Memórias belorizontinas, de novo - Ó lenhador! - Outros Despachos.
No meio do caminho tinha um bandeirante. Tinha um bandeirante no meio do caminho. E tinha também um papagaio. E eles entraram em um bar com um rabino, um imã e um português...
Neste v(3), n(37), algumas memórias e uns outros poucos temas. Divirta-se!
Memórias belorizontinas, de novo - O poeta disse que a vida dele era esta, subir Bahia, descer Floresta. Ou seria o contrário? Tanto faz. É uma caminhada longa nos dois sentidos. Uma caminhada que não se faz mais ao cair do dia: os assaltos não são pacíficos, belos e engajados contra ‘o neoliberalismo’. Não, são motivados pelo vício, pela maldade ou por uma combinação diabólica que, sim, leva estes dois fatores em consideração.
Ainda assim, insisto, o poeta e sua poesia são eternos. Recentemente, dentro de um automóvel - quando, em minha juventude, eu imaginaria que seria transportado no banco traseiro de um automóvel que não fosse um táxi? - avistei o prédio da antiga Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich) e me vi, ali, na rua Leopoldina (que é o nome que a rua da Bahia recebe após ultrapassar o contorno que lhe é imposto pela avenida…do Contorno), caminhando, nos meus vinte e poucos anos.
Foi uma época em que vivíamos sem internet, e-mails ou mesmo redes sociais. Pesquisar qualquer assunto era uma tarefa que exigia um certo esforço adicional que hoje se perdeu: o de saber onde estavam os livros. Aliás, isto me traz à memória meus dias na Biblioteca Estadual Luis de Bessa. Passei muito tempo lá antes, durante e, creio, não depois de minha graduação. Uma colega, aliás, trabalhava por lá. Ainda me lembro do dia em que lhe contei que doara uns livros de Economia e de como ela me disse que daria um jeito de ficar com a doação. Que o livro vá para quem o usa, claro!
Voltando da biblioteca à Fafich - o que nos rende, aliás, uma boa caminhada em linha reta (linha reta com a topografia de Belo Horizonte significa uma senoidal…) - por lá passei um semestre. Era o famoso ‘básico’, em que éramos todos, de diferentes cursos, misturados em uma mesma sala. Tive um amigo que era o único homem da turma de Pedagogia, outro que foi meu colega no curso, uma que era de História (minha xará) e que ainda manteve contato comigo por cartas (ela morava em Santa Luzia) por um tempo. Novamente: não tínhamos internet…
Lembrei-me dos boatos de que o prédio - que hoje abriga uma escola municipal, salvo engano - estaria afundando (e todos, velada ou explicitamente, culpavam o governo militar por isto…um protesto que foi suspenso nas duas administrações da Silva e na Rousseff porque, veja bem, não se pode protestar quando o presidente é do time, pega mal, é feio, fascista até…).
Dali saíamos para o bandejão da faculdade de Arquitetura, sem dúvida um dos mais limpos e bem iluminados (talvez o único) dos bandejões (cujo nome, para os burocratas, é “restaurantes universitários”) que a universidade tinha nas faculdades espalhadas pela cidade, fora do campus.
Minha xará, uma vez, jogou os talheres no lixo por engano, o que nos rendeu boas risadas (e algum esforço para recuperá-los). Foi uma época rica em experiências e, mais importante, divertida. A maior lição foi descobrir-me um ignorante, a despeito do bom desempenho no colégio. Nunca mais deixei de sê-lo (ignorante, digo), o que sempre me incomodou e me incomoda. Ainda bem.
Ó lenhador! - Um clássico do Monty Python. Aqui.
Segurança Expressiva - Caso o assinante seja também assinante (mas não assassinante…talvez um assaz assinante?) da Crusoé, leia o último artigo do Orlando Tosetto. Está ótimo.
Salas de Aula - Lembro-me da turma do Pedro, um ex-aluno que hoje é famoso. Por que eu me lembro desta turma? Já explico. Só uma pausa aqui para eu arrumar as idéias (com acento).
Ah sim, eu dizia, a turma do Pedro. É que era uma turma de gente que genuinamente adorava um desafio. Lembro-me de, certa vez, propor um exercício e passar um bom tempo no quadro tentando derivar um resultado. Foi incrível porque a turma tentava resolver comigo. Era um pessoal engajado. Hoje, até onde sei, estão todos bem colocado no mercado de trabalho.
Contrasta com o que tenho visto no pós-pandemia.
Fake News é o que eu digo que é - Os advogados, sempre tão ciosos de perderem futuras chances de ganhar uma ‘boquinha’, não estão nem aí para absurdos jurídicos. Bom, nem todos. Ainda há esperança. Por exemplo, este ensaio do Hugo Freitas (só para assinantes?) está ótimo.
Soviéticas - Graças a um convite da professora Marize Schons, volto a leituras antigas acerca das maluquices do planejamento soviético. Alec Nove, Nemchinov, Janos Kornai, Peter Boettke e outros voltam do fundo das estantes para a mesa de trabalho. Em breve darei detalhes.
Hong Kong - O governo da China continental (a socialista, que sempre ameaça a República da China, Taiwan), quer mesmo apagar a história (embora os admiradores do comunismo sempre nos digam para estudar a história…). Massacre em Tian An Men? Sim, aconteceu e não nos esqueceremos.
Parece que não, mas o tempo está mais escasso do que o normal. Talvez eu diminua mesmo a frequência da newsletter para um número semanal. A meta é manter ou aumentar a qualidade (sem perder a ternura, que já não tenho há mais de meio século). Dou notícias em breve.
Por hoje é só, pessoal e…até mais ler! (*)
(*) “até mais ler” foi plagiado do Orlando Tosetto, cuja newsletter, aliás, você deveria assinar.
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Talvez você seja novo por estas bandas. Rapidamente: publico duas vezes por semana, geralmente às quartas e sábados. Eventualmente há algumas edições extraordinárias. Assinar (custo = R$ 0.00 + valor do seu tempo para apertar o botão subscribe com seu endereço de e-mail lá…) me ajuda bastante. A temática? De tudo um pouco. Confira os números anteriores aqui.
Erre-ú é o nome que dão aos restaurantes universitários nas universidades federais. Bandejão é o nome nas estaduais. Eu comi muito no bandejão, nunca joguei fora os talheres, mas certa vez joguei o meu aparelho dental móvel no lixo ..