Missão na Riviera Goyana - Republicanos - Filmes japoneses (online) - Torre Eiffel - Parasitic Liberalism Thesis - Uma bela aula de Economia.
"Escrever é crítico, leitor amigo/bons ou ruins tanto se me dá/Seus versos publique antes que/feito estes, já pense que tarde" (Adalberto de Queiroz)
O v(4), n(35) da newsletter chega após um longo recesso municipal (aqui de Béozontî, ou algo assim) em que viajei para rever um amigo e conhecer outro pessoalmente. Podem nos tirar a liberdade de expressão nas redes (não, não podem e vamos cair atirando), mas jamais poderão matar a alegria do conhecer novas pessoas interessantes e boas pela internet.
Nesta edição, o agente Beto (cujo nome é secreto, pois é um agente secreto, ora bolas!) honrou-me com o título do primeiro texto, este relato verídico de uma missão secreta recente. Generoso, recebeu-me bem, aturou-me e ainda leu o texto a seguir, corrigindo-me uns errinhos ali e aqui. A ele meus sinceros agradecimentos!
p.s. os versos aí em cima são parte de seu poema Anti-lira dos cinquent’anos, publicado no livro “Destino Palavra”, em 2016. É, o nome é
, autor de newsletter nesta plataforma.Missão na Riviera Goyana - A Riviera Goyana! Grandiosa, bela e, claro, palco de várias ações de espionagem internacional. Ali estava eu, novamente, para mais uma missão. O condomínio, ao qual chamo de 'Riviera', era bem guardado por seguranças que nada deixam a dever aos soldados dos exércitos das grandes potências. Pensava em como entrar quando, em alta velocidade, o Aston Martin do Adalberto surgiu, freou ao meu lado e, agilmente, saltei para dentro.
"- Temos que entrar por uma passagem secreta.
- Certo.
- Prazer, agente Beto Teng.
- O prazer é meu. Agent...
- Não fale. Podemos estar sendo monitorados."
Em alta velocidade, entramos por uma trilha que só os espiões da região conhecem e saímos defronte a um belo lago, sob um não menos belo pôr do sol. Beto se controlava para não derrubar as placas de limites de velocidade.
"- Malditos russos! Espalharam estas minas por todo o lado.
- Os nossos não podem fazer nada?
- Não por enquanto, mas já pedi ajuda pelo rádio ontem. Estes idiotas não conhecem o código novo, então temos alguma chance.
- A gente bem que podia dar cabo de alguns deles, né?
- Ah, muita calma. Se houver uma oportunidade, empacotamos alguns.
- Ótimo!"
Em uma curva, o agente Beto desacelerou. Estávamos próximos ao seu esconderijo, a base que usava para suas operações secretas. Estacionou o carro em uma garagem discreta e acionou a porta por meio de um código que me lembrou um que usei, certa vez, em uma missão na Bulgária (onde inutilizei o perigoso agente norte-coreano, Tiger Bulgogi).
A porta se abriu e a agente Helenir lançou-nos a senha:
"- Shanghai não tem pastel.
- Só se pode encontrá-lo em Macau.", respondi.
Ela sorriu o sorriso enigmático dos espiões e notei que estava em território seguro. O agente Beto me levou até seu escritório. Vi, ao fundo, equipamento de rádio da época da grande guerra, muito livros e um computador com uma tela que monitorava a espionagem da Riviera.
"- Agente Beto, parece que a rede caiu! disse a agente Helenir.
- Não pode ser! Vou falar com a central."
Rapidamente, o agente Beto ligou o radiotransmissor e começou a teclar uma espécie de código Morse alterado. A resposta não tardou:
"- Que alívio. Parece que é só um problema da provedora de internet. Por sorte, tenho aqui um servidor que uso como reserva.
- Será que vamos precisar?
- Talvez..., disse a agente Helenir.
- ...ou talvez não, exclamou o agente Beto, apontando o dedo indicador da mão direita para um livro azul que estava na prateleira do meio da estante atrás de sua cadeira.
