Multíscio, o preguiçoso - Efeito-Substituição - Sofia, Gigi e Maria - Frajolinha - Epopeia da Lacração - Outros
Sua convicção política era tão firme quanto pasta de amendoim fora da geladeira, no verão, no sanduíche do presidente.
O v(3), n(52) chegou e você nem precisa lhe servir café: ele veio já cafeinado.
Multíscio, o preguiçoso - Multíscio era um aluno preguiçoso. Estudo era como um veneno para ele. A matéria iria cair na prova? Não a estudava. Precisava saber a tabela periódica de cor? Ele lia o Almanacão da Turma da Mônica com redobrada convicção. O professor mandou estudar? Ele ouvia o som na maior altura.
Este era Multíscio, o preguiçoso. Os colegas fugiam dele para trabalhos em grupo porque ele não escondia de ninguém que não sabia de nada e que não mexeria um único dedo para aprender sobre o que quer que fosse necessário para ajudar-se e aos colegas. Um niilista? Não sei.
Diziam alguns que Multíscio assim o era por causa de seu nome pouco usual. A culpa seria, portanto, dos pais. De onde tiraram a idéia de que este seria um bom nome próprio? Outros diziam que tinha escolha e que poderia ter escolhido estudar. Exemplos em casa não faltavam: os pais eram professores (destes que realmente estudam, não dos que passam a maior parte do tempo reclamando da vida).
O debate sobre a preguiça de Multíscio poderia durar anos e algum esperto doutorando poderia se profissionalizar em conseguir bolsas do governo para pesquisar o tema e fazer congressos científicos em Salvador ou em Porto Seguro para concluirmos todos, ao fim, que seria importante outro congresso em algum ponto turístico, no ano seguinte…e nada de entendermos Multíscio.
Nada disto muda a única determinação pétrea de Multíscio: não estudar, não adquirir conhecimento. Jamais. Never!
Gerações de professores tentaram mudar sua atitude deplorável (para eles), sem sucesso. Após anos de convivência com este simpático preguiçoso, começo a me perguntar se seus pais não erraram mesmo na escolha do nome. E nem me venha com a sugestão de Multisciente. Não vai rolar.
Efeitos Substituição - Quem já estudou microeconomia passou pela temível Equação de Slutsky, aquela que decompõe o impacto de uma variação de preço relativo de um produto em dois efeitos: renda e substituição. Pule este textinho se não for um iniciado nestas feitiçarias da Ciência Econômica!
Pensando em apenas dois bens (ou serviços), sabemos que a mudança no preço de um deles (o que muda o preço relativo) faz com que a demanda do bem mude porque: (a) o consumidor se sentiu mais rico (ou pobre) em seu poder de compra deste mesmo bem e; (b) o consumidor trocará um pouco do consumo do outro bem por este (ou o contrário).
O último deles é o efeito-substituição e o problema é que o estudante - que já fica desesperado com a existência da decomposição - logo descobre que o efeito-substituição pode ser medido de duas formas e que, mais ainda, quanto menor a variação do preço, mais estas formas se equivalem (aproximam-se em seu efeito quantitativo).
Esta equivalência entre as duas formas de se medir o efeito-substituição foi popularizada por Jacob Mosak, conforme aprendi no antigo livro de microeconomia do Milton Friedman, “Teoria dos Preços”, publicado por aqui em 1971, pela APEC. Valeu, Mosak! É, era só isso mesmo. Só queria agradecer ao Mosak. Não fosse Friedman, jamais saberia de sua existência. ^_^
Newsletters - É curioso como pessoas com as quais eu tomo cerveja passam a publicar newsletters. Primeiro foi o Orlando, com a
. Depois, o André com o . Claramente sou o causador disto e quem duvida de mim é fascista!Ou não.
Para dizer a verdade, eles já publicavam seus ótimos textos em blogs na época em que eu usava o meu (blog) para discutir assuntos relacionados à Ciência Econômica com…ninguém.
