, palafreneiro, ecônomo (da casa e da propriedade), porteiro, criada de quarto, aia, criada doméstica, leiteira, criada encarregada das crianças, ama, lavadeira, tutora ou preceptora.
A gente porque Faulty Towers é um seriado que tinha que ser inglês mesmo. God save the king!
Ah, saudades - Um tipo de fita cassette (ou cassete, ou k-7) que não se via muito por aqui era a de karaokê de músicas para duetos (comum no Enka japonês). Uma delas, que ainda guardo, é de um tipo que nunca vi igual, único mesmo!
É que todas as suas faixas são para dueto e, mais ainda, nelas há a voz da cantora Yashiro Aki (‘a rainha do Enka’) seguida da orquestra para você fazer sua 'performance’ com ela. Sim, isso mesmo: você canta junto com ela.
Naqueles tempos, em que o toca-fitas era sua mais revolucionária forma de interação com a música, tínhamos muitas fitas (e discos) de karaokê tradicionais (apenas com a orquestra). Esta fita, por sua vez, é um achado. Afinal de contas, quem a comprou podia dizer por aí que já cantou com Yashiro Aki.
Aliás, eu posso. Só agora me dei conta da piada que perdi por anos…até agora. Ainda posso perder uns amigos. A piada? Jamais.
A boa amizade - Ainda é aquela em que, discordando de você em vários pontos, mantém uma conversa civilizada. É algo que perdemos nos últimos anos, prejudicando, inclusive, o aprendizado em sala de aula.
Assim que, penso (ainda penso? Logo existo?) que é muito bom encontrar alguém com quem conversar sem que se tenha que se policiar a cada palavra. Cartas à mesa, regras claras a todos. O jogo deveria ser sempre este.
Procure as boas amizades.
Eu disse Totolino? - Disse. Lançamento em São Paulo, na Livraria da Travessa, em 11/11, 19 horas (juro, é verdade!).
O QI e a Prosperidade das Nações - Eis um artigo interessante (Garret Jones já havia falado disso em seu livro). É preciso, obviamente, despir-se de preconceitos e entender o que nos diz o QI exatamente. Promissora linha de estudos? Creio que sim. Um bom economista? Claro, será o que não fizer cara de nojinho ao ler o resumo do artigo. Afinal, é uma ciência que se alimenta de análises empíricas, não?
Hoje em dia, maus economistas disfarçam-se sob o manto do conhecimento da técnica. Sem dúvida, um avanço em relação ao passado, mas, ainda assim, seus preconceitos permanecem firmes e fortes. Não se engane. A diferença entre bons e maus economistas não está no conhecimento (ou desconhecimento) de boas técnicas econométricas. Está na sua incompreensão dos princípios básicos da Economia e, um deles, bem óbvio, é o de que não existe almoço grátis.
Simples assim.
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler!
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