- Beto, não sei...não é necessário.
- O nosso amigo deve estar curioso.
- Ah, não se preocupem. Estou bem."
Com a internet regularizada, segurei minha curiosidade. Nós, espiões, sabemos que ser curioso é bom, mas demonstrar curiosidade pode ser fatal. Quantos de nós já foram mortos por isso? Já perdi a conta! Mesmo que os dois agentes fossem de confiança, quem poderia me garantir que não estivessem me testando? E se eu não passasse no teste? Enquanto pensava nisto, a caixa de som começou a tocar uma música chinesa.
"- Agente Beto, esta não seria...?
- Ela mesma!
- Ah, que bela voz!
- Sim, maravilhosa."
Abrimos uma garrafa de vinho e começamos a trocar informações sobre as missões realizadas nos últimos dias. O agente Beto me contou de vários problemas geopolíticos da China, do Japão e da Coréia. Dentre outros, falamos de mísseis intercontinentais, tríades chinesas, a Yakuza e as perigosíssimas espiãs do K-pop.
De repente, surgiu na porta um felino frajola.
"- Apresento-lhe o agente Lucky.
- Miau (ou "nyan", se você for japonês).
- 'Miau', respondi."
Lucky se aproximou e lhe ofereci minha mão. Lucky me olhou e me deu uma cabeçadinha gentil. Era a comprovação que faltava para que todos nos sentíssemos seguros. No mundo da espionagem, como o senhor leitor bem o sabe (a senhora leitora também, por óbvio), é de praxe que espiões felinos e caninos sejam usados para comprovar a identidade dos espiões humanos. Creio que isso começou em 1903, com a Scotland Yard, no famoso caso do espião Tom ‘Strong’ Punch, em uma missão na Indochina. Qualquer dia eu conto esta história.
Lucky nos seguiu quando fomos a outro cômodo da base, um similar a um pub, com uma pequena adega. Ou seria um bunker?
"- Tá vendo aquele vinho ali?
- Tô.
- É a mesma coisa do livro azul.
- Hum, mas o que é mesmo?"
Beto não pôde responder porque a agente Helenir o interrompeu.
"- Beto, é hora de irmos à feirinha para nossa missão.
- Ah, bem lembrado! Vamos?
- Claro! Vamos lá!, respondi, entusiasmado."
Lucky nos olhou com certa decepção. Creio que queria nos acompanhar, mas alguém deveria tomar conta da base. Fiz-lhe mais um carinho e ouvi o ronco do motor do Aston Martin. A missão me chamava.
Alguns minutos depois, lá estávamos, na feira da Riviera. Garçons passeavam entre as mesas oferecendo os serviços de seus restaurantes. Há várias filiais de restaurantes na Riviera Goyana, mas você já devia desconfiar disto, não é? Ao fundo, uma mesa com uma roleta trazia sorte e azar aos apostadores. Pensei ter visto meu amigo Bond lá…Sentamo-nos em torno de uma mesa e logo um senhor se aproximou.
"- Seoul é azul na primavera.
- Os sinos sobram por ti."
O senhor nos cumprimentou e sentou-se.
"- Creio que estamos seguros.
- É, a espionagem hoje está calma.
- Surpreendentemente, né?
- É.
- Bem, e a missão?
- Vocês precisam tirar um tanque de guerra daqui sem que os inimigos percebam!
- Você quer dizer "aquele tanque"?
- Sim, "aquele tanque".
Nós três nos entreolhamos formando uma cena na qual cada um aponta um revólver para a cabeça do outro. No caso, apontávamos dúvidas. Eu sei, é típico do mundo da espionagem. Foi quando pensei na solução:
"- Podemos pedir ao Orlando...
- Nada disso! Ele não conseguiu nem te entregar a pasta com os documentos da outra missão!
- Não é verdade, ele entregou...
- ...mas atrasou! – interveio Helenir, algo nervosa. "
Não pude discordar disto. Enquanto pensávamos, ouvi uma voz baixinha.
