Luz - Os bons amigos - Enquanto você fica aí... - Outros.
Ánshar sua boca abriu. E me soltou um belo de um...palavrão.
Aqui está o v(3), n(54), bem na véspera do feriado. Vai fugir? Sim, Ánshar está no belíssimo Epopeia da Criação (Enuma elis), outro clássico babilônico. É, eu sofro de diversidade cultural sob aguda liberdade de expressão.
Sou um demente, eu sei, mas, segundo a justiça brasileira, você não pode me colocar em um manicômio. É, parece que o jogo virou. Chupa, Ánshar!
Luz - O proprietário do apartamento instalou uns painéis de LED. Todos funcionaram, exceto um, que durou apenas um dia. É o que fica justamente na sala em que trabalho. Daí que, enquanto o eletricista não retorna, resolvi comprar um abajur, não uma luminária.
Sim, porque, caso eu queira ler na cama, o abajur será uma mão na roda (alguém me explique esta expressão, por gentileza). Custei a escolher o modelo de abajur (uns 15 minutos perdido em um mundaréu de modelos, no último domingo, em uma loja do ramo). Agora, enquanto escrevo, vejo-o simpático, à minha direita, sentido nordeste mesmo.
Sua luz amarela me remete aos tempos de adolescência. Por algum motivo - já não me lembro de alguns motivos - tive um abajur que era um pedaço de madeira (fractalmente falando, dimensão 2.3) com aquele bocal no qual se enrosca a lâmpada, e um fio branco com a tomada. Ele também tinha a luz amarela e eu lia sempre algum jornal à noite, antes de dormir.
Com o passar dos anos, este simples e - hoje, minimalista - abajur ficou para trás. Não sei se foi para o lixo. Provavelmente. Só sei que, agora, olhando para meu novo abajur, lembrei-me deste meu amigo, de meados dos anos 80. Talvez alguns antigos colegas do colégio se lembrem de alguma tarefa de Ciências que teria resultado neste personagem.
Ele, o abajur, que o abismo da escuridão viu. Eis aí um abajur Gilgámesh, tão distante das luzes de LED que se tornaram o padrão (excessivamente claras, a meu ver) nos meus silenciosos dias atuais.
Os bons amigos - Fazia um tempão que não se viam e, por puro acaso, encontraram-se em um café.
“- Olá, Zé, homem branco de classe alta, mas que isto não seja interpretado de forma ofensiva!
- Oi, Carlos, caro homem pardo, de sexualidade aberta, muito chegado nas meninas e nos meninos, sem discriminação, e que tem meu maior respeito, apesar de acreditar em deus, assim mesmo, em minúsculas, embora você não esteja lendo nada!
- Faz muito tempo, Zé! Não que isso signifique um envelhecimento na visão tradicional patriarcal machista que denigre a vitalidade dos idosos que nada mais são que pessoas com necessidades especiais de botox!
- Cuidado, Carlos, senão você ofende alguém, embora eu acredite que jamais seria esta sua intenção, meu amigo de tanto tempo, mas sem desrespeito aos outros amigos que tenho, aos quais o mesmo valor lhes atribuo!
- Imagine, Zé. Claro, imagine apenas dentro do que a sociedade civil organizada (por eles) permite porque já sabemos que individualidades são fascismos egoístas e o coletivo (construído por eles, mas com a participação de todos, ou de quase todos) é o que nos guia! E quanto ao futebol, que é um esporte democrático se mulheres ganham o mesmo que homens, independentemente do ‘Deus mercado’, com todo respeito aos religiosos, todos eles, claro.
- Ah, Carlos, o futebol? Maravilha que só vendo! Meu time só empata. Está na frente do campeonato desde que a Justiça decretou o fim da meritocracia misógina e nazi-fascista dos esportes! Isto de empate valer 3 pontos e qualquer outro resultado, 0, foi a melhor coisa já feita, sem excluir as outras coisas, feitas ou não, porque não há mérito em meu pensamento, apenas uma ordenação arbitrária que poderia ser alterada conforme os ditames da sociedade civil organizada (por eles, mas com a participação de todos, ou de quase todos)!!
- Que ótimo, Zé! E seu filho? Ainda é homem? Não que haja algo contra homens, mas é importante que todos sejam o que quiserem.
- Ah, Carlos, não, meu filho vai bem, mas não é homem. Transicionou para um abacate e agora é meio-homem, meio-abacate. Nada contra verduras, legumes ou quaisquer outros seres ou objetos inanimados ou não (respeitando o direito de objetos de serem animados ainda que isto seja impossível na ciência mineral ou biológica que são de cunho fascista, claro)!
- Puxa, Zé…mas abacate?
- Por que, Carlos, cuja pergunta não me ofende, mas me intriga de um modo neutro?
