Momentos Nipônicos. O Sr. Y foi ao bar. A Balada de Narayama (momentos, né?). Medicamentos Isentos de Prescrição. Outros.
"O sim da mulher também é um não, mas ela negará que assim o seja até você lhe dar as costas" - Sir William Filk, PhD (ou não)
Bom dia, assinante. Eis o v(2), n(64) da news. Subitamente, bateu uma vontade de tomar café. Vai lendo aí que eu já volto.
Ipês - Reencontro os ipês amarelos (meus prediletos) após dois anos de lockdown. Muitos ainda com poucas flores, timidamente anunciando sua majestosa forma nos próximos dias.
Não temos cerejeiras (桜, sakura) por aqui, mas os ipês cumprem este papel na colônia nipônica. Inclusive, nos campeonatos de música folclórica japonesa da filial brasileira da Kyoudo Minyou (郷土民謡協会) há uma canção cuja letra foi adaptada, substituindo as sakura pelos ipês para nos lembrar deste nosso Brasil. Trata-se da famosa Toukyou (Tóquio) Ondo (東京音頭), popular entre os mais velhos (é, sou velho).
Aliás, este verbete da Wiki em inglês é muito bom para entender o significado do ‘Ondo’ do título da melodia.
The literal translation of "ondo" is "sound head." Kanji, or the Chinese characters used in the Japanese language, often have literal and abstract meanings, here the kanji for "sound" (音-on) having a more abstract meaning of "melody" or "music," and the kanji for "head," (頭) having a more abstract meaning of "beat," "base pattern." Hence "ondo" probably refers to a kind of "sound" or "beat pattern."
Interessante? Eu achei.
De todo modo, os ipês merecem ocupar parte do meu tempo. Tentarei passar por alguns deles nos próximos dias, parar e apreciá-los por uns minutos.
p.s. Sobre as folhas de cerejeira, é a cena mais usada em mangás, animês e filmes, aquela de sua queda no início, por exemplo, de um duelo ou batalha. Alguém me disse (ou li em algum lugar, em algum dia, em algum universo) que o sentido da imagem é o do prenúncio da morte (veja no item 6 deste texto, sobre como até o grande Ozu usou a cena em um de seus filmes). É uma bela imagem, sem dúvida.
Um drinque entre X, Y ou “A Amizade de Um Único Dia” - Sentou-se no bar, já no final do dia. A semana havia sido um pouco mais cansativa do que o normal, mas não podia se queixar: tudo estava (razoavelmente) sob controle. Ao fundo, a TV transmitia alguns clipes de música Enka (e alguns J-Pop dos anos 80).
Pediu um drinque. Nunca havia pedido um drinque antes, apenas cervejas e, portanto, não fazia ideia de qual drinque pedir. O barman olhava-o com um misto de impaciência e curiosidade. Afinal, que cliente chega ao balcão e pede um drinque, sem olhar o cardápio e não detalha o pedido?
Percebendo a encrenca que causava ao pobre trabalhador que o encarava do outro lado do balcão, abriu o cardápio apressadamente quando, de repente, um dedo feminino de unha bem feita apontou a caipivodka. Levantou os olhos e viu a mulher mais bela que já havia visto até então (e olha que ele já tinha visto muitas mulheres belas, bem, nem tanto, mas ele preferia acreditar nisto para amenizar suas frustrações).
‘- Prazer, X.
- Prazer, Y.
- Não vai pedir?
- Garçom, por favor, duas caipivodkas’.
Inicialmente encantado com aquele rosto (e com aquelas mãos), pensou que não iria conseguir conversar muito. Achou que ficaria preso na timidez e nas óbvias falas sobre o tempo ou a violência nas ruas. Contrariando seu pessimismo, a Sra. X se mostrou uma agradável companhia.
Conversaram o Sr. Y e a Sra. X por horas. Fluiu bem o diálogo entre eles. Alguns assuntos superficiais e pequenas confidências mútuas selaram a nova amizade entre eles. O barman ganharia uma boa gorjeta do Sr. Y.
Despediram-se sem trocar telefones. Cada um foi para sua casa contente com breve momento de alegria que ambos usufruíram juntos por aqueles poucos instantes. A imagem da Sra. X nunca mais saiu de sua mente. Eventualmente, o Sr. Y voltaria ao mesmo bar, na esperança de conversar novamente com a Sra. X, sem sucesso.
‘- A felicidade é como um floco de neve, que chega firme ao coração, mas, rapidamente, transforma-se em lágrimas’. A felicidade é fugaz, embora intensa. E pode ser que existam várias felicidades, não apenas uma. Ah, como eu queria uma nevasca…’.