"- Miau?
- Lucky, o que faz aqui?
- Miau!!
- Ele não pode ver uma missão de campo que já quer participar! – disse Beto.
E Helenir: - É, quando sente cheiro de ração ou de missão de campo, o danado aparece! Miauuuuuu! "
Lucky me olhou e vi que ele me dizia que, se fosse abatido na missão, não precisariam Beto e Helenir limparem a caixa de areia dele. Fiz-lhe um carinho na cabeça e no pescoço. Lucky piscou em código e devolvi o cumprimento felino no mesmo código da espionagem animal universal.
Lucky partiu. Resolvi segui-lo de longe. Não me agradava a ideia de ele ser abatido em uma missão tão difícil. Os agentes Beto e Helenir ficaram monitorando os potenciais inimigos.
O tanque, ah o tanque…ele estava no meio do pátio de uma casa. Lucky começou a cavar em torno dele e percebi seu plano genial. Embora hábil, ele era pequeno e podia demorar muito. Quando me viu, eu já o ajudava. Demorou algum tempo, mas enterramos o tanque. Ideia brilhante de Lucky! Não teríamos como sair com um tanque sem chamar a atenção dos inimigos.
O agente Beto e a agente Helenir se assustaram quando chegamos sujos de terra. Levaram-nos para a base e me deram ração e carne para Lucky. Ou talvez tenha sido o contrário. Estava tão cansado que não me lembro bem do que comi. Só me lembro de que a missão foi um sucesso. Eu reencontraria Lucky em outra missão, de resgate de um primeiro-ministro de uma potência europeia, em Montenegro, mas esta é uma história para outro dia.
O livro azul? Ainda não sei. Acho que nunca saberei qual sua função. Não fico mais ansioso. Vida de espião é assim mesmo.
post-scriptum (ou algo assim): acho que vou seguir com o hábito de enviar o texto para alguns amigos pedindo que me sugiram o título. O que acha?
Republicanos - Richard Hanania explica porque, apesar dos pesares, torce pela vitória do Partido Republicano, nas eleições dos EUA.
A geléia que é o “pós-liberalismo” - Estou realmente impressionado com a geléia que alguns insistem em chamar de ‘pós-liberalismo’. Como ninguém parece ler mais os clássicos (sejam os conservadores como Burke ou os liberais como Adam Smith, ou mesmo so libertários como o David Friedman), não estranho que alguns sigam a última moda do pensamento ‘original’ (mas nem sempre teoricamente consistente) de alguns.
Filmes japoneses (online) - Veja aí, leitor, o que o pessoal do JFF (Japan Film Festival) arrumou para nós: cinco filmes, de graça.
Torre Eiffel - Já foi chamada de distópica. Sim, isso mesmo.
Parasitic Liberalism Thesis - Mais sobre este estranho ‘Pós-Liberalismo’. Pelo menos, neste, um pouco de organização de idéias.
Uma bela aula de Economia - Nem sempre os professores de Economia estão sendo eficientes no uso de seus recursos, dado que precisam maximizar a sedimentação do conhecimento em seus alunos. O texto desta newsletter é um belo exemplo do que podemos e devemos fazer.
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler! (*)
(*) “até mais ler” foi plagiado do Orlando Tosetto, cuja newsletter, aliás, você deveria assinar.
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Talvez você seja novo por estas bandas. Rapidamente: publico geralmente às quartas. Eventualmente há algumas edições extraordinárias. Assinar (custo = R$ 0.00 + valor do seu tempo para apertar o botão subscribe com seu endereço de e-mail lá…) me ajuda bastante. A temática? De tudo um pouco. Confira os números anteriores aqui.
Agente Helenir a postos para nova missão em BH ou na Riviera Goyana.
Seu texto é primoroso e uma delícia!
Muito UAU!
Agente Cláudio Teng, aqui Beto Teng. Lucky tem saudades… honrados todos com sua visita.