De todo modo, prefiro acreditar que fui o causador divino de suas estréias no Substack (e quem duvida de mim é fascista!).
Valeu, André! Valeu, Orlando!
Sofia, Gigi, Maria - Não me pergunte sobre elas. Agora pertencem à minha ex-esposa que, imagino, cuide das três com o mesmo carinho de sempre. Por aqui não mais haverá relato sobre elas. Pertencem a outro universo agora.
Frajolinha - Já Frajolinha, a minha amiga, vez por outra, mais raramente agora, tenho notícias dela. As últimas são as de que está bela e saudável, como sempre. Não pude trazê-la porque não fui escolhido por ela na ocasião. Em compensação, faz a alegria de muitos por lá.
Epopeia da Lacração - Comprei - e começ(ar)ei a ler - mais um poema épico dos babilônios (da mesma turminha que criou Gilgamesh). Chama-se “Epopeia da Criação”, mas, sempre que vejo a capa, só leio “Epopeia da Lacração” e acredito que isto seja culpa dos tempos atuais, nos quais o vocabulário do afegão médio parece ter não só encolhido, mas, naturalmente, marcado cada vez mais pelo uso exagerado de algumas palavras.
Lacração é uma delas. Os neomaoístas - também conhecidos como jovens-brasileiros-o-amor-venceu-sou-pela-diversidade-mas-não-tolero-diferenças - têm sido pródigos em praticar o fascismo chamando-o de democracia. O analfabetismo funcional - dos quais nem os estudantes de Direito escapam - disseminado por aqui ajuda nesta deformação do caráter brasílico, mas há sobreviventes ainda (você, creio).
Sobre o livro, aliás, é do mesmo - e caprichoso - tradutor da ótima edição de Ele que o abismo viu, que é a epopeia de Gilgamesh. Chama a atenção, neste caso, que a epopeia ocupa umas 100 páginas das quase 430. O restante são comentários do tradutor.
A vantagem de um livro assim é que um estudante de Letras se esbalda (bom, se ele não é de estudar…). Leitores não-iniciados, como eu, mas que gostam de algum conhecimento extra, também ganham com isto. Já os que gostam apenas dos poemas, vão reclamar do preço e do tamanho do livro (cuja capa, aliás, é muito bonita).
Ah, e o que dizer do início?
Quando no alto / não nomeado o firmamento,
Embaixo o solo / por nome não chamado,
Apsu, o primeiro, gerador deles,
Matriz Tiámat, / procriadora deles todos,
Suas águas como um só misturam,
Prado não enredam, / junco não aglomeram.
Ou:
Quando dos deuses / não surgira algum,
Por nomes não se chamavam, / destinos não destinavam,
(…).
Por nomes não se chamavam, destinos não destinavam. E tenho dito.
Por que precisamos de sandboxes regulatórios? - Eu te conto, aqui. Aliás, em breve, mais um artigo meu em…(surpresa!).
Neste aí, cujo título o jornal trocou (‘regulatórios’, não ‘regulatórias’), falo da importância de uma sociedade aberta à experimentação e de um governo que perceba as vantagens de privilegiar a inovação sobre o rent-seeking.
É fácil? Ninguém disse que é.
Só que, para começar, é preciso repetir algumas obviedades (ou verdades?) até que as mentes razoáveis se acostumem e ganhem musculação para uma conversa adulta, longe dos memes superficiais. Isto, aliás, também é experimentação…
Um candidato republicano - Eis um candidato às primárias republicanas que parece bem promissor.
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler! (*)
(*) “até mais ler” foi plagiado do Orlando Tosetto, cuja newsletter, aliás, você deveria assinar.
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Talvez você seja novo por estas bandas. Rapidamente: publico geralmente às quartas. Eventualmente há algumas edições extraordinárias. Assinar (custo = R$ 0.00 + valor do seu tempo para apertar o botão subscribe com seu endereço de e-mail lá…) me ajuda bastante. A temática? De tudo um pouco. Confira os números anteriores aqui.