Edição extra!
Ok, se até o Vitalik Butherin lançou um textão sobre o Manifesto Tecno-Otimista do Marc Andreessen, por que não eu, ai, ai, por que não eu?
Primeiro, não tenho como discordar do tom geral da turma: também prefiro um mundo com ar-condicionado a um sem. Ou um mundo com liberdade para se criar vídeos (imbecis ou não) do que um mundo com ‘controle social (quem é o social, cara-pálida?) da mídia’.
Até aí, ok.
O problema é que ando meio pessimista com a raça humana - tanto com os bípedes quanto com os quadrúpedes e, claro, os rastejantes. A coisa anda feia, leitor. Leitores e leitoras têm se manifestado por meio de telepatia com minha humilde cachola cerebral compartilhando impressões similares sobre a humanidade. Não posso ignorar o apelo do povo! Daí que fiz este manifesto.
Tome-se por exemplo a renúncia ao uso do próprio cérebro. É mais ou menos assim:
- Agora tem a inteligência artificial (IA), logo, posso me dedicar a tarefas mais nobres!
- Tá, mas e as contas?
- IA!
- Os relatórios?
- IA!
- O diagnóstico da doença?
- IA!
- A questão da pensão da sua sogra?
- IA!
- O futuro dos seus filhos?
- IA!
- Divorcia ou fica casado?
- IA!
- Pensar sobre o futuro?
- IA!
- Tarefas mais nobres, o que são, onde vivem, do que se alimentam?
- IA!!!!!
Alguém aí perdeu o senso do ridículo, né? Ou o de humanidade. Como ambas se equivalem, concluímos que a humanidade é (ou está) ridícula.
Pois é, leitor(a), a humanidade está ignorando suas responsabilidades básicas. Não que não haja exceções, elas existem. Só que estão maratonando séries e não têm tempo para assuntos mundanos como estes que envolvem sua própria vida.
Como já disse Platão (ou seria Bob Esponja?), a humanidade é um problema desde sempre. Temos o Hamas, por exemplo, que maltrata palestinos e não-palestinos, mas que possui uma agência de publicidade muito boa. Também os uigures, na China comunista, não têm reclamado muito, mas como eles não têm vidas negras, as deles não importam tanto.
Sobre os cubanos não preciso falar. Eles mesmos já disseram que tá tudo bem, até porque, se não o fazem, familiares são punidos na ilha pelo regime democrático da monarquia castrista. As únicas que estão bem são as mulheres iranianas que não querem usar véus ou burka….waaaaait a minuteeeee!
Nota mental: obviamente, tudo é culpa dos judeus, de Israel, do Elon Musk, da tomada de três pinos, ou de algo similar, já que é tudo farinha do mesmo saco que, aliás, tá cheio e não é de presentes de Natal.
Ora, bolas, nem só de ideologias políticas vive a humanidade! O futebol também anda meio combalido com jogadores que se vendem para empresas de apostas, com a justificativa de que ganham baixos salários, para o padrão do nosso judiciário, diz leitor. E o futebol (ou o judiciário) brasileiro não são tão diferentes do que temos no resto do mundo!
Apesar de todos estes milhares de anos, os seres (ou não seres, (ser)eis a questão?) humanos não conseguiram melhorar a vida das pessoas com a tal política que inventaram. Apenas cientistas políticos celebram a política. Eles e alguns políticos, claro. O que dá de briga nisto aí…
Ah sim, posso ver uma fagulha de otimismo com a humanidade em seus olhos. Você pensou naquelas palestras de iutúbêrs sobre o futuro, os drones entregando pizza e os carros voadores ambientalmente corretos que povoam o imaginário dos mais jovens (e dos mais velhos, bom…de todos).
Eu sei, seria ótimo se tudo funcionasse tão bem... A tecnologia é ótima, claro. Só que o usuário está pior a cada dia que passa. Afinal, errar é humano, perdoar é divino e este fez o homem à sua imagem e semelhança (mas as semelhanças param por aí!).
Tome-se o brasileiro médio, por exemplo. Ou o mediano. Tanto faz. Ele não consegue chegar no G-4 dos países que fazem o teste internacional PISA há anos. Solução? Gastar mais fazendo o mesmo porque, quem sabe, talvez uma hora dê certo (se mudar, mude o mínimo possível para não entristecer a turma). O brasileiro é só um exemplo, eu sei, mas a humanidade, em média, é brasileira.
Você pode dizer que inventamos a ONU, a Interpol e os Ódêésses que vão nos guiar a um futuro brilhante, lindo e que deixará todos - dos fascistas aos comunistas - felizes, sorrindo como crianças diante de um desejado brinquedo novo na manhã do dia 25 de dezembro.
Pode. Poder, pode.
Você pode dizer isso e muito mais. Chama-se livre arbítrio e todos o temos (até que a justiça nos proíba em nome do combate ao terrorismo-negacionismo-outroismo). Por isto você fala tanta besteira (e eu também).
Ainda assim, amigo(a) leitor(a), insisto: ando pessimista com a humanidade. Isso aí não presta. O problema é que não tem recall. Estragou, não funciona mais. Onde estão os empreendedores quando precisamos deles? Do governo é que não espero nada mesmo (os uigures, então…). Peça ao governo um recall da humanidade e nos entregarão maoístas, nazistas, stalinistas e canceladores. Pior: com mais tecnologia.
Só que a tecnologia não tem culpa. Ela só existe porque nós, seres humanos, queremos resolver problemas. Digo, os nossos problemas. Melhor, os meus. Os seus? Eles são seus, não meus!
Ah, a humanidade, celebrada em poesias, poemas épicos e em fotos do instagrão-bequiztão! Tão longe de Deus e tão perto de si mesma! Cheirando a carne podre e com cara de melão velho com nariz de salsicha estragada (como diz meu sobrinho)! A humanidade não dá match com o sucesso. A tecnologia, bem, talvez ela tenha uma chance com os golfinhos. Ou com os macacos. Com a humanidade, afirmo peremptoriamente, não.
Há algo útil que a tecnologia pode nos dar, contudo. E em verdade, em verdade, eu vos digo: ela pode nos dar um novo dilúvio, só que sem arcas para seres humanos. Seria uma forma honrosa de deixarmos o universo. Uma forma, digamos assim, à francesa. Discretamente desapareceríamos em um belíssimo oceano azul e - já que é moda pichar e destruir monumentos (ou jogar lixo em obras de arte) - teríamos a solução final que alegraria a todos estes vândalos e, também, aos humanos bípedes, submergindo tudo o que a humanidade criou!
Só alegria, né?
Tchau, humanidade. Já vai tarde. Que tudo termine em um grande e majestoso dilúvio!
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler! (*)
(*) “até mais ler” foi plagiado do Orlando Tosetto, cuja newsletter, aliás, você deveria assinar.
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