- Porque abacate é verdinho e amarelinho, né, Zé? O pluralismo excluiu o ‘verdamarelo’ por ser uma forma clara de fascismo, sendo esta interpretação não sujeita a relativismos…
- Ih, então foi por isto que ele foi apedrejado no quintal de casa, Carlos. Já tinha desconfiado que ele deveria ter feito algo de errado, embora o certo e o errado sejam conceitos burgueses, tecnoturbofascistas mesmo. A vizinha - que é mulher e fica onde ela quiser ficar - jogou-lhe umas pedras (e, sendo mulher, ela apedreja quem ela quiser e quem discorda é estuprador), o que havia me deixado com dúvidas sobre as possíveis causas de tal ato. Agora, não mais.
- A vida é assim, Zé, embora a vida possa ser o que ela quiser também…
- Verdade, Carlos, embora a pós-verdade seja uma forma legítima de verdade…e de pré-verdade. Bem, amigo, tenho que ir…nem tomamos um café, mas não por injustiça ou discriminação…
- Fica para a próxima, Zé. O importante é que a gente mantenha uma distribuição igualitária de cafés entre nós todos hoje e ao longo do tempo.
FIM (um fim não opressor, impositivo. Apenas um fim fluído…e, por que não, melífluo. Ou com flúor. Afinal, as palavras não precisam ter um único sentido. Abaixo o egoísmo! Por uma língua mais livre e plural!).
Enquanto você fica aí… - Enquanto você fica aí todo preguiçoso, gente pouco talentosa, mas bem relacionada, publica livros de conteúdo duvidoso (se bobear, alguns viram indicações do ministério da verdade escolar).
Enquanto você fica aí todo emo-deprimido, todo darkzinho, um idiota pouco preocupado com as consequências de seus próprios atos está solto por aí vendendo platitudes como alta filosofia (se bobear, você até já o leu em algum jornal).
Enquanto você fica aí no sofá, comendo batata frita, olhando para seu número OAB com indiferença e reclamando de abusos de autoridade, algum advogado imbecil faz concurso, vira juiz, e remenda a Constituição porque emendá-la não é mais possível: já passou dos limites.
Até quando você vai ficar aí? O povo tá te esperando lá embaixo. Nem trocar de roupa você consegue mais, né?
Políticas públicas baseadas em evidências…só para os outros - Como já disse um esquerdista - que leciona sobre o tema - muita gente usa sua ideologia para viesar análises de políticas públicas. Ele tem razão.
A última é a volta do imposto sindical. A comunidade que diz defender a racionalidade das políticas, o uso das evidências e que, seletivamente, sobe o tom quando alguma política que lhes agrada é mal avaliada…está calada no caso da volta deste imposto. O motivo?
Simples: acham que ganham mais do que perdem. Pensam que trabalhadores precisam ser compulsoriamente taxados porque sonham com um espantalho em que o outro lado é cheio de empresários que despejam dinheiro em propaganda liberal (que, equivocadamente ou por má fé) chamam de ‘direita fascista’.
A avaliação de políticas públicas é uma ferramenta como outra qualquer. Ou seja, é útil e pode ser bem aplicada…como qualquer ferramenta. Só que não existe governo de reis filósofos ou de burocratas weberianos. Existe o governo dos homens e os homens não são anjos (muito menos o são as mulheres, é bom lembrar, porque sou contra a desigualdade de gênero).
A Public Choice nos ensina que políticos, juízes, burocratas e outros membros de governos são seres humanos e, portanto, tão autointeressados quanto os outros humanos que estão no setor privado. Óbvio, eu sei. Só que o óbvio precisa ser repetidamente lembrado porque as pessoas preferem se lembrar do que lhes agrada, não do que é óbvio.
Gramática - Comprei a de Carlos Nougué, A arte de escrever bem na língua portuguesa, recém-lançada. Não tenho pretensões literárias, mas não gosto de escrever com muitos erros. Gostei da apresentação do autor que deixa claro: não escreveu o livro para concurseiros, mas para quem deseja escrever bem. Ganhou-me bem aí.
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?Por hoje é só, pessoal e…até mais ler! (*)
(*) “até mais ler” foi plagiado do Orlando Tosetto, cuja newsletter, aliás, você deveria assinar.
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Talvez você seja novo por estas bandas. Rapidamente: publico geralmente às quartas. Eventualmente há algumas edições extraordinárias. Assinar (custo = R$ 0.00 + valor do seu tempo para apertar o botão subscribe com seu endereço de e-mail lá…) me ajuda bastante. A temática? De tudo um pouco. Confira os números anteriores aqui.
Muito divertido o diálogo entre Zé e Carlos :)
Também vou comprar a Gramática do Nougué. Boa dica.