Assim pensou o Sr. X, já algo tonto (afinal, filosofia de boteco necessita de um pouco de álcool…) após alguns drinques naquela que seria sua última visita a um bar, no final de outra sexta-feira. Ao fundo, a TV reprisava um clipe de um karaokê de melancólica música Enka dos anos 60. Um pouco tonto, pensou ter visto a Sra. Y no clipe. Pensando nela, sorriu, sentiu uma leve dor no peito. Adormeceu para nunca mais acordar.
p.s. Escrevi isso aí pensando em todos os clipes de karaokê com a temática do encontro ocasional em um restaurante (ou izakaya). Não fiquei muito satisfeito com o resultado. Queria que o texto se transformasse, ele mesmo, em um clipe de uma boa balada Enka, com melodia envolvente e que fosse cantada pelo grande Jirou Atsumi (渥美二郎).
Mas você vai morrer sozinho? - Vou. Próxima.
Balada de Narayama - Ah, sim. Já que morte e Japão estão muito presentes neste número da news, digo aqui ao leitor que, sem motivo aparente, há alguns dias, eu me lembrei do famoso filme Balada de Narayama, que é uma adaptação de uma novela de mesmo nome.
Bom, famoso para mim. Fazem alguns anos que eu descobri que a famosa versão de Shouhei Imamura não era a primeira adaptação da novela. Houve a versão de 1958 de Keisuke Kinoshita. Vi as duas há muito tempo, mas em ordem inversa (a do Imamura primeiro). Não me lembro se gostei mais de um ou de outro. Preciso rever estes filmes (e aposto que não os acho em serviços de streaming).
Ah, sobre a história. Ok, é o seguinte. Existe uma prática mitológica (aparentemente nunca existiu, só mitologia mesmo) chamada ubasute que é, literalmente, pegar um idoso e levá-lo a um lugar abandonado para morrer. Sem mais spoilers, pois! É fascinante (para mim, que sou meio ruim da cabeça, eu sei) a idéia, em algumas obras de ficção, de que as pessoas, com certa idade, devam morrer.
Aliás, o famoso (para mim) Logan’s Run (filme, depois série de TV conhecida aqui como Fuga das Estrelas) tinha algo parecido que era o infame ‘carrossel’ em que aqueles que alcançavam 30 anos de idade deveriam morrer (embora acreditassem, erroneamente, que seriam reencarnados).
Sobre este filme, aliás, há no YouTube um documentário sobre como foi complicado para a equipe técnica, fazer o carrossel do filme. Eu não o achei, mas o Good Bad Flicks tem um ótimo resumo deste filme de ficção científica (em inglês e sem legendas…bom para treinar o ouvido ^_^… até Brasília aparece no vídeo!).
Uma reflexão interessante que este filme traz é sobre a falta de continuidade de uma sociedade em que não há velhos (idosos). De fato, por muito tempo, os velhos eram o veículo transmissor de valores e conhecimentos. Aos poucos, é verdade, conseguimos transmitir conhecimentos de outras formas (viva a tecnologia!). Mesmo assim, tenho a sensação, às vezes, quando converso com algumas pessoas mais jovens, que falta algo (mesmo que a garotada tenha conhecimento de tanta coisa...).
Talvez ainda seja cedo para jogar fora os velhos no topo de alguma montanha.
p.s. Outro bom vídeo sobre o Logan’s Run é este, do Baak.
Mona Lisa - Um texto bem informativo sobre a Mona Lisa (em inglês) está na news do Phan.
Pobreza deve cair mais? - Estudo do IPEA aponta para uma queda na pobreza em 2022. Ele aponta a importância das reformas microeconômicas para o aumento das contratações e, também, como muitos, que o Auxílio Brasil (tal como o Bolsa Família), não desestimula a busca de emprego, algo que sempre ouvi dos defensores do programa (e também é um resultado comum nos artigos sobre este programa de transferências).
Tomara que seja uma tendência.
Avisos - Hoje tem lançamento do BORA (Base Online de Relacionamentos para a Avaliação), uma ideia incrível do Leo Monasterio que foi desenvolvida pela Coordenação-Geral de Dados da Enap. O Pedro Masson dá os detalhes aqui. Eu até queria te contar o que é, mas estragaria a surpresa (mas o leitor é livre para usar o tal google…).
Medicamentos Isentos de Prescrição (MIP) - Eu e Luan Sperandio (tente pronunciar o sobrenome dele corretamente) tivemos um bate-papo com a Mila, no Millenium Talks. O artigo original pode ser lido aqui.
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